terça-feira, 31 de maio de 2022

The Office


O melhor jeito de apreciar Ruptura (Severance, 2022) é de forma humilde, penitente e resiliente. Nada de sinopses marotas e trailers sem noção: mergulhe direto na fonte. A série da Apple TV+ traz uma construção em camadas e não entrega nada tão fácil, mas faz valer o... salto de fé.

Criada pelo escritor e produtor executivo Dan Erickson, a série é uma aula de roteiro slow burn executado à perfeição. Mas nada seria o mesmo se não fosse a direção cirúrgica de Ben Stiller, que responde por seis dos nove episódios. Sua condução precisa dentro de uma cenografia mesmerizante, asséptica e carregada de rigor simétrico chega a remeter a Playtime: Tempo de Diversão (1967), o clássico injustiçado de Jacques Tati.

Sem exagero. Acho.

Também pode ser exagero meu a existência de uma certa metáfora à Cientologia — impressão reforçada pela semelhança física do ator Adam Scott com o endorser Tom Cruise. Vai saber.

O que não é exagero é que Ruptura é a série do ano. Provavelmente.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Os Pequeninos das Armas Aterrorizantes

Em outubro de 2018, era publicada a MAD #4. Era a enésima reformulação de uma revista icônica que há décadas luta para manter a relevância enquanto tenta se encontrar nos novos tempos. E seria mais um passo para bem longe de seus dias de glória, não fosse por uma historinha curta intitulada The Ghastlygun Tinies (tradução capenga logo acima). O quadrinho de Matt Cohen e Marc Palm desenvolve a narrativa de um tiroteio em massa em uma escola americana na forma de versos começados com as iniciais de cada vítima.

É de arrepiar.

(especialmente se lido com a voz, preservando as rimas)





A tirinha sequenciada em 4 páginas emula a obra “The Gashlycrumb Tinies”, clássico do ilustrador Edward Gorey publicado em 1963. É uma homenagem com atualização. E não apenas rendeu elogios de gente como Patton Oswalt e até do The New York Times, como valeu uma indicação ao Eisner para a dupla de quadrinistas.

Foi impossível não lembrar dela, dado o evento trágico de ontem no Texas e também o estado moral igualmente trágico pelo qual atravessamos. É uma daquelas obras tão geniais quanto atemporais.

Neste caso, infelizmente.

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Mike Get Knocked Down

Not All Robots, de Mark Russell e Mike Deodato, via AWA Studios, entre os selecionados para as categorias "Best New Series" e "Best Humor Publication".

Indicação dupla do Eisner dá nisso:

My very mature 59 year old reaction to the news that Not All Robots, by me and @manruss got two Eisner nominations.

Publicado por Mike Deodato em Quarta-feira, 18 de maio de 2022

Sensacional.

E merecidíssimo. O homem está desenhando uma barbaridade!

domingo, 15 de maio de 2022

A Espada Selvagem de Amleth


A forja


Os ensinamentos


O massacre


O sobrevivente


Os algozes


O escravo


O guerreiro


A espada ancestral


A bruxa


O lobo entre os cordeiros


O condenado e suas companhias aladas


A vingança


A decapitação

Só Heimdall para desatar o emaranhado que as Nornes teceram caprichosamente neste trecho do destino. Ontem foi o quadragésimo outono de Conan, o Bárbaro, exatamente o dia em que o antecipadíssimo O Homem do Norte (The Northman, 2022) chegou ao alcance de uma maioria de desonrosos que não tombaram em batalha. Os paralelos entre os filmes são visíveis até das paragens mais longínquas da Bifrost. No decorrer de O Homem do Norte, assisti atônito a reedição não apenas da premissa, mas também dos aspectos estruturais eternizados pelo clássico bastardo de John Milius.

"Arquétipos", sei. Ou reflexo da lenda escandinava original.

Não é nada disso: é o timing desses arquétipos, da narrativa, do pacing. Mediocridade cinemática não é. Todos sabemos (sabemos?) do talento de Robert Eggers, um dos cineastas mais interessantes dos últimos tempos. E O Homem do Norte é um espetáculo assim mesmo. Mas por esse pequeno detalhe, o cinturão viking permanece com Nicolas Winding Refn. Odin seja louvado.

Melhor filme do ano?²³²³²³. Se acabar sendo, ótimo. Mas tomara que não.

Ps: cara, como amo a Björk. Ela já nasceu pronta, hm?

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Avatar: This Is the Wa... ops, The Last Airben... ops, The Way of Water


James Cameron e sua trip naturalista dinamitando o sistema por dentro. Baterá ele seu próprio recorde multibilionário...?

