Mandamento #616 dos gibis da
Marvel: enfrentar o
Hulk é o mestrado para todo super-herói que honre sua cueca, esteja ela por baixo ou por cima da calça. No mínimo estabelecerá sua perseverança frente às intempéries e elevará sua moral aos olhos do público - apesar da demonstração de coragem perturbadoramente suicida.
Muitos já deixaram sua estrela na Calçada Gama:
Matt Murdock,
Steve Rogers,
Tony Stark,
Thor Odinson,
Norrin Radd,
Blackagar Boltagon,
Mar-Vell - só em
Hulk Contra o Mundo, o Professor Verdão distribuiu todas as bordoadas e pós-graduações ainda pendendes no elenco principal da editora. Um verdadeiro
gamma party.
Isso sem mencionar o James Howlett, PhD em Hulkonomics desde o
dia um. Vamos contar quantas páginas até o redivivo Carcaju bater de frente com o Gigante Verde outra vez.
Mesmo com essa extensa e diversificada galeria de combates, há que se destacar a teimosa resiliência de um certo aracnídeo. Por algum motivo que só o Sombra sabe, a vida do
Homem-Aranha foi e ainda é marcada por confrontos ridiculamente desiguais. O Teioso coleciona embates contra pesos-pesados imparáveis, numa lista de brutamontes que vai do
Rino e
Mr. Hyde até
Fanático e... bem...
A química entre o
Hulk e o
Homem-Aranha vai muito além do óbvio contraste físico. Vem desde o conceito, da forma como funcionam tão bem sozinhos e ainda melhor quando se encontram. Há algo de marcante e natural nesses crossovers que é simplesmente contagiante. Certamente, uma das maiores e melhores combinações da cultura pop.
Mas admito, sou suspeito: os primeiros gibis que li nesta vida foram
desses dois. E felizmente, não estou sozinho.
Foi papeando com o parceirão
VAM!, da Batdeira, sobre esse autêntico Davi contra Golias Pós-Moderno que viajamos num projeto de um mega-encadernado discretamente entitulado
Hiper-Almanaque Marvel - Hulk Esmaga o Homem-Aranha!
Que rufem os tambores...
turudurudurudurudurudummmm...
Clique para hulkificar a capa!
A ideia geral era elaborar uma seleção com as
quinze (
!)
lutas mais divertidas entre o Cabeça de Teia e o Golias Esmeralda. Com o
layout e a diagramação cirúrgicas do VAM! tentei sintetizar a ideia toda no expediente.
E acho que, em parte, consegui - com a elegância e a sutileza de um locutor de rodeio.
- O que me fez divagar sobre essas duas forças nascidas da radioatividade em meio às ansiedades da Era Nuclear e da paranoia da Guerra Fria... Seriam estes os verdadeiros "Filhos do Átomo"? Só o Dr. Samson explica.
À seleção e avante!
The Amazing Spider-Man Annual #3 (nov/1966)
Com o enredo nonsense do titio
Stan Lee, o traço de
Don Heck e uma tremenda bananosa pro Aranha, a história
"...To Become an Avenger!" traz o nosso herói sendo atropelado pela famosa "sorte Parker": é sondado pela playboyzada dos
Vingadores para se tornar um membro
full time, mas para provar que merece a vaga, precisa arrastar o Hulk de volta à equipe. Praticamente uma pegadinha do Mallandro.
Rá!
Essa história saiu por aqui no
#9 da série Spider-Man Collection (set/1996), uma das picaretagens mais caras já cometidas pela editora
Abril (✞).
Momento Vai Teia!: Aranha derrubando o Hulk com 1 soco! Calma... tem contexto, tem contexto...
The Amazing Spider-Man #119-120 (abr-mai/1973)
Duas edições que são um bálsamo para o maltratado coraçãozinho dos marvetes mais velhos: as histórias
"The Gentleman's Name Is... Hulk!" e
"The Fight and the Fury!" têm roteiro de
Gerry Conway e a arte inesquecível do genial
John Romita na 1ª parte. Às voltas com um Norman Osborn em vias de relembrar seu lado Duende e com a Tia May nos braços do galã Otto Octavius, Petey precisa urgentemente dar um tempo de NY. Destino: Quebec. E chega lá justo quando o Hulk e o
General Ross estão quebrando o pau... ou melhor, quebrando a taiga inteira. Se combinassem, não daria tão certo.
Cinco anos depois, a história foi republicada de forma mais autocontida, com algumas páginas diferentes e capa de John Byrne em
The Amazing Spider-Man Annual #12.
Essa HQ fez uma verdadeira turnê brasileira, sendo publicada pela
EBAL, Bloch, RGE e Abril.
Momento Vai Teia!: as últimas preces do Aranha.
Marvel Team-Up #27 (nov/1974)
Aqui,
Jim Mooney mostra que a média dos desenhistas da época limpa o chão com a média atual e
Len Wein dá uma
aula de continuidade na história
"A Friend in Need!". Na trama, o vilanesco
Camaleão joga um verde no Hulk (
ops!) pra livrar um amigo do xadrez. E adivinha quem estava por lá cobrindo uma reportagem ao lado do próprio
J.J. Jameson? O final da história é dramático e inesperado.
