domingo, 20 de agosto de 2023

“More than words to show you feel...”


O retorno do Extreme após 15 anos de molho foi marcado da forma mais rock and roll possível: com um incendiário solo de guitarra. Crédito para o virtuose Nuno Bettencourt. O vídeo da música "Rise" bateu 1 milhão de visualizações só na primeira semana e seu engenhoso solo foi elogiado por gente como Justin Hawkins (The Darkness) e o multi-instrumentista e produtor Rick Beato. Merecido.

E não custa lembrar que o guitarrista luso utilizou a mesma técnica na música "Peacemaker Die", do álbum III Sides to Every Story, de 1992. É praticamente o mesmo solo, mas, na época, passou batido. Faz parte.

O reencontro de Nuno com o hype também rendeu suas turbulências – e fazia tempo que não surgia uma treta rockeira interessante.

Durante o gap no Extreme, o músico integrou a banda ao vivo da diva pop Rihanna, onde precisou assimilar uma variedade de estilos além do rock. O que não era nada novo para ele, tendo em vista (e ouvidas) suas colaborações anteriores com Robert Palmer, Perry Farrell, Lúcia Moniz e Toni Braxton, entre outros. O cara é bom. E sentiu que precisava lembrar isso ao mundo.

Em entrevisa à rádio inglesa Planet Rock, Nuno caminhou até a proa e bradou a plenos pulmões:
“Quando alguém como Rihanna te chama para tocar, todo mundo pensa ‘oh, que fofo. É uma artista pop, que seja’. Deixe-me dizer uma coisa, o que eu tinha que fazer noite após noite... botar um chapéu de reggae para um lance de reggae, em seguida tocar um R&B, então tocar algum punk rock e pop rock que ela fez, e então faixas dançantes de clube. Todos os tipos (de coisas), todas essas sensações diferentes. Desculpe, mas a maioria dos guitarristas que admiro não conseguiria fazer aquele show em seu tempo de vida. Digo isso da maneira mais elogiosa possível. Slash é um dos maiores guitarristas de rock de todos os tempos, mas eu garanto – e ele seria o primeiro a dizer a você – que se ele tentar tocar uma introdução limpa para 'Rude Boy' de Rihanna, não vai acontecer. Ele teria que lutar. Acredito que se eu não fosse tão diverso musicalmente e conhecido todo tipo de música quando era mais novo, não teria como estar nessa. E também ser aberto, ser um músico aberto no sentido de absorver tudo.”
Quem não ficou nada satisfeito com a declaração foi o Richard Fortus, guitarrista do Guns 'N Roses e amigão do Saul Hudson.

E instagramou seus sentimentos:


O que, no idioma de Luiz Carlini, quer dizer mais ou menos...
“Eu tenho que respeitosamente discordar. @nunobettencourtofficial é um dos grandes, com certeza. No entanto, há muito pouco que @slash não poderia fazer na guitarra (se ele quisesse). Eu fiz turnê com Rihanna antes de Nuno e passei muito tempo tocando com Slash. Este show não seria uma luta para ele.”
A reação de Nuno foi, metaforicamente, extreme escrevendo um TCC de morde-e-assopra em formato de Bíblia, Guerra e Paz e catálogo telefônico:


Resultando na seguinte revisão do que me entregou o Google Translator:
“Bem... sabia que isso eventualmente iria acontecer.

Você não pode ser abençoado e estar em várias capas de revistas de guitarra aos chocantes 56 anos de idade, receber tanta atenção por sua forma de tocar e pelo novo álbum como um guitarrista de rock sem que algum outro guitarrista agite alguma merda.

Estou respondendo a isso não porque eu dou a mínima para o que esse guitarrista pensa sobre mim, mas, em vez disso, porque eu odiaria pensar que minhas poucas palavras ofenderam um herói meu, @slash e possivelmente foderam meu relacionamento com ele.

@4tus eu ‘respectivamente’ nunca ouvi você tocar uma nota em meus 56 anos de vida e só sei seu nome do acampamento Rihanna e como um músico substituto no Guns.

Tenho certeza de que você é um músico decente, mas você realmente precisava repassar uma manchete que me fez parecer que estou falando mal de um colega músico, Slash.

Como se eu fosse pensar que Slash não é capaz de tocar nenhuma música da Rihanna enquanto dorme.

Vamos esclarecer uma coisa. Para mim, Slash é um dos maiores guitarristas de rock da minha geração e de todos os tempos. PONTO.

