É o Popeye, se fosse criado por Garth Ennis ao invés de Elzie C. Segar. Ambientação nos anos 30 e atmosfera dos primórdios áureos dos quadrinhos (tipo Os Sobrinhos do Capitão, Tintin e o marinheiro citado), mas carregada de escatologia, palavrões, ultra-violência e vileza, típicas de um Vertigo/MAX da vida. Assim é The Goon, cria do desenhista e roteirista Eric Powell. Começei a ler sem maiores expectativas, mas fui fisgado quase que de imediato... É divertidíssimo!
Goon é um aventureiro tough-guy e aparentemente superforte, mas sem maiores explicações (igualzinho ao Popeye em começo de carreira... o espinafre/soro-do-supersoldado foi criado na última hora quando o sailor man começou a fazer sucesso). Junto com Franky, seu manager e parceirão, Goon encara tudo quanto é tipo de missão (acredite... tudo mesmo) e tem uma coleção de inimigos tão variada quanto bizarra: psicopatas, mafiosos, vampiros, lobisomens, robôs, mutantes, monstros sub-aquáticos, ratazanas gigantes, feiticeiros, aberrações genéticas, demônios e principalmente... mortos-vivos em larga escala.
Talvez seja esse oceano de possibilidades que torna as aventuras tão divertidas. Ao mesmo tempo, a mistura - sempre espirituosa - de maniqueísmo (p&b) com mundo-cão (cinzento) é um dos pontos mais peculiares de sua narrativa. Ainda estou lendo a fase indie na Avatar Press, mas pelo que li na coluna de Érico Assis, do Omelete, ele já está em sua 10ª edição pela Dark Horse.
Outra coisa bacana são os 'folhetins educativos' presentes ao longo das HQs. Coisas do tipo "como arrancar o escalpo de um lobisomem" ou "adote um morto-vivo", que eu gentilmente destaquei aí embaixo... clique na imagem.
Eric Powell faz de The Goon um projeto autoral tão bacana quanto Mike Mignola com seu Hellboy ou, no mínimo, Erik Larsen e seu Savage Dragon. E pela trajetória lenta, mas sempre ascendente (o que é essencial), The Goon provavelmente será um hit dentro de alguns anos, com direito a adaptação para os cinemas e tudo. Deus me ouça!
E já que mencionei mortos-vivos... >:)
Você já assistiu isso antes... projeto ultra-secreto envolvendo armas químicas dá errado, e voilá... hordas putrefactas de mortos-vivos esfomeados à caça de cérebros frescos. Essa é a premissa de A Volta dos Mortos-Vivos 4: Necropolis e, caracas, A Volta dos Mortos-Vivos 5: Rave To The Grave. O primeiro filme da série, de 1985, foi uma pérola da nojeira bem-humorada. Já o segundo foi uma paródia acéfala (sem trocadilhos) do primeiro, sendo que este já era uma paródia dos filmes de George A. Romero. No terceiro filme, houve uma reinvenção até interessante, levada a cabo pelo insano Brian Yuzna (de Re-Animator).
Produzidos simultaneamente, o quarto e o quinto episódios ainda não têm data de estréia definida e, pela sinopse divulgada, é uma chupação violenta em cima de Resident Evil: O Hóspede Maldito (!!):
"Julian, Zeke, e seus amigos, são típicos estudantes do colegial curtindo um marasmo teenager-mauricinho, até que um terrível acidente de moto coloca Zeke no hospital, do qual ele desaparece misteriosamente e sem deixar vestígios. Seus amigos investigam seu paradeiro e tudo leva a crer que a famigerada corporação Umbrell... digo, Hybratech está envolvida. A Hybratech conduz perigosos experimentos com o composto Trioxyn-5, um poderoso agente químico capaz de despertar os mortos!"
...e blá-blá-blá...
Claro que isso é só uma desculpa pra que os desmortos sejam vomitados de suas covas apodrecidas e sairem em busca de miolos pulsantes (eu sei que miolos não pulsam, mas essa descrição ficou maneira!). O problema é que depois de pauleiras viscerais como Extermínio e Madrugada dos Mortos, ficou bem difícil pra série conseguir surpreender novamente o público fangore.
E dando uma de Grunge, do Gen¹³... se fosse eu no lugar do diretor Ellory Elkahem (Elka-quem?!), botava pra quebrar nas cenas de sexo (dezenas de playmates nuinhas em pêlo) e na violência escatológica (cérebros, tripas... tripas, cérebros...).
