MARVEL KNIGHTS WOLVERINE - ENEMY OF THE STATE
"(...) se fosse feito no cinema custaria 300 milhões de dólares". Palavras de Mark Millar. E se fosse filme mesmo, valeria o ingresso: Wolverine pinta o diabo no acachapante arco Enemy of the State! Finalmente, após anos de desperdício e hiper-exposição mal conduzida, conseguiram revitalizar a baleada imagem do baixinho canadense. Logan voltou a ser aquele assassino frio, violento e impiedoso, como nos velhos tempos - e bota velho nisso... desde as antológicas Arma X e Fusão pra ser exato (muito bem lembrado pelo Luwig-X).
Há tempos sendo empurrado com uma hesitação frustrante, o personagem precisava urgentemente de uma reciclagem conceitual. Ou melhor, de um resgate conceitual, pois não havia nada de errado com ele, e sim com seus escritores (seguindo a máxima do Alan Moore). Era um trabalhinho sob medida pra um Garth Ennis ou uma Ann Nocenti da vida. Mas os deuses foram generosos e nos enviaram Mark Millar e o grande John Romita Jr...
Enemy of the State estreou na edição #20 da revista Wolverine e foi até a #25. A história segue velhos padrões do tema ação/espionagem, só que é tudo tão bem sacado e reaproveitado que chega a ser emocionante (snif). Começa com Wolvie indo ajudar um velho amigo, mas acaba sendo capturado em uma operação conjunta do Tentáculo com a Hydra. Meses depois, abandonado em estado moribundo, ele é localizado e acolhido pela SHIELD. O que eles não sabem é que Logan sofreu uma lavagem cerebral séria e vai "fazer o que sabe melhor" em larga escala. Wolvie mata muita gente, vai atrás de outros super-heróis e se torna o terrorista mais temido dos EUA.
O mais legal é que o mutante exibe aqui aquela mesma "competência" (para muitos, "onipotência") que leva os leitores à loucura, mas a diferença é que todas as suas façanhas são niveladas por uma estratégia crível e funcional. Wolvie não ganha todas as lutas aqui, só as que importam. E mesmo essa margem de derrota já havia sido previamente calculada por ele. O resultado é ótimo, sempre com um clima tenso antes de cada pancadaria. Mal comparando, ele lembra um Jason Bourne com garras e esqueleto de adamantium.
Mas a cereja acaba sendo os super-encontrões. Wolvie não enfrenta o Universo Marvel inteiro, como foi exagerado por aí, mas seus pegas com Elektra, Quarteto Fantástico, Demolidor e os X-Men são altamente empolgantes. Certas cenas parecem saídas de um filme de suspense - o clima que precede a luta contra Elektra e a invasão do Edifício Baxter - ou de um filme de Tarantino ainda com os sabres de Kill Bill branindo na cabeça - o ataque dos ninjas no cemitério e na eletrizante seqüência no apê de Matt Murdock.
Outra coisa... não seria tão bom se os vilões fossem caricatos ou apenas medianos. Mark Millar deu uma nova cara à Hydra, que deixou de ser aquele amontoado de stunts vestidos de verde, e virou um tecno-culto satânico e assustador. Elsbeth von Strucker é uma vilã adoravelmente cruel e seus cortes no Barão Strucker são sarcásticos e geniais. Mas o vilão Gorgon é foda ao extremo. Mutante e um mestre nas artes marciais (lutador de primeiríssimo nível... leia e fique pasmo com a moral do cara), ele tem o poder de petrificar as pessoas apenas com o olhar.
Mark Millar e John Romita Jr trabalhando juntos em Wolverine... Imperdível. Mal posso esperar pela próxima edição.
