sábado, 30 de outubro de 2004

SESSÃO TAPANAKARA


Filmes de artes marciais sempre trilharam um caminho à parte do esquemão cinematográfico. O estilo sempre rendeu muito assunto (ou boas desculpas) para alguma produção sair do papel, em larga escala. Historicamente também é revelante, pois promove o embate entre o velho e o novo, ao traduzir - ou ao menos tentar - para a linguagem contemporânea a cultura e filosofia milenares desse pessoal de olhinhos puxados. Quando alguém leva um chutão no meio da boca, não se trata de violência gratuita, e sim de 3.000 anos de aperfeiçoamento espiritual. Yááá!

Mas então, por que desse véu de subcultura que sempre predominou aí? Filmes de artes marciais são uma excelente idéia comercial que não foi inventada por Hollywood. O embargo se tornou inevitável. Pô, os caras criaram uma nova maneira de espancar seres humanos. Que graça tem o velho estilo Starsky & Hutch de bater? Chega daquele esquema desgastado de soco-no-estômago/soco-no-queixo. O lance é chutar traseiros com estilo. O resultado é contagiante, praticamente imediato. No meu caso, foi nos idos de 83-84, assistindo aos episódios reprisados de Faixa Preta. Pela primeira vez, eu passei a ouvir o "creck" dos ossos se partindo, os lutadores espirrando sangue em bicas, saltos inacreditáveis, tombos idem, o barulho das porradas que mais parecia o som de uma chicotada, aquele sonzinho de velocidade mesmo quando o personagem apenas vira o rosto abruptamente, etc.

Hong Kong era o Paraíso dos filmes de artes marciais, e eu já queria até aprender cantonês. Mandarim também (mudei de idéia logo no primeiro caractere).


O furacão Kill Bill já passou, mas abriu um rentável precedente. Embarcando na onda, algumas relíquias da 7ª arte marcial estão sendo relançadas em DVD, como A Câmara 36 de Shaolin (The 36th Chamber of Shaolin/1978). Considerado um dos maiores precursores do estilo, o filme traz muitos elementos familiares, para fãs tanto de animês (principalmente Dragonball, Samurai X e Cavaleiros do Zodíaco) quanto de filmes de luta mais recentes.

A história é básica ao extremo, como já é de costume no gênero. Durante a supremacia dos Manchus, um grupo de anarquistas disfarçados de professores monta uma base em Cantão. Descobertos, eles são massacrados e o único sobrevivente, San Te (o veterano Gordon Liu), busca refúgio no Templo Shaolin. Meio a contra-gosto, os monges acabam o aceitando. Obstinado, San Te se torna um aprendiz perseverante, e é aí que começa o foco do filme: o treinamento Shaolin.


Cada aluno deve atravessar 36 câmaras, cada uma com um desafio diferente, e se tornar mestre em cada especialidade. Como o filme é de 78 e portanto o SPOILER já prescreveu, já adianto que apenas algumas câmaras são mostradas. Mas pena mesmo foi a exclusão do treinamento na 36ª câmara, a mais avançada.

Lá existe apenas um grupo de monges anciões (parecem os irmãos mais velhos do mestre Pai Mei, de Kill Bill vol. 2), que derrubam o adversário apenas com a força do pensamento.

A Câmara 36... é tecnicamente impecável. É o que há de melhor em termos de coreografia marcial. Só a luta do início (sem ser o belo solo de abertura de Liu) já vale o filme. Aliás, trata-se de uma trilogia. Após esse, seguem Retorno à Câmara 36 (Return to the 36th Chamber/1980) e Discípulos da Câmara 36 (Disciples of the 36th Chamber/1984) - todos devidamente digitalizados. As continuações elevam à 9ª potência o já alto nível técnico das seqüências de luta, assim como elevam na mesma proporção a nulidade do roteiro. Mesmo assim, são altamente recomendáveis para amantes da porradaria em grande estilo. E, em Discípulos..., existe uma cena imperdível envolvendo a mãe de um personagem. Ela, mestra, aposta com um oficial que, se ele conseguir abrir as pernas dela, se casa com ele. Adivinha se o cara consegue... a mulé é foda!


