terça-feira, 31 de outubro de 2023

No olho da possessão

Deve ser alguma conjunção astral promovida pelo Samhain, mas há exatos 4 anos postei um vídeo que trazia a reação do público de uma sessão do clássico Halloween, em 1979. Então, nada melhor do que escancarar as porteiras do além com o documentário The Cultural Impact of The Exorcist, que também traz as reações do público de sua época.


Em tempos de vídeos react, isto aqui deixa todo mundo no chinelo. Culpa dos "Bills" William Friedkin e William Peter Blatty.

É justo afirmar que O Exorcista deixou muita gente com PTSD após a exibição. E é prova inconteste de que as famosas reações ao filme não eram apenas lenda urbana. Pessoas chorando, desmaiando e/ou se arrastando nauseadas para fora das salas no meio do filme eram uma constante. Filas quilométricas dando a volta em quarteirões também. Policiais organizando as filas e funcionários dos cinemas preparados para dar os primeiros socorros não era algo que se via todo dia.

Mais do que isso, as multidões que esperavam horas debaixo de sol, chuva e neve para assistir um filme é algo lindo de (re)ver – a Warner precisou alugar mais salas em esquema four walling emergencial para dar conta do povão disposto a pagar para sentir medo. É o poder da arte.

Outro aspecto curioso foi o intenso engajamento da comunidade afro-americana pelo filme, algo que ainda suscita algumas boas teorias. No Brasil, a comoção foi similar, mas com aquela gaiatice canarinho, claro.

Encontrei poucas informações sobre o doc. Apenas que foi transmitido originalmente pela TV em Westwood, California. Sua importância, no entanto, é de acervo histórico. Está na MUBI, inclusive.

Em dezembro, O Exorcista completa jovens 50 anos de lançamento. Uma criança ainda. E possuída.

7 comentários:

Valdemar Morais disse...

Eu já tinha visto esse vídeo anos atrás, mas na ocasião o meu parco "listening" não me ajudou tanto a compreender quanto ao revê-lo hoje, graças a você, Doggma.

Vendo as reações de quem viu "O Exorcista" em primeira mão, não me sinto tão estranho.

Esse filme me apavora e me atrai desde que um amigo me contou a história dele na íntegra, aos 12 anos. Não me atrevi a alugá-lo e à época mal passava na TV aberta – a Globo o exibiu no Intercine em 1999 e 2000, mas em tempos de escola eu raramente ficava acordado até aquele horário. Revendo a chamada disponível no YouTube, levando em conta que eu era um menino que dava trabalho pra dormir por conta do chupa-cabra ou do ET de Varginha, tenho certeza de que me cagaria todo ao vê-la desprevenido durante um intervalo do Jornal da Globo.

Eu só me atrevia a ler resenhas e ver algumas fotos e trechos. Outro amigo me emprestou o livro - a primeira edição nacional, pela Nova Fronteira - e, magnetizado, li e reli - sempre à luz do dia - tantas vezes que o amigo encheu o saco e me deixou ficar com o exemplar.

É um livro impecável, com uma narrativa exemplar, ágil, vigorosa, descritiva na medida. Naturalmente, é um produto bem mais rico que o filme, trazendo detalhes relevantes sobre a secretária de Chris, Sharon Spencer, e o drama particular dos empregados, Willie e Karl. Há até um tema perdido nas pesquisas do padre Karras que, a meu ver, daria uma continuação espiritual - com o perdão do trocadilho - decente, se bem trabalhado.

Eu só veria o trabalho de Friedkin e companhia em 2011, quando o SBT exibiu no Cine Belas Artes. E foi um momento único mesmo. Não me assustei tanto quanto um novato – é verdade -, mas minha memória e minhas retinas ficaram marcadas a ferro pelas cenas.

E apesar de o filme continuar a me apavorar e me render pesadelos relacionados – a cada trimestre, mais ou menos (!) -, qualquer coisa que se refira a esse filme logo capta minha atenção e fico ali por horas se puder, até que o dia comece a escurecer e a mente ligar o alerta pra focar em outras coisas ou então a noite de sono ficará prejudicada.