É, ué... às vezes a intensidade fala mais alto, e já que o roteiro é batidão mesmo...
Agora, o que eu não faria mesmo é colocar no filme um arremedo descarado do super-zumbi Nemesis. É, aquele mesmo de Resident Evil...
Mais triste ainda é ver o ótimo Peter Coyote (Lua de Fel) figurando no elenco desse filme pra lá de suspeito...
Bom... seja o que Ed Wood quiser.
A propósito, no site oficial tem um mapa da "genealogia living dead". Bastante elucidativo.
O mestre Romero está lá, devidamente centralizado. Eles tinham de ensinar essas coisas nas escolas!
:P
The next: the new fuckin' top 5!!
(Hellion/2004)
Esse é bem recorrente aqui no top five, mas nunca comentei a respeito. E o negócio é o seguinte... todo o fã de rock pesado tem de ouvir esse disco. É quase uma obrigação didática. Há muito que as bandas da área tentam alcançar o tal álbum perfeito, tarefa que se tornou uma verdadeira caça ao Graal artístico. Não raro, o que se consegue são resultados assépticos, mecânicos e frios - embora "visualmente" magistrais. A harmonia idealizada entre técnica sobre-humana e energia emocional na música ainda está engatinhando, mas já encontra no Evergrey o seu grande representante. E The Inner Circle consegue atingir um nível ainda maior que seu excelente álbum anterior, Recreation Day (2003).
Thrash, progressivo, pop, soft rock, AOR, heavy tradicional, gothic metal e até gospel (!) comparecem de forma extremamente coesa, tornando a textura sonora do Evergrey um elemento único, superior. Esse disco (conceitual, aliás) só não é indescritível porque dá pra comentar ao menos uma coisa ao seu respeito: fenomenal. É impensável destacar apenas uma faixa, e o diamante In The Wake Of The Weary está aí para download como homenagem à sensacional vocalização soul de Carina Englund. Compre, roube, se vire.
(A&M Records/1994)
Outro habitué dos 5+. Mas não tem como. O irlandeses do Therapy? cometeram um disco definitivo, atemporal. Calma... não é nada daqueles clássicos irretocáveis, hiper-complicados e altamente respeitáveis (e chatos!). Troublegum é um dos melhores discos de party rock dos anos 90 - incluindo-se aí uma lista de full-lenghts que vai dos clássicos Time's Up, do Living Colour, e The Real Thing, do Fenemê, ao Blood Sugar Sex Magik, do RHCP.
Troublegum é uma maravilha de sonzeira guitar rock. O trio formado por Andrew Cairns (guitarra e vocais), Michael McKeegan (baixo) e Fyfe Ewing (bateria), tira água de pedra com a antiqüíssima equação baixo-guitarra-bateria, com soluções criativas e efetivas (até hoje), repleta de ganchos perfeitos. E a banda não mede esforços. Rola de tudo: hardcore, thrash, power pop, surf rock, industrial rock, e um clima inequívoco de pop rock oitentão.
O Therapy? já fez discos memoráveis (High Anxiety, Infernal Love e a porrada federal Nurse), mas Troublegum é o que equilibra o melhor de uma banda dona de uma química incendiária. Pauladas como Knives, Screamager, Nowhere, Isolation, Trigger Inside - enfim, o disco inteiro - dão choque na alma e fazem bem ao corpo. Rock good vibration é isso aí.
E detalhe... tem a participação mais do que bem vinda de Page Hamilton, líder do Helmet. São dele os acordes de guitarra em Unbeliever. Cai dentro, meu chapa. Isso é trilha sonora de festa americana organizada por gente grande. Pra ouvir no talo.
(Moonstorm Records/2000)
Death'n'roll. Esse é um tipo de crossover que sempre viveu mais no conceito do que na prática, de fato. Formações extremas e experimentalistas como o Napalm Death fase Lee Dorrian, o Brujeria, o Agathocles e o genial (e sumido) Pungent Stench já bicaram o estilo, mas nunca o tomaram como estrutura-base - mesmo por quê, a viagem dos caras era outra. Restou à banda alemã Crack Up honrar a camisa e se tornar o maior (senão o único) representante do gênero. E não é que a coisa funciona às mil maravilhas?
