Essa sequência foi pura finesse na época e ainda continua batendo. É do filme Quando Chega a Escuridão (Near Dark, 1987), o segundo da diretora Kathryn Bigelow, recém-oscarizada. Antológica, como o resto do filme. O fato de não ter vingado com o passar dos anos me faz conjecturar sobre seu status cult.
Naquele ano tivemos nada menos que dois filmes inaugurando a cartilha narrativa que seria a fórmula do sucesso no gênero atualmente: Quando Chega a Escuridão, estranho, anárquico e visceral, um fracasso de público; e Os Garotos Perdidos, mais pop, acessível, com Echo na trilha e os dois Coreys no elenco, uma covardia só. Apesar das visões radicalmente diferentes, ambos traziam a mesma premissa com o casal de jovens apaixonados e divididos entre dois mundos. Tal qual Crepúsculo.
Mesmo a distribuidora parece ter entregue os pontos com o longa da Bigelow, por mais hardcore que o material fosse. Na capa do lançamento em DVD, retiraram o Bill Paxton escrotão e semicarbonizado e tascaram uma versão fofa do casalzinho central, mais palatável às aficcionadas por Stephenie Meyer. Qualquer decepção futura é por conta. Chega a ser irônico o cancelamento do remake (glória à Bram Stoker!).
Pra mim a semelhança flagrante foi um tanto chocante e reveladora, mas eu ainda não tinha o conhecimento de causa necessário. Até outro dia. Após uma sessão suicida à base de Lua Nova, o brotha Sandro constatou na prática e arrematou primorosamente a experiência: "O pop era bem mais legal antes e foda-se o papa."
E tenho dito.
Ah, e a Kristen Stewart da minha pré-adolescência. Essa deixou saudades...
Vulnerável, sedutora e evocativa, com olhos verdes hipnotizantes e uma boca irresistível. Jenny Wright encantou de maneira irresponsável e, sem trocadilhos, evaporou da noite pro dia sem desfazer o estrago que causou. Trabalhou bastante durante a década de oitenta, sem moleza - sua estreia foi como uma groupie pagando peitinho no Pink Floyd - The Wall. Também foi o objeto de desejo do magnata Dieter Meier no clip de "Lost Again", do Yello. Aquele lá sou eu, antes do bankrupt.
Conseguiu a façanha de integrar o cast de O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas e não ser vinculada ao brat pack. Em contrapartida, por um bom tempo ficou relegada a personagens outsiders.
Desencanou legal no fim dos oitenta/início dos noventa, ensaiando uma passada mais indie. Tentou de novo com a molecada em Young Guns 2 (1990). Na sequência, O Passageiro do Futuro (1992) e, novamente, outro break. Não deu sinal de vida no novo século até 2009, quando confirmou presença no thriller Murder for Dummys, com lançamento previsto para ano que vem.
Mas aí já se vão 23 anos desde a doce Mae, sua personagem em Quando Chega a Escuridão - três a mais que a idade da Kristen Stewart. Quem viu, viu. O tempo é inexorável.
Parece que foi ontem que torci por ela e Nathan Petrelli. Digo, Caleb...