Ian Kennedy
(1932 - 2022)
No dia 5 último, se foi o legendário ilustrador
Ian Kennedy. O artista britânico ganhou fama com seus
trabalhos para a 2000 AD, em especial nas strips do herói
Dan Dare, na revista
Eagle. Sua carreira teve início no final da década de 1940, como trainee no departamento de arte da DC —não a
Detective, mas a companhia escocesa
DC Thomson & Co., baseada em Dundee, sua terrinha natal. Lá, se especializou em quadrinhos de aventura e guerra, onde deu vazão ao seu
fascínio por aviação.
Nos anos 1970, já na 2000 AD, mergulhou no universo de ficção científica da editora. Trabalhou em diversos títulos, sempre concilando com frilas na DC Thomson. Seu
estilo preciso e elegante mantinha um padrão notável tanto no lápis e nanquim quanto nas artes pintadas, formato onde, talvez, se tornou mais conhecido mundo afora.
Era prolífico: foi capista em
mais de 1600 edições só do título
Commando. E seguiu produzindo mesmo após a anunciada aposentadoria.
Em mais de
70 anos de carreira, foi um
workaholic inveterado e uma referência na 9ª arte do século XX, mas, acima de tudo,
um sujeito feliz. Nada mal pra quem estreou na profissão pintando os
quadros pretos das palavras cruzadas do semanário
Sunday Post.
Para surpresa de absolutamente ninguém, quase nada de Ian Kennedy foi lançado no Brasil. Segundo o
Guia dos Quadrinhos, consta apenas 1 história com sua arte. Foi em
julho de 1979 na revista
O Capitão Z apresenta: Ano 2000 #6, antologia de materiais da 2000 AD publicada pela
EBAL (!).
Fora isso, ele marcou presença em pelo menos mais uma publicação que —ao exemplo do recém falecido cineasta Ivan Reitman— também teve seu impacto por aqui nos anos 1980...
S.P.A.C.E.: Sistemas e Planos de Ataques a Comandos Estelares saiu em 1983 pela editora
Rio Gráfica (futura editora
Globo) e é, fácil, um dos melhores álbuns de figurinhas já lançados. O álbum montava o cenário de uma guerra entre o exército mutante do sistema planetário da
Estrela Negra, comandado por
Gruthar,
"o Senhor do Seis Negro", e as forças aliadas dos planetas do
Sol Vermelho (Krypton não incluso). Ao longo da publicação, conhecemos a origem e a evolução das espécies envolvidas, os níveis de tecnologia, os armamentos, as espaçonaves, os recursos naturais, a fauna interplanetária e até espacial.
Era um conceito tão bacana quanto ambicioso. E um universo sci fi prontinho para acomodar inúmeras boas histórias.
Magistralmente ilustrado por Kennedy, o texto era de
Kelvin Gosnell, um dos primeiros editores da 2000 AD, com visível inspiração em pilares como
Duna,
Star Trek e as obras de Isaac Asimov. Infelizmente, timing não era o forte da Rio Gráfica, que acabou lançando o álbum na mesma época do álbum de figurinhas de
O Retorno de Jedi. O resto é lenda...
...
ou seria, não fosse o bom samaritano do blog
Mensagens do Hiperespaço, que digitalizou um raríssimo exemplar completo e
disponibilizou para download.
Ainda hoje, o brilhante conjunto da obra de Ian Kennedy espera justiça por aqui na forma de publicações à altura. Como foi com
S.P.A.C.E.