domingo, 21 de novembro de 2010

Veni, vidi, zombie


3º episódio de The Walking Dead e eu ainda com aquela expressão besta de realização. É o segundo capítulo sem a direção do figuraça Frank Darabont, já alçado ao cânone pelos leitores da HQ após o piloto antológico. Mas não só os aficcionados pela odisseia undead de Robert Kirkman, Tony Moore e Charlie Adlard estão nas nuvens: a série coleciona recordes de audiência e elogios de gente influente de várias esferas - destaque para o artigo do New York Post, especulando que The Walking Dead pode se tornar para a AMC o que Os Sopranos foi para a HBO. A mobilização popular em suporte às filmagens em Atlanta foi tamanha, que os produtores tiveram que recusar voluntários. Infame ou não, aqui vou eu: no futuro, todos serão zumbis por quinze minutos.

Tecnicamente, o texto está impecável. A estratégia adotada nessa adaptação deveria servir de bíblia para toda e qualquer futura incursão nesse veículo. Um dos aspectos mais bem-sucedidos do roteiro foi expandir os pequenos ganchos da HQ até transformá-los em subtramas completas. Um novo olhar para a mesma história, mas de um ângulo diferente. O que faz da série algo quase tão inédito para os leitores quanto é para os leigos. Quem diria que o cerco policial do início do piloto (compactado na 1ª página da HQ) era precedida de um crescendo tão tenso e eletrizante?

Mais ainda, quem diria que uma introdução tão polêmica e gráfica seria tão aclamada?


Outra façanha, dessa vez no 2º episódio, foi unir dois momentos da trama (edições #2 e #4) e realocar a ponte entre elas (#3) para o final, esticando a tensão do reencontro de Rick com Lori e Carl. Provavelmente, seria o que Kirkman faria hoje, mais experiente. Participando da série como produtor executivo, é palpável sua contribuição na adaptação, o que deixou tudo muito fluído, natural e sem grandes concessões. Pelo menos até agora.

Uma curiosidade: Darabont disse que usou o filme A Noite dos Mortos-Vivos como bíblia para os zumbis de The Walking Dead. Assim, vemos detalhes na série que remetem diretamente ao clássico de George A. Romero. Zumbis quase rápidos se misturando com outros bem lentos e danificados, e também ataques a animais, algo que muitos estranharam (o que teve de gente se remoendo de dó do cavalo!). Lembrando que no filme de Romero, os mortos-vivos não dispensavam nem insetos. Fora a cena em que um dos desmortos usa uma pedra para quebrar uma porta de vidro - mais que uma referência, uma homenagem.

O elenco está irrepreensível. Qualquer dúvida que já tive em relação à Andrew Lincoln caiu por terra há muito tempo. Ele traduziu a essência de Rick Grimes para a tela como se conhecesse a HQ de cabo a rabo. A excelente impressão continua com Sarah Wayne Callies, no papel de Lori - pelo jeito, a Sara, de Prison Break, ainda vai expiar (e muito) seus pecados -, e Chandler Riggs, o guri que interpreta o Carl.

O moleque é bonitinho e tal, mas sabe mandar um puta olhar de jagunço quando quer. Tipo da atitude que vai precisar (e muito), conforme o avanço da série.


Os demais atores do núcleo principal mantêm o nível. Jon Bernthal vai montando de maneira crível a desestabilização emocional de Shane e também é notável os bons desempenhos de Steven Yeun (é o próprio Glenn!), Laurie Holden (Andrea) e a gatinha Emma Bell (Amy), do bacana Pânico na Neve. Mas, na minha opinião, o melhor em cena até aqui foi Lennie James, que participou do piloto no papel de Morgan Jones. A sequência em que ele quase se despede da esposa pela mira de um rifle é emocionante. Só essa cena já vale a assistida. Uma das melhores atuações que vi em séries.

No campo das novidades, muito me surpreendeu a escalação do veterano Jeffrey DeMunn para o (importantíssimo) papel de Dale. Colaborador de longa data de Darabont, DeMunn reedita aquelas combinações ator-personagem onde um parece que nasceu pro outro. Uma atuação de alto nível é o mínimo que se pode esperar daí - e será exigida... ah, se será. Quem lê The Walking Dead certamente teve espasmos musculares ao ver o boné australiano despontando no horizonte.

Por fim, e talvez o mais importante, o grande Michael Rooker no papel de Merle Dixon. Personagem inexistente na revista, é o típico white trash reacionário e racista. É a banda podre do grupo de sobreviventes - elemento constante em todo zombie movie. E talvez o primeiro vestígio de uma alteração realmente significativa (e duvidosa) nesta adaptação.

Crianças que não leram The Walking Dead... por favor, retirem-se da sala.

Spoilers adiante.


Pelo casting divulgado, Rooker sairá de cena por um tempo. Merle Dixon é personagem que com certeza dará trabalho num eventual comeback cheio de som, fúria e vendettas. Some 1 mais 1 e pronto: Governador. Será?

Até onde isso é bom? É Michael Rooker. Nesse ponto, está mais que bom.

Até onde pode ser ruim? Apesar de ser uma escória ambulante, Dixon não parece ter o perfil monstruoso do Governador. Ele é só um bandido caipira e arruaceiro. A não ser que entre o ponto A e o ponto B esteja uma experiência realmente traumatizante e enlouquecedora, não consigo vê-lo fazendo as coisas que o Governador faz em suas horas de lazer.

