sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Dia de gibi novo

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Agitar uma seção nova: review de gibi novo! Eu sei, eu sei, não precisa me indicar ao Eisner de ideia do ano. O que não falta por aí é blog e fórum comendo HQ com farinha tão logo elas saem da gráfica. E não sou lá um privilegiado quando se trata de timing. Nas publicações da Panini, por exemplo, o canela verde aqui pena de 10 a 15 dias de delay em relação à São Paulo, mesmo nos títulos mensais mais carne de vaca. Mesmo assim, demanda há. Volta e meia eu fico na mão com a falta de análises críticas para algumas revistas. Uma opinião terceira nunca é demais pra ajudar na decisão de desembolsar uns suados merréis.

Toda referência é valiosa, até quando não se concorda com nada do que o sujeito escreve - a velha regra do "se ele não gostou, então vou achar legal... é cofre". Faço isso frequentemente (menos o uso do termo "é cofre"). Quase sempre fico satisfeito.

Outra coisa que acho importante (e não recebi um centavo pra isso, tsc) é tirar um pouco da pecha negativa que colocam sobre as revistas mix. Algum fanboy desvairado gritou lá do fundo "revistas mix são uma merda!", e todas as outras codornas fanboys saíram ecoando a sentença tresloucadamente por aí. O boca-a-boca em tempos de internet tem proporções godzíllicas e tsunâmicas. Só que o mercado nacional não é forte ao ponto de individualizar tantos títulos ou evitar o mix dos mesmos. E recorrendo ao chavão, "é um mal necessário".

Num mercado saudável, ainda teríamos as revistas próprias do Hulk e do Demolidor figurando tranquilas ao lado do Homem-Aranha e Wolverine. Não veríamos arcos consagrados lá fora desembocando por aqui em escalações levanta-vendas (Legião dos 3 Mundos em Superman/Batman?), nem cancelamentos sumários até de mixes teoricamente pop, como foi o caso da Marvel Action.

Com o atual êxodo de leitores para a terra prometida dos encadernados e one-shots (e para a terra encantada dos scans), fica mais fácil compreender algumas ações "obscuras e malévolas" das editoras - que são comércio, afinal. Muitos dos que abandonaram as linhas mensais reclamam da qualidade, mas não é bem assim. Tem muita coisa bacana sendo lançada, ainda que ao lado de algumas toscas. Essa má publicidade faz outros potenciais leitores virarem as costas e perderem excelentes momentos dos quadrinhos regulares. E pode acreditar, eles ainda existem.

Tudo bem que dói a retina ver o excelente Superman de Geoff Johns impresso ao lado das péssimas histórias da Supergirl (que tipo de gente consome isso nos EUA?), mas as últimas fases do Azulão são tão boas que se sobressaem de qualquer jeito. É assim também com o visceral O Velho Logan, de Mark Millar e Steve McNiven. O estiloso Demolidor de Ed Brubacker. O impagável Hércules de Greg Pak e Fred Van Lente. O frenético Motoqueiro Fantasma de Jason Aaron. E por aí vai.

Mas posso estar equivocado sobre tudo o que escrevi aqui (e ali) e as HQs mensais no Brasil já estão mesmo condenadas, bem como a impressão em papel de um modo geral. Futurólogos e early adopters queimam seus sutiãs todos os dias em praça pública e o Kindle já está aí, falta só melhorar.

Enfim, questões para serem discutidas numa roda de amigos com uma cerva gelando no bucho - de preferência, num mix de assuntos.


Marvel MAX #76


Formato americano, 100 páginas, papel Pisa-brite, R$ 7,50

Um dos poucos títulos que ainda compro todo mês desde a 1ª edição. Até hoje não teve um único número com 0% de aproveitamento, mesmo nas fases modorrentas do Wisdom e do Daimon Hellstrom. Chegamos então ao número 76 sem quedas aparentes de ritmo e quase sem sentir a longevidade do título. Elogio maior, impossível. Marvel MAX é festa punk.

Apesar da longa ausência de Tim Bradstreet nas capas da revista, das quatro publicadas nesta edição, a escolhida é realmente a melhor. Greg Land zumbificando o cartaz de Extermínio ao melhor estilo Arthur Suydam. Danny Boyle e Alex Garland aprovariam.

Aliás, essa edição em particular lembra certos jornais cariocas, como O Povo e Notícias Populares. Se torcer, jorra sangue. Às cotações:

Keith Richards - ♠ ♠ ♠ ♠ ♠
Lemmy - ♠ ♠ ♠ ♠
Angus Young - ♠ ♠ ♠
Slash - ♠ ♠
Chimbinha -


Marvel Zombies 3 #2

Ninguém esperava muito da terceira parte da saga dos Zumbis Marvel (nem eu!). Sem a sensacional dupla Robert Kirkman/Sean Phillips, surpreende que ela tenha chegado à sua 2ª edição (creditada erroneamente como "Marvel Zombies 3 - 1") mantendo um nível bem interessante. Sem poder contar com personagens de peso, o roteirista Fred Van Lente teve mais liberdade para injetar gore no universo 616, o Universo Marvel normal - afinal, ninguém iria sentir falta dos buchas aqui desmembrados e devorados sem dó.

