
Facão enferrujado? Confere. Sorriso cativante? Confere. Pescoção? Confere. Fetiche por acessórios de hóquei? O-fucking-yeah. Tremei, amantes da nouvelle vague! O rei dos slashers está de volta! E quando eu afirmo "está de volta" eu quero dizer per se literalmente por extenso. Porque cada frame respingante de Sexta-Feira 13 (Friday the 13th, EUA, 2009) remete rigorosamente à franquia original, funcionando mais como um resumão dos três primeiros capítulos. Nada do que era circunstancial ou situacional foi modificado, o que faz deste filme uma autêntica 80's X-Party, com todos os machados, cutelos e loiras subindo as escadas em vez de fugirem pela porta. Mas antes que você me pergunte, sim, houve alguma reinvenção. Do próprio Jason.

Segundo Nispel, eles deceparam cerca de dez minutos em gore e putaria só pra acalmar a MPAA e emburacar censura R. Mesmo assim, a quantidade de mamões em exposição é redentora! Contei três pares generosos de magumbos, todos em farol alto e com moranguinhos perfeitamente simétricos. E como nada se perde, o diretor já avisou que o DVD e o Blu-ray é que vão ser o canal e terão todas as cenas proibidonas, mais os gêiseres de hemácias, leucócitos e plaquetas que ficaram de fora. Oremos!


A cena que conclui a chacina chama a atenção por dois motivos: visivelmente, Derek Mears, o novo Jason, estava em plena realização de um sonho de infância; Dada a disposição com que ele vai pra cima da última vítima, Whitney (a fabulosa Amanda Righetti), você imagina que ele não só partiu a garota ao meio como abriu um novo afluente para o lago Cristal. Mas não é bem por aí - e essa é a primeira pista do estilo que Nispel imprime durante o resto do filme.
Finalmente, o título aparece e a história central começa. Seis semanas depois, o irmão de Whitney, Clay (Jared Padalecki, o Sam, de Sobrenatural) varre a região à procura da garota, enquanto uma nova leva de presuntos com úteros e hormônios em fúria armam um rendez-vous pelas redondezas. Os conhecidos estereótipos estão lá, desde o playboy cuzão e duas loirinhas bimbantes até um japa e um negão obedecendo o sistema de cotas - todos com etiqueta de identificação do necrotério amarrada no dedão do pé.
Também temos uma inevitável e virginal Pollyana no meio do grupo, a gracinha Jenna (Danielle Panabaker), interesse romântico de Clay. Aliás, sempre me pergunto porque uma pattyzinha casta e inocente resolve ir até um fim de mundo com uma galera sedenta por drogas e orgias.


Na nova abordagem, Jason está mais safo, mais versátil. Ainda é aquela mesma máquina de moer adolescentes, mas longe daquela rigidez robótica de outrora. Sim, a unidimensionalidade, maior característica do immortal-killer, foi pro saco. O Jason 2009 está mais para os cajuns sacanas de Amargo Pesadelo e O Confronto Final do que pra Michael Myers, o que faz até mais sentido. O caipirão from hell agora se utiliza de vários apetrechos (armadilhas, gambiarras de alarme e... ainda estou pasmo... arco e flecha!) e até de joguinhos psicológicos - coisa que ele fazia muito nos primeiros filmes e foi que sendo esquecida conforme a criatividade foi descendo pelo ralo. Do jeito que está, Jason poderia alugar uma caminhonete, cair na estrada e protagonizar a continuação de Wolf Creek.
Mesmo descrevendo tudo isso positivamente, confesso que fiquei meio dividido sobre essas modificações. Mas isso porque eu sou um maldito nostálgico. Jason pra mim é aquele que vai andando e mesmo assim pega o infeliz que está se desgraçando de correr lá na frente.

