Registro do trailer #3 dos Supersoldados Sovié... opa, Guardians (2017), marcando a entrada da Mãe Rússia na corrida super-heroística contra os opressores estadunidenses.
Parece um fan film muito bacanudo. Mas ainda um fan film. Como tenho apreço por caras-de-pau, admito que me parece divertido. O que dizer então de rip-offs de Soldado Invernal/Snake Eyes/Cyborg Ninja, Sue Richards, Chicote Negro e outros notáveis heróicos e/ou vilânicos. O produtor e diretor armênio (!) Sarik Andreasyan não poupou esforços.
De brinde, ainda um urso antropomórfico largando o aço pra cima dos meta-vagabundos com uma prima russa da Ol' Painless.
Urso esse que nem rip-off é. É furto mesmo.
Dzya-dzya Stan e seu komitet já estão maquinando uma retaliação contra Moscou. Mal sabem esses huskies com quem estão se metendo.
Esse é o som de (mais) contas sendo acertadas com o passado.
9/12 títulos anexados à coleção até aqui, uns 75% de aproveitamento. A extensão de clássicos da Salvat tem deflagrado uma justiça tardia para aqueles moleques fissurados numa HQ, mas sem um merréu pra comprar Almanaque Marvel e Almanaque Premiere Marvel... lá pelos idos de 1982-84...
Todos os títulos vêm mantendo alto o nível de relevância histórica, mas os gols de placa são indiscutíveis: Contos de Asgard, Dr. Estranho: Uma Terra sem Nome, um Tempo sem Fim e, pelas hostes de Hoggoth, o Nick Fury pop art/surrealista de Jim Steranko compilado em dois volumes antológicos. Só o caviar da gibizeira.
Com todos esses clássicos grandes, médios e pequenos, nada melhor que um pouco da boa e velha chinelagem quadrinhística. Mas, epa... um pouco não, muita. E chinelagem com todo o respeito à fantástica Marie Severin, ao grande Gary Friedrich e ao melhor desenhista ruim de todos os tempos, Herb Trimpe - que Deus (Jack Kirby) o tenha em bom lugar.
A Coleção Oficial de Graphic Novels, Clássicos vol. XI - O Incrível Hulk: O Monstro Está Solto... ufa... é exatamente o que parece: um gibi de porradaria honesta. Nada de complexidade narrativa, subtramas mirabolantes ou minuciosas análises psicológicas. No Golias Esmeralda pós-Lee/Kirby firulas inexistem. Não raro se aproximava fatalmente dos "gibis" que você rabiscava nas últimas páginas do caderno de matemática. Certo, certo, exagerei, mas esse é o espírito. Imediatismo.
O roteiro de Friedrich garantia o build-up mínimo exigido por Lei, mas ele sabia o que o povão queria. Após alguma contextualização - sempre ágil, sempre enxuta - era só questão de alguns quadr(inh)os para a coisa ficar verde (ha ha!). Perto do Hulk de Trimpe & cia., até o Hulk de Mantlo e (Sal) Buscema ficava parecendo o Woody Allen.
Em que pese a autoria do titio Stan numa história, Roy Thomas rachando outra ao meio com Archie Goodwin e mais outra com Bill Everett, a ordem era esmagar os adversários e ouvir o lamento de suas esposas. Tanto que o encadernado já abre com Hulk desembarcando em Asgard com os dois pés no peito de Heimdall pra seguir esculachando geral, d'Os Três Guerreiros ao Executor, e ainda chamar ninguém menos que Odin, Filho de Bor, para uma conversa ao pé do ouvido.
Após, um tira-teima protocolar com o Rino no mesmo ritmo fanfarrão de sua origem e entreveros com dois desafiantes bizarros o suficiente pra não constarem nem numa galeria onde figuram MODOK e Bi-Fera, além do Mandarim e seu servo autômato monstruoso com feições orientais e... amarelo... sem preconceito sessentista, é claro.
O green de la green, contudo, é a última história, extraída da - aí sim - clássica Hulk Annual #1 (1968). O assombro fanboy já começa na reprodução da épica e icônica capa original, homenageada e referenciada por décadas em várias esferas da cultura pop - mais uma vez, cortesia de Steranko, esse putardo maldito e talentoso (ainda tem graça chamá-lo de Andy Warhol da 9ª arte?). Nem a publicação atentando ao fato prepóstero de que a edição seguia inédita no Brasil embaçou minha felicidade.
