terça-feira, 28 de agosto de 2007

EVIL ELVIS NÃO MORREU


Este mês completou 30 anos que Mr. Aaron Presley resolveu cantar Can't Help Falling In Love para platéias, digamos, mais seletas. Coincidentemente, Glenn Danzig, um de seus súditos mais fiéis, retorna das trevas em grande estilo com sua banda homônima.

The Pelvis foi influência primordial na sonoridade do grupo em seus quatro primeiros discos e em seu estilo vocal desde sempre - referência discográfica já devidamente exumada aqui. O legal é que não é gratuito. Ele de fato engrossa esta veia pélvica (opa) e a introduz (opa²) num contexto musicalmente funcional. O crossover de blues rock com o espírito obscurecido do Rei, mais a pegada cramulhística fim-dos-tempos do Black Sabbath se mostrou vigoroso desde os primeiros acordes.

Também é notável que após a espetacular quadra inicial, o Danzig entrou na zona de rebaixamento - mais precisamente, a partir do baticum equivocado de Blackacidevil, de 1996. O disco era uma maçaroca eletrônica sem eira nem beira, na cola do boom industrial noventista. O que se seguiu foi uma produção de metal genérico que muitos classificariam de 'meia-boca' sem dor na consciência.

Apesar dos álbuns recentes terem resgatado um pouco da dignidade musical de "seu" Glenn (o cara já está com 52, ainda no shape - Elvis cravou nos 42, acabado), nunca houve uma recuperação completa. Talvez fosse pelo time de músicos modernoso demais. Ou simplesmente porque as composições não traziam nenhum vestígio daquele feeling blueseiro de encruzilhada. A verdade é que faltou mais 666 nos últimos discos do Danzig.

Mas veja/ouça só como são as coisas... o novo álbum é antes de tudo old school. É tão bom quanto sua antológica primeira fase, sem que nada mudasse efetivamente no Danzig atual.


The Lost Tracks Of Danzig é a tradicional compilação de canções inéditas. Mesmo pertencendo ao velho esqueminha dos caça-níqueis, o material surpreende pela quantidade e qualidade. São 26 músicas "novinhas" de primeiríssima, não raro melhores que muitas das que entraram nos álbuns oficiais. Impressionante como a pré-produção daqueles discos foi cruel.

Paradoxalmente, a nova masterização - feita pelo próprio Glenn e por Rick Rubin - nivelou todas as faixas, sendo bem-sucedida em manter a coesão de uma coletânea que prima pela variação extrema de sonoridade. Convivem no mesmo pacote o blues metálico dos primórdios, a fixação cinqüentista do Evil Elvis, industrial ressacado, experimentalismo neo-gótico e as guitarradas tonitruantes dos últimos dois álbuns. O resultado é um discaço classe "A" (ou "B", o que for mais lisonjeiro). Merece cada níquel investido.

Quando comentei que muitas destas canções mereciam figurar em seus respectivos álbuns oficiais, foi pensando na arregaçante faixa de abertura, Pain Is Like An Animal e nas sensacionais Angel Of The Seventh Dawn e The Mandrake's Cry. Se destacam na imediata segunda audição a baladona soturna Crawl Across Your Killing Floor, as duas versões de When Death Had No Name, o hard de botequim vagabundo Soul Eater, o doomzão cavernoso Lady Lucifera (a versão s&m da Grazi Massafera!) e duas pérolas que pagam tributo ao Rei: Cold, Cold Rain (meia-irmã de Sistinas) e a bela acústica Come To Silver, que Danzig diz ter composto para Johnny Cash.


A faixa Satan's Crucifixion merece uma menção à parte: riff marcante, melodia tétrica, satanismo de história em quadrinhos e climão pesado de cortejo fúnebre. Desde já, um clássico imediato da banda. Há uma história curiosa sobre a canção, contada por Danzig em entrevista à Rock Brigade.

