Marie Severin
(1929 - 2018)
&
Gary Friedrich
(1943 - 2018)
Parece que foi ontem que eu comemorava o encontro, num só encadernado, de grandes quadrinhistas da velha escola - entre eles, Marie Severin e Gary Friedrich. Saber da partida de ambos na mesma manhã de quinta-feira é daqueles momentos que fazem colocar certas coisinhas sob perspectiva. Mais precisamente, o tempo, a vida, sua finitude. Aquele post já tem absurdos dois anos. E tanto Severin quanto Friedrich, cidadãos seniores cujas biografias se confundem com a história dos comics, tiveram seus últimos trabalhos publicados há longínquos 25 anos - também conhecido como 1/4 de século.
Gary Friedrich não era um simples veterano. Era veterano de Atlas e Charlton Comics. Isso é pré-Pré-História. Chegou a trabalhar com o irmão de Marie, o fantástico John Severin, em Sgt. Fury and his Howling Commandos. Também foi um co-criador dos infernos, lançando Daimon Hellstrom, o Filho de Satã e o Motoqueiro Fantasma. Este último, foi pivô de um embróglio judicial interminável entre o artista e a Marvel em mais um capítulo vergonhoso na história da editora - e razão pela qual escolhi a imagem até meio comovente dele aí em cima.
Marie Severin começou com um empurrãozinho do irmão John para cobrir uma vaga de colorista na icônica EC Comics. Trabalhou ao lado do próprio Harvey Kurtzman. Sofreu diretamente com a paranoia do Comics Code na década de 1950, mas ressurgiu na Era de Prata da Marvel, onde construiu uma extensa bibliografia. Co-criou o Tribunal Vivo e a Mulher-Aranha original. Foi particularmente prolífica na cult Crazy Magazine e na Not Brand Echh, publicações satíricas da editora. Workaholic inveterada, brilhou tanto na arte - em gibis e designs de outros produtos relacionados, incluindo o papel higiênico do Hulk e do Aranha! - como também no comando de projetos e divisões.
Pioneira é pouco: Marie Severin foi um mulherão da porra.
E com lucidez e senso de humor afiado até (quase) o fim!