Como o nome já entrega, a continuação de A Era do Apocalypse é tão somente uma mini comemorativa dos dez anos da série. Mas será só isso? Sim e não. Obviamente que o vilão cavernoso do título não dá as caras (apesar de aparecer nos spots de divulgação), e aquele clima, hã, apocalíptico da série original não tem mais razão de ser. A questão básica é saber se essa nova incursão elseworld consegue se sustentar qualitativamente, tendo em vista a sua natureza caça-níqueis (oh yeah... não se engane, isso aqui é um caça-níqueis que deveria vir até com um selo de extorsão grampeado). Pode não ser uma HQ que vá fazer história, mas que tem a sua utilidade prática, isso tem.
A verdade é que a série original deixou uma porção mais um punhado de pontas soltas lá pra trás. Aquele final abrupto, ao melhor estilo "uma realidade chegando ao fim", foi muito omisso quanto ao destino da maioria dos personagens e de várias situações em andamento. E a continuação responde a todas as perguntas? Bem... estamos na quarta das seis edições programadas e até agora só uns 30% das questões pendentes foram esclarecidas. Então o lance é relaxar e curtir, afinal... isso é uma festa de aniversário.
A história (re)começa 1 ano depois da queda do tirânico Apocalypse. O planeta ainda está em reconstrução e células de mutantes renegados ainda aterrorizam o mundo livre. Para assegurar o bem da civilização, Magneto reforma os X-Men como um grupo de ação anti-terrorista, totalmente apoiado pelo governo dos Estados Unidos. A line-up principal é Vampira, Mercúrio, Solaris, Tempestade, Samurai de Prata, Gambit, Noturno, Rahne, X-23 e Wolverine, ex-recluso, maneta e cínico como sempre. O que se segue é uma caça às bruxas que acaba mexendo em velhas feridas e desavenças, com algumas surpresas no decorrer do processo. Algumas muito previsíveis e outras até inesperadas, eu diria.
Mesmo sem grandes vilões, como o psicopata Holocausto e o prelado Rasputin, a história vai se mantendo com combates ágeis, mas sem aquele ar de "perigo" que marcou a série original. Wolverine participa de forma cool e mantém a energia de sempre, mas a personagem mais bacana é a X-23, disparada. Não sei como ela se sai na cronologia normal (me parece que ela é nativa da animação X-Men: Evolution), mas aqui a garota funciona primorosamente bem. Faz aparições esporádicas, mas importantes, e protagonizou as melhores seqüências da história até agora. Achei a personagem muito promissora e, por conta disso, vou correr atrás da sua HQ solo que foi lançada recentemente.
O roteiro de Akira Yoshida faz o que pode numa série que não arrisca muito e só se compromete a aparar pontas soltas. Os diálogos são espertos, apesar de muito parecidos com os do X-Men Ultimate do Mark Millar. E um destaque meio esquisito vai para o Chris Bachalo. Ele ainda tem a mania de criar explosões visuais um tanto confusas, e de ficar a meio passo de 'cartoonizar' a fisionomia dos personagens. Aqui ele vai ainda mais fundo e quase abraça de vez o estilão mangá. Apesar disso não me agradar (pois soa menos natural pra ele do que pra um Adam Warren, p.ex.), pessoalmente ainda curto o seu trabalho. Devo ter me acostumado. Mas o capacete do Magneto continua horrível. Muito.
A propósito... ainda sobrou um grande vilão sim. O Sr. Sinistro está vivo e atuante, mas ainda não deu as caras. Mas pelo finalzinho da última edição, ele deve voltar com tudo e mais um pouco nos últimos capítulos.
E agora, antes de mais nada...
...talvez uma próxima coelhinha?
A revista The News Avengers chega a sua quarta edição ainda com um clima todo cuidadoso no ar. O grande Brian Michael Bendis não quer arriscar uma pisada no tomate e aos poucos vai concretizando um velho sonho dos sofridos marvetes: um supergrupo tão coeso e emblemático quanto a Liga da Justiça. Tudo bem, eu também gostava dos velhos Vingadores de Jim Shooter e dos recentes de Geoff Johns, mas o problema aí era a tralha narrativa que foi se acumulando com o passar dos anos (e com a troca de escritores). Sucessivas conspirações governamentais, burocracias administrativas e complicações de marketing (!!) deixaram o principal grupo da Marvel com cara de repartição pública. Nada a ver com a postura de "defensores da liberdade" que se espera de uma super-equipe. Lembro de quando eles enfrentaram os perigosos Exemplares sob a vaia do público (o mesmo público que eles foram proteger). Deprimente.
