quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Tem algo lá fora esperando por nós... e não é um homem


O Predador: A Caçada (Prey) está entre os melhores exemplares da franquia. Bem ali, no espaço onde orbita o hoje reavaliado Predador 2, atrás apenas do clássico-brucutu de 1987. E embora A Caçada e Predador 2 sejam animais diferentes, guardam semelhanças pontuais. Quando os criadores e roteiristas Jim e John Thomas escreveram o script para o 2º filme, o objetivo era expandir o mythos do alien-ugly-motherfucker, oficializando o m.o. do safári interplanetário e explorando a diversidade física e cultural de sua espécie. Além, claro, de dar um tapa em seu arsenal high tech, passados 10 anos dos eventos do filme original.

Em A Caçada, a estratégia do roteiro de Patrick Aison e do diretor Dan Trachtenberg é a mesma, só trocando o upgrade pelo downgrade.

Situada em 1719, a trama conta a história de Naru (Amber Midthunder), uma jovem Comanche que cresceu aprendendo as técnicas medicinais de seu povo. Mas o que ela realmente almeja é entrar para o grupo de caçadores da aldeia, como seu irmão, o habilidoso Taabe (Dakota Beavers). Entre a rotina pesada imposta às mulheres e a pressão do conformismo social, Naru visa apenas sua kühtaamia, o teste de fogo para provar seu valor e coragem e assim ser aceita como um dos caçadores. Ela tem sua chance quando um leão da montanha começa a atacar nas proximidades. E mais ainda, quando um Predador aterrissa em pleno Novo Mundo.

A premissa é a mais simples de toda a série, o que já é notável por si só. É preciso realmente se esforçar para escrever um Predador e eles se esforçaram. A grande vitória do filme é o cuidado com os detalhes e a jornada da protagonista — que faz valer cada segundo de tela.


De carreira ascendente e ascendência Sioux, a talentosa Amber Midthunder (de Legion e Banshee) está alinhadíssima com a proposta. Sem errar a mão, ela confere seriedade, profundidade e autenticidade à Naru. E tal qual Beavers, seu irmão na tela, ela também fez seus próprios stunts no filme. Sua performance e presença, sozinhas, já garantem a experiência. Sem perceber, fiquei engajado pela trajetória de Naru e sua esperta cadelinha Sarii, mesmo temendo o momento Davi versus Golias que surgiria, inevitável, até o final do longa.

Como o universo do Predador ainda é um processo em andamento, o roteiro a quatro mãos traz algumas novidades bem vindas, como uma nova variação da espécie Yautja — que vem sendo chamada de Feral Predator ("Predador Selvagem") — e suas armas tradicionais em versões rudimentares. Após o filme, dá pra entender perfeitamente por que os Predadores atualizaram os projéteis heat-seeker para o canhão de plasma...

Outro aspecto muito bem dosado é o das referências ao cânone. No filme, algumas sequências são quase reencenações de momentos antológicos (principalmente do 1º filme), mas com novas roupagens e contextualizações que conferem sua própria sustentação dramática. Mesmo frases de efeito icônicas, como o "se ele sangra...", que poderiam ter ficado extremamente gratuitas, soam naturais com o devido build up. E o modo como Naru consegue driblar a temível visão infravermelha do Predador, sem recorrer ao macete eternizado pelo personagem de Schwarzenegger no 1º filme, é puro futebol moleque indígena. É a diferença entre o mero fanservice e o roteiro bem escrito.

Como se não bastasse, o filme ainda faz uma ponte direta com Predador 2 ao contribuir com mais um trecho da saga da Flintlock 1715 de Raphael Adolini, aqui (bem) interpretado pelo ator canadense Bennett Taylor. Easter egg fino para os iniciados no Predaverso.


