De volta ao diário da selva: sábado último (3) rolou o Free Comic Book Day, tradicional evento que visa revitalizar o hábito da leitura (e o hábito da compra) através da distribuição de gibizinhos na faixa para a galera. Em sua maioria, são quadrinhos-promo produzidos especificamente para o dia, não aquela superedição de luxo com lombada redonda, corte trilateral, fitilho e hot stamp de ouro 18 quilates.
No Brasil, que surpresa, essa prática não pegou, embora contabilize alguns exemplares de brinde em meus alfarrábios. Lá fora, com a bolha há muito estourada, a coisa continua de vento em popa e mais necessária do que nunca. Todos os big players participam.
Como esperado, não há nada muito relevante acontecendo nessas obras em termos cronológicos. Intros, interlúdios e curtas fechados são o padrão, mas isso não significa limitação criativa. Neste sentido, The Phantom #0, da Mad Cave Studios, foi um dos mais divertidos que li na FCBD 2025.O que não é difícil em se tratando do legendário Fantasma. Com capa-chamariz do indefectível Greg Smallwood e um absoluto respeito pelo legado, a edição foi deveras bem produzida. Tenho certeza que até o criador Lee Falk ficaria orgulhoso.
Segundo o roteirista Ray Fawkes (xará do Moore, um dos nomes mais importantes na trajetória do personagem), a pesquisa para este início foi um mergulho nas antigas tirinhas e histórias clássicas. A ideia era uma volta às raízes simplistas, aventureiras e descomplicadas, mas com um verniz atualizado. Uma estratégia que, provavelmente, explica a impressionante longevidade comercial do herói, que no ano que vem completará 90 escaldantes primaveras.
Ou seria mais alguma artimanha de autoperpetuação do Espírito-que-Anda?
O "novo" tratamento geracional, mais um, soa ainda mais adequado pela indie Mad Cave – qualquer semelhança com a Caverna da Caveira é bacana pra caralho. A editora fundada em 2014 é notória por seu trabalho em busca de novas caras, além do extenso catálogo de novos títulos. Mas também licencia medalhões como Flash Gordon e Defensores da Terra da mesma King Features Syndicate do Fantasma, além de contemporâneos consagrados como Dick Tracy. Um raro know-how do clássico e do novo, portanto.
Geralmente espero uns dias até que os títulos da FCBD estejam disponíveis nas melhores, hm, importadoras. Dessa vez, resolvi comprar o gibi online pelo módico preço de 0,00 dólares americanos (sem tarifa). É mais divertido. Colocaram até em pré-venda na Amazon!
Com 22 páginas, fora capas e calhau, este #0 é até encorpadinho. A arte é do talentoso Russell Mark Olson, aqui um meio-termo entre Goran Parlov e Bruce Timm. O roteiro poderia ter recorrido a qualquer um dos inimigos tradicionais, como o General Bababu, o Barão Grover ou até a Irmandade Singh, mas ao invés disso aposta no suspense, funcionando quase como um thriller da selva.
A história abre com o 21º Fantasma na Sala das Crônicas registrando mais uma noite de vigilantismo pelas selvas de Bangalla. Cruzamento perfeito para a narração em off acompanhar o herói na trilha de um grupo de poachers – que, na minha humilde e muito cristã opinião, merecem um inferno pior que o dos nazistas. O texto de Fawkes, no entanto, não se rende a obviedades e desenvolve o cenário de maneira classuda e instigante.
E inclusive confronta o Fantasma com os aspectos sociais daquela atividade ilegal, algo realmente inesperado. No final, após uma breve e espirituosa participação da (Srta.?) Diana Palmer, o roteirista ainda crava aquele cliffhanger maroto.
Os caras são bons. Tomara que a Mad Cave Studios dê o sinal verde para a continuidade do título.
O Espírito-que-Anda está andando em excelente companhia.



5 comentários:
Achei convidativo. O pouquíssimo que li do Fantasma foi de umas formato americano da Globo e um mix tijolinho da mesma editora eras atrás. Recordas? Algum primo mais velho tinha algumas edições.
Mais uma vez adulterando a postagem: entra uma Saga e outra, leio algo no notebook; a leitura mais recente foi o 1o arco da tal Mulher-Maravilha Absoluta. Dei nada e recebi diversão garantida. Gibizinho gostoso de ler. Tens conferido alguma dessas releituras? Mas também fiquei por aí, provavelmente não me aventurarei nos demais personagens porque o dia, por ora, só tem 24h.
FORTE ABRAÇO.
Dogg! Vai ver o Eternauta? https://screamyell.com.br/site/2025/05/13/series-o-eternauta-e-digno-do-orgulho-da-america-latina-inteira-por-varios-motivos/
lendo à bessa, li o do Batman e achei divertido (e não mais que isso). Adorei as duas primeiras edições do J'onzz, pura paranoia encharcada de LSD. A da Maravilha ainda não li, mas já que é tão bão assim, tenho que priorizar. Valeu a dica!
Esse Fantasma da Globo no formato americano saiu pouco depois da mini do Peter David, né? Pegava a mini e adorava, mas a série tive que passar. Na época, estavam saindo o Monstro do Pântano do Moore (formatinho), o Super do Byrne, o Aranha fase uniforme negro, o Hulk do Byrne²... Escolha de Sofia total. Bons tempos.
👊 💀 👊 💀 👊 💀
Fala, Chico! Ainda não assisti. Vou salvar o texto do S&Y pra depois. Chegou a ver? Curtiu?
Doggma, essa MM Absoluta é das interpretações mais bacanas que li da personagem. A Diana surge em Gateway City durante um ataque de monstros à cidade, pois as Amazonas são uma salvaguarda com essas ofensivas; acontece que a moça foi roubada ainda bebê e deixada pra sobreviver em uma ilha no Hades aos cuidados da Circe, que está lá de prisioneira.
A premissa mexe DE NOVO na origem da MM e ainda acrescenta o uso de Magia por ela, mas a Diana otimista e diplomata está lá, com essas características bem evidenciadas. A mulher tem presença. Um barato
Sobre o Fantasma, é esse aí mesmo. Rapaz, meu vô materno adorava Fantasma e Tex, mas quando eu era garoto ele já não lia mais por conta da visão que já estava bem ruim. Me deu muito trocado pra comprar revistinha...
Vôzão!
Curioso... a última vez que acompanhei a Maravilha foi na ótima série dos Novos 52 e dali emendei em MM: Terra Um. Duas releituras. Agora retorno à princesa com mais uma. :)
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