sexta-feira, 21 de abril de 2006

LOST IN TRANSCRIPTION


Mudando mais uma vez de assunto, resolvi escrever sobre uma das coisas que são bem competentes em roubar meu tempo de vida religiosamente toda semana: Lost. Não costumamos falar de séries aqui, mas nem por isto estou sendo original, já que o chefe já andou escrevendo sobre 24 Hs. De qualquer forma, pode ser que mencione alguma coisa no texto que seria entendido como spoiler. Leia por conta e risco.

A série não é mais novidade para ninguém. Teve seu hype forte à época do lançamento, entrou em velocidade de cruzeiro, deu uma aumentadinha na popularidade e expectativa junto àqueles que não tem TV a cabo quando ganhou o Globo de Ouro e, finalmente, re-experimentou o sentido de novidade quando a Globo passou toda a primeira temporada numa tacada só, inclusive com o último episódio sendo exibido praticamente na véspera em que a AXN lançava a segunda temporada. Fui arrebatado logo de cara. Comecei acompanhando na Net e depois via torrent, já que odeio ser escravo de programação, e a forma como o roteiro brinca com o sentimento é um tormento, mesmo que em alguns momentos este sentimento tenha mais a ver com o ritmo da série do que com os conflitos dos personagens.


A primeira temporada foi irretocável. Apresentou cada indivíduo, construiu suas personalidades, abusou dos flashbacks para montar seus backgrounds, motivações, reações e recheou de mistérios seu principal personagem: a Ilha. Tudo parecia muito bem amarrado e o fato de não termos pistas sobre o que estava realmente acontecendo parecia parte do jogo, para não falar das situações vividas naquele microcosmo que dão muito pano para manga. Entretanto, veio a segunda temporada e em vários momentos – pelo menos até o décimo-segundo ou décimo-terceiro episódio – tive a sensação de que J.J Abrahams estava calçando os sapatos de Chris Carter quando, em Arquivo X, percebi que planejaram menos do que a audiência pedia e esticaram mais do que em minha paciência cabia, perdendo completamente o controle sobre o rumo da história. Dramas já explorados na primeira temporada haviam retornado, a coisa estava meio que morna e o ponto alto do período foi a apresentação do segundo grupo de sobreviventes que caiu do outro lado da ilha e tinham em seu cast dois personagens interessantíssimos: Ana Luzia – Michelle "Kate Mahoney" Rodriguez e seus olhares de mulé má – e Mistereko (ou Mr Eko, como alguns escrevem por aí, mas acho pouco provável que ele se referiria a si próprio como Mr) – personagem que acabou se transformando num dos mais interessantes da série. Achei pouco em relação ao que me acostumei na temporada anterior e já estava sentindo cheiro de enrolação. Ledo engano, gafanhoto! Daí para frente o caldo tomou forma e agora, faltando cinco episódios para o fim da temporada, a chapa ta quentíssima, criando raízes para a certeza de que o leme está bem seguro nas mãos de J.J.