Chega o último ato, aquele, inevitável, e, tenho que admitir, fiquei quase totalmente satisfeito. Naru bem poderia ser a hexavó do Billy, não fosse ele um Sioux (bem...). Em meio ao embate definitivo pipocam apenas uns dois momentinhos (coisa de décimos de segundo) que me desceram quadrado, o que é uma média absurdamente alta nessa modalidade. Além do mais, o Predador 1719, apesar de brutal, é inexperiente e também passa por sua própria kühtaamia — em contraponto a Naru, cuja engenhosidade, talento para observação e raciocínio lógico foram exaustivamente treinados por ela desde o minuto em que nasceu mulher.

O Predador: A Caçada já é sucesso de streaming. O que é mais do que merecido. É um filmão.

Não é que as preces funcionaram?

11 comentários:

Chico disse...

Ah mulek! Falei que tinha potencial! Quero ver mas não assino Hulu...

Anônimo disse...

"Em contraponto a Naru, cuja engenhosidade, talento para observação e raciocínio lógico foram exaustivamente treinados por ela desde o minuto em que nasceu mulher". Patético você enaltecendo elas, mulheres são os seres mais inúteis que existem e só servem para ter filhos e parasitar os homens, nós homens construímos a civilização, inventamos diversas coisas, até damos conforto e proteção a esses seres ingratos que são as mulheres que hoje nos odeiam, desprezam e humilham através da filosofia anti-homem o feminismo.

doggma disse...

Nuss, Gardenal purinho.

* * *

Chico, falou e disse, mesmo! E também não assino Hulu, se é que você me entende... ;)

Anônimo disse...

Não vou assistir a esse filme forçado lixo femista com essa indiazinha anã e magra derrotando um alienigina de dois metros e super-força.

Anônimo disse...

Adoro esses filmes com mulheres guerreiras derrotado muitos homens e monstros, mas na realidade apenas os homens continuam sendo mandados para as guerras morrerem como na Ucrânia vs a Rússia onde os homens foram impedidos de deixar o país e obrigados a lutar, cadê as mulheres guerreiras e corajosas que os filmes vendem? Na realidade fogem como covardes que foram sempre.

Anônimo disse...

Acabo de identificar um incel acima. Não teve amiguinhos e ficou assim.

Fivo disse...

Nota-se que vc é um macho alfa, corajoso pacas. Não à toa, é anônimo.

Grimm disse...

EU gostei tb, com algumas ressalvas.
Vai um spoiler pro pessoal que reclama sem ter visto:
Quem faz a melhor luta contra um predator na franquia é o irmão da Naru. De cabeça, acho que só o fan film "Batman - Dead End" tem embate melhor.

doggma disse...

SPOILER também, pra mesma pessoa.

Bem observado, Grimm. Não sei se acho a do Taabe a melhor luta (a da Naru foi bem cinética e visceral), mas certamente foi a montada com mais sagacidade.

O mesmo para os dois Comanches que encaram o Predador lá pela metade. Mesmo assustados, partiram para cima com sangue nos olhos e sem atacar levianamente. Caíram como guerreiros. Roteiro coerente, afinal eram caçadores.

Adoro quando alguém numa luta perdida recebe uma coreografia bem concebida. Só enaltece o quão foda o personagem era, mesmo enfrentando um obstáculo intransponível. Vide Heitor (Eric Bana) X Aquiles (Brad Pitt), em Tróia.

Marcelo Andrade disse...

Salve! Enfim 1 filme de respeito para essa maravilhosa franquia; qto aos achismos creio que algumas pessoas se deveriam se despir de "filtros" e simplesmente olhar por uma otica + simples pq se fosse 1 mano a mano a menina seria destroçada porém o que vimos foi 1 colosso querendo lutar e n querendo fazer 1 massacre (o que ficou evidente no filme de 1987), por isso ele esperou a protagonista e o irmão estarem armados p/ realmente lutarem pau a pau (diferente de 87 que corria qdo via a bala comendo). Foco, conhecimento do proprio ambiente, sorte e observação renderam uma vitoria sofrida mas valida. 1 dos melhores filmes do ano disparado. Abração!

doggma disse...

O Predador '87 também seguia a guilda, Marcelo. Lembre-se que ele poupou a Anna, encarou Schwarza no mano a mano no final... mas que era "dedo nervoso", isso era, rs.

Abraço!