Esse carinha já está na estrada há um bom tempo. Considero Jet Li o grande nome dos filmes de artes marciais da atualidade, embora ainda não tenha "acontecido" adequadamente no grande circuito (situação que deve mudar com a carreira mundial do badalado Hero). Após uma bela estréia em Hollywood (Riggs e Murtaugh que o digam!), a poeira abaixou legal com sucessivos e agüados filmes-americanos-de-artes-marciais. Tudo bem, alguns ficaram um pouco acima da média, mas pra cada O Beijo do Dragão existem dois Romeu tem que Morrer ou Contra o Tempo. Ali não havia cheiro de arroz frito com badejo cru, e sim de McChiken com Coca-Cola.

Jet Li já fez uma porrada de filmes legais (assisti um agora que é um verdadeiro luxo: Punhos de Dragão, produção de 1984 em que ele atua, dirige e ainda desce o cacete em soldados americanos - bem oportuno e, da metade pro final, realmente FODA), como esse Lutar ou Morrer (Fist of Legend/1994).


Remake do mega-clássico A Fúria do Dragão (Fist of Fury/1971), Lutar... não se limita a repetir o brilhantismo do filme estrelado por Bruce Lee, mas cria uma nova história sob o mesmo contexto da situação anterior. O filme conta a trajetória do chinês Chen Zhen (Jet Li), que está estudando no Japão quando recebe a notícia da morte de seu antigo mestre, que foi derrotado num combate suspeito com um lutador do clã japonês Dragão Negro. O mestre Huo Yuanjia realmente existiu (e também morreu sob circunstâncias similares), e nas duas versões aparece uma fotografia real dele.

Da mesma forma que o original, aqui também é feita uma boa descrição da conturbada situação social da república chinesa na década de 20. Pressionada por uma ocupação e embargo ostensivo do Reino Unido e Japão, um dos reflexos mais notáveis foi o caos urbano e a crescente tensão social, principalmente entre chineses e japoneses. O Chen Zhen de Bruce Lee foi um rolo compressor de selvageria irracional, não se furtando em trucidar japoneses onde e quando bem entendesse. Já o Zhen do Jet Li é mais... "zen" (podre, eu sei). Bem mais racional e comedido, ele pertence à um universo onde nem todos os japoneses são assassinos cruéis e impiedosos - elemento personificado por Mitsuko, sua namorada japonesa (a gatinha Nakayama Shinobu).

As lutas são demais... esqueça as bobagens CGÍsticas de Matrix e congêneres. Antigamente, os caras até usavam fios, mas batiam e se socavam de verdade. Além do quê, Lutar... tem um dos vilões mais monstruosos que já vi em filmes desse estilo: o General Fujita. O cara é do tamanho do Kareem Abdul-Jabbar e tem a cabeça mais dura que o Richard Kiel. Imagina isso usando uma farda militar estilo M.Bison (só que verde). Sinistro...!






BWAHMUAMUAMUEHUEUEAHUE!


O Grunge, cara... ele é um completo sem-noção... um Joselito meta-humano... acho que o verdadeiro "superpoder" dele é pensar, falar e fazer besteira. E em 90% dos casos tem a ver com putaria. Igual eu. A diferença é que suas companheiras de aventura são as melzinho-na-boca Caitlin Fairchild, Roxy e Sarah, vulgas "o que há em matéria de gostosura super-heroística".

Essa HQ foi escrita, produzida e dirigida pela fera Adam Warren, disparado o melhor desenhista não-japonês de mangás do Universo (aliás, ele é melhor até do que muito japa também!). Adam é dono de um estilo em que não falta nada e até sobra - sobra velocidade, porradaria, humor escrachado e garotas ultra-gostosas à beira de um hentai escancarado.

Na história, Grunge (clone do Stifler, de American Pie), empolgado com uma sessão básica de filmes de kung-fu, começa a alugar o ouvido da gracinha Roxy com um pseudo-roteiro de cinema. Aí começa a bobagem referencial... aldeias destruídas, mestres assassinados, gangues à Yakuza, citações, citações e citações... putz, as "traduções mal-feitas" são hilárias... Cara, eu li essa porra à uns dois dias e ainda tô rindo.

Scans by: doggma (sim, eu confesso...) - Arquivo cbr atualizado em 01/09/2017

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Te aconselho usar a velocidade Shaolin para essa HQ. O Photobucket anda com um papo muito estranho ultimamente... :P

Aliás, quem achar a referência ao Star Wars ganha um "muito bem" da minha parte...

E agora, a difícil técnica da "chamadinha-com-o-dedo"... por favor, não tente isso em casa.







dogg, só alegria com o disco do Neurotic Outsiders rolando. 

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