Saiu aqui pela
RGE e pela Abril.
Momento Vai Teia!: é do Hulk, que resistiu impávido e colosso à
malandragem da detentaiada.
Marvel Team-Up #53-54 (jan-fev/1977)
Dando uma respirada da pancadaria aracno-gama, vem a parceria de
Bill Mantlo e
John Byrne em
"Nightmare in Mexico!"/"Spider in the Middle!". O Cabeça de Teia está voltando pra casa após uma pelada com os
X-Men e acaba baldeando numa cidade-fantasma do Novo México. Lá, se vê no meio de um salseiro-monstro envolvendo o Hulk, o Pã punk
Deus da Mata e uma operação
top-secret do governo. Aventura com clima dos filmes setentistas de contenções/acobertamentos militares estilo
The Crazies e
O Enigma de Andrômeda.
Especialmente indicada para quem tinha aquela edição comemorativa de
Capitão América #100 e até hoje não entendeu por que diabos o Teioso tinha ido parar na
Lua (!). Ao contrário da Abril, a RGE fez o dever de casa e publicou a
passagem completa desse arco (
MTU #53-57) - com uma
tradução bem meia-sola, diga-se, mas ninguém é perfeito, né mermo.
Momento Vai Teia!: Aranha, esse Deadpool de raiz,
libertando o Hulk com um peteleco.
Marvel Team-Up Annual #2 (out/1979)
Num dia qualquer no início de 1979,
Chris Claremont saía de um cinema apavorado com o filme
Síndrome da China. Em casa, liga a tevê pra relaxar um pouco com o seriado do Hulk, mas o episódio que passava era
"Earthquake Happens". Em pânico, vai à varanda tomar um pouco de ar e ler o jornal. Manchete da 1ª página:
"Acidente em Three Mile Island".
Só um tratamento de choque desses para explicar a história
"Murder in Cathedral Canyon!", com desenhos de
Sal Buscema e
Alan Kupperberg - grafado "Kupperburg" no gibi (que vergonha, Marvel). Na trama, a namorada de Peter e o pai dela são raptados por um trio de supersoldados soviéticos; mas a situação é ainda pior do que parece: o sogrão é um cientista que acabou de criar a fórmula da bomba de antimatéria. Começa então uma desesperada corrida contra o tempo, com ajuda do Verdão e de um
militar russo fã do Tex Willer.
Inspirado e preocupadíssimo, Claremont claramonte, ops... claramente estava engajado na questão. Fora as
referências explícitas ao acidente na usina de Three Mile Island, a história é bem mais calcada em temas reais do que o padrão da época - lembrando que se tratava da já cinzenta e politizada Era de Bronze dos
comics.
Vale reproduzir o balão final, um libelo pacifista do escritor:
"Para mudar as coisas, Homem-Aranha, a humanidade -- como um todo -- deveria levantar e dizer 'Chega de Bombas'. Deveríamos aprender a viver em paz uns com os outros. Francamente, meu amigo, não acho que temos esse tipo de coragem."
Essa foi publicada aqui pela
RGE há quase 40 anos. Merecia uma reedição.
Momento Vai Teia!: o Aranha dando uns tapas na cara do Banner pra invocar o Hulk era um franco favorito, mas fico com a inteligência do Petey
impressionando até o nerdão-mestre Reed Richards - ei, pessoal que faz os filmes, lembrem-se disso!
Marvel Team-Up #126 (fev/1983)
De volta ao
smash-style, pero sin perder la ternura:
"The Obligation!", publicada originalmente em suplemento dominical e reeditada em edição split da
Marvel Team-Up - essa era a Marvel defendendo cada centavinho do cofre. Então manda-chuva da editora, o polêmico
Jim Shooter escreveu um roteiro paulocoelhista, aparentemente inspirado em velhas parábolas orientais. Num clima de conto, Peter ensina a Bruce Banner e seu alter-egão o real significado de altruísmo.
Emoldurando o cenário filosofante, a arte do sumido
Tomoyuki Takenaka. Que era um bom desenhista de ação com pegada mangá
contida em alguns momentos, mas que em outros fazia do Peter um
clone...
do Speed Racer.
Essa metade do split saiu por aqui em
Superaventuras Marvel #45.
Momento Vai Teia!: Peter Generoso Parker.
Marvel Fanfare #47 (nov/1989)
Michael Golden.
Pra muita gente só esse nome já basta. Compreensível: sua arte peculiar é um
tour-de-force tanto quanto um Hulk descontrolado e solto no coração do South Bronx - que é justamente o que ocorre em
"Renovation". O roteiro é do
Bill Mantlo e se passa na fase do Hulk inteligente. Dominado por uma amoeba alienígena, o Gigante Esmeralda retorna aos seus tempos de
Rampaging Hulk e só encontra pela frente uns drones da
Shield e um Aranha com o pior resfriado da sua vida.
