quinta-feira, 31 de agosto de 2023

A insustentável complexidade do simples

Comentando sobre o Rick Beato outro dia, comecei a rever alguns vídeos antigos dele e me diverti demais. Produtor, engenheiro de som, compositor, multi-instrumentista e educador universitário, o músico nova-iorquino usa sua incrível articulação – e seu ainda mais incrível ouvido absoluto – para levar aos neófitos os rigores da teoria musical de maneira prática, espirituosa e mastigadinha. O que rende muito em suas entrevistas, causos de bastidores e análises de sucessos pop.

Foi nessa última que ele descobriu "a música pop mais complexa de todos os tempos". Que foi lançada por um brasileiro®...


Ok, artisticamente, "Never Gonna Let You Go" é tão brasileira quando "Sweet Home Alabama". Sérgio Mendes, ou Sergio Mendes, a incluiu em seu álbum homônimo de 1983 apenas porque precisava de uma balada para dar uma quebra no clima festivo e carnavalesco do disco. E saiu dali com um hit mundial nas mãos. Talvez o seu maior, o que é notável.

Mendes, radicado nos EUA desde 1964, foi um gigante pop nas décadas de 1960-1970. Contabilizou alguns sucessos, como "The Look of Love", "Scarborough Fair", a versão de "The Fool on the Hill", dos Beatles, e, lógico, o clássico "Mas que Nada", do Jorge Ben. Foi indicado várias vezes ao Grammy (levou alguns) e até ao Oscar. Tocou com Deus, na figura de Stevie Wonder, e o mundo. Tocou na Casa Branca para dois presidentes – não que isso valide alguma coisa, mas é a moralzinha agregada. Sacumé.

Lembro de crescer ouvindo "Never Gonna Let You Go" tocando sem parar em tudo que canto, em rádios, novelas, na casa vizinha, na rua. Por décadas. É daqueles standards do gênero adulto contemporâneo que não saem nunca das 50+. Mas sempre notei que havia algo muito estranho naquelas progressões de guitarra e vocais. E por "sempre", leia-se "sempre". Mesmo.

Iria para o túmulo com essa, mas graças aos céus pelo Rick Beato. E só levou 40 anos.

Ps: às vezes as canções pop mais simples são mais difíceis do que se imagina...

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