Em tempos de vídeos react, isto aqui deixa todo mundo no chinelo. Culpa dos "Bills" William Friedkin e William Peter Blatty.
É justo afirmar que O Exorcista deixou muita gente com PTSD após a exibição. E é prova inconteste de que as famosas reações ao filme não eram apenas lenda urbana. Pessoas chorando, desmaiando e/ou se arrastando nauseadas para fora das salas no meio do filme eram uma constante. Filas quilométricas dando a volta em quarteirões também. Policiais organizando as filas e funcionários dos cinemas preparados para dar os primeiros socorros não era algo que se via todo dia.
Mais do que isso, as multidões que esperavam horas debaixo de sol, chuva e neve para assistir um filme é algo lindo de (re)ver – a Warner precisou alugar mais salas em esquema four walling emergencial para dar conta do povão disposto a pagar para sentir medo. É o poder da arte.
Outro aspecto curioso foi o intenso engajamento da comunidade afro-americana pelo filme, algo que ainda suscita algumas boas teorias. No Brasil, a comoção foi similar, mas com aquela gaiatice canarinho, claro.
Encontrei poucas informações sobre o doc. Apenas que foi transmitido originalmente pela TV em Westwood, California. Sua importância, no entanto, é de acervo histórico. Está na MUBI, inclusive.
Em dezembro, O Exorcista completa jovens 50 anos de lançamento. Uma criança ainda. E possuída.
7 comentários:
Eu já tinha visto esse vídeo anos atrás, mas na ocasião o meu parco "listening" não me ajudou tanto a compreender quanto ao revê-lo hoje, graças a você, Doggma.
Vendo as reações de quem viu "O Exorcista" em primeira mão, não me sinto tão estranho.
Esse filme me apavora e me atrai desde que um amigo me contou a história dele na íntegra, aos 12 anos. Não me atrevi a alugá-lo e à época mal passava na TV aberta – a Globo o exibiu no Intercine em 1999 e 2000, mas em tempos de escola eu raramente ficava acordado até aquele horário. Revendo a chamada disponível no YouTube, levando em conta que eu era um menino que dava trabalho pra dormir por conta do chupa-cabra ou do ET de Varginha, tenho certeza de que me cagaria todo ao vê-la desprevenido durante um intervalo do Jornal da Globo.
Eu só me atrevia a ler resenhas e ver algumas fotos e trechos. Outro amigo me emprestou o livro - a primeira edição nacional, pela Nova Fronteira - e, magnetizado, li e reli - sempre à luz do dia - tantas vezes que o amigo encheu o saco e me deixou ficar com o exemplar.
É um livro impecável, com uma narrativa exemplar, ágil, vigorosa, descritiva na medida. Naturalmente, é um produto bem mais rico que o filme, trazendo detalhes relevantes sobre a secretária de Chris, Sharon Spencer, e o drama particular dos empregados, Willie e Karl. Há até um tema perdido nas pesquisas do padre Karras que, a meu ver, daria uma continuação espiritual - com o perdão do trocadilho - decente, se bem trabalhado.
Eu só veria o trabalho de Friedkin e companhia em 2011, quando o SBT exibiu no Cine Belas Artes. E foi um momento único mesmo. Não me assustei tanto quanto um novato – é verdade -, mas minha memória e minhas retinas ficaram marcadas a ferro pelas cenas.
E apesar de o filme continuar a me apavorar e me render pesadelos relacionados – a cada trimestre, mais ou menos (!) -, qualquer coisa que se refira a esse filme logo capta minha atenção e fico ali por horas se puder, até que o dia comece a escurecer e a mente ligar o alerta pra focar em outras coisas ou então a noite de sono ficará prejudicada.
Essa dicotomia aparentemente paradoxal entre medo e curiosidade é inexplicável pra mim e acho que sempre vai estar comigo. O vídeo denuncia que, pelo menos, não sou o único.
Um abraço!
demônios existem
abs
Aproveitando o embalo da possessão, impressionante como o filme argentino "When Evil Lurks" conseguiu atualizar o tema e até levá-lo adiante. Sério, tinha tempo que não via um terror tão visceral e sem freios, fugindo da abordagem padre/menina/menino possuídos e criando uma mitologia própria e aterradora. Golaço dos hermanos!
Muito legal seu relato, Valdemar!
Interessante como nossa experiência com O Exorcista é paralela. Tirando uma coisinha ou outra, é a mesma coisa de ver o filme só muito tempo depois por conta da censura na TV aberta. E, neste ínterim, ir pescando uma coisinha aqui e outra ali, só aumentando a mítica de terror ao redor do filme.
Lembro que o SBT ainda tentou engambelar o público com um longa meia-boca chamado "O Exorcista do Demônio" (The Demon Murder Case, 1983), com Kevin Bacon, reprisado milhões de vezes como era de praxe.
Só assisti o filme mesmo no início dos anos 1990, na TV aberta. Àquela altura, já tinha alguma bagagem, então não foi tão traumatizante. Mas logo em seguida, li o livro... esse mesmo que você leu da Nova Fronteira, com a belíssima ilustração do Gustave Doré. Aí sim, tranquei com gosto.
E, tem razão, muita coisa poderia ser aproveitada dali. Uma das passagens mais perturbadoras do livro para mim é a fantasmagórica visita do "Padre" Ed Lucas ao dormitório de Karras. Isso, mais o culto da Missa Negra foram um indício que havia algo maior operando ali.
A Sharon renderia muito realmente. Ela participou ativamente de tudo aquilo até sua conclusão, então tem muito a contar. Mesmo se fosse algum parente dela. Um(a) filho(a) talvez, que cresceu ouvindo um causo arrepiante sobre uma "garotinha doente"...
Outra personagem promissora (e mais próxima do campo místico) é a esotérica Mary Jo Perrin. Tal qual o Ed Lucas, ela só aparece no livro e foi a 1ª a notar que algo estava muito errado com Regan, já na festa que a Chris ofereceu. Enfim.
Ia fazer uma graça com seu medo do ET de Varginha e do Chupa-Cabra, mas meu teto é de vidro: sou da geração de moleques que se mijaram nas calças com o Minotauro do Sítio do Pica-Pau Amarelo e com a Etéia, a "mulher do ET", com a pobre Zezé Macedo no papel.
Putz, fiquei com medo até quando assisti o clipe de "Thriller" no Fantástico, rs.
Abração!
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Scant, pior: humanos existem.
abs
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Fala, Bernardo!
Cara, você viu esse no cinema? De hoje que tô atrás e não acho.
Tava monitorando faz tempo também, essa semana bombou nos torrents, com legenda e tudo. Não decepcionou.
Que bacana essa semelhança das nossas experiências!
De fato, a aparição do padre Lucas e o relato da missa negra são perturbadores. Mas pra mim, sem dúvida o momento mais sutilmente arrepiante é quando, antes de sair com o carro, já do lado de fora da casa, o tenente Kinderman olha pra janela da Regan supostamente cheia de tranquilizantes, e vê - ou pensa que viu - um vulto se afastando. Uuuuiii...
E concordo com você: que pena a Mary Jo Perrin não ter sido melhor aproveitada, fosse no filme ou numa eventual continuação. Graças ao Tobe Hooper (a.k.a. Steven Spielberg), nunca mais reli o livro sem imaginá-la com a fisionomia da Zelda Rubinstein.
Um abraço!
Valeu pelo toque, Bernardo. Botei na fila.
µ µ µ
Saudosa e magnífica Zelda Rubinstein. Perfeita escalação, Valdemar.
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