Nas demais, há poucos pontos baixos na repescagem (contabilizei só duas), predominando composições que figuram confortavelmente na 2ª divisão do melhor que o Danzig já produziu - mesmo as inéditas do famigerado Blackacidevil, superiores ao álbum inteiro. O disco também traz ótimas versões de Caught In My Eye (do The Germs), Cat People (tema de David Bowie que entrou na trilha do filmão A Marca da Pantera, de 1982) e Buick McKane (clássico taradão do T. Rex).

Chega o fim do álbum e "Evil Elvis has left the building". Fazia tempo que ele não fazia por merecer o anúncio. Este conjunto da (s)obra rendeu uma moralzinha extra.

7 comentários:

Kalunga disse...

Fantástico, Doggma!!!!

Cara, eu sou fã de longa data do baixinho-parrudo-do-mal-que-levou-uma-surra-de-um-cara-de-um-braço-só (o episódio Def Leppard), concordo em praticamente tudo do seu post - o paralelo c/ o Elvis é uma sina na carreira do cara, e a emoção dele cantando ao vivo uma música do Rei do Rock naquele EP é um troço de arrepiar.

E o que dizer deste disco de sobras???? Meu deus!!! E concordo também que o BlackAcidDevil é o maior fiasco do cara, e olha que eu sou fã de industrial! Salva-se ali somente "Sacrifice" e ainda por cima se trata de um sub-NIN...Nem o cover do Black Sabbath se salva!
Sobre os discos posteriores, acho o 666 Satan's Child ainda legal, "Belly of The Beast" seguramente figura entre suas melhores faixas. Mas, no geral, ele perdeu a mão mesmo. Desperdiçar o talento de um John Christ foi um vacilo imperdoável - e olha que ele também mal apoveitou a curta passagem de Tommy Victor (Prong). Porra DanziG!!! Já o Tio Al Jourgensen aproveitou muito bem do cara em "Rio Grand Blood"... aprende, ô anão dos infernos!!!

Tem um amigo meu que sempre afirmou que o Danzig tem uma caixa preta do mal de onde ele tira algumas das melhores canções do rock. Realmente, se vc parar p/ pensar que ele transfomou aquela tosqueira sonora do Misfits (o som de guitarra/bateria e baixo de "Walk Among Us" parece um enxame de vespas descontroladas e emboladas!) em um grande clássico do rock com canções fantásticas...montou o Samhain (que pra mim é um laboratório do que estaria por vir) e gravou aqueles fenomenais quatro primeiros discos de sua "banda-solo"...putamerda!

Ainda boto fé neste figura aí!!!!

Parabéns pelo belíssimo post Doggma!

ABRAÇÃO!

Sandro Cavallote disse...

Curto esse Danzig ae, não...

Mas que eu li seu post do início ao fim, li...

doggma disse...

É issaê Kalungaaaaaa!! Quando Danzig se propõe a compor canções e baladas rockers, pura e simplesmente, é goleada. Fora isto, é território inóspito. E o Tommy Victor (aliás, o Prong tá com um álbum novo que é uma trauletada na cara!) deu uma calibrada muito bem-vinda no Danzig. Não por acaso, o disco que ele participa tem uma guitarra que é um 'airomoto'. Atração à parte. Abraços, véião!

Sandredder, tu és um belíssimo canalha. E tenho dito.

Peter disse...

Saudações galera do Black Zombie, gostaria de parabeniza-los pelo ótimo blog que agrada a nós Nerds , já venho acompanhando seu blog a algum tempo e comecei o meu a pouco tempo , que tem conteúdo semelhante ao seu (principalmente sobre filmes),e gostaria de fazer uma parceria onde trocamos divulgações do meu e do seu site .Me mande um e-mail pra mim mandar a url do meu bottom , o seu site já está divulgado no meu aliás.Obrigado pela atenção.Um abraço.

:[marz]: disse...

O baixinho ainda dá um caldo.

Unknown disse...

Gostava quando ele cantava no Misfits.

Romoal disse...

Pô cara, tô com um problema. Você poderia me falar com vc colocou esse "favicon" no teu blog?