Pareceu uma eternidade, mas finalmente
The Walking Dead retornou dos mortos... ou melhor, de seu recesso de quase três meses. Pouco é sabido sobre o gerenciamento da bagaça nesta etapa da segunda temporada. Nos créditos iniciais o nome de
Frank Darabont ainda consta como o responsável pelo desenvolvimento, além de produtor executivo - função também creditada a
Glen Mazzara, o
novo showrunner. Tudo mais é mera especulação. Os pormenores do atual direcionamento não foram abordados pela AMC, muito menos pelos profissionais envolvidos. Então a saída lógica é relaxar e parar de super-analisar... opa, mas esse não sou eu, ainda mais em se tratando de mortos-vivos.
It's zombie time!
Oitavo episódio desta temporada,
Nebraska começa exatamente do ponto onde a trama parou. A extenuante busca por Sophia finalmente chega ao fim, da forma mais trágica possível. Porém, o sentimento que bateu mais forte no grupo foi o de desilusão pelo futuro, excetuando Shane e, logicamente, Carol, a mãe da menina. Enquanto Carol passa seus próximos momentos devastada, Shane segue inabalável em seu inconformismo, batendo de frente com Rick, Dale e Hershel - que, pela primeira sua vez se dá conta da gravidade da situação e inevitavelmente entra em crise.
Esse complicado aspecto psicológico foi muito bem retratado pelo roteiro de Evan Reilly. E mais ainda pelo cast. A química entre os atores está efervescente, com trocas de olhares por vezes falando mais alto do que os diálogos. Até Steven Yeun (Glenn) e Lauren Cohan (Maggie) superaram sua hesitação inicial e estão interagindo com uma notável cumplicidade. Vide a cena em que Maggie questiona Glenn se ele também pretende ir embora. Havia muito subtexto ali e eles conseguem entregar a carga inteira para o espectador. De arrepiar.
Por sua vez, o Daryl de Norman Reedus continua um filho da mãe durão pra caralho. Mesmo naquele clima desesperador, o caipira segue impecável em sua representação do nobre selvagem (o
"escuta aqui, Olívia Palito" foi lapidar). Já T-Dog ainda não me desperta a menor solidariedade. O personagem foi concebido com perfil genérico, limitado e com prazo de validade vencido antes mesmo das cópias do script serem impressas. Sentimento estendido para a irmã de Maggie e seu namorado Jimmy, por neglicência do roteiro. Espero que todos caiam numa piscina cheia de zumbis.
A sequência final foi bastante sugestiva. Rick, Glenn e Hershel se deparando com dois "errantes" vivos que parecem esconder alguma coisa por trás da fachada amigável. Tipo da cena tensa frequente nos quadrinhos e transposta à perfeição para
o monitor a telinha. O suspense é bem construído e acima de tudo
incômodo, graças ao tom dúbio adotado pelo ator Michael Raymond-James (o Rene, de
True Blood), numa ótima performance. A conclusão do entrevero foi providencial para Rick, que há tempos precisava de uma boa catarse. E ainda provou que tem plenas condições de fazer o que precisa(rá) ser feito. Se as coisas se mantiverem nessa linha, devemos esperar por atitudes mais incisivas partindo dele. Já era hora.
Na cena também somos informados sobre alguns lugares que caíram ao avanço dos zumbis. Montgomery (Alabama), Kansas, Nebraska e também o Forte Benning (Georgia) tão visado por Rick e seu grupo. O que limita bastante as opções fora da propriedade de Hershel - e isso está longe de representar algo positivo no enredo.
O arco da fazenda está sendo adaptado com esmero, dramática e esteticamente. Em contrapartida, já em seu
mid-season a narrativa apresenta dificuldades em se sustentar. Há uma forte sensação de adiamento na trama, o que tira a força do (bom) crescendo dramático e o deixa sem um escape regular. É um preço alto, como visto no caso de Sophia, amplificado por aquele ambiente rural, tipicamente bucólico e uniforme. Isso fica evidente quando Rick, Glenn e Hershel mudam de cenário (e objetivo) pela primeira vez em um bom tempo, com bons resultados.
O episódio também foi pobre em
zombie action. E nas poucas cenas isoladas (Beth sendo atacada e a "pick-up of the dead") houve uma falha grosseira quando as roupas dos cadáveres levantam e revelam peles mais coradas e saudáveis que a minha. Tipo do defeito especial que se espera de
Crepúsculo, com seus vampiros besuntados com pomada minancora até a linha da gola da camisa.
E não sou exatamente um especialista, mas a montagem desse episódio parece ter sido feita às pressas. Cortes estranhos que tiraram a fluidez de várias sequências e sobretudo uma overdose de Shane, que parece estar em todos os lugares ao mesmo tempo, até em cenas subsequentes (!). O roteiro de Evan Reilly tampouco consegue sair ileso de algumas chamuscadas. O que foi a insistência de Lori em enviar alguém para buscar Rick, quase que imediatamente à sua partida? É abusar muito da estupidez naquela altura do campeonato.
Deu no que deu. Só espero que isso não signifique aquilo que estou pensando. Ah, aquela edição #48...
Cotação: