Sempre curti antologias. Material
DC-
Marvel adequado —fruto de seu zeitgeist, emblemático,
antológico— tem de sobra. Estivéssemos em um cenário econômico minimamente decente, estaria me refestelando nas
investidas da Panini pela linha. Mas já que a editora segue esnobando o apelo fácil das
Archive/
Epic gringas em favor do couché com capa dura deluxão de 150 minions, lá vai o infeliz aqui submeter boa parte do checklist a uma triagem de fazer inveja ao exército espartano. Tempos desesperados.
Vez ou outra surgem algumas surpresas, como a supimpa mini
Batman/Huntress: Cry for Blood, de Greg Rucka, ensanduichada no meio da improvável
Arlequina e as Aves de Rapina: Antologia. Vê se pode e que Deus abençoe o
Guia dos Quadrinhos.
No caso da
Liga da Justiça, renderia uma série de antologias, fácil. Em particular, da
Liga pré-Crise, em sua maior parte ainda criminosamente inédita por estas bandas (os drops "clássicos" que fecham os volumes da salgadeira Eaglemoss não contam). Então,
Liga da Justiça: Antologia serve sobretudo como um paliativo neste
worst case scenario, além de um arquivo razoavelmente compreensivo. Claro que não dá pra mastigar e cuspir 60 anos de cronologia assim, na loucura. Mas é bem divertida a viagem de classe econômica desde a
The Brave and the Bold #28 inicial, com breves escalas na Era de Bronze e na Liga tosca até os
bad boys dos
Novos 52 —sim, estou falando de você, Clark.
E esta
Antologia também me trouxe um impacto pessoal extra: a inclusão da
200ª edição de Justice League of America, de março de 1982. Ou melhor, da
"Superdimensionada, Estrelada 200ª Edição de... ★★★★★
Liga da Justiça da América ★★★★★
", como se rasgavam na chamadinha de capa.
E que capa.
George Pérez é um dos filhos da puta mais talentosos que a indústria dos quadrinhos já pariu. E aqui, sua presença cheirava como a melhor novidade dos
comics regulares desde sei lá quando. Nem era realmente uma
novidade, mas Pérez finalmente desenhando a Liga da Justiça, apesar de já ter experimentado isso numa
aventura dos Novos Titãs, pra mim, era como um
big evento. E, inadvertidamente, era mesmo, já que aquele foi o canto do cisne do artista no título.
A própria Liga me soava como algo novo e excitante. Em 1986, ainda molequinho e já sem 1 tostão, tinha que escolher cuidadosamente o que iria levar da banquinha. Não era raro conhecer tardiamente alguns medalhões das HQs. Às vezes, o destino conspirava a favor e meu 1º contato pra valer com os Superamigos de papel foi em grande estilo:
Super Powers #3, da
Abril. Essa li e reli até gastar.
A aventura
"Uma Liga Dividida" é
hors concours em listas de melhores histórias da equipe em todos os tempos. E na minha também. Na trama, os novos integrantes da Liga são atacados pelos membros originais, que aparentemente não têm nenhuma memória sobre eles. Seu objetivo é reunir os sete meteoritos onde estão os candidatos à soberania de
Appellax, planeta dos mesmos aliens que eles enfrentaram em
plena Era de Prata (se morda de inveja, Grant Morrison) e que, olha o
spoiler, agora os mantêm sob domínio mental. Os fragmentos estão espalhados ao redor do globo —Índico, Zimbábue, Irlanda, Itália, Ilha Paraíso— e aí tem início aquilo que mais fazia a alegria do povão nerd da época:
super-herói versus super-herói. Yay!
Não era uma história complexa, tampouco original —é mais ou menos uma versão DC da clássica
Vingadores X Defensores, de nove anos antes— e nem creio que este tenha sido o intento do roteirista
Gerry Conway, àquela altura titular na Liga por 50 edições. Ao confrontar duas gerações de heróis, Conway exalta todo aquele simbolismo heróico/libertário/inspirador que a superequipe projeta como nenhuma outra, aspecto este que havia sofrido um desgaste natural com o passar dos anos. O foco era revitalização.
