sexta-feira, 30 de junho de 2023

Indiana Jones e a Nova Última Cruzada


Indiana Jones e a Relíquia do Destino me lembrou de como é bom entrar numa sala de cinema sem a menor ideia do enredo. Nem ao menos me dei ao trabalho de memorizar o resto do título após o nome do herói – coisa que desencanei após Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, de 2008. Que, apesar dos pesares, deu ao espectador um senso de conclusão digno, porém esqueceu de combinar com o miolo. Na nova aventura, o clima de despedida é novamente reeditado, com a clara intenção de corrigir os problemas do filme anterior.

E consegue, com grande sensibilidade até. Isso graças ao roteiro de Jez Butterworth, John-Henry Butterworth, do veterano na franquia David Koepp e do também diretor James Mangold.

Curiosamente, Steven Spielberg compareceu apenas como produtor executivo – George Lucas, desta vez, está completamente fora – e chegou a declarar que a ideia era "oferecer uma nova perspectiva." No entanto, Mangold é um seguidor reverente e mesmo com a renovação de década característica da série, ele faz questão de manter os ganchos da fórmula Spielberguiana. Até os nazis voltaram a atacar, devidamente contextualizados para o final dos anos 1960. Sujeito esperto.

A trama... bem, trama, a esta altura do campeonato, é o que menos importa. Tem lá a relíquia cercada de charadas com mocinhos e bandidos se acotovelando atrás dela. De novidade, curti o recurso do falso MacGuffin sugerido de cara e descartado na 1ª oportunidade. Mesmo por que, é dos "objetos místicos" mais manjados deste território (não é mesmo Constantine?) e uma Arca e um Cálice já foram o suficiente. Boa sacada.

A arqueóloga trambiqueira Helena Shaw e seu sidekick Teddy, um Short Round marroquino, são os novos personagens da vez. Sempre tive dificuldade de assimilar novas adições à série. Um pouco pela irritabilidade que estes proporcionam para se afirmarem em tela tanto quanto o protagonista e um pouco por preferir o herói se virando sozinho. É complicado. Mas a partir de certo ponto, até que desceram de boa. Phoebe Waller-Bridge e o novato Ethann Isidore funcionam como dupla, embora o último estivesse sisudo demais para este tipo de filme, além de ter pouca ou nenhuma interação com Indy. Dá a impressão de que alguma coisa ficou para trás na sala de edição.

O espetacular Mads Mikkelsen faz uma abordagem cerebral com seu Jürgen Voller. No filme, o vilão é um dos cientistas alemães que trabalharam para os EUA durante o Pós-Guerra. Inclusive, foi um dos responsáveis por colocar o homem na Lua, mas que continua, em essência, um nazista.

Uma ótima surpresa foi ver o Toby Jones roubando a cena na sequência eletrizante que abre o filme. Bem que podiam ter seguido a partir dali. Já Antonio Banderas só aparece para fincar um Indiana Jones no currículo. Desperdício total.


Harrison Ford octogenário é um fenômeno. Claro que em algumas cenas mais físicas, nota-se que ele ainda é humano, graças a Deus. E está se divertindo muito. Talvez não tanto quanto John Rhys-Davies com seu simpático e bonachão Sallah quase de volta à ativa. É muito bom também rever a Marion de Karen Allen num momento terno e muito bonito em referência ao primeiro filme.

Gostei bastante dessa 3ª despedida. Mas ainda acho que aquele chapéu não está pronto para ser pendurado...

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Até mais, Bruxo


Julian Richard Morley Sands
(1958 - 2023)

Não fazia a menor ideia da situação do Julian Sands. Foi um choque receber essa sequência de informações numa só trauletada e que, bizarramente, coaduna com a aura sombria e outsider que ele sempre cultivou. Nesse caso, a vida imitou a mise-en-scène.