...talvez só um pouquinho.
Hulk com Inumanos não precisa de muito escrutínio. A mera ideia já é coisa de louco. E eu já tinha cantado essa bola antes, mas me sinto na obrigação moral e cívica de avisar: há ali um quebra espetacular entre o Gigante Verde e Raio Negro...
...onde o Hulk leva provavelmente a surra da sua vida.
Boltagon esmaga!
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Pode me chamar de pessimista, mas confesso que não via isso acontecendo num curto prazo.
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A Panini corrigiu os erros do encadernado de A Saga da Fênix Negra, reimprimiu a bagaça deluxe e procedeu com o devido recall. A pentelhação da "carta anexada explicando os motivos da troca" ainda rolou, apesar de mais que escancarados em tudo que tenha tela.
O jogo de volta foi rápido, coisa de uma semana, via PAC reverso, sem custos. Uma merecida massagem shiatsu nesta alma que, desde fevereiro, vem sonhando com gatas de metal indestrutível e uma narração em off repetindo as mesmas sentenças.
E mais um filme com a indefectível Amy Adams entrando em contato (imediato) com extraterrestres. Não espero de ninguém o mesmo interesse que tenho sobre o tema, portanto já abro logo com o super-trunfo: a direção é de Denis Villeneuve.
De Os Suspeitos. De Sicario. E, puta que lhe pariu, de Incêndios.
Não é o caso típico de um nome respeitado fora do circuitão se queimando no mainstream (não é mesmo, Oliver Hirschbiegel?). Villeneuve é só know-how a este ponto. Ponho fé. E preciso.
Faz algum tempo que impera uma carência de bons filmes "de contato" sob uma ótica mais pragmática ou, no mínimo, propondo especulações sóbrias, pé no chão. Filmes de sci-fi à luz do dia, desprovidos, senão de todo, de uma boa parte da velha fantasia distrativa.
Nos últimos anos não faltaram bolas na trave: Esfera, O Dia em que a Terra Parou - remake, O Enigma de Outro Mundo - prequel; todos com instigantes prólogos de recrutamentos-para-lidar-com-uma-situação-misteriosa-e-extraordinária, mas que rapidamente cederam ao peso de suas promessas. Distrito 9 era diversão e panfleto, outro assunto. Maçãs e laranjas.
Em meio ao mar de frustrações, os únicos que me fizeram sair do cinema pleno de satisfação foi Contato, já quase completando seus 20 anos com fôlego invejável, e o controverso Prometheus, um dos blockbusters mais intrigantes e ousados que já tive o prazer de assistir - e aguardo muito a continuação, mesmo ciente das presepadas de Ridley Scott.
Enfim, escrito isso, gostei do que vi nesta prévia de Arrival (aqui, A Chegada). Parece uma adaptação livre do item "Eles são muito alienígenas" constante no Paradoxo de Fermi, o que, sem dúvida, é uma visão não só fora da zona de conforto hollywoodiana, mas da humana enquanto perspectiva.
Arrival estreia em 10 de novembro.
Dever de casa para o incauto leitor: It Came from Outer Space (1953), o ponto zero... ou melhor, o ponto 0,5 disso que comentei aí e que começa quase despercebido com a xenofobiazinha nossa de cada dia.
Pelos números, é quase certo que BrainDead não terá uma vida longa e próspera. Se mantiver a pegada até o final da temporada (única?), ao menos terá crivado seu logo nos neurônios de alguns poucos abnegados.
Ao contrário do que se imaginava... tá bom, do que eu imaginava, BrainDead não tem relação com Braindead, conhecido aqui como Fome Animal, crássico splatter do Peter Jackson moleque catarrento de várzea.
Mesmo assim, a premissa é, digamos, familiar.
Após meteoritos causarem um estrago numa cidadezinha da Rússia em meados dos anos 2010, o mundo dá sinais de que está enlouquecendo. Taylor Swift é o grande ícone jovem, o orçamento mundial está no vermelho e, o mais absurdo, Hillary Clinton e Donald Trump disputam a presidência dos Estados Unidos.
