domingo, 31 de julho de 2022

Aye, Aye Lieutenant!


Grace Dell "Nichelle" Nichols
(1932 - 2022)

Impossível mensurar a representatividade e a influência exercidas por Nichelle Nichols sobre gerações do mundo inteiro. Mas dá para ter alguma ideia com o conselho que ela recebeu do próprio Martin Luther King.

Segue um trecho extraído do ZdO 2018:


A história é bem conhecida. Em 1967, quando a atriz Nichelle Nichols disse a Martin Luther King que planejava deixar seu papel de Uhura em Star Trek para seguir carreira no teatro, o bom pastor lhe passou um sabão:

"Pela primeira vez somos vistos como deveríamos ser vistos. Você não tem um papel negro. Você tem um papel igual."

E continuou:

"Você é a nossa imagem do lugar para onde estamos indo. Você está 300 anos à frente e isso significa que onde estaremos tem início agora. Continue o que está fazendo. Você é nossa inspiração."


E não precisa de mais nada. Ou melhor, só uma coisa: "Thank you, Nichelle."

sábado, 23 de julho de 2022

A Origem do Metalverso

Finalmente a Heavy Metal Entertainment abriu as portas para o Metalverse e sua "ambiciosa lista de séries e filmes animados & live-action."


Ironicamente, achei o segmento da Taarna tão fanservice quanto fan made. Mas a catralhada de emoções terror/sci fi/fantasia/cyberpunk/o escambau que veio logo na sequência arrepiou toda a extensão da minha artrítica coluna vertebral.

Sem a maldita indicação PG-0 de uma Disney+ da vida e em uníssono com os depoimentos de todos aqueles cineastas famosos (e falta muita, mas muita gente ali), a Heavy Metal enfim poderá retornar ao lugar de destaque que sempre mereceu.

Meu Pai do Céu (também conhecido como Lemmy®), isso promete.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

“A estrela guia dos quadrinhos escoceses”


Alan Grant
(1949 - 2022)

Ele era de uma safra lendária. Junto de nomes como Neil Gaiman, Alan Moore, Grant Morrison, Garth Ennis e Dave Gibbons, Alan Grant foi da chamada British Invasion of American Comics da década de 1980. Também era dono de uma proficiência notável: num período relativamente curto, ele trabalhou para a 2000 AD em Strontium Dog e em inúmeras histórias e crossovers do Juiz Dredd. Já na DC, roteirizou Batman, L.E.G.I.Ã.O. e tudo o que importa do Lobo — ao passo que, na Marvel, só bateu ponto em Justiceiro: Sangue na Escócia (publicada aqui em Graphic Marvel #13) e numa dobradinha no selo Epic com O Último Americano e Raça das Trevas, adaptação do livro/filme de Clive Barker.

Vendo sua bibliografia lançada no Brasil, me impressionei no quanto o escocês é presente em minha coleção e nunca me dei conta. Talento com discrição tem dessas coisas. E Grant tinha muito dos dois.


Estamos ficando sem heróis aqui. E vamos seguindo.

🌟 Scottish Book Trust

segunda-feira, 18 de julho de 2022

It's the end of the world as we know it...


The Lazarus Project pode ser descrita como uma mistura de 24 Horas com Feitiço do Tempo. Da série do Jack Bauer, herdou a agência secreta — na maior parte, uma unidade de contraterrorismo — e do clássico com Bill Murray, o loop temporal que permite remodelar o destino ao seu bel prazer. A série da Sky foi criada e roteirizada por Joe Barton e traz aquele tipo bem particular de ficção científica que transparece quase nada de ficção científica. Mais ou menos como na boa série Continuum, que também lidava com viagens no tempo.

Na trama, o jovem especialista em TI George (o premiado Paapa Essiedu, de Men) tem uma vida perfeita e um futuro ainda mais promissor ao lado da esposa Sarah (Charly Clive). Numa bela manhã, ele acorda no mesmo dia de alguns meses antes. Ele acha esquisito... mas a vida que segue. Após alguns meses, ele acorda mais uma vez naquela mesma manhã. E de novo. E de novo, de novo... O que era esquisito vira desesperador. Um dia, uma mulher de nome Archie (Anjli Mohindra) aparece e explica que o loop temporal que ele está vivenciando é obra de uma central de inteligência secreta — o Projeto Lazarus homônimo. O loop é acionado sempre que a humanidade se encontra em uma rota inevitável de extinção. A ideia é reiniciar o tempo e tentar impedir a catástrofe da vez. E George é uma das raras pessoas no mundo a desenvolver naturalmente a habilidade de manter suas memórias anteriores, desta forma percebendo o loop.

O que, em termos profissionais, significa admissão imediata. Querendo ou não.

A série tem um manual de regras muito bem explorado pelo roteiro. Por motivos de força maior, o loop é programado para um dia específico no ano, o chamado "checkpoint" — e só pode acontecer naquele dia, o que joga a tal da conveniência pela descarga e rende situações insólitas nos momentos das "viradas". Após o 1º aniversário do loop, é ponto sem retorno. Um novo loop é estabelecido e o que aconteceu naquele período, por pior que seja, não dá mais para ser desfeito. A única prioridade é a salvação da humanidade.

