quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

FEROZES & FURIOSOS


Lendo a entrevista hilária que o maleta Rob Liefeld concedeu ao Silver Bullet Comic Books ("I make plenty of mistakes. I'm far from perfect..." - bota far nisso aí, cara), acabei lembrando porque a banda noventista da minha coleção de HQs jaz em uma enorme caixa de papelão. E é um arquivo morto em constante atividade. Foi uma década que eu praticamente não li quadrinho, então, sempre que posso, adiciono mais publicações desse período, via sebo. Cinco anos após a retomada, vejo que, entre descobertas interessantes e idéias originais, o grito da galera era mesmo violência, porrada, ação, mais violência, mais porrada e ação. Entre uma coisa e outra, muita porrada e violência, sempre com bastante ação. É impressionante a quantidade de merda por quadrinho quadrado produzida nos anos 90. Fico feliz de ter sido a década que eu "perdi".

Até entendo o impacto que aquelas capas do Spawn, X-Men, Batman, Wolverine, etc, provocavam. Na época, eram bem maneiras (ou só pareciam maneiras, porque olhando hoje, nem tanto). Mas após a centésima luta sem sentido, diálogos sofríveis e poses de corar banda hard farofa dos anos 80, não haviam mais dúvidas - aquilo era quadrinho ruim... mas ruim com pressão.

O nanquim do artista-símbolo da época, Sua Sisudice Jim Lee, era quem mais tinha culpa no cartório, devido à (má) influência exercida na geral. Seu estilo patolão impregnou 95% dos quadrinhos pop americanos dos anos 90, mas cabe dizer que ele mesmo era tecnicamente OK no que fazia, só pecando pela caracterização facial inexistente dos personagens. Seus influenciados, no entanto, soavam como clones malformados (sendo Liefeld o Nasce Um Monstro da vez).


Como o sucesso foi retumbante (malditos fanboys), artistas consagrados e revelações emergentes abandonaram sua evolução artística natural para aderir ao estilo bad boy de ser. Exigência de mercado = leitinho das crianças.


Cable, abarrotado pra guerra
Os heróis seguiam o perfil "muito múque e pouco cérebro". E as heroínas, coitadinhas, usavam o fio-dental tão atochado no rabo que deviam sentir o gosto do pano. Isso sem falar no sério problema de coluna provocado pelos airbags tamanho extra-HUGE e pelas poses de partir a cervical.

Acho curioso como os roteiros também decaíram nessa muscularização dos quadrinhos. Ficou tudo ridículo e forçado demais, com raríssimas exceções. Herói morria e ressuscitava como quem tivesse saído pra comprar cigarro. Viagens no tempo, realidades alternativas, clones engana-trouxa ("morreu, mas não era ele, era o clone") e por aí vai. Como ainda estou no garimpo quadrinhístico dessa era (já em fase final), é freqüente o meu assombro quando passo pelos sebos.

Eventualmente, alguns diamantes reluzem no percurso - outro dia, descobri em O Incrível Hulk um arco do Homem de Ferro por John Byrne/Romita Jr. que é o cão chupando manga - mas foi em X-Men Gigante #1 que encontrei o equilíbrio do Lado Negro da Força.


Tudo o que os quadrinhos da década de 90 representam pra mim está contido nesta revista. Todos os vícios, chavões, fórmulas exauridas e rombos estruturais condensados maravilhosamente em uma só edição. Leu essa, leu todas. Na capa, a chamadinha já alertava: "260 páginas de AÇÃO, revelAÇÃO e morte (mas com muita AÇÃO)!" Um clássico. O pior é que a história é reverenciada por muitos como sendo um clássico mesmo: A Canção do Carrasco é cotada como uma das melhores sagas pós-Claremont dos mutunas. Nosso Deus. Dêem qualquer história dos Novos Mutantes fase Claremont/Sienkiewicz pra esse pessoal ler e se recolher aos seus cantos fétidos e forrados com edições da X-Force de Nicieza/Liefeld (pra leigos: isto foi uma puta ofensa!).

Em A Canção do Carrasco o Professor Xavier sofre um atentado e é infectado por um tecnovírus. Aí, Ciclope e Jean Grey são seqüestrados por Caliban. Na seqüência, os Cavaleiros do Apocalipse atacam Colossus e Homem de Gelo. Depois é a X-Force que se atraca com os X-Men (e não espere grandes explicações). Cable - que veio de um futuro alternativo - é acusado de ser o autor do atentado. Pra concentrar mais esforços, os X-Men e Bishop - que também veio de um futuro alternativo... essa HQ é praticamente uma rodoviária interdimensional - se unem ao X-Factor. Daí o darkótico Sr. Sinistro aparece pra ajudar a encontrar Apocalipse, provável arquiteto de tamanha x-bagunça. Contudo, o mutante egípcio, que conta com o auxílio dos Cavaleiros da Tempestade, nada sabe. Pra não perder o costume, os X-Men encaram outra batalha nonsense (embora até engraçadinha), desta vez versus a Frente de Libertação Mutante.


