Season finale é uma caixinha de surpresas. Enquanto
algumas séries começam a missão embebidas em hype, apenas para corresponderem com mais lugares-comuns e questões não resolvidas,
outras seguem pelo caminho oposto, se superando a cada episódio, como se toda cena seguinte fosse a derradeira. Esse 8º dia na vida de
Jack Bauer deveria ser obrigatório em oficinas e cursos de roteiristas. Não pela alta média de saídas criativas ou pela fina arte de repaginar as fórmulas da série, mas pela capacidade de prender a atenção (e os batimentos cardíacos). Nesse ponto,
24 Horas é imbatível. Tem sido, aliás, desde a fatídica
14ª hora. A partir dali a coisa realmente extrapolou.
Nessa 22ª hora, o mashup dos melhores elementos de ação e espionagem chega ao seu clímax. Após um episódio arrasador (aquela sequência do cerco no shopping deu vontade até de pagar ingresso e a cena da tortura do sniper russo é
a mais arrepiante já executada por Bauer), agora acompanhamos nosso anti-herói favorito galgando a pirâmide conspiratória como se fosse um Wally West possuído pelo Necronomicon. Muitas coisas ali só veríamos num filme do Bourne. Outras, nem num filme do Bourne.
As interpretações estão uma uva:
Cherry Jones, no papel da Presidente Allison Taylor, continua ótima em sua personificação do sonho americano corrompido;
Mary Lynn Rajskub eficiente como sempre com a Chloe entre e a cruz e o Bauer;
Freddie Prinze Jr. convincente como nunca foi na vida;
Bob Gunton, que eternizou seu Secretário Ethan Kanin na mitologia da série, já está fazendo falta; e
Michael Madsen, meu Deus, foi um legítimo às escondido na manga... jogadas de mestre como essa já motivaram muitas mortes em cassinos do velho oeste.
Mas o destaque gritante nessa reta final não poderia ser outro senão
Gregory Itzin, o redivivo Presidente Logan. Talvez o antagonista definitivo da série, numa postura inicialmente metódica e cerebral emendando numa tresloucada corrida de volta ao poder (a cena das gravatas foi hilária), o ator superinterpreta - recurso perigoso - com todos os exageros gestuais e tiques a que isso dá direito.
Desde os momentos em que envenena as decisões da presidente até a torrente de informações que minam de sua boca à menor pressão de Bauer, sua performance esteve irresistível. Nem Roberto Jefferson faria melhor.
Bem...
O banho de sangue promovido por Bauer nessas duas últimas horas pode até soar refugo de ação standard, o que é mesmo, mas com a classe que faz a diferença. Não por acaso, a trilha sonora que embala o exército-de-um-homem-só lembra bastante as orquestrações de Jerry Goldsmith em
Rambo 2. Mais sintomático ainda é quando Bauer se arma até os dentes para o sequestro de Logan. Receita de intimidação urbana é aquilo ali. Arsenal hardcore, o traje protetor pesadão e a máscara
mezzo Jason
mezzo Batman.
Isso, mais o redentor massacre no gabinete do Ministro Novakovich, dá a dica da forma mais clara possível: Bauer, eletrocutado, com duas facadas no bucho, contusões variadas e estresse físico over, só pode ser sobrehumano. Não como um super-herói, mas talvez como algo mais...
compatível.
Próxima fase: Presidente Yuri Suvarov. Na minha opinião, antes disso a escalada revanchista acaba. Proporções globais e termonucleares demais na parada.