Foi publicado aqui uma única vez em
O Incrível Hulk #84 (Abril).
Momento Vai Teia!:Aranha
nocauteando o Hulk em estado selvagem sem ao menos encostar nele. Alguém aí andou lendo H. G. Wells.
The Amazing Spider-Man #328 (jan/1990)
Nessa sequência involuntária de artistas peculiares, vem
"Shaw's Gambit", a última história do Homem-Aranha com sua majestade noventista
Todd McFarlane. Até hoje há quem considere essa a versão definitiva do herói.
(...)
Esquisitices à parte, aqui é evidente o cansaço do mega-empresário na reta final. Algumas passagens ficaram tão nas coxas que até os laureados da seção "Arte do Leitor" dos gibis da Abril fariam melhor. Mas independente da minha opinião (eu curto o traço do Erik Larsen, oras, minha opinião não vale nada), esse é um momento histórico na cronologia do Teioso e o roteiro absurdista de
David Michelinie não poderia coroar a saideira de forma melhor.
A edição faz parte da macrossaga
Atos de Vingança, onde os vilões Marvel fazem troca-troca (de heróis!). Então, o Hulk fase
Sr. Tira-Teima é contratado pelo mefistofélico
Sebastian Shaw para eliminar um Aranha godlikeado com os poderes cósmicos do
Capitão Universo. Ou seja, uma baita rabuda pro Cinzão.
Há um estranho padrão aí, já que o Sr. Tira-Teima - a versão menos poderosa do Hulk - sempre enfrenta heróis nos momentos mais overpower de suas carreiras. Carma?
Essa foi publicada em
O Incrível Hulk #122 (Abril) - e no que depender das incursões da
Panini no Hulk McFarlaneano, permanecerá assim por um longo, loooongo tempo.
Momento Vai Teia!: o Aranha colocando o Sr. Tira-Teima
em órbita!
Web of Spider-Man #69-70 (out-nov/1990)
Tudo muda o tempo todo no mundo, mesmo. Em
"A Subtle Shade of Green"/"A Hulk by Any Other Name", tanto o Spidey voltou com seus poderes normais, quanto o Hulk voltou a ser verde, forte e burro. Escrita pelo veterano
Gerry Conway, co-escrita por
David Michelinie na 2ª parte e desenhada pelo melhor-Sal-Buscema-cover-do-mercado
Alex Saviuk, a trama é uma volta às raízes dos encontrões entre os dois. Hulk toca o terror numa cidadezinha e Peter vai lá cobrir a passagem do furacão verde. O problema é um incidente com o dispositivo de um vilão oportunista que termina por
hulkificar o aracnídeo.
Spider smash!
Essa história saiu aqui em
Homem-Aranha #132 (Abril).
Momento Vai Teia!: SPIDER SMASH!²
The Amazing Spider-Man #381-382 (set-out/1993)
E após um breve comercial, voltamos com o Hulk inteligente.
"Samson Unleashed"/"Emerald Rage!" têm roteiro de Michelinie e arte do
Mark Bagley. Na história, temos o
Dr. Samson praticando seu esporte favorito: curar o Banner. E, como sempre, errando feio. Na experiência desastrosa da vez, ele próprio se torna uma fera selvagem e, na sequência, logicamente, o Hulk. Pra remediar a situação, só o Aranha mesmo. Porradeiro honesto (quase) do início ao fim.
Ah, e alguns meses depois,
Peter David decidiu que
essas histórias eram apenas sonhos. Que bonito, hein, sr. David. Mas realmente ia ficar estranho meia tonelada de Hulk sentado na janelinha de um avião comum.
As duas foram compiladas em
A Teia do Aranha #84.
Momento Vai Teia!: Spider-Backflip!
Peter Parker: Spider-Man #14 (fev/2000)
Da seleção inteira, a história
"Denial" é a que traz o tom mais sério. Atmosfera pesarosa de luto num cenário onde o Aranha crê que sua esposa
Mary Jane morreu num desastre de avião provocado pelo Hulk.
Howard Mackie nunca foi nenhuma Brastemp, mas conseguiu tecer aqui uma narrativa envolvente e passional de uma situação delicada - mesmo em rota de colisão com algo tão divertido & pop como um quebra com o Hulk.
Para um roteirista, o Aranha deve ser um dos personagens mais fáceis de lidar. É instintivo. Inclusive nos momentos mais intensos e emocionais. Ele praticamente se escreve - e muito bem. Até quando você
não concorda com nada daquilo.
E
John Romita Jr. em grande forma é tudo o que você precisa.
Essa história saiu aqui em
Homem-Aranha #6, safra
$uper-Heróis Premium. Será que já existe algum livro em produção sobre
as falcatruas os
bastidores da Abril? Há muito pra contar ali...
Momento Vai Teia!: Aranha e a
dolorida catarse gama.
C'est fini.
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No próximo Hulk Esmaga: as pedras vão rolar...