Naquele período, as edições comemorativas haviam se tornado um filão interessante para as editoras. E por mais que a Marvel tenha produzido especiais memoráveis como
Fantastic Four #200 (nov/1978),
Amazing Spider-Man #200 (jan/1980),
Thor #300 (out/1980) e
Avengers #200 (out/1980 —
hmmm, essa talvez não...), ninguém sabia fazer uma festa como a DC. Em
JLA #200, a editora reuniu um cast inacreditável para ilustrar as porradarias super-heroísticas.
Temos aí
Pat Broderick fazendo
Ajax/
Caçador de Marte/
J'
onn J'
onnz vs. Nuclear,
Jim Aparo com
Aquaman vs. Tornado Vermelho,
Dick Giordano em
Mulher-Maravilha vs. Zatanna,
Gil Kane com
Lanterna Verde vs. Elektron,
Carmine Infantino em
Flash vs. Homem-Elástico,
Brian Bolland com
Batman vs. Arqueiro Verde &
Canário Negro e o mestre
Joe Kubert desenhando
Superman vs. Gavião Negro.
Como se vê, uma escalação privilegiando criadores, como Kubert-Gavião Katar Hol e Kane-Elektron/Lanterna Hal Jordan, e artistas regulares de longa data, como Aparo-Aquaman e Broderick-Nuclear. A exceção é o
british Brian Bolland, recém-saído da 2000 AD, em seu
3º trabalho para uma arte interna da DC. A maior parte das artes-finais é feita pelos próprios desenhistas, menos Pérez, finalizado por
Brett Breeding, os segmentos de Broderick, por
Terry Austin, e de Infantino, a cargo do grande
Frank Giacoia.
O resultado é o
crème de la crème de la crème de la crème...
É a 1ª vez que essa história é republicada por aqui desde aquela jurássica
Super Powers —sabe-se lá por que catso a Panini só incluiu o prólogo com a origem resumida da Liga na
Coleção DC 70 Anos 5 de 6. Logo que bati o olho na seleção, meu coração pútrido e nostálgico quase saltou pela boca. Finalmente estava próximo de colocar minhas garras nessa história em formato integral. Aquele infame
"chuunf" cocainômano pelas páginas pós-retirada de plástico estava mais próximo do que jamais esteve...
...ou quase.
Só pra não perder o costume, na
1ª tiragem do volume, a
Panini chutou o pênalti direto pra Lua. Simplesmente confundiram a edição
JLA #5 (maio/1997) constante no índice e nos créditos da contracapa com
Justice League #5 (setembro/1987). A primeira é da fase de
Grant Morrison e do
Superman elétrico, enquanto a última é a Liguinha de
Keith Giffen e
J.M. DeMatteis, já representada no encadernado pela edição #1.
E lá fui esperar
recall, mais uns meses até uma nova tiragem, solicitar o código de postagem-reversal russa, redigir cartinha explicando a peraltice da editora, empacotar tudo com cuidado, me dirigir até uma agência dos Correios e sentir a espinha congelando com a porrada que a atendente deu com o pacote na quina do balcão. E este foi mais um oferecimento do meu, do seu, do nosso...
★★★★★ Porra, Panini!® ★★★★★
Ainda tive que segurar a abstinência por mais algumas semanas até aquele
chuunf restaurador (por isso não faço vídeo
unboxing, seria quase tão constrangedor quanto manter um blog hoje). Mas enfim, a nova edição chegou corrigida
brand new.
Agora posso viajar sem interferências TOCquísticas pelo desenho estrutural do
Satélite da Liga. Melhor base.
E, claro, ver o que o Azulão (literalmente) contava de novo naquele restinho de século e com direito a Batzuada.
Por sinal, essa foi a
estreia do Superômi 220V na minha coleção física. Demorei só o necessário.
No fim, tudo deu certo e o bem venceu o mal. Como na
Justice League of America #200...