Essa dicotomia aparentemente paradoxal entre medo e curiosidade é inexplicável pra mim e acho que sempre vai estar comigo. O vídeo denuncia que, pelo menos, não sou o único.

Um abraço!

Scant disse...

demônios existem

abs

Bernardo disse...

Aproveitando o embalo da possessão, impressionante como o filme argentino "When Evil Lurks" conseguiu atualizar o tema e até levá-lo adiante. Sério, tinha tempo que não via um terror tão visceral e sem freios, fugindo da abordagem padre/menina/menino possuídos e criando uma mitologia própria e aterradora. Golaço dos hermanos!

doggma disse...

Muito legal seu relato, Valdemar!

Interessante como nossa experiência com O Exorcista é paralela. Tirando uma coisinha ou outra, é a mesma coisa de ver o filme só muito tempo depois por conta da censura na TV aberta. E, neste ínterim, ir pescando uma coisinha aqui e outra ali, só aumentando a mítica de terror ao redor do filme.

Lembro que o SBT ainda tentou engambelar o público com um longa meia-boca chamado "O Exorcista do Demônio" (The Demon Murder Case, 1983), com Kevin Bacon, reprisado milhões de vezes como era de praxe.

Só assisti o filme mesmo no início dos anos 1990, na TV aberta. Àquela altura, já tinha alguma bagagem, então não foi tão traumatizante. Mas logo em seguida, li o livro... esse mesmo que você leu da Nova Fronteira, com a belíssima ilustração do Gustave Doré. Aí sim, tranquei com gosto.

E, tem razão, muita coisa poderia ser aproveitada dali. Uma das passagens mais perturbadoras do livro para mim é a fantasmagórica visita do "Padre" Ed Lucas ao dormitório de Karras. Isso, mais o culto da Missa Negra foram um indício que havia algo maior operando ali.

A Sharon renderia muito realmente. Ela participou ativamente de tudo aquilo até sua conclusão, então tem muito a contar. Mesmo se fosse algum parente dela. Um(a) filho(a) talvez, que cresceu ouvindo um causo arrepiante sobre uma "garotinha doente"...

Outra personagem promissora (e mais próxima do campo místico) é a esotérica Mary Jo Perrin. Tal qual o Ed Lucas, ela só aparece no livro e foi a 1ª a notar que algo estava muito errado com Regan, já na festa que a Chris ofereceu. Enfim.

Ia fazer uma graça com seu medo do ET de Varginha e do Chupa-Cabra, mas meu teto é de vidro: sou da geração de moleques que se mijaram nas calças com o Minotauro do Sítio do Pica-Pau Amarelo e com a Etéia, a "mulher do ET", com a pobre Zezé Macedo no papel.

Putz, fiquei com medo até quando assisti o clipe de "Thriller" no Fantástico, rs.

Abração!

✟ ✟ ✟

Scant, pior: humanos existem.

abs

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Fala, Bernardo!

Cara, você viu esse no cinema? De hoje que tô atrás e não acho.

Bernardo disse...

Tava monitorando faz tempo também, essa semana bombou nos torrents, com legenda e tudo. Não decepcionou.

Valdemar Morais disse...

Que bacana essa semelhança das nossas experiências!

De fato, a aparição do padre Lucas e o relato da missa negra são perturbadores. Mas pra mim, sem dúvida o momento mais sutilmente arrepiante é quando, antes de sair com o carro, já do lado de fora da casa, o tenente Kinderman olha pra janela da Regan supostamente cheia de tranquilizantes, e vê - ou pensa que viu - um vulto se afastando. Uuuuiii...

E concordo com você: que pena a Mary Jo Perrin não ter sido melhor aproveitada, fosse no filme ou numa eventual continuação. Graças ao Tobe Hooper (a.k.a. Steven Spielberg), nunca mais reli o livro sem imaginá-la com a fisionomia da Zelda Rubinstein.

Um abraço!

doggma disse...

Valeu pelo toque, Bernardo. Botei na fila.

µ µ µ

Saudosa e magnífica Zelda Rubinstein. Perfeita escalação, Valdemar.