A explicação? A Terra está sendo dominada por alienígenas invasores de corpos. Justo.
A série é invenção do casal Robert e Michelle King (The Good Wife). Entre os produtores, estão David W. Zucker e o alien Ridley Scott, o que não é pouca coisa. A trama é protagonizada pela documentarista indie Laurel Healy, interpretada pela hors-concours Mary Elizabeth Winstead.
Com seu novo projeto encalhado na fase de captação, ela se vê obrigada a aceitar um carguinho no gabinete de seu irmão, o senador democrata Luke Healy (Danny Pino). Lá, ganhamos um intensivão sobre a doce arte de fazer política e inimigos.
Entre o fogo cruzado nos bastidores do Capitólio, Laurel se vê às voltas com coisas ainda mais estranhas que a cota habitual de estranhezas do lugar. Como várias pessoas repetindo as mesmas frases, palavra por palavra, cabeças explodindo no meio de uma acalorada discussão e coisas parecidas.
Os nomes dos episódios parecem tema de mesa redonda com analistas políticos. Tipo "Como o Extremismo Político Está Ameaçando a Democracia no Século 21" (ep. 1), "Fazendo Política: Vivendo à Sombra dos Bloqueios Orçamentários - Uma Crítica" (ep. 2) e por aí vai. As sequências com as rinhas e falcatruas de republicanos e democratas monopolizam e são deliciosas. Sátira política farsesca (ou não) no seu melhor.
Salta aos olhos a química entre Laurel e Gareth Ritter (Aaron Tveit), assessor do congressista republicano e picareta-mor "Red" Weathus, papel do genial Tony Shalhoub. Bons achados também são os sidekicks Rochelle (Nikki M. James) e o hilário Gustav (Johnny Ray Gill), fanboy de conspirações que poderia figurar tranquilamente nos Pistoleiros Solitários.
A dinâmica não faz prisioneiros. Ao mesmo tempo em que tece uma narrativa fácil, nunca se rende ao didático. O que é ótimo a princípio, mas eventualmente requer a caça de alguma info. No 5º episódio, por exemplo, há um trocadilho fulminante envolvendo o termo Sharia. Esse era nível pro. E tem vários mais.
Não é todo mundo que compra esse humor corrosivo e cínico. Mas quem é chegado em artefatos como Veep, Arrested Development, The Office, Parks and Recreation ou Community vai fazer a festa.
Apesar dos aliens influírem diretamente nos rumos da história, eles são quase um detalhe - literalmente, formiguinhas. A fatia sci-fi é sutil, mas frequente - chega a ser generosa no 6º episódio, "Notas Relativas à Teoria Pós-Reagan de Aliança Partidária, Tribalismo e Fidelidade: Passado Enquanto Prólogo" (heh!). Tivemos contatos imediatos de terceiro, quarto e até quinto graus, planos de invasão e até os infames círculos em plantações, mas nada disso do modo tradicional.
Ainda nesse (extra)terreno, particularmente bem sacada foi a explicação para o uso ostensivo - e, até ali, aparentemente gratuito - do hit chicletudo "You Might Think" (The Cars). Tão bacana que se sobrepôs até à forçada de barra do contexto. Essa nem Ellie Arroway viu chegando. Isso, mais os inacreditáveis resuminhos "previously" no início de cada episódio (cortesia do cantor folk Jonathan Coulton) já resolve a vida da série no quesito trilha.
Não sei se BrainDead é o Arquivo X que precisamos hoje - e Mulder & Scully deram uma patinada sinistra naquele final da 10ª "temporada". Também duvido que vá vingar na audiência em algum ponto. Só sei que o payoff é instantâneo e nossos homenzinhos verdes estão de volta... ainda que sejam formigas. E nem ao menos verdes. Mas são da constelação de Draco, o que rende mais trocadilhos bestas com a capital americana.
E o melhor de tudo, agora a belezura suprema Winstead é oficialmente a nossa mulher para assuntos ufológicos. Revisionou invasores clônicos, invasores de mundos e invasores de corpos num espaço de 5 anos e com uma média muito boa!
E tem algo mais supimpa que ela correndo pelo Capitólio de salto alto e saia executiva?