A carreira do ator britânico foi tão prolífica quanto low profile. Abraçava o cinema B de erotismo e terror ao mesmo tempo em que trabalhava com gente como David Cronenberg, Frank Marshall, Win Wenders, Ken Russell, Dario Argento e, principalmente, Mike Figgis, de longe o seu maior parceiro.

Repassando sua filmografia, impressiona como Sands também foi o rei das locadoras.

Durante as décadas de 1980 e 1990, ele estrelou fitas estouradíssimas como Uma Janela para o Amor, Gothic (preciso rever), Aracnofobia, o esquisito-mas-curtimos Encaixotando Helena e até o Oscarizado Despedida em Las Vegas.

Além, é lógico, de Warlock: O Demônio. Esse fazia fila para alugar.


Julian Sands foi o Dr. Estranho da minha geração...

terça-feira, 27 de junho de 2023

O Homem e a Mulher do Amanhã


Deadline anunciou e lá vamos nós: David Corenswet é o novo Superman e Rachel Brosnahan é a nova Lois Lane do DCEU. Na minha canina percepção, surpreendentes escolhas de James Gunn. E muito bem-vindas. Mais uma vez.

Brosnahan protagonizou a deliciosa série The Marvelous Mrs. Maisel e se já era cogitado o próximo grande passo da atriz, não ficaram dúvidas. Essa foi certeira e atualíssima. Só podia ser escalação de quem almoça e janta cultura pop.

Já Corenswet tem uma certa aura de incógnita – como sempre em se tratando do Clark. Meu contato com ele se restringe ao seu trabalho no ótimo Pearl, prequel do eficiente X, ambos de 2022. Bom ator. E de timing afiado. Provavelmente deve estar enfurnado nos DC Archives a esta altura. Espero.

Me parece que Gunn começa com o pé direito. Que Rao os proteja e guarde.

Superman: Legacy está previsto para 11 de julho de 2025.

segunda-feira, 26 de junho de 2023

“You wouldn't like me when I'm Ang...”


Hulk completou 20 anos de lançamento. Certamente, o filme mais incompreendido e subestimado do gênero e também da carreira de Ang Lee. Não era pra menos. Mesmo com a escalação inspirada e uma galeria de personagens veteranos, com Josh Lucas no papel do traiçoeiro Glenn Talbot e Sam Elliott dando vida ao melhor Thaddeus E. "Thunderbolt" Ross já visto numa telona, a maior parte da trama era uma discussão sobre traumas suprimidos e paternidade tóxica.

Somadas à química a introspecção do Bruce Banner do desconhecido Eric Bana, a abnegada Betty Ross de Jennifer Connelly e o desvario sociopático do David Banner de Nick Nolte. Foi uma autêntica masterclass de dramaturgia com orçamento de blockbuster. Isso em plena era pré-Universo Cinematográfico Marvel. Foi uma abordagem que ninguém esperava.

Hulk é tanto "um filme de arte de 150 milhões de dólares" quanto um autoral complicado de assimilar. Mas tinha a curiosa capacidade de permitir uma leitura pessoal e diferenciada para cada espectador – além de se reinventar substancialmente com a passagem dos anos/décadas. Continua uma senhora experiência (gama).

Lembro quando entrei na sala do cinema, ainda extasiado pelo teaser. Só queria assistir o Verdão esmagando geral. Mal sabia que meu sensorial seria uma das vítimas.