Não vou revelar muito sobre o que vejo nos torrents, mas quem acompanha pela AXN já viu o que tem dentro da escotilha, o que tira parte da aura mística dos eventos, mas não diminui o mistério. Dadas as variadas formas em que os absurdos ocorrem no local: curas milagrosas, ursos polares, materializações de pessoas mortas, monstros gigantes, fumaça assassina e mais algumas que serão vistos nos capítulos do porvir, minha lógica limitada já tinha cansado de tentar entender o que poderia estar a ocorrer com o gajos, ora pois. Já deixava rolar no automático, até porque assim seria mais fácil de ser surpreendido no futuro. Eis que surge em minhas mãos o livro Presa (Michael Crichton, 2002, 472 páginas). Crichton já é renomado por suas obras de transcendência de estados/situações, vide Runaways: Fora de Controle e Jurassic Park, e este livro não foge à regra. Aqui ele aborda aquilo que a comunidade científica já vem alardeando com brilho, esperança, expectativa e medo: o cruzamento perigoso e cada vez mais próximo da nanotecnologia com a informática e engenharia genética. Fala de um analista de sistemas especializado em sistemas de agentes – programas independentes que reagem entre si como rede – baseados em comportamentos de diversas comunidades biológicas existentes na natureza, dentre elas as relações entre formigas, cupins, abelhas e a relação presa/predador de leoas, hienas e afins. Seus sistemas trabalham dentro desta lógica, enquanto sua mulher é alta executiva de uma empresa de produção na área de nanotecnologia que anuncia a quebra da barreira intransponível: há tempos a ciência sabe como construir nano robôs, mas o processo fabril era impossível. Claro, se o livro é de Crichton, isto tinha que dar zebra, então os nano robôs produzidos pela empresa para o exército e operados segundo a lógica do programa predador/presa do protagonista saem de controle e se espalham na natureza. O que acontece daí para frente? Curas milagrosas, materializações de pessoas mortas, fumaça assassina. Déja vu? Também tive esta impressão. Até as reações da fumaça às situações são idênticas. Não bastando, o protagonista cético chama-se Jack, mas temos também os arquétipos de Kate, Sawyer, Hurley, Locke, Michael e Walt, pelo menos até onde identifiquei. É tudo muito parecido com o que vem ocorrendo e bem mais coerente do que o hoax sobre a entidade do folclore brasileiro que habitaria a ilha, além de ter sido publicado alguns anos antes da série.


Mas não é só isto, em conversa com um amigo, dias atrás, ele destacou que os arquétipos da série também são idênticos aos dos personagens da Caverna do Dragão. Na época concordei, mas pensando bem, se nos enveredarmos nesta linha, estes entretenimentos que existem por aí possuem 90% dos mesmos perfis. Ser original, hoje, é bem difícil e torna-se inevitável cruzar com o que já existe. De qualquer forma, não vejo isto como demérito algum. Pouco me importa se elementos já foram usados, contando que a história seja boa e inovadora na forma de usar estes elementos. Assim foi com o primeiro Matrix, assim é com Lost. Se pensar bem, praticamente todas as séries que curto hoje em dia são revisões de algo já feito: 4400 é um Arquivo X reloaded e The O.C é um Barrados no Baile/Melrose Place pervertido.

Em tempo: toda semana escrevo um resumo do episódio visto para alguns amigos que não se importam com Spoilers. Claro, o site da série também tem isto, mas é formal e in english. Se alguém quiser entrar na lista, avisa nos comentários e coloco o nome nas próximas mensagens.


TODO MUNDO REALMENTE ADORA UMA TEORIA DA CONSPIRAÇÃO


Recebi por empréstimo de um amigo e já comecei a ler As Sociedades Secretas e seu Poder no Século XX. É um calhamaço de papel de 489 páginas escritas em 1993 por Jan Van Helsing, um pseudônimo escolhido pelo alemão Jan Udo Holey provavelmente como alusão ao caçador de uma lenda que sugava a vida da humanidade. Se tem uma pessoa que gosta mesmo de uma teoria de conspiração, esta pessoa é ele. Este livro trata todas as comunidades ditas secretas que existiram nos últimos séculos e como elas afetaram este que passou; dos Sábios de Sião (ou Priorado) até os Illuminati, passando pela família Rothschild, a sociedade de Caveiras e Ossos (Skull & Bones), 666, guerras mundiais, Vaticano, FMI e uma infinidade de outros assuntos interessantes (tem um texto sobre o símbolo da Procter et Gamble, dizendo que o dono teria afirmado na Tv em 1984 que "concluiu um pacto com Satã, tendo vendido sua alma em troca de expansão econômica").

O curioso é que as publicações do autor foram banidas da Alemanha e da Suíça por serem consideradas anti-semitas. Além disto, o livro, apesar de ter ISBN (ISBN 3-89478-816-x), não existe para compra.

Bacana? Sim.

Interessante? Também.

É para levar a sério? Claro que não... se levarmos isto a sério, é capaz de enlouquecermos, mas que é bacana, não tenha dúvidas! E é ótimo para papo de bar! Mais detalhes aqui.

O livro para download aqui. Outros livros tão esquizofrênicos quanto (ou mais) aqui. Divirtam-se.

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