sexta-feira, 6 de setembro de 2024

A volta da Legião Alien


Quase não lembrava que o Predador e os Aliens são propriedade da Marvel desde 2020. Em que pesem dois crossovers de 2023 (Predator versus Wolverine e Predator versus Black Panther), a sensação de espera por material inédito com os Aliens foi de uns 57 anos. E finalmente veio, com pompa e muita circunstância: a mini em 4 partes Aliens versus Avengers tem roteiro de Jonathan Hickman com desenhos de Esad Ribić e a 1º edição chegou às lojas no finalzinho de julho, às vésperas da estreia de Alien: Romulus. Timing impecável. Esses editores Hyperdyne modelo 341-B com inibidores de comportamento são os melhores.

A trama se passa algumas décadas no futuro da "linha do tempo deslizante da Marvel"® e este primeiro capítulo é quase uma intro estendida. Após uma infestação sistematicamente plantada de Aliens, várias civilizações caíram, entre elas o Império Intergaláctico de Wakanda e a Terra. Mesmo os esforços dos meta-humanos foi insuficiente, dada a virulência da reprodução dos Xenomorfos. O planeta foi literalmente tomado por milhões de Aliens. Entre escombros de um mundo pós-apocalíptico, ainda persiste uma pequena resistência formada por Hulk, Capitã Marvel, Valeria Richards, o Homem-Aranha Miles Morales e por um sugestivo "Velho da Weyland".

Neste início, a pegada é de gibi cinematográfico, aos moldes do que Mark Millar fazia em seus tempos de Supremos. Muita ação, algumas dicas importantes espalhadas pelo caminho e um ou dois diálogos preparando os próximos rounds.

É bastante curiosa a efetivação da companhia Weyland no Universo Marvel. Parece que ela sempre esteve lá (e seu logo invertido para o "AVA" da capa reforça a impressão). O mesmo para a dupla de cientistas Shi'ar – e ainda considerando a real natureza de um deles – conduzindo experiências com Facehuggers impregnando Krees e Skrulls. É tão harmonioso e casual que chega a ser, putz, realista.

Esse "entrelaçamento quântico" de dois universos complexos chega a lembrar o mesmo mecanismo do clássico crossover dos X-Men com os Novos Titãs. Além de ser algo particularmente arriscado na perspectiva editorial.

Nos encontros dos Aliens com os super-heróis DC, como Batman, Superman e Lanterna Verde, foi dispensada a segurança do selo Elseworlds e a ação corajosamente se passa no presente da cronologia. Warren Ellis foi mais longe e usou os Aliens para fechar as contas do StormWatch.

Já Hickman, foi, digamos, mais conservador. Afinal de contas, a mini não é exatamente um What If...?. Não pegaria bem com os executivos da Disney um Xenomorfinho estourando o peito da Tia May e isso se tornando automaticamente canônico (viva!). Neste sentido, Aliens versus Avengers se aproxima do futuro sombrio da boa Saga dos Super Seven, da DC, com os super-heróis envelhecidos e derrotados num mundo tomado por uma invasão alien... ígena.

Quanto à adaptação, o próprio Hickman chegou a comentar: "foi complicado encontrar uma maneira de fazer essas duas coisas funcionarem juntas, mas acho que Esad e eu chegamos a algo que funciona para os fãs de ambas as franquias."

Ainda é cedo para um juízo de valor, mas, apesar da média alta, o roteirista parece ter sido pego na curva algumas vezes.

SPOILER

Por exemplo, se Valeria estava impregnada, por que os Aliens a atacavam?

FIM DO SPOILER

Evidente que é só a ponta do iceberg. E vindo da visão macro do Hickman, fiquei na pilha pelo escopo geral desse worst case scenario. O objetivo dessa edição #1 foi cumprido, portanto.

Aliens versus Avengers #2 chega às lojas (e às melhores importadoras do pedaço) em 6 de novembro. Looonge...

4 comentários:

Luwig Sá disse...

Engraçado que eu adorei o tempo do Hickman a frente dos Vingadores nas duas mensais gêmeas, mas nunca me convenci que ele fazia "Vingadores" de verdade. Estava mais p/ um gibi sobre uma história maior, dele próprio, iniciada lá atrás no run do Quarteto e, quem sabe, até no finado - antes de rebootado - Ultverso. Por que digo isso?! Nada nesse crossover lembra remotamente um tropo convencional dos Vingadores, sequer parece existir uma equipe. Daquela vez, o escritor havia me ganhado. Hoje, eu já não sei...

