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Viva à Troma! Só uma espelunca trash daquela abrigaria um maluco gente-fina como James Gunn. Não fosse isto, talvez ele roteirizasse os dois Scooby-Doo do mesmo jeito, mas não teria feito o mesmo pelo "tromântico" Tromeu & Julieta e, mais tarde, pelo remake fast and furious de Dawn of the Dead (aff, gozei). E talvez ainda, não tivesse ganho moral e autonomia suficientes para realizar este fuderoso Seres Rastejantes (SLiTHER, 2006). O filme é uma cria bastarda daqueles crossovers de comédia, horror e sci-fi típicos dos anos 80 - que Gunn com certeza curtia, afinal, o que ele faz aqui é uma reimpressão deluxe de Noite dos Arrepios, megacrássico oitentista burraldo e incrivelmente divertido. E mesmo que o cara tenha amansado a fúria hardgore adquirida em anos de podreira underground, sua nova incursão traz carnificina em quantidade satisfatória e respingante.
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...muito pelo contrário. O filme flui suave como uma matinê de sábado, excetuando os ocasionais vômitos de sangue e tripas que pontuam seus momentos mais moleques. O que provoca até um choque climático interessante. Na mesma hora em que você acompanha um tranqüilo bailinho comunitário, você também confere uma vítima infeliz sendo perfurada por esporões alienígenas que injetam dentro dela alguns milhares de embriões carnívoros. Tudo ao som de um animado country de salão. Yeah, son!
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Eu ia comentar sobre a história e acabei viajando. Mas você já conhece a bagaça: um meteorito singra o espaço em direção à Terra (rebuscando a cena inicial de Predador/Enigma de Outro Mundo) e acaba caindo em uma 'ville estadunidense qualquer (premissa referencial que começa em A Bolha Assassina e termina em etc's ad infinitum). O estranho objeto logo é descoberto pelo desavisado Grant Grant (Michael Rooker). Perto do meteorito há uma bolsa orgânica - do tipo geléia pulsante - que dispara um ferrão no sujeito e passa a controlá-lo mental e, uuurgh, fisiologicamente. Aí começa a bagunça xenomorfo-zombie, e o "aprimorado" Grant² sai espalhando o terror pela cidadezinha. O objetivo é claro: Dominar o Mundo™!
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O filme tem um elenco afiadíssimo. Vestiram a camisa e ligaram o "foda-se-isto-é-um-B-movie!" no volume 10. E essa característica vai do extra mais secundário (Gunn, inclusive, faz uma pontinha como um 'fessor nerdalhão), passando pelos hospedeiros de lesma alien até os personagens principais. Destes, eu fiquei feliz em rever a sensacional Elizabeth Banks (de O Virgem de 40 Anos) no papel de Starla, esposa do Grant², e Gregg Henry (de O Troco), que está impagável como o prefeito Jack MacReady (pescou?). E tenho de dar o braço a torcer: se Hollywood fosse mais esperta, encheria os bolsos de Nathan Fillion de grana. No papel do xerife Bill Pardy, ele reincorpora aquela mesma essência do anti-herói cínico e cara-de-pau que foi sua marca registrada em Firefly/Serenity. Long live Han Solo.
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James Gunn é amigão do maluco-mor da Troma, Lloyd Kaufmann, com quem co-escreveu o livro "All I Need to Know About Filmmaking I Learned from the Toxic Avenger" (qualquer um que participe de algo com um título destes merece o meu profundo respeito). Mas, por algum motivo que só pode ser explicado como uma bunda-molice em cadeia nacional, o box-office do filme não cobriu nem metade de seus custos de produção.
Não se engane: esta maravilha aqui é uma inequívoca pérola pop que será caçada desesperadamente num futuro no qual os DVDs foram substituídos por outro formato em que ele, claro, não será relançado - tal qual Noite dos Arrepios. Daqui a quinze anos você vai ver como isto aqui será cult pra caramba.
Na trilha: "Finished with my woman cause she couldn't help me with my mind... nanana-nanan... Can you help meeee... thought you were my frieee-eeeend... wooaaa yeah..."
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