O
Prong estava na seca de álbuns de estúdio desde o já longínquo ano de 2017. Para quebrar o silêncio de rádio, soltaram um EPzinho matador em 2019,
Age of Defiance. Nesse período, o fundador e frontman
Tommy Victor aproveitou para lapidar a lineup com uma maratona de
shows incendiários. É bom
ver ouvir que todo esse preaquecimento valeu muito a pena.
State of Emergency é uma sensacional playlist do Spotify. Ou, como diríamos no meu tempo: um
discaço.
Isso terá a ressonância de um traço no Ibope, mas o Prong sempre foi uma das minhas bandas preferidas. O grupo veio daquela leva de metal alternativo/pós-hardcore que fervilhou no underground entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990. Os riffs quebrados, estilo para-e-começa, eram uma característica marcante que dividiam com o também nova-iorquino Helmet e o irlandês Therapy?.
Os
breakdowns no meio das músicas, embora pesadíssimos, eram quase dançantes. Foi o embrião do
nu metal e do
groove metal, o DNA que rendeu milhões de doletas para nomes como Slipknot, Disturbed, Five Finger Death Punch e outros que pasteurizaram a fórmula à exaustão. Em contrapartida, Victor, um mestre da rifferama, sempre passou longe dessa dinherama. E não foi por falta de tentativa.
Após o sucesso de
Cleansing (1997), o Prong mergulhou numa série de
álbuns irregulares e penou com a estabacada nas vendas. Quase baixando as portas, restou ao músico ir tocar guitarra no Danzig e no Ministry. Virou empregado.
Por sorte e (muito) talento, há cerca de dez anos a maré virou. A boa receptividade do excelente álbum
Carved into Stone (2012) deu um boost em sua motivação com a banda. Na sequência, vieram os ótimos
Ruining Lives (2014), o disco de covers
Songs from the Black Hole (2015) e
X – No Absolutes (2016) e o também excelente²
Zero Days (2017).
State of Emergency mantém o alto nível, com algumas particularidades.
Faixa a faixa na faixa:
"The Descent" é o começo forte e atropelante com o qual toda banda heavy metal sonha enlouquecidamente. Direto e já trazendo um breakdownzinho pra fazer a galera pular mais que na Pipoca da Ivete.
A faixa-título, duh,
"State of Emergency" é herdeira da música (e também faixa-título)
"Beg to Differ", de 1989. É quase uma versão atualizada com equipamentos mais poderosos e modernos. E, claro, agora com uma outra perspectiva sonora.
"Breaking Point" lembra o velho HC nova-iorquino à Cro-Mags/Agnostic Front. Refrão para bater a cabeça até soltar do pescoço.
"Non-Existence" é uma cruza das influências mais caras de Victor: os ícones pós-punk The Stranglers e, principalmente, Killing Joke. Leva jeito de single para rádios rock.
"Light Turns Black" é um exercício de peso e técnica. Nesse ponto já deu para perceber que o baixista
Jason Christopher é bem versado na seara pós-punk e que
Griffin McCarthy é da nova geração de bateristas
technical thrash/death metal de Mario Duplantier (Gojira) e Eloy Casagrande (Sepultura). E toma
headbanging debaixo de zilhões de
ghost notes.
"Who Told Me" resgata o clima pós-punk novamente, desta vez numa pegada thrash. Lembrei na hora das guitarras dissonantes do Voivod. Aliás, que bela tour seria...
"Obeisance" é o puro suco de Killing Joke.
"Disconnected" é o puro suco do Killing Joke 100% concentrado. Tommy Victor destrava seu modo
doppelgänger de Jaz Coleman. Poderia ser uma música do
Absolute Dissent, fácil. Nem o
próprio Coleman notaria a diferença. E que refrão ganchudo!
"Compliant" parece um lado B do
Prove You Wrong (1991). E, de fato, é do lado B de
State of Emergency. Delícia de
filler.
A velocidade e a letra bairrista de
"Back (NYC)" lembram o rock 'n' roll
new yorker do Andrew W.K., só que menos festivo e (bem) mais HC porradeiro. É Prong, pô.
"Working Man" é um inesperado cover do clássico laboral do Rush. Boa versão, mas o
Firebird fez melhor.
E é isso. O disco saiu hoje e já ouvi umas três vezes. Sinal que achei bom mesmo.
Com a palavra, o homem, o Victor.
In Victor veritas!