Em 2006 – há 17 anos! – fiz algumas breves considerações sobre o filme no finado blog-collab Área Azul, com os camaradas Fivo e JP Volley. Segue abaixo:

Dito isto, podem me adicionar na lista-gama: somos 4 a gostar da adaptação de Hulk por Ang Lee. Por sinal, a estréia do Verdão nas telonas é uma das mais emblemáticas no escopo desse nosso debate. É o exemplo perfeito. O público cinéfilo pode até ter uma certa afinidade com o universo dos quadrinhos, mas a imensa maioria sequer imagina quem é James Howlett, p.ex. (ao passo que quase todo mundo conhece o Wolverine - isso é mais ou menos o padrão por aí afora). No caso do Gigante Esmeralda, calhou de o personagem ficar soterrado sob toneladas de referências defasadíssimas (o seriado dos anos 70) e de conceitos tão superficiais que beiram a total falta de conhecimento (ex.: "o Hulk é tão forte que é capaz de derrubar uma parede de concreto"). 90% dos espectadores nem imaginava que ele derrubaria essa parede com um cuspe. O diretor Ang Lee e os roteiristas James Schamus, Michael France e John Turman, foram tão fiéis aos quadrinhos quanto possível. E atualíssimos à cronologia! Durante décadas, o personagem só era um-cara-que-virava-monstro-quando-ficava-com-raiva, Mr. Hyde + Monstro de Frankenstein, travado. Só na fase Peter David, no final dos anos 90, é que ele ganhou contornos mais intrincados. Abuso infantil, psique reprimida e desordem de múltipla personalidade entraram com tudo dentro do contexto, tornando-o um dos personagens mais complexos e trágicos das HQs. Embora ricas, eram temáticas difíceis por natureza, pesadonas, pouco comerciais - e entraram no filme, quase que heroicamente. Como se não bastasse, a câmera contemplativa de Lee ainda faz links entre a evolução natural e o resultado final de uma evolução forçada artificialmente, em momentos tão sutis quanto um close em um fungo crescendo num pedaço de madeira.

Excetuando o descontrole do roteiro na relação pai/filho na reta final, Hulk foi um filme extremamente necessário para conferir, em uma primeira instância, a tão almejada credibilidade conceitual ao personagem (o Graal de qualquer roteiro que preste). Daqui em diante, já tá liberado: que venha a porrada!


* * *

É irônico como, num cenário que lida com infinitos universos, o Hulk de Ang Lee tenha acabado no limbo que existe entre eles. Ou numa encruzilhada...

Ps: e me diverti horrores com igualmente subestimado game Hulk, que expandia o universo do filme. Eram porradarias épicas contra os supervilões Meia-Vida, Louco, Ravage e o Líder madrugada adentro...

sexta-feira, 23 de junho de 2023

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Secret AInvasion


"Sim, a cena de créditos de abertura de Invasão Secreta é produto-I.A."

Meus 2 réis: é feia, bizarra, defeituosa, um reflexo distorcido de nós mesmos. E faz todo o sentido do mundo. O problema é a Marvel sagazmente ligou seus Skrulls a um tópico tão na crista na onda, que a sacada periga passar batida.

Ou melhor, já passou.

segunda-feira, 19 de junho de 2023

The Flash


Não deixa de ser irônico como The Flash lida com o colapso de um multiverso ao mesmo tempo em que representa o fim do Snyderverso. Certo, o próximo filme do Aquamomoa vem aí, mas com uma fita de retardatário amarrada no tridente. Definitivamente, é The Flash quem apaga a luz. Amargando a ressaca, a Warner tira algumas lições desse grande e ambicioso projeto fracassado. O DCEU sob direção de James Gunn é a maior prova disso, além de ser um obelisco de esperança com jeitinho de ilustração do Alex Ross — a menos que Parademônios engravatados baguncem o meio de campo, mas aí já é papo para os próximos anos.

Antes de tudo, é preciso reconhecer: o filme de Andy Muschietti é um sobrevivente como poucas vezes se viu na história do cinema. Com pré-produção datando de 2020, os atrasos, já turbinados pela falta de planejamento após a saída de Zack Snyder, quase se converteram em geladeira com o derretimento da imagem pública do Garoto Enxaqueca Ezra Miller, que tentou gabaritar o código penal mais rápido que a velocidade da luz (hã, hã?). Ao menos uns dois crimes sérios da lista já teriam implodido sua carreira/vida e abortado o filme em definitivo, não fossem o zeitgeist confuso desses tempos millennialescos e o orçamento de 220 mi + publicidade aterrorizando os acionistas.