Ps: tinha curtido o filme original bem mais do que lembrava. E ainda bem que não ganho a vida como vidente.

domingo, 8 de maio de 2022

A Origem da Mãe-Aranha I


Em quase todos os 2ºs domingos de maio dou uma folheadinha em uma edição surrada de O Homem-Aranha #151 (jan/1996). Era um gibi que acertava bem mais alvos do que a chamadinha "A Origem da Mulher-Aranha!" tentava mirar. A história "Apareceu uma Aranha..." é mais uma que levou ao universo dos super-heróis a fórmula sagrada da Marvel: os problemas da vida real. No caso, os problemas de Julia Carpenter, a Mulher-Aranha II.

Divorciada que luta pela Justiça e na Justiça contra o ex-marido pela guarda de sua filhinha Rachel, a heroína precisava se desdobrar em seus primeiros dias de vingadora. Dos Vingadores da Costa Oeste, mas, ainda assim, vingadora.

Publicada lá fora em Avengers West Coast vol. 2 #84-86 (jul-set/1992), a trama escrita por Roy Thomas e por sua esposa Dann Thomas flerta com questões de representatividade e sororidade, mesmo que timidamente — o que já era um quase um libelo feminista naqueles anos 1990 de Psylockes e Witchblades. A história realmente deu uma origem (genérica) para a personagem, que havia surgido do nada em Guerras Secretas. Mas fica muito mais interessante quando mostra Julia enfrentando seus perrengues pessoais com a mesma garra com que enfrenta sua curiosa galeria de vilões.

Apesar das participações do Homem-Aranha e dos Vingadores da Costa Oeste, a estrela é mesmo Julia Carpenter. Mesmo que os créditos digam o contrário. Uma pena que a tradução e adaptação, do estúdio Art & Comics (de Jotapê Martins & Hélcio de Carvalho...), mete um bisturi cego em diálogos que tridimensionalizam a delicada situação da protagonista. Era a luta seguindo além das páginas.

"Apareceu uma Aranha..." está longe de ser uma história perfeita. Mas é o suficiente para fazer da Julia a melhor personagem a usar esse codinome.

Mãezaça!

sábado, 7 de maio de 2022

Foi uma inesquecível jornada...


George Pérez
(1954 - 2022)

Um dos caras mais importantes, geniais e bacanas da indústria dos quadrinhos fez sua passagem para um merecido, merecidíssimo, descanso. Sem mais nada a acrescentar porque o show pra valer mesmo ele já deu.

Só espero que deixe um lugarzinho pra mim lá em Themyscira.



Thank you for everything, George Pérez!

quarta-feira, 4 de maio de 2022

Cavaleiro da Lua vs. Cavaleiro da Cuca


Cavaleiro da Lua é o pontapé inicial para o violento universo urbano da Marvel na Disney+? A saga metafísica do vigilante interage com os eventos do UCM? O Cavaleiro da Lua nas telas é o Batman branco? Acertam o tom na 1ª série com um protagonista inédito e ilustre desconhecido do grande público?

Era o que me perguntava há pouco mais de um mês, antes da estreia do programa criado por Jeremy Slater e gerenciado por Mohamed Diab. Em nome do fair play, neste postinho serei um túmulo sarcófago. Mas todas as onze pragas do Egito (10 + spoiler) estarão liberadas nos comentários.

Me limito a observar que:

𓄊 É uma série tão irregular que lembra a confusão de personalidades do seu protagonista: tem poucos momentos de brilho, mas com 1 episódio pra chamar Hórus de meu loro (o #5); tem um final absurdamente anticlimático, mas com pós-créditos OnlyFans que atinge incríveis 2.5 pontos na escala Capitão-América-chamando-o-Mjolnir-de-volta.

𓄊 Dois últimos episódios com delivery CGIístico em alta e trocação semi-kaiju, ainda que tímida.

𓄊 Oscar Isaac, patrimônio pop cultural. E Ethan Hawke continua sendo, mas não por essa série.

𓄊 F. Murray Abraham brilha na voz estrondosa do deus lunar Khonshu (já metendo aqui um mea culpa sapeca pelo Venom precoce do outro dia), mas a atriz e produtora jordaniana Saba Mubarak não fica nada a dever na voz imponente da deusa-Cuca Ammit.

𓄊 A Layla da atriz bareinita May Calamawy nos agraciou com um agradabilíssimo déjà vu da Poderosa Ísis com Shayera Hol. Hmmm.

𓄊 Khonshu é o Keyser Söze do panteão egípcio.

Ps: próxima adaptação - Esfinge? Monolito Vivo? En Sabah Nur pós-Oscar Isaac?
Pps: 5&20 é maluco, mas é responsa.