Aliás... não consigo imaginar as cenas de sadismo/pedofilia/necrofilia passando em canal que seja na Terra.

E gosto do fato do Governador aparecer como um desconhecido amigável à primeira vista e aos poucos ir se revelando mais cruel que o próprio capeta. É uma experiência que mudou a forma como Rick e outros personagens se portariam dali em diante em relação a outros sobreviventes - e deixou as histórias ainda melhores.

Mais uma coisa: será que a AMC terá cojones pra mostrar o destino de Lori e seu rebento?



Dúvidas, dúvidas. Daqui a pouco tem outro...

12 comentários:

samurai disse...

Não li a HQ (mas li os spoilers :) ), e to achando a seria megafodastica. Tomara que continue no mesmo nivel e melhor não seja deixada pra la como por exemplo Jericho (onde o Lennie James tb participou e foi muito bem).
Rapaz outro assunto,dia deses tava encasquetado com uma referencia que vc fez as "First People" de fringe(no fim da 2 temporada). Vi o ep 6 (6955kHz) que fala um monte sobre eles e tentei lembrar em que episode da 2 temp falava desse povo. Acho q nenhum. Me parece que isso ta la escondido , entre a frases do que é a fringe science.
Apesar disto não ser mais nenhuma novidade (basta da uma googleada), foi aqui q vi a reference primeiro.

Abraços
Alessandro

Anônimo disse...

First People é o nome do episódio em que Liv e os outros vão para o outro lado, chegando no teatro, acho.

Luwig disse...

Boa divagação sobre o futuro de Merle, só não espero que venha a se concretizar (que nem você). Aliás, ficaria até óbvio, se porventura essa hipótese fosse levada à cabo, qual seria o primeiro membro de Rick em que Dixon gostaria de "aparar".

E 'Vatos'? Começou burocrático, foi, foi e terminou numa carnificina de encher os olhos. Besteira minha, mas cheguei a cogitar aqui com meus dois botões que a Amy seria poupada nesse formato, mas é aquela coisa, se não fosse, não teríamos a Andrea que temos hoje nos quadrinhos: bad ass e sniper. Só estranheir o Jim ter sido poupado nesse round, acho que fica pro próximo.

Agora a dúvida, será que a primeirona acaba com o Carl mandando o Shane pra vala ou será que ainda dá tempo de pararmos no condomínio de Wiltshire Estates com todos esperançosos e centenas de walkers à espreita? Seria "Segurança atrás das Grades" uma realidade já pra segundona?

Porra! Novamente, que vacilo o da HQManiacs, hein? Dizem que finalmente chega em dezembro o Vol.5 e em 2011 efetivam algo que pareça com alguma regularidade...

O negócio é entregar isso a Dews, como sempre (eheheheh).

Respondendo a sua pergunta retórica no final do texto: sim, eu acho que terá (já viu Breaking Bad? a resposta está ali).

Bernardo disse...

Você tocou no ponto exato, também continuo duvidando daquilo tudo ir parar na tv (apesar do Darabont dizer que tem carta branca e tal...). Adaptação fiel mesmo acho que só se fosse num filme francês da safra recente, porque nem no cinemão americano ia dar. O destino da Lori até acho que vai acontecer, mas não daquela forma. Breaking Bad é foda, mas nem chega nem perto disso, lembro que quando li esse desfecho fiquei uns três dias em parafuso.
Uma coisa interessante, é incrível como figuras de papel e tinta, como são os personagens de HQ, podem se tornar tão reais e presentes a ponto de, quando vemos a personificação live-action delas a empatia é imediata. Isso está acontecendo o tempo todo nessa série. Claro que isso só rola quando as duas obras, original e adaptação, são bem feitas a ponto de gerarem esse "efeito colateral"

doggma disse...

Luwig, acho que a fase da penitenciária até daria pra ser encaixada na 2ª temp. Mas também tem a parada na fazenda do Hershel, logo após o condomínio. Dependendo de como vão fazer, podem estacionar por lá até quase o final da season (e talvez concluir com um cliff da prisão).

O que a "HQManíacos" andou fazendo com TWD todos esses anos... nível Mythos de respeito ao público.

Bernardo, bem observado... E acho que Preacher e Y têm tanta propensão a isso quanto TWD.

Do Vale disse...

HQManics consertando as escorregadas a tempo, hein?

Anônimo disse...

Encontrei o site por acidente, matéria muito boa mesmo. Boa gramática, bons pontos sobre a série(óbvio que vai ser o governador) e visão imparcial. Parabéns.

doggma disse...

Valeu. Nóis fazemos o que podemos.

Luwig disse...

E aí? Rolou um "epa" depois de 'Wildfire'? CDC? Sei não, fiquei em defcon 5 só com o susto.

Anônimo disse...

belo post, camarada.

para ler as revistas, só comprando no site da HQManiacs? alguma dica?

abs

doggma disse...

Boa pergunta. O site deles é deplorável, especialmente na parte sobre TWD. A melhor dica que posso dar é recorrer ao blog Vertigem. Mas isso é meio outlaw, if you know what i mean...

Anônimo disse...

hehehe, saquei. mas valeu pela dica!

abs