Orçamento bastante inchado numa conta que, ao que tudo indica, não vai fechar. Mas quer saber? The Flash até que merecia um afago das bilheterias.

O filme é divertido. Mas só se você for bem versado na arte de baixar a expectativa (num nível equivalente ao de parar os próprios batimentos cardíacos com a força do pensamento). E, principalmente, se abstrair da profusão acima da média de furos óbvios de roteiro, de furos não tão óbvios de roteiro, de furos dentro da lógica interna, do enxame de piadinhas constrangedoras, da incoerência no uso dos superpoderes, dos excessos do Miller, da corrida do Miller, da presença do Miller e, claro, do CGI tão ruim quanto o da série da Mulher-Hulk. E isso é uma ofensa à mãe de todos os funcionários do departamento de F/X da Warner.

Venham pra cima se tiverem coragem, bundões!

Fiuu. Essa coisa de filme de hominho escala rápido.

The Flash adapta a premissa da saga Flashpoint, escrita por Geoff Johns com arte de Andy Kubert e publicada em 2011. Fazer isso em terra arrasada pós-Snyder e pós-Henry Cavill logo no 1º filme solo do Cruzado Escarlate denota culhões. Ou pura falta de noção mesmo.

Na trama, o Flash Barry Allen volta no tempo para impedir o assassinato de sua mãe. No retorno da viagem, ele encontra uma realidade muito diferente. A pior mudança é uma Terra sem o Superman e na iminência da invasão do General Zod, conforme visto em O Homem de Aço. Para ajudá-lo contra o exército de kryptonianos, o Grão-Vizir da Velocidade conta com a ajuda da sua versão aborrescente daquela realidade, do Batman do Tim Burton e da Supergirl Kara Zor-El.


Supergirl recarregando as pilhas no Castelo Wolfenstein, digo, na Mansão Wayne

Difícil acreditar, mas essa concepção de Liguinha improvisada se desenrola de maneira mais orgânica e funcional que a Liga do Joss Whedon e a Liga do Snyder Cut. Quem diria, não era preciso muito. Só coração.

Vale mencionar que a mesma premissa foi executada de forma muito superior na então ótima série do Flash na CW, com direito a Flash Reverso e tudo mais. Fora que Ezra Miller não lustra nem as botas amarelas do Grant Gustin. E aguentar uma versão ainda mais histriônica dele por dois terços do filme foi dose pra Gorila Grodd. Mesmo assim, ele encontra o tom do papel duplo lá pela metade, me lembrando por que achava esse moleque talentoso em primeiro lugar. Foi antes de abarrotarem sua conta bancária com os dólares-DC. Confira Depois da Escola (2008), Jornal dos Predadores (2010) e Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011) e me diga se estou mentindo. Podia ter sido tão melhor...

O Batman redivivo de Michael Keaton, em contrapartida, opera à margem de toda essa bagunça de cronologias, realidades e abordagens. É um dos maiores e melhores fanservices já cometidos por um filme de super-herói. Entrega o que todos querem ver e aumenta as apostas sem desviar um átomo daquilo que ele propôs lá em 1989. É o melhor Batman de todos os tempos? Nunca foi. Está rolando uma distorção revivalista por aí aliada a uma generalizada falta de memória (e reprises) que acho interessante. Mas foi como rever um velho amigo que salvou o dia em sua época e que acaba de salvar mais uma vez. É a grande razão para assistir The Flash. E deixa uma vontade irresistível de ter mais daquilo. Para um fanservice, não há elogio maior.