O ato inicial, que tomou as três primeiras edições, começou seis meses após os eventos estarrecedores de Disassembled. Max Dillon, o Electro, foi contratado para sabotar uma instalação de segurança máxima para super-vilões. Talvez meio "poderoso demais", Electro cumpre seu objetivo sem maiores problemas, e assim tem início uma violenta rebelião super-vilânica. Rapidamente um grupo de heróis en passant se forma para conter o motim: Mulher-Aranha, Matt Murdock, Luke Cage, Homem-Aranha, Capitão América, Homem de Ferro e o misterioso Sentinela, que se encontrava preso voluntariamente.
Mesmo com esses peso-pesados as coisas não saem às mil maravilhas: quarenta e dois presidiários super-poderosos conseguem escapar, o que é garantia de trabalho pesado por um bom tempo (e assim Bendis já tem o seu pretexto). Com isso tudo, o Capitão América acaba sentindo novamente o gosto de liderar uma equipe em situações-limite. Durante uma conversa com o Homem de Ferro ele propõe a criação de um novo time, dessa vez sem as amarras e a politicagem que assolava a antiga formação dos Vingadores. Um grupo independente, freelancer e auto-financiado (sem salários!), com o único objetivo de resolver problemões fora da alçada convencional. The Avengers Privatizated.
Logo em seguida, o Capitão sai atrás dos heróis que seguraram as ondas no presídio. Todos concordam, menos o Demolidor, que, apesar de balançado, ficou de pensar. Outro sondado foi o caladão Robert Reynolds, o Sentinela. Mas seu background ainda é extremamente nebuloso. Nada se sabe do que aconteceu com ele após a ótima mini Sentry - O Sentinela, apenas que ele é suspeito de matar a esposa e que é considerado por Reed Richards como o ser mais poderoso da Terra. Pela facilidade absurda com que ele destroçou o Carnificina no espaço... foi até engraçado quando o Aranha o confundiu com o Thor.
A próxima aquisição da nova equipe virá nas próximas edições. Investigando os acontecimentos da super-prisão, os novos Vingadores vão até a Terra Selvagem atrás de um suspeito. Lá eles se encontram ninguém menos que - adivinha - Wolverine, aparentemente com um mal-humor de tiranossauro. O problema é que o tal suspeito (e foda-se o SPOILER) é o Sauron, aquele homem-pterodáctilo que controla mentes e que já deu muito trabalho para os X-Men. E pela recepção nada afável do mutante canadense - ainda mais com a gracinha da Jessica Drew! - eu diria que ele está totalmente fora de controle. Uma constante...
The New Avengers segue com passos calculados, ótimos diálogos (os do Aranha já começaram a pegar no tranco), situações de rotina inusitada para os personagens, e um inequívoco ar de liberdade criativa - durante a violenta rebelião no presídio, o Aranha é espancado e tem o braço quebrado, e o nigga Luke Cage quase mata um dos vilões.
Apesar dos traços de David Finch pertencerem a "escola Jim Lee de inexpressão", eles são inegavelmente grandiloqüentes nas horas certas e privilegiam ângulos de tirar o fôlego. Seu estilo é bem "cinematográfico" por assim dizer, e aqui isso é muito bem-vindo.
Sem contar que ele sabe desenhar mulheres muito, muito bem... pô, ele é o mesmo cara que desenhou a HQ da Aphrodite IX, for God sake! :)
dogg, tomando café e ouvindo a lindona The Pass, do Rush - por sinal, uma banda canadense... Canadá rulz! :P