terça-feira, 10 de julho de 2007

E O SURFISTA PRATEADO


Pois é. Quando o Moriarty, do AICN, afirmou que Tom Rothman (CEO da Fox Filmed Entertainment) já foi molestado por um gigante, ele não estava brincando. Só pode ser trauma. Depois do Sentinela quântico de X3, agora foi a vez do Galactus ser depenado em Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (Fantastic Four: The Rise of the Silver Surfer, EUA, 2007).

Pelo bafafá que antecedeu a estréia, eu já vinha tentando me acostumar com um The Fog versão interplanetária, mas o que vi lá foi algo bem pior. De El Niño emaconhado, o personagem acabou revelando sua verdadeira face: um Tocha Humana com um balde na cabeça. Essa foi a reluzente e ofuscante solução da equipe criativa (bando de aspones filhos da puta). Parabéns aos roteiristas Mark Frost, John Turman e Don Payne, parabéns ao diretor Tim Story e, mais que todo mundo, congratulações medalhísticas ao Tom Rothman pela afirmação de que em filme seu "jamais haverá um robô gigante". Bem, oremos a Cybertron em agradecimento, já que Transformers caiu nas graças da DreamWorks. Urra.

Se bem me lembro, comentei da outra vez que o primeiro Quarteto Fantástico era puro exercício de escapismo e sorvetada na testa. Que Chris Tochevans consegue fazer em um diálogo o que Ryan Reynolds não conseguiu na filmografia inteira. Que Michael Coisa Chiklis, da incrivelmente fudenciante série The Shield, é a única razão daquele amontoado de pedra laranja funcionar em cena. Que Jessica Sue Alba não precisa atuar se estiver de colante (famoso método Elisha Cuthbert de interpretação). E imagino que até elogiei a disposição cênica do Senhor Ioantástico Gruffudd e sua semelhança física com o personagem, mas que ele (ou o script) não encontrou a essência original - no máximo, passa de raspão antes da próxima torta na cara.

O fato óbvio e ululante é que todos estes elementos tiveram seu replay aqui, o que remete à velha máxima da piada contada pela segunda vez. Rola até uma seqüência de dança elástica, recurso malandramente surrupiado da franquia do Aranha e que já demonstrava sinais de cansaço lá. Mais pastel impossível. Correndo por fora, as curvas da Alba - que já foram mais generosas - até conseguem ganhar terreno numa cena de nu-flamejante, mas a caracterização da pinup que um dia foi a Nancy Callahan estava bizarra (o que uma peruca e um par de lentes não conseguem estragar).

Sei que é inútil perguntar porque não usaram a versão Ultimate do Quarteto (adaptação pronta, bacana e pop) como base para os filmes. No entanto, pelo menos a Alba poderia ter sido laureada ali - o próprio desenhista Greg Land não se furta em usar fotos da atriz para compor sua versão teensuda da Sue Storm.

Às vezes bate uma vontade meio kamikaze de defender a participação de Julian Von McDoom, em nome da diversão canalha que ele proporciona via Nip/Tuck, mas tenho por mim que o estereótipo que o sujeito montou é tiração de sarro da grossa e não vou ser eu a estragar a piada. Deixa o homem trabalhar.

Se contextualmente QF e o SP é um vazio crônico anunciado (ninguém esperava um tratado metafísico como seqüência do primeiro filme), o mesmo não se pode dizer do acabamento. Mandaram bem nos efeitos aqui. Fantásticos, realmente. Quem achou que o Surfista Doug Jones Prateado ia ser um arremedo de T-1000 quebrou a prancha. Demonstraram a proporção exata da evolução da mesma técnica, absurda, 16 anos depois. Vê-lo detonando um pequeno exército com apenas um gesto é a transcrição exata dos quadrinhos. E duas intervenções... hm, "alienígenas" na mitologia do herói funcionam como gols de empate. Uma foi estabelecer que seus poderes vêm da prancha. Péssima. Outra foi conferir uma aparência estéril e obscurecida quando ele perde seus poderes (releitura esperta de um arco clássico do Quarteto), excelente sacada em cima de um ponto de partida equivocado. Lamento, mas é assim mesmo. Se nem Einstein conseguiu entender o caos...