Š P Ọ Ỉ L Σ Ř

Tudo vai degradando, degradando, até descobrirem que o vilão Conflyto é o grande manipulador do esquema. Conflyto, adivinha, vem de um futuro alternativo e busca vingança contra Apocalipse, mas acaba lutando mesmo é com Cable, em uma seqüênciazinha cujos desdobramentos são absurdamente parecidos com um momento clássico do bão e véio Esquadrão Atari. Pouco antes do finalzinho, Cable ainda arruma tempo pra morrer-rapidinho-e-já-volta.


Σnd Ọf Š P Ọ Ỉ L Σ Ř




Ciclope e Jean treinam esta posição na Sala de Perigo

A Canção do Carrasco é um exemplar autêntico da chamada Era dos Excessos. O "roteiro" ficou a cargo de Scott Lobdell, Peter David (até tu, Peter?!) e Fabian Nicieza (urgh), e nos desenhos se revezaram Greg Capullo, o atualmente bonzão Brandon Peterson, Andy Kubert (mais perdido que cego em tiroteio) e, heresia maior, Jae Lee - responsável pelos únicos espasmos de talento individual aqui.

Vou ser sincero... guardo X-Men Gigante #1 com o mesmo carinho que um Elektra Assassina ou um Arma X, em posição vertical dentro de um rackzinho super-prático que eu tenho. Lá, ela desfruta da companhia ilustre de V de Vingança e Cavaleiro das Trevas, entre outros notáveis. Ela merece, pela sua excelência em concentrar tanta ruindade de uma só vez. É anti-Arte de primeiro nível.

Pena que não tinha o Rob Liefeld. Aí sim, seria "perfeita".


Ainda tô rindo da mea culpa do RL sobre o "Cap with boobs"... vai, mané. :P

13 comentários:

Anônimo disse...

Cara o Liefield era triste mesmo...
mas a imagem do Cap com peitos eu ano tinhs visto ainda... nao pode ser verdade aquilo ali.... ahahahahaha...
Qt ao nasce um monstro que vc citou lá em cima... muito obrigado por reviver um pesadelo...
Qd eu era pequeno tinha umc agaço fudido desse filme... tanto que nunca consegui assistir... lembro que passou no sbt(eu devia ter já uns 20 anos) gravei para ver durante o dia... qd assisti quase me mijei de rir... dez anos com medo daquele boneco de borracha.... ahahahahahaha

flws

Luwig disse...

Quem foi pior? A Marvel* com seus "Ferozes & Furiosos"? A DC mais marketeira** do que nunca com mortes (Clark e Ollie), aleijamentos (Bruce), substituições (Diana), insanidades (Hal) e revoluções (Arthur)? Afinal, quem levou a "Framboesa de Ouro da década"?


* Dogg, você e o Fivo andam bem tendenciosos. Ultimamente só dá Marvel por aqui! Não é possível que não tenham lido nada de bom no outro fronte!

** Só o Wally escapou, mas acho que perceberam agora e fizeram o que fizeram com ele na 'Crise Infinita'.

Alcofa disse...

acho que o unico comentário decente que posso fazer deste texto: hehehehe.

sabe que vc me lembrou de u8m detalhe ? jim lee e liefield não eram (infelizmente) os unicos caras que faziam "caras iguais". um dos mais notórios (e na minha opinião, um mestre nos anos 80) tbm fazia caras iguais: John Byrne! certa vez a wizard americana até brincou com isso , colocando todos os personagens loiros da marvel um do lado do outro (principalmente os Vingadores), desenhados pelo JB ... já viu né ?

abração!

Alcofa disse...

ae dogg, tu ja escutou o novo do Machine Head ? The Blackening ? se ainda não, escuta ae

http://rapidshare.com/files/14257770/Machine_Head_-_The_Blackening.rar.html

Password
www.mediaportal.ru

abração!

Alcofa disse...

ae Dogg, favorzão: tem algum link ae de algum album do Fireball Ministry ? ouvi algumas coisas dos caras e até achei legal em certos aspectos ...

valeu!

Marcelo Soares disse...

Uma coisa os anos 90 fizeram bem, trazer novos leitores. Ta certo que muitos descerebrados, mas uns (como eu) que depois pararam e procuraram coisas boas e se "endireitaram"

doggma disse...

Aê dude! Rapaz... NUM marcou época, rs... quando fui rever, cavalo velho já, quase morri de rir com a cena do parto... o bichano já nasce trucidando a equipe médica, rs...

Luwig - questão difícil... tanto Marvel quanto DC se deixaram influenciar muito pelas fórmulas venc(d)edoras da Image. Cada uma assimilou essas infos à sua maneira e deu no que deu. Mas a DC arriscou mais... o que aconteceu com o Super foi uma comédia. Eles simplesmente não sabiam o que fazer com o personagem! E, hã... vou solicitar à nossa filial carioca que rascunhe algumas linhas sobre a DC.