Com a explosão típica do death jogando a favor de uma pegada rocker, a banda acaba mostrando o quão inédita e, ao mesmo tempo, simples é essa proposta. "Como é que não pensaram nisso antes?"... é a primeira coisa que vem a mente após ouvir pérolas do naipe de Maximum Speed, Dead Good Motherfucker, Better Dancer, Stallknecht, Evenflow (não é a do Pearl Jam!), Rock The Coffin', a sintomática It's Shit e a faixa-título.
Por vezes, a sonzeira parece pop demais (melodias à Beatles rolando ao fundo [!!], refrães pegajosos, riffs), mas acaba sendo incrível constatar que um estilo totalmente anti-comercial poderia rolar no volume 10 sem estranhar. E de uma forma bem mais íntegra do que um In Flames da vida (um Metallica do death).
O único porém desse disco do Crack Up é que eu tenho certeza que ele soaria ainda melhor se eu estivesse pilotando uma Harley Davidson na hora. Ou melhor ainda... esse V8 cavernoso da capa...
(Hellion/2003)
Jesus, Maria e José... Tenho até medo de escrever sobre esse que é um dos melhores discos lançados em 2003. Então, nada melhor (pra minha batata) do que expor meu background rockeiro... Existe - quase que sempre - um "interesse científico" da minha parte a respeito de vários estilos de Música. Mas o que eu mais ouço de forma constante e recorrente é o rock'n'roll old school, não tenho como negar. Thin Lizzy, Foghat, Bad Company, Free, Sabbath, Led Zep, Aero, - estamos chegando - Purple, Dio e... - chegamos - Rainbow. A instituição Ronnie James Dio, ao lado do mestre Ritchie Blackmore, integrou o Rainbow, uma das maiores bandas da História do Rock e referência atemporal - inclusive para dinossauros consagrados como Iron Maiden, Judas Priest e, puta que o pariu, acho que todo mundo da cena heavy atual.
E o quê isso tem a ver com o Astral Doors? A banda sueca é responsável pela atualização dessa vertente tradicional do rock, da melhor maneira que ela poderia soar se fosse concebida hoje pelas formações clássicas do Rainbow, do Deep Purple, do Uriah Heep ou mesmo do Jethro Tull. É heavy rock visceral, orgânico e autêntico, honrando o legado de bandas tão precursoras quanto Cream e o Blue Cheer. Pra quem é straight rocker, o Astral Doors seja talvez o grupo que mais atraia interesse em toda a cena, pois carrega consigo a responsa de um estilo que é um dos mais difíceis de compor e executar - já que o virtuosismo narcisista não tem nenhum apelo aqui.
Desde a abertura, com Cloudbreaker, seguindo com clássicos imediatos como a faixa-título (cuja levada, ao vivo, deve se comparar a Highway To Hell...), a maravilhosa Slay The Dragon, In Prison For Life, The Trojan Horse, Burn Down The Wheel, Rainbow Your Mind e a incrivelmente ganchuda Man On The Rock, esse disco é absurdamente essencial nesses dias tão artificiais e descartáveis. É o feeling e o calor da paixão trazidos novamente para dentro do rock'n'roll. Já não era sem tempo.
"I'm a Man On The Rock... Like Jesus Christ...!!"
(Interscope Records/2002)
Duas verdades... uma - o nome da banda é "And You Will Know Us by the Trail of Dead"... e duas - você precisa conhecê-la. E foda-se o que você miseravelmente caracteriza como estilo, gênero ou abordagem. Foda-se. Foda-se. Foda-se. Não cometa o erro que eu cometi. Essa banda está acima do bem ou do mal, acima de contextualizações. Ela apenas é. ...Trail of Dead, por algum acaso, se utiliza da permissividade outsider rock para dar continuidade a sua cartarse niilista seek and destroy cíclica, a dicotomia auto-impingida, a auto-destruição, ao nirvana. Sources Codes & Tags é mais do que um álbum. É uma experiência, uma bad trip da lisergia movida a feedbacks de acordes saturados. É como tocar o próprio cérebro em um mundo mágico do impossível.
É fatalismo feito onda sonora.
É uma forma de vida.
É perigoso.
...Trail Of Dead transcende tudo isso e esse álbum ainda não é o suficiente.
Sem mais.
Embarque.
dogg... insane in the fuckin' brain
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