Indiana Jones e a Relíquia do Destino me lembrou de como é bom entrar numa sala de cinema sem a menor ideia do enredo. Nem ao menos me dei ao trabalho de memorizar o resto do título após o nome do herói – coisa que desencanei após Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, de 2008. Que, apesar dos pesares, deu ao espectador um senso de conclusão digno, porém esqueceu de combinar com o miolo. Na nova aventura, o clima de despedida é novamente reeditado, com a clara intenção de corrigir os problemas do filme anterior.
E consegue, com grande sensibilidade até. Isso graças ao roteiro de Jez Butterworth, John-Henry Butterworth, do veterano na franquia David Koepp e do também diretor James Mangold.
Curiosamente, Steven Spielberg compareceu apenas como produtor executivo – George Lucas, desta vez, está completamente fora – e chegou a declarar que a ideia era "oferecer uma nova perspectiva." No entanto, Mangold é um seguidor reverente e mesmo com a renovação de década característica da série, ele faz questão de manter os ganchos da fórmula Spielberguiana. Até os nazis voltaram a atacar, devidamente contextualizados para o final dos anos 1960. Sujeito esperto.
A trama... bem, trama, a esta altura do campeonato, é o que menos importa. Tem lá a relíquia cercada de charadas com mocinhos e bandidos se acotovelando atrás dela. De novidade, curti o recurso do falso MacGuffin sugerido de cara e descartado na 1ª oportunidade. Mesmo por que, é dos "objetos místicos" mais manjados deste território (não é mesmo Constantine?) e uma Arca e um Cálice já foram o suficiente. Boa sacada.
A arqueóloga trambiqueira Helena Shaw e seu sidekick Teddy, um Short Round marroquino, são os novos personagens da vez. Sempre tive dificuldade de assimilar novas adições à série. Um pouco pela irritabilidade que estes proporcionam para se afirmarem em tela tanto quanto o protagonista e um pouco por preferir o herói se virando sozinho. É complicado. Mas a partir de certo ponto, até que desceram de boa. Phoebe Waller-Bridge e o novato Ethann Isidore funcionam como dupla, embora o último estivesse sisudo demais para este tipo de filme, além de ter pouca ou nenhuma interação com Indy. Dá a impressão de que alguma coisa ficou para trás na sala de edição.
O espetacular Mads Mikkelsen faz uma abordagem cerebral com seu Jürgen Voller. No filme, o vilão é um dos cientistas alemães que trabalharam para os EUA durante o Pós-Guerra. Inclusive, foi um dos responsáveis por colocar o homem na Lua, mas que continua, em essência, um nazista.
Uma ótima surpresa foi ver o Toby Jones roubando a cena na sequência eletrizante que abre o filme. Bem que podiam ter seguido a partir dali. Já Antonio Banderas só aparece para fincar um Indiana Jones no currículo. Desperdício total.
Harrison Ford octogenário é um fenômeno. Claro que em algumas cenas mais físicas, nota-se que ele ainda é humano, graças a Deus. E está se divertindo muito. Talvez não tanto quanto John Rhys-Davies com seu simpático e bonachão Sallah quase de volta à ativa. É muito bom também rever a Marion de Karen Allen num momento terno e muito bonito em referência ao primeiro filme.
Gostei bastante dessa 3ª despedida. Mas ainda acho que aquele chapéu não está pronto para ser pendurado...