Na premissa, alguns Zumbis Marvel conseguem chegar à Terra 616 para "espalhar o evangelho". Logo em seguida, uma missão é organizada pela A.R.M.A.D.U.R.A. (Agência para Rastreio e Monitoração Ampla e Duradoura de Urgências em Realidades Alternativas - os caras da Panini estão ficando bons nisso!). O objetivo é ir ao universo zumbi e buscar amostras essenciais para a cura da praga. Para diminuir os riscos, a agência recruta dois seres artificiais para o serviço: Aaron Stack, o Homem-Máquina, e seu antigo interesse robótico, Jocasta. Chegando lá, eles se deparam com uma grande organização de supervilões zumbis liderada por um Wilson Fisk desmorto.

Além do humor doentio de praxe, o roteiro de Van Lente rende algumas boas sacadas, como a cultura de clones e a xenofobia crônica de Aaron em relação aos "carniformes". Ele beira a ultraviolência, especialmente quando se vê livre para matar à vontade ("isto não é o universo zumbi... é o paraíso dos robôs"). E respeitando a cronologia, Van Lente manteve o background dos zumbis referenciando um momento do crossover Zumbis Marvel: Uma Noite Alucinante, quando o Rei foi fuzilado pelo Justiceiro.

O traço solto e sem firulas de Kev Walker lembra bastante o de Sean Phillips. Propositalmente, com certeza. E a tosqueira splatter está toda lá, cheirando a produção B da Troma Films - vide a cena escrotíssima envolvendo as entranhas do Abutre (imagina o John Malkovich ali). Nesse quesito, Walker já era especialista de longa data, visto que entre seus trabalhos antigos estão duas capas do podrão Autopsy (Severed Survival e Mental Funeral).

Até agora, um bom trabalho da dupla, que dribla a falta de hype com talento e desencanação. E uma carnificina das boas.

♠ ♠ ♠



Foolkiller: White Angels #1

Foolkiller foi criado em 1974 e ao longo dos anos ganhou várias versões e alter-egos. A repaginada mais relevante, no entanto, foi a última, pelo roteirista Gregg Hurwitz. A princípio, ele virou só mais um copycat do Justiceiro da versão MAX. Rendeu um razoável arco de estréia e segue agora de maneira estupidamente instigante. Nem imagino o que Hurwitz andou lendo ou assistindo nesse meio-tempo, mas a sua evolução na construção de climas e cenários é escandalosa.

No início da trama acompanhamos um ex-detento recém-saído da prisão e as dificuldades que enfrenta para se reintegrar à sociedade. A narrativa é tão eficiente em cativar o leitor, que fica difícil não torcer pelo personagem quando ele finalmente começa a dar a volta por cima. O clímax é fora-de-série. Hurwitz ainda introduz um grupo neo-KKK chamado Anjos Brancos, fornecendo o gancho necessário para o Matador de Idiotas intervir com som e fúria.

Os desenhos agora estão por conta do ótimo Paul Azaceta (B.P.R.D.: 1946), que se revela muito mais adequado àquele universo do que Lan Medina, o artista anterior. Com um estilo rotoscópico que lembra o de Michael Gaydos (Alias), ele também conta com um bom repertório de recursos sequenciais. Dá um show já nas duas primeiras páginas, com cinco quadros retangulares cada, ilustrando cenas do mortificante cotidiano da penitenciária.

Um excelente (re)começo. Tomara que a dupla mantenha o nível - e saiba tirar um bom proveito da participação especial do Justiceiro, mais pra frente.

♠ ♠ ♠ ♠



Terror Inc. #4

A história de um vândalo em pleno ano de 455 que, entre mortes, estupros e pilhagens, mata uma besta-fera demoníaca e acaba amaldiçoado a apodrecer em vida eterna. Uma espécie de Highlander sem problemas com decapitações, mas com o prazo de validade pra lá de vencido. Com o tempo, ele aprende alguns macetes sobre sua nova condição, como o estranho poder de incorporar órgãos e membros "extraídos" de outros seres. E até mesmo possuir novos corpos para assim descartar o anterior, deteriorado. Dois milênios depois, ele continua no ramo do assassinato - agora por contrato e sob a alcunha de Sr. Terror.

A primeira edição de Terror Ltda. foi bem curiosa e intrigante. Apesar de parecer um carnaval de vísceras e fluídos, o roteiro lovecraftiano de David Lapham consegue tecer um bizarro conto de origem para o personagem (certamente inspirado no abominável Dr. Phibes). Em particular, na fase passada em 1164, nas gloriosas batalhas contra os Cavaleiros das Sombras. Décadence avec élégance pra chuchu.

Mas verdade seja escrita... ainda que divertidas, as demais edições são grafismo puro e desmedido. Tem mais sangue e toucinho exposto aqui do que numa versão director's cut estendida de A História de Ricky! E mesmo a reviravolta preparada por Lapham (ganhador de um Eisner) soa bastante previsível.