Só para não passar batido: Sasha Calle está ótima como a sofrida & sexy Supergirl, apesar do zero desenvolvimento. Merecia um lugarzinho ao sol no Gunnverso. E é triste ver Antje Traue e o grande Michael Shannon — respectivamente Faora e Zod — voltando só para bater cartão. Sem falar nos cameos protocolares da Maravilha Gal Gadot, a esta altura alçada a um abajur no DCEU, e do Batman Ben Affleck, usando uma máscara medonha que deve encher a bandidagem gothamita de terror.

O clímax chafurda no anticlímax. Infelizmente, o que era para ser uma grande celebração ao Universo DC no Cinema, se apoiou numa concepção artística feiosa — a tal Cronosfera parece arte de IA debochada — e em bonecos de massinha digital sem a menor vontade de convencer como humanos. Mais uma boa ideia indo pelo ralo. No final, do filme e da cena pós-créditos, fica claro que Muschietti resolveu incendiar a casa antes de apagar a luz. Sentido passa longe. Outra coisa para abstrair, creio.

Mas o que me espanta mesmo é a inépcia do Flash para lapidar seus loops temporais. Tom Cruise em No Limite do Amanhã e Bill Murray em Feitiço do Tempo resolveriam a parada em umas 14 ou 15 campanhas. Passeio no parque...

sábado, 17 de junho de 2023

Eles Vivem


Que (re)encontro!


Será que o Carpenter finalmente admitiu para o David que Childs era A Coisa?

quarta-feira, 14 de junho de 2023

The Amazing John Romita


John Victor Romita Sr.
(1930 - 2023)

Se foi o John Romita. Para qualquer leitor de longa data dos comics dá uma sensação de irrealidade, por mais que ele estivesse low profile nas últimas décadas. Afinal, ele está lá, ao lado de gigantes como John Buscema, Joe Kubert e Steve Ditko. E, da mesma forma, garantiu sua imortalidade há muito tempo.

Romitão era da velha guarda da Marvel - anterior até. Foi ghost artist no embrião Timely e, após, na Atlas. Essa intrínseca relação com a Casa das Ideias, aliás, foi a única patinada da carreira: no breve período em que esteve na DC, de 1958 a 1965, só trabalhou em quadrinhos de romance, então muito populares. Não fosse isso, teria causado algumas revoluções na editora se cravasse o lápis e o nanquim em certas Trindades ou Sociedades...

Em contrapartida, correríamos o risco de nunca ver o seu Homem-Aranha, um dos mais importantes, influentes e bonitos quadrinhos de super-heróis já produzidos. Para mim, é o artista definitivo do Amigão da Vizinhança, seja nas revistas ou nas tiras.

Lembro quando preparei um post sobre os embates do Teioso contra o Hulk e dei uma recapitulada naquelas The Amazing Spider-Man com o seu traço. Acabei devorando mais de um ano de HQs na sequência. O foco tinha ido pro vinagre. Fiquei completamente hipnotizado. Mais uma vez. E não seria a última.


Romitão era demais.

Thank you for everything, John Romita!

terça-feira, 13 de junho de 2023

Era o cara mais PANK que eu já conheci


Só acreditei quando chegou. Enfim em mãos o trabalho mais anárquico (creio) do barcelonês Francesc "Max" Capdevila. Tirei do plástico, cheirei cocainômanamente, folheei e matei 1/3 da parada num gole.

Foi um golaço-surpresa da editora Comix Zone. A edição está um filé com a obra integral e socada de extras. Juro que toca Garotos Podres em algumas páginas.

Tranquem suas filhas. Peter Pank finalmente voltou dos bueiros da Terra do Nunca Punkilândia...

sábado, 10 de junho de 2023

Whoa, Oa!

Quem diria. Desenhos de sábado de manhã num sábado de manhã. Achava que a grade infantil - ou infanto-juvenil? - na TV aberta já tinha ido pro vinagre há éons.

No caso do SBT, é bom ver que não. E ainda com a ótima e solenemente ignorada Lanterna Verde: A Série Animada.