Após sua lastimável saída (abrupta) de X-Men, deixando a Era Krakoa sem rumo, e a decepcionante GODS e um Ultimate Aranha fogo de palha, ando com um ranço daqueles do Hickman. Banca o diferentão, mas, no fim, me pergunto se ele tem mesmo bala incendiária no pente ou o fuzil é só de mentirinha?!

Te confesso que, nessa mini, a arte do Esad Ribic me empolga bem mais que o roteiro dele. A conferir.

Abração.

doggma disse...

Engraçado você mencionar os primórdios marvetes do Hickman, já que estou relendo os Supremos dele mais o especial do Barton. Que foda foi aquela passagem.

Deve existir outra equipe dos Vingadores cuidando de outro front. Caso contrário, seria propaganda enganosa, rs. E Hickman adora um bait.

Em tempo... aquele Alien do final não deveria ser mega-inteligente? :)

"ando com um ranço daqueles do Hickman. Banca o diferentão, mas, no fim, me pergunto se ele tem mesmo bala incendiária no pente ou o fuzil é só de mentirinha?!"

Curioso como o Hickman e o Millar suscitam esse tipo de questionamento. Ainda lerei G.O.D.S., mas até aqui curti muito o fluxo de ideias dele. E imagino que a independência lhe faria maravilhas.

X-Men tô lá atrás, na #34 ou #35, com ele ainda. Mas ainda pego religiosamente (tá na #71, se me lembro). Ficou muito ruim?

Abraços.

Luwig Sá disse...

O Hickman ganhou uma reputação ali no Universo Ultimate. Foi ele, inclusive, que resolveu aquela história - mal contada? - sobre a dubiedade em torno da origem do Thor.

Sobre o Alien que deveria ser mega-inteligente... Eu tenho comigo que, se muito, o xenomorfo absorve alguma característica de cunho físico, ainda que mínima, como o runner de Alien 3, parido de um cachorro. Se emergisse com o Q.I da Valéria, nem precisava mais ter 2ª edição.

Olha, você botou o Millar pra jogo aí... O Millar sabe explodir coisas como ninguém. Viu a 1ª edição do Wolverine do Hickman? Parece um Inimigo de Estado com baixo orçamento.

Sobre a Era Krakoa, a história me perdeu completamente depois de Inferno, com o que inventaram pra desvirtuar o conceito das Dez Vidas da Moira; e, claro, o próprio destino da personagem. Kieron Gillen em Imortais e Al Ewing em Red ainda entregam boas histórias. O que matou (negativamente) foi ter deixado o Gerry Duggan como o camisa 10 do time, ainda que ele tenha seus momentos, como a história da terraformação de Marte e a travessia de Forge pela Câmara. No fim... No fim, o fim de Krakoa me lembrou muito o fim de Mundo de Novo Krypton.

Um fim que escancara a falta de coragem (e ideias) do editorial. Num mundo perfeito, Krakoa poderia ter se mantido como uma locação fixa dos mutantes, tendo o mesmo tipo de representação que Wakanda, Latvéria, Asgard, Attilan têm pra outros personagens no Universo Marvel. Uma pena... e parte disso, boto na conta do Hickman, mas isso é conversa pra outro dia.

Abração.

doggma disse...

Valeu pelo overviewzão! O irônico é que ainda não cheguei nessa parte, mas dificilmente isso teve algum spoiler... Desde o início, sabíamos que não iria durar, por mais desbravador que tenha sido HOXPOX. É o m.o. cíclico da Marvel, não tem jeito.

Uma dia, adoraria saber o take do Hickman sobre essa Krakoa pós-... Hickman.

Cara, o Valerialien nem precisava resolver Cubo de Rubik, mas podia ser só um pouquinho mais sagaz do que voar pra cima do Hulk daquele jeito, rs...

E agora lembrei que no Assembly Cut de Alien 3, trocaram o cachorro por um boi (!). E o bicho continuou correndo igual ao Papa-Léguas...