Nada que a desqualifique, porém. O personagem é carismático e tem nuances interessantes, bem como a sua agente, a cool e gostosa Sra. Primo. Os bons traços de Patrick Zircher (Thor: A Era do Trovão) fecham a conta e garantem a perversão.

♠ ♠ ♠



Punisher MAX #54

Tem algo esquisito no ar quando um vilão como o Barracuda ganha a simpatia irrestrita do leitor. O cara não é como o Dr. Destino, o Darth Vader ou qualquer desses arquétipos icônicos. É vilão nível humano mesmo. Genocida canibal estuprador matador de criancinhas - sempre com um largo sorriso no rosto e uma piada pronta. Desconcertante. Mas não se engane, é só a diversão de Garth Ennis entre uma e outra incursão mais séria do Justiceiro.

Por isso que, mesmo sob um contexto tão barra-pesada, os dois arcos com participação do Barracuda, mais a sua minissérie solo, têm sabor inequívoco de entretenimento fácil. A walk on the wild side. E absolutamente imperdíveis.

Esta conclusão do arco A Longa e Fria Escuridão não nega sua vocação. São dois homens de ferro determinados a fazer o que for preciso para quebrar um ao outro, física, estratégica e psicologicamente. Quando o barraco explode de vez na reta final, são necessárias as duas últimas edições inteiras para estirpar na porrada a tensão absurda que foi construída. Uma pequena obra-prima demencial do reverendo. Amém.

Claro que sem o traço estilizado do croata Goran Parlov, o Barracuda não seria metade do que é - a primeira edição desse arco, desenhada pelo veterano Howard Chaykin (American Flagg) soou como uma introdução de luxo, mas na verdade teve pouco a ver com o personagem. A arte de Parlov está mais refinada do que nunca e se supera nas páginas 81-84 com os quadros em flashback destrinchando a vida caótica do vilão.

Vendo as cenas criadas pela dupla, sempre imagino como se fossem de algum longa animado hardcore. Sonhar não custa nada, afinal.

♠ ♠ ♠ ♠ ♠

8 comentários:

Avalanche(Lance) disse...

Cara...o Terror Inc devia ter herdado uam sére mensal.

Melhor que o Deadpol ter 4 revistas mensais.


Ahh Dogma...viuq eu o motoqueiro apesar do arco bom empacotou de vez.

Luwig disse...

Marvel Max tem uma regularidade absurda se comparada com qualquer outro mix mensal, sem nunca chegar, desde seu lançamento, a infame marca de 25% de aproveitamento.

A única coisa reprovável seria a parca diversidade de capas, de dois anos pra cá, só tem dado Arthur Suydam e artista sui generis. Aliás, como você bem disse, a longa ausência das artes de Tim Bradstreet é dose, inclusive conseguiram a façanha de ignorar a irreverente capa de Punisher Max #51: nela, o Barracuda se acabando de rir segurando Sarah com o braço esquerdo e com o direito dando mamadeira pra ela com a mão que teve os dedos decepados pelo papai dela.

Dica: se já não conhece, leia "pra ontem" a nova do Mark Waid, "Irredeemable". Com apenas nove edições publicadas até aqui, já consegue ameaçar o reinado de Poder Supremo como melhor releitura sombria da LJA. Vale sua atenção.

Abração.

J. Martin (Jünera) disse...

Foda-se, eu posso encarar esse delay e ler os seus reviews, porque curto seu blog, way more.

doggma disse...

Pois é, Lance. Pior que muita gente nem deve ter se dado conta da qualidade da parada. Fazer o quê, né.

Deadpool já teve uma fase sensacional, por Joe Kelly/Ed McGuinness (publicada na saudosa Marvel 99). Mas isso foi há muuuuito tempo...

Luwig, também nunca entendi porque essa capa não foi a escolhida. O timing e a sutileza eram perfeitos! E até ouvi sobre a Irredeemable, mas ainda não conferi. Se é isso tudo aí mesmo, matarei-a pra semana.

Aliás... que tá achando que vai acontecer desta vez com Rick & cia em The Walking Dead? Suspense tá insuportável...

Fala aí Phinatic!

Junior disse...

Obviamente não sou tão database de HQ como o povo daqui, mas me considero um leitor desde 93 talvez 94, e conseguia umas wizards gringas também.
Digo que gosto do blog porque despreza o hype/cool de tudo que pode haver por trás de filmes, hqs e cultura "pop" e é tratado com Balls and guts, sem licensa poética.
Eu não moro mais no Brasil faz algum tempo e só sei como andam os lançamentos divido aos blogs(poucos), os mesmos escritos por pessoas que eu imagino que sejam Old school e que me animam a cada post.

Junior disse...

comi uma parte do texto, "quando compravam hqs para mim e conseguia umas wizards gringas também"

YuriPfleger disse...

Olá, muito bom seu blog, queria saber se é possível comprar gibis como este pela internet ? Desde já agradeço muito !

doggma disse...

Ah, com certeza. No site da Panini tem as edições atrasadas disponíveis na loja virtual. E para as HQs um pouco mais antigas, o Mercado Livre e o Estante Virtual são indispensáveis. Uso direto.

Ps: só lembrando para verificar a qualificação dos vendedores antes de efetuar qualquer compra.