A direção de Nispel surpreende pela pouca ousadia, sugerindo até um certo cuidado com a marca. Também é meio canalha com o espectador, usando várias vezes o recurso do volume alto para amplificar sustos falsos (chega ao absurdo de um simples arrastar de cadeira criar um susto de mil decibéis). Outra estratégia furada que é repetida à exaustão e que se esgota rapidamente: Jason e seu poder mutante de se materializar atrás das vítimas, o que fatalmente chega ao ponto de comédia involuntária (a velha maldição da série original). E algumas passagens intrigantes como a da velhinha mal-encarada e adepta da causa Jasoniana não são desenvolvidas, o que é uma pena.
De positivo, temos boas homenagens aos primeiros filmes, como a cadeira de rodas que aparece jogada no muquifo de Jason (referência ao paraplégico de Sexta-Feira 13: Parte 2), a cachola da mamãe Voorhees reverenciada num altar (também da parte dois) e o ônibus escolar tombado no meio da floresta (lembrando muito a van que ele detonou na parte VI).
Também não poderia deixar de destacar que, após tantos cancelamentos, finalmente alguém de Sobrenatural conseguiu enfrentar o Jason - ainda que extra-oficialmente. O que, convenhamos, foi até melhor, já que os Winchester bros. nem abalariam o mascarado com os tradicionais sal grosso e rituais de exorcismo. Jason esquartejaria os dois num piscar de olhos e a série é bacana demais pra terminar assim.

Sexta-Feira 13 em muito se assemelha àquelas bandas hard rock de antigamente. E não me refiro apenas aos canhões de luz e gelo seco que impregnam as florestas de Crystal Lake à noite. A série retorna com um lançamento divertido, mas flagrantemente datado para os padrões atuais, na ânsia de recuperar um pouco do seu passado de glórias. O que consegue, no entanto, é mostrar mais uma autocaricatura, regurgitando as convenções criadas por ela mesma e que influenciaram as gerações seguintes - o que, de um certo modo, não poderia ser mais bem-vindo e lisonjeiro.
Jason está de volta. Vida longa a Jason Voorhees, o maior rockstar dos anos oitenta.
Friday the 13th Films
Camp Blood
Desciclopédia do Jason!
10 comentários:
Cara, já conferi o filme ( na sexta-feira 13 como manda o figurino), e é bem o q vc dissecou mesmo.
Eu esperava ate menos do filme,e gostei bastante. So fiquei um pouco decepcionado com o filme (q tb nao deixa de ser uma referencia aos antigos filmes).
abç
"man behind the mask" (He's Back)
Alice Cooper - Constrictor!!
Animal Dogg!
Não esperava menos!
:)
Hulk
Ainda não chegou aqui no cinema, mas espero ansioso
A primeira seqüência de Sexta-Feira 13 que vem a minha cabeça quando penso em Jason Vorhees é a da execução próxima ao celeiro (na Parte 3) em que ele usa uma besta e a seta atirada cobre em milésimos de segundo o anglo de visão do espectador e, claro, da vítima (literalmente).
Kevin Costner my ass!
Show! Vou ver essa bagaça!
Pô, pra querer ver o filme, é só ler o primeiro parágrafo do seu texto. Sensacional! Vc falou do Jason, mas o próprio Dogg anda se reinventando...
For those about to slash, we salute you!!! :)
E com o box-office de US$ 40mi no primeiro fds (o filme custou 20) já podemos aguardar as infinitas continuações!
Assisti hoje. Achei o filme fodasso. Foi como voltar aos 80 e assistir um senhor filpme. Mas acho que ai mesmo reside o perigo dessa retomada da série. Mas gostei muito do 'novo' Jason, e agora espero a versão full.
eu vou degolar a sua garganta
Simples e direto: não se fazem mais slasher movies como antigamente (mesmo com peitinhos aparecendo aqui e acolá) e talvez nunca mais farão. É uma pena que se a geração anterior cresceu assistindo a estes filmes nas Sessões da Tarde da vida sem desenvolver nenhum problema social - creio eu - hoje, o que se vê é uma insistente ordem do politicamente correto que tenta prevenir/remediar os males fingindo que eles não existem. É uma lástima, mas o filme não compromete tanto assim, embora seja fraco se comparado com as produções dos '80.
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