terça-feira, 22 de novembro de 2022

O Gigante que sabia viver


Erasmo "Carlos" Esteves
(1941 - 2022)

Erasmo Carlos fez suas últimas graças com o público ao sair de uma internação preocupante no início do mês. Sempre uma figuraça, até nos momentos mais delicados. Quase dois metros de pura simpatia e coração fizeram do "Gigante Gentil" um dos apelidos mais certeiros do showbiz. Claro que sua partida surpreende, claro que emociona, mesmo que o tal quadro de síndrome edemigênica (?) já inspirasse cuidados redobrados para um colosso de 81 primaveras.

Faz parte da vida e, no caso do eterno Tremendão, o pacote vinha completo. Entre uma discografia com mais altos do que baixos, destacam-se três obras-primas: Erasmo Carlos e os Tremendões (1970), Carlos, Erasmo (1971) e Sonhos e Memórias (1941-1972) (1972), com o artista adotando letras confessionais e intimistas, imerso em influências soul, samba, funk, acid rock e experimentalismos.

Não por acaso, três discos imediatamente posteriores ao seu protagonismo no programa/gênero/movimento Jovem Guarda ao lado do amigo-de-fé-irmão-camarada Roberto Carlos.

A parceria com o "Rei" até a sua (dolorosa) separação rendeu uma música lindíssima, a clássica "Sentado à Beira do Caminho", lançada em compacto 12" em 1969. Nelson Motta, sempre ele, contextualizou o momento em seu livro Noites Tropicais:
“Mas todo mundo percebeu que alguma coisa havia mudado. Começava o reinado de Roberto Carlos, o artista mais popular do Brasil.

Aos poucos, ele foi saindo da ‘Jovem guarda’, que se tornou apenas mais um entre vários programas em que se apresentava. O programa continuaria sem ele, comandado por Erasmo e Wanderléa.

Na última vez em que Roberto se apresenta na ‘Jovem guarda’, em que não aparecia há semanas, Erasmo lança um dos maiores sucessos musicais do ano e um clássico instantâneo: ‘Sentado à beira do caminho’ é a música de despedida, uma bela balada de abandono e de solidão, que era para o fim da ‘Jovem guarda’ o que ‘Quero que vá tudo pro inferno’ tinha sido para o início:

‘Preciso acabar logo com isso, preciso lembrar que eu existo, que eu existo...’

O Brasil inteiro cantou com Erasmo, Bráulio Pedroso dedicou praticamente um capítulo inteiro de sua novela ‘Beto Rockeffeller’ na TV Tupi, o maior sucesso do momento na televisão, a cenas mudas com o protagonista Luiz Gustavo andando pelas ruas de São Paulo ao som de ‘Sentado à beira do caminho’, um capítulo-clip.”

Um daqueles conselhos pra vida. Só faz bem ouvir de tempos em tempos.

Obrigado, Erasmo! Valeu, bicho!

3 comentários:

Chico disse...

Erasmo é foda demais. Sou fã. Foi ele que quebrou minha resistência em ouvir rock/pop nacional e MPB.

Escrevi uns dois textos sobre/com ele:

http://chico.jor.br/243/formatinho/jovem-guarda-nos-tempos-da-timbolina-pt-1/

http://chico.jor.br/252/formatinho/jovem-guarda-nos-tempos-da-timbolina-pt-3-minha-fama-de-mau-o-filme/

Marcelo disse...

E...outro heroi que se parte....Obrigado Erasmo!

doggma disse...

Chico, novamente, artigos espetaculares. Os dois, mais o interlúdio Campellístico.

Recomendo a todos os incautos que virem isso aqui.

Deixei um comentário enxerido lá. Valeu!