E @4tus, se você me conhecesse e onde está meu coração, saberia que o que eu quis dizer nesta declaração não era sobre Slash ou sua capacidade, era sobre guitarristas de rock como eu ou Slash trocando de estilo e a estranheza de tocá-los.

É óbvio que Slash pode tocar essas músicas, muito obrigado por apontar isso como se nós já não soubéssemos.

Mas para mim, como um guitarrista de ROCK predominante, obviamente não sou tão talentoso quanto você e achei um desafio acertar todas as diferentes pegadas e tons de guitarra de gêneros como Reggae, R&B, Electronic Dance, Trap e pop.

No que diz respeito à minha afirmação ridícula de que Slash iria ‘lutar’, sim, uma má escolha de palavras da minha parte, eu pessoalmente espero que Slash, que é um colega e uma influência, seja mais maduro o suficiente para entender o que eu realmente quis dizer como guitarrista por esse comentário.

Ao mencionar Slash como um exemplo icônico do Rock, quis dizer que, em geral, um guitarrista de rock o acharia, NÃO UMA LUTA, mas se sentiria como um peixe fora d'água como músico.
ISSO É TUDO QUE EU DISSE.

Eu não tive NADA além de respeito e admiração por @gunsnroses e @slash.

Peço desculpas se ofendi alguém sem querer.

N.”
Difícil tomar algum partido quando os dois têm sua cota de razão. Nuno, por observar os rigores de alguns (grandes) músicos do rock e Fortus, por observar o modo canhestro de Nuno afirmar isso.

De qualquer forma, esse episódio me lembrou algo que o baixista Jason Newsted articulou em entrevista à Rock Brigade sobre a diferença entre Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, e James Hetfield e Kirk Hammett, seus ex-companheiros de Metallica.


Entrevista a Fernando Souza Filho — Rock Brigade #190 (Maio/2002)

E ainda concluiu com uma voadora no Yngwie Malmsteen. Assim é que se faz, Nuno.

Jason é o cara.

4 comentários:

Anônimo disse...

É de se refletir como hoje, para criticar algo ou alguém, seja em qualquer esfera, o pessoal pisa em ovos. O caso do Jason me fez lembrar o episódio em que o Joey Ramone participou de um programa da MTV atendendo telefonemas de fãs, creio eu. Um ouvinte faz uma pergunta sobre o The Cure, não lembro qual, mas lembro a resposta do Joey: “I hate The Cure” . Curto e grosso como as músicas dos Ramones.

doggma disse...

hahah, grande Joey (apesar de eu adorar o Cure, rs). O cara parecia muito gente boa. Certa vez, ficou horas papeando e discotecando na Brasil 2000, de SP >>

https://1.bp.blogspot.com/-gA3ph7jbZpQ/Xsq4zvn3BTI/AAAAAAAAiqk/WgBr3wrmSw4Ecyc1CvOfnt7si_gP3ZF0gCLcBGAsYHQ/s0/digitalizar0044.jpg

Esse lance do Jason foi pré-Twitter, pré-Instagram & afins. Não havia como alguém jogar lenha na fogueira. Mas se surgissem alguns ofendidinhos com a declaração (algum fã, pois duvido que James e Kirk esquentariam com isso), é certeza que ele mandaria um sonoro FUCK YOU pra todo mundo...

Marcelo Andrade disse...

Lembro vagamente dessa entrevista(colecionava a Brigade) e como na rodinha teve gente que concordou e outros não isso me lembrou de uma dicussão que peguei mas p/ me poupar comentei comigo mesmo. Houve uma discussão sobre quem seria + tecnico na guitarra: James ou o Dave Mustaine. Vi uma discussão acalorada ja que fã as vezes e chato e não admite quando algo e bem obvio; Jason não está errado...Andreas tem formação musical diferente do James e isso o coloca num outro nivel. Sobre a discussão sobre James e Dave....tem um video do Dave tocando musica classica com uma orquestra....tirem suas conclusões...kkkk

doggma disse...

Exatamente isso, Marcelo.

E nada contra o James, é um cantor E um guitarrista espetacular. E Dave é um autêntico guitar hero (porém, não um "vocal hero", heheh).

Em contrapartida, ao lado do Kiko Loureiro ou do Marty Friedman, Dave já soa como se tivesse acabado de sair do conservatório. E ambos também encolhem diante de um Allan Holdsworth ou de um Al Di Meola.

E segue a vida.