Alcofa, véi de guerra... o traço do Byrne influenciou muita gente - incluindo o próprio Jim Lee. Mas o diferencial dele não costuma dar em árvore: o cara tem classe. E pô... com aquela Jeanne-Marie Beaubier dele eu casava na hora. Valeu pelo MH. Tomara que esteja mais metal e menos nu-metal, rs. Achando algo do FM eu passo lá no Millenium avisando.

Marcelo > levantou um ponto interessante. Talvez este seja o maior mérito dos modismos. Uma hora o camarada cansa da superficialidade e vai atrás das fontes.

Anônimo disse...

Esses dias, li uma edição antiga do X-Men, que coisa pavorosa.
Mas na época, corri para as bancas para tê-la, como as coisas mudam, hoje, na minha opinião, a unica coisa que presta na Marvel é a linha Ultimate.
Ah, e Poder Supremo.

Salvo isso, só Vertigo.

ABraço pessoal.

Anônimo disse...

Dogg, esse arco do Byrne/Romita Jr. era Guerra de Armaduras II (a primeira é das minhas prediletas do Latinha), que tinha como um dos vilões o Laser Vivo ressuscitado (acho que era esse o nome "irônico" do cara. eheheh). Nem lembro do roteiro, mas a arte do Romitinha sempre me agrada.

Quanto ao X-men Gigante, é foda que é uma das minhas prediletas dessa época dos mutunas. Ahahah.

Na boa, o Scott Lobdell já nasceu podre, quando começou na Tropa Alfa.

Abraços.

Grimm disse...

por historias no naipe destas aê , foi o motivo que passei a decada de 90 sem ler quase nada (ou nada) do mainstrem da marvel/dc

sem falar da porrada de personagens que aderiram a personalidade "heroi mau" influencia do wolverine/batman

todo novo roterista pareceia querer implacar um novo personagem (na maioria mutante)

homem aranha é a mesma ladainha deste sempre

poder supremo achei bem banal, não sei o que o povo vê nela
Civil war = piada de mal gosto

de novo só gostei de Alias e o Demolidor de Bendis, a primeira leva de Supremos
e pra mim é novo, pois passou batido na epoca: Liga de Giffen
-Hitman que o melhor disparado de todos parece inté ser de outro universo alternativo da DC

Anônimo disse...

Foi uma grande merda! Mas tenho que admitir que retornei a comprar x-men por conta dos desenhos de Jim lee, que eram cheios de detalnhes em máquinas, roupas e outras coisitas mais...Inclusive teve uma históiria do Wolverine, Cap. Ameŕica e Viúva Negra bem legal!!!

Baixei a história do coração negro e acabei descobrindo que o meu linus não consegue ler algumas extensões... ele não lê nada que tenha rar, zip, cbr... tem jeito de encontrar algum programa que faça isso no Linux?

Aguardo a resenha dos próximos filmes.

Abraço.

Baroli

hazzamanazz disse...

Pode colocar mais um que passou batido os anos 90, doggma.
Eu fui criado com os X-Men do Byrne/Claremont, que mandavam muito bem (é só olhar os filmes, que são todos baseados nessa época).

A primeira vez que eu lí Jim Lee eu achei...chato. Lógico que fui apedrejado na época, com direito a ameaças de morte e esquartejamento. Além do Claremont ter perdido a mão legal, eu não gostava nada do desenho, já que pelo menos, os cenários do Byrne eram ultra-hiper detalhados, coisa que falta ao Lee. É só olhar quando ele desenhou o Quarteto Fantástico, em uma aula pura de como é aprender a desenhar como o mestre Kirby.

Quer ouvir uma coisa legal: eu comecei a ler quadrinhos novamente - quadrinhos de linha, pois os medalhões e edições especiais eu sempre comprava - quando meu irmão abriu uma Lan-House e um dos clientes era o filho do dono da editora Brainstorm.
Nem precisa falar que metade dos gastos dele viravam escambo por HQs.
Tenho a coleção encardenada inteira do Monstro do Pântano (que é caro a beça!!! :o ), as edições lançadas de Lucifer, Dark Heroes (que tem algumas histórias bem legais), Hellblazer, Preacher e várias outras.

[ ]'s

Fivo disse...

"E, hã... vou solicitar à nossa filial carioca que rascunhe algumas linhas sobre a DC."

Cara... se fosse para escolher um rótulo, eu seria marvelmaníaco indiscutivelmente. Não consigo gostar das publicações regulares da DC de jeito nenhum. Para mim o dom deles é fazer especiais e linha adulta. Estes sim eu compro e me regalo.

Cara... nem sabia que existia Capullo antes de Spawn... tsc... foda é que, vendo a qualidade da impressão de hoje, estes desenhos todos ficam meio toscos... polaris, por exemplo, tá loura...

Foi uma década perdida, mas foi quando sedimentei meu gosto por quadrinhos, prática que comecei lá para 84... 85. Achava muita coisa lixo, mas acompanhava pelo vício.