A série fechou em meros 26 episódios. Não vejo muitos órfãos por aí. Provavelmente tem algo a ver com o CGI superbásico no lugar da animação tradicional da linha Animated. Deve ter rolado uma estranheza. Mas a produção de Bruce Timm e a direção de Sam Liu e Rick Morales não deixaram a peteca cair.

Esse episódio, "Babel", o 21º da temporada, é um bom exemplo. Hal Jordan, Kilowog e o Lanterna Vermelho Razer tentam sobreviver numa cidadela hostil. O problema é que seus anéis estão descarregados e, sem o tradutor universal, eles nem mesmo conseguem compreender um ao outro. O resultado é engenhoso e impagável.

Teve mais um na sequência. Até onde vi, estão exibindo na ordem. Boa, Patrão!

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Os Filhos Rivais a casa tornam


Tem dias em que só o que preciso é de um bom disco de rock. Não hard rock. Não heavy metal. Rock. E o discaço Darkfighter atesta algo que venho repetindo mantricamente há anos: o Rival Sons é a melhor banda de rock da atualidade.

E vai cantar assim na puta que o pariu, Jay Buchanan.


Ps: o melhor de tudo é que vai rolar um jogo de volta esse ano ainda, com Lightbringer.

terça-feira, 6 de junho de 2023

sexta-feira, 2 de junho de 2023

O Tigre e o Barqueiro


Com o barulho em torno das capas do Frank Miller, lembrei de uma das minhas preferidas dele: a de Peter Parker: The Spectacular Spider-Man #52, de março de 1981. A edição foi publicada por aqui em agosto de 1985 na Homem-Aranha #26, formatinho da Abril. A capa trazia a imagem chocante (para a época) de um grupo largando o aço no vigilante Tigre Branco. Apesar do exagero Milleriano na quantidade de algozes, a imagem não estava longe da verdade.

Rapei a edição logo que chegou às bancas. Lembro como se tivesse sido há 40 minutos, mas foi há quase 40 anos. Era o "mês dos minipôsteres" que a Abril encartou de brinde nos títulos Marvel e DC. Além do Teioso, consegui os do Verdão, do Bandeiroso e dos Superamigos, sabe-se lá com quanto troco superfaturado da padaria. Naqueles tempos, dava.

A HQ traz o Aranha-Linha Direta — ou Aranha-Documento Especial, para os velhuscos — em plena fase Roger Stern e enfrentando a criminalidade na sombria e violenta New York pré-Giuliani. "Ilusões do Outro Mundo", com arte dos saudosos Jim Mooney e Marie Severin, abre o mix com o Amigão da Vizinhança desmantelando a quadrilha de um Mysterio tão camp que parecia ter vindo de Gotham City. Tá lá o capanga ouvindo Kid Abelha que não me deixa mentir. Maior pinta de que trampou para um certo Palhaço do Crime em frilas anteriores. E com a mesma competência.

Em meio à confusão, a sofrida Debra Whitman se vira para escapar de Mysterio e correr para os braços do Peter. Saudades da Debby.


"...o Tigre Branco" vem na sequência, com o lápis de Denys Cowan e arte-final de Mooney. Começa com um recap da origem do personagem e sua ligação com os Filhos do Tigre. Muito oportuno para quem não leu aquela Deadly Hands of Kung Fu #19 sensacional, até hoje inédita por estas bandas. A combinação de ação policial, artes marciais, misticismo e poderes era irresistível. Fui fisgado na hora. E havia mais um elemento que talvez ainda fosse muito jovem para assimilar conscientemente: o Tigre Branco Hector Ayala era o 1º herói latino desde... sei lá, Zorro?

Todos os aspectos envolvidos, da dura vida no gueto à proximidade com a família, gerou uma ressonância enorme e inconfundível. Era identificação.


