Deu no feice: tudo certo pro álbum de estreia do
Mr. Catra & Os Templários, a banda de metal e hardcore do digníssimo embaixador/engenheiro/diplomata Wagner Domingues da Costa, vulgo
Mr. Catra - e dou o serviço, foi o
Wikipédia quem caguetou essa informação. Quem estava acostumado com o folclórico cancioneiro do MC, abordando de
conduta moral à
crise na instituição do casamento até
relações trabalhistas, vai arrepiar os cabelos descoloridos, franzir as tocas ninja e inverter os sorrisos de suas tatuagens do Jóker.
Ao que parece, as músicas realmente não fazem a menor concessão pra malandro (e muito menos pra mané) e mostram que Catra & cia não vêm pra perder viagem. O som é papo reto!
O que normalmente pareceria mais um atentado ao rock 'n' roll nosso de cada dia, se desenha não como sua salvação, mas como a injeção de sangue quente que o pop brasileiro vem implorando há muito tempo. Sim, o
underground é fervilhante, só que aquela ponte para o mainstream continua no fundo do rio. Catra, por sua vez, é um dos artistas nacionais com maior exposição na grande mídia - agora mesmo ele está lá, distribuindo seus vaticínios pra
revista grande. E com público próprio e fidelizado garantido a autossuficiência comercial.
Usando todo esse alcance pra tocar o terror num programa dominical, ou mesmo sabático, o estrago seria antológico.
Habitué em qualquer atração da TV aberta, seja pra falar de maconha, do funk proibidão ou de seus 788 filhos e 354 esposas, a correção política é a menor de suas preocupações. Não é balela poser, o cara vive isso. Fosse na gringolândia, certamente seria parte da turminha do Lil Jon, Big Boi e Snoop Dogg. Transposto para o idioma do rock pesado, acaba adquirindo contornos de autêntico bad boy, saído direto da favela/gueto/trenchtown. Um Ice-T dos trópicos - e olha que Ice é um chihuahua perto da besta-fera carioca.
Marrento que só, diz que "curte e respeita"
Led Zep,
Biohazard e
Body Count. Sem descansar a artilharia, se
compara a David Coverdale. E antes que alguém leve à ponta da faca, é bom frisar que isso também tem tudo a ver com a melhor tradição malaca do rockstar.
Trash talk, inadvertido que seja. E se for, melhor ainda.
Pra quem está de saco cheio de rockinho cara limpa, Chicos Buarques de CCE universitário e indies de SESC, o álbum do Catra (e d'Os Templários) parece até providência divina. Chuva de fogo e enxofre pra cima de uma ceninha de bastardos bossa-novistas e penetras no Clube da Esquina.
"Acho que esse disco vai acabar com a brincadeirinha que virou o rock. Agora é porrada. O rock voltou. Acabou o colorido. Acabou a matinê."