Fã de Jack Kirby que sou, confesso: todas as cenas em que o Surfista aparece provocam um efeito de satisfação hiper-realista. Até para os que nutrem uma mera fantasia intimista recorrente. Se existe um herói que rescende tal empatia é o Surfer. Sua imagem é metáfora pura. Rasteira, mas pura. Nem precisa ler as revistas. Qualquer um gostaria de subir numa prancha e voar à velocidade da luz para o outro lado do universo, largando pra trás tudo o que não deu certo, toda essa gente chata e mesquinha, etc.

Queria comentar isto desde a primeira vez que vi A Força de um Amor (remake livre de Acossado, de Jean-Luc Godard). Foi Richard Gere quem me atentou para o fato de que até o Surfista, uma entidade impessoal e amoral, podia ser complexamente humano e altruísta, ainda que estas duas coisas soem paradoxais. Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado não vale nada, mas só por me fornecer um pretexto para esta lembrança já se justifica. Mais uma vez fizeram certo do jeito errado.


"I have seen the birth of planets and the death of worlds. I have seen galaxies crumble and new suns aborning. But in every star, in every sun, I see her face..."

7 comentários:

Eurico Dias disse...

Sempre passo aqui para ver as novidades de terror e do mundo dos quadrinhos... Claro que nem sempre aprecio a indicação de vcs, exemplo foi Alta Tensão que aluguei e achei bem fraco.

Adicionei o banner de vcs no meu site www.muitofirme.net

Se vcs puderem fazer o mesmo, agradeço

Saudações paraenses,

Eurico

Luwig disse...

Não só a "versão Ultimate do Quarteto como base para os filmes", mas acredito que soaria bem melhor do que esse arremedo de história a variante "infestação" do Gah Lak Tus, já que de qualquer maneira deixariam de lado o gigante de Jack Kirby.

Mas é como você disse, o filme é só "e o Surfista Prateado" (e aquele vozeirão imponente de Laurence Fishburne...).

Anônimo disse...

Alta tensão é fraco cara? O que seria forte pra vc?Quais as tuas indicações de filmes ai?

doggma disse...

Fala Eurico! Rapaz, curtiu o Alta Tensão não? Porque? :)

Luwig, qualquer coisa era melhor que aquela saída que arrumaram pro Galactus lá. Até o Satan Goss pintado de vinho e azul ficaria melhor. Estamos vivendo uma era de monstros sem monstros. Agradeça a Lost. É bem provável que "1-18-08", do J.J. Abrams, seja o 1º filme de monstro sem monstro da História.

Mas o Surfista, ironicamente, salvou a pátria.

:[marz]: disse...

Nem nos meus áureos tempos de Marvete no meio dos anos 80 eu era muito fan do Quarteto. Achava eles muito "bons moços" e comportados (exceção óbvia ao Coisa, que era o único que tinha alguma graça na equipe). O primeiro filme eu achei um nada absoluto, e se vou assistir ao segundo será somente por esse personagem tão rico interiormente que é o Surfista. Espero que não o tenham estragado também.

Amaro Mota disse...

Apesar de ser melhor que o primeiro, o filme decepciona, e o Galactus, melhor nem comentar. Esse filme se junta a Motoqueiro e ao Aranha3, foram bem fracos, ano que vem , entretando promete ter bons filmes de hérois, com Homem de Ferro e Batman.
Como o colega aí de cima falou, eu também não gostei de Alta Tensão.

doggma disse...

Luwig, escrevi besteira. O nome (temporário) do filme é "Cloverfield", não a data de lançamento dele, rs... O trailer é duca, mas é naquele esquema Lost de explicitez.

Marz, o Surfista foi bastante economizado mas ainda assim honrou a camisa. Melhor dizendo, honrou a prancha... ah, você entendeu...

Mariachi, hola amigo! Este año estás mesmo una puercaria. Y usted tambien detestaste La Alta Tensión? Puta mierda! Yo achei phueda!