A história conclui na sequência-spoiler-de-capa, com o Tigre sendo metralhado pelo ex-coronel e terrorista miliciano Gideon Mace. E emenda na splash não menos brutal que abre a trama de "Assassinos de Heróis", onde o traço de Rick Leonardi atinge na artéria. Imagética de violência urbana crua, acachapante e repleta de subtexto. Material para SAM, fácil.


Ah, o minipôster... o regozijo nerd da minha geração; A 1ª bad trip quadrinhística a gente não esquece

A conclusão do arco é o fim da jornada de Hector Ayala como o Tigre Branco, por hora. Há inclusive uma inesperada metáfora à dependência química, assunto também abordado em Superamigos #4, do mesmo mês, de forma mais direta. A Era de Bronze foi um lugar sombrio para transitar.

Nesse 1º contato com o herói, a edição era um expresso para o inferno. Além do flashback dos quebras com o Valete de Copas e com o Aranha e da identidade sendo revelada publicamente pelo Mestre da Luz, Hector tem a família chacinada, quase morre em sua busca cega por vingança e, no fim, dá adeus ao manto do Tigre. Ou, no caso, aos amuletos que lhe conferiam seus poderes.

Isso tudo mostrava o quão trágica a vida do Tigre Branco era — e ainda seria.


Na sequência, o Ka-Zar de Bruce Jones e Brent Anderson — de longe, a melhor coisa que já fizeram com o Senhor da Terra Selvagem. O run é espetacular, ganhou Omnibus lá fora há pouco tempo e demorou para ser relançado, Panini. Lembro de acompanhar na época e já sonhava com essa maravilha devidamente coletada. E olha que o mais próximo de um TPB que existia por aqui era o Encalhe do MAD.

O expresso para o inferno continua, literalmente, em "Viagem Fantástica", parte de um arco publicado orinalmente em Ka-Zar the Savage #9-12. Na história, Kevin "Ka-Zar" Plunder, Shanna "The She-Devil" O'Hara, Zabu, o andróide atlante Dherk e o guerreiro alado shalaniano Buth descem até as profundezas do inferno. O mesmo inferno onde, segundo as viagens de Jones, o escritor e poeta italiano Dante Alighieri derrotou cultistas que sacrificaram Beatriz e que depois o inspirou a criar A Divina Comédia.

Na realidade, era um inferno/parque animatrônico, construído por atlantes em plena Pangea. Ecos de Westworld...


Cagaço com o Caronte

Dizem que confessar faz bem para a alma, então vá lá: a sequência de Ka-Zar e sua trupe pegando uma corrida com Caronte, o Barqueiro do Inferno, me arrepiou mais do que todas as Kriptas e Calafrios que havia lido até então. Primeiro, porque tinha pavor de andróides (obrigado, Proteus e fembots). Segundo, porque a ideia de uma decapitação ainda era algo novo e incrivelmente perturbador para mim. E por último, porque Anderson desenhou o Barqueiro à imagem e semelhança de qualquer figura bíblica clássica, o que dava um toque meio blasfemo à cena.

E nem menciono o Caronte sem cabeça e com as "vísceras" eletrônicas expostas partindo pra cima do Ka-Zar... brrr.


Cérbero e minha caneca do Cramps à direita no canto superior - valeu, Sandro!

Brent Anderson desenhava que era uma grandeza. Alguns painéis chegam a lembrar as tintas grandiosas do mestre Alfredo Alcala. Triste isso ainda não ter saído por aqui em formato americano. E a escrita de Bruce Jones nunca esteve tão afiada e maliciosa — eu, pelo menos, nunca li. Humor negro, frases de duplo sentido e referências à sacanagem (Ka-Zar e Shanna não eram fãs da monogamia) brotam das páginas. Isso tudo e ainda conseguia entregar uma aventura fantástica inventiva e divertidíssima.

Às vezes dá saudades de um bom gibizinho mix, mesmo com suas combinações improváveis e esdrúxulas, mas, acima de tudo, eficientes. Como foi — e ainda é — esta Homem-Aranha #26.