Outra boa sacada é que as variáveis estão sempre em movimento: nem tudo é igual após um loop e o Efeito Borboleta bate as asas com força nas vidas pessoais dos personagens. E o estrago, pode acreditar, é impressionante.

O ritmo narrativo é alucinante e, ao mesmo tempo, repleto de infos. Tudo muito bem montado e cadenciado, o que dá a sensação de ter visto num episódio bem mais do que os 40 minutos em média pareciam comportar. E os ganchos finais são impiedosos com o espectador.

Quem é cobra criada de thrillers de espionagem vai se estranhar com alguns detalhes, como o staff incerto e a segurança interna do Projeto — e uma conversa ao pé do ouvido sobre a proficiência e o caráter do protagonista se faz absolutamente necessária assim que possível. Mas nada que comprometa a entrega espetacular. Ainda mais com aquele season finale de arrombar as porteiras das possibilidades...


A 1ª temporada de The Lazarus Project fechou com oito episódios. Até aqui, não há notícias sobre uma 2ª temporada, mas o criador Joe Barton já está cheio de ideias.

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Dillon zone


Geralmente orbitando as HQs com a superficialidade de um típico Caderno 2, o site The Guardian publicou um bom artigo sobre a carreira do saudoso desenhista Steve Dillon, falecido em 2016. Na matéria, Garth Ennis, sua cara-metade artística e amigo de copo, relembra os principais trabalhos da dupla. Embora curta, uma ótima leitura, replicada merecidamente por Dave Gibbons e Jimmy Palmiotti.

Lendo a reflexão do chapa Luwig sobre uma sequência de Starman e nossos entes queridos que se foram, foi impossível não fazer a conexão com um trecho bastante pessoal da entrevista com Ennis.
“A morte de Steve foi uma absoluta decepção. Ele estava fazendo alguns dos melhores trabalhos de sua carreira naquele momento. Houveram duas bebedeiras massivas depois que ele morreu, uma em Nova York, uma em Luton, e em ambas eu tive a mesma sensação: esta é uma grande celebração da vida de um cara fantástico e ele adoraria ver todo mundo desse jeito, mas amanhã temos que prosseguir com um enorme vazio em nossas vidas.”
E arremata com um cruzado certeiro:
“Eu daria qualquer coisa para tomar mais uma cerveja com ele.”
Inesperado e comovente. E universal demais pra não se enxergar ali.

É pra colocar a próxima rodada em perspectiva, hm?

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Obrigado, Caan


James Edmund Caan
(1940 - 2022)

Sempre achei James Caan deslocado do cenário atual. Provavelmente é porque ele pertencia a uma era de gigantes e, ao contrário de seus contemporâneos, raramente dançava conforme a música. Então, era um caso à parte: foi/é uma instituição do melhor cinema americano e uma figura que merecia muito mais reconhecimento popular. Porque a quantidade de vezes que seus personagens entraram de sola em nossas vidas não é para qualquer um.

Quem não ficou atordoado com o destino violento de Sonny Corleone, em O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972)? Ou com a espiral descendente do vício em O Jogador (The Gambler, 1974)? Quem não se sentiu imerso no horror e na impotência (e na dor excruciante nos tornozelos!) do romancista Paul Sheldon, em Louca Obsessão (Misery, 1990)? Ou não se divertiu em produções pop-com-mensagem como Rollerball: Os Gladiadores do Futuro (Rollerball, 1974) e Missão Alien (Alien Nation, 1988)?

Pessoalmente, não poderia esquecer da implacável força da natureza que Caan personificou em A Força de um Passado (Flesh and Bone, 1993). E, claro, do filmaço Profissão: Ladrão (Thief, 1981) — pra mim, seu highlight como protagonista.


Que, por sinal, irei revisitar logo mais. Homenagem melhor não há...

quarta-feira, 6 de julho de 2022

De Vaughan para o Futuro


Boto fé. Porque não é um bicho de sete cabeças para realizar. Fórmula simples, testada e aprovada. E porque meu coração K. Vaughiano não aguenta mais tanta sofrência.

E esse trailer é uma belezura, vai.

29 de julho tamo aí na garupa.

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Fenda no Tempo


Primeira vez que comento algo sobre Stranger Things. E por um motivo bem simples: passei liso e leso por aquele tsunami hypezístico de 2016. Então, a divisão desta 4ª temporada em dois "volumes" — a manjadíssima midseason — pode ter recebido críticas até do alto escalão, mas abriu um janelona para que a massa de desantenados maratonasse o jogador #1 da Netflix. O que fiz em qualquer coisa como uma semana. É muito fácil, uma vez superados alguns percalços pelo caminho. Tenho um problema crônico com qualquer filme (alô, Tarantas!) ou série que nade em referências. É uma linha fina entre a homenagem, a sátira e a cópia pura e simples. E isso os criadores The Duffer Brothers fazem como se não houvesse amanhã.

Realizar um Amblin Movie é o Graal deles em Stranger Things. Deve ser irresistível ignorar o apelo estético e nostálgico das bicicletas e das delícias de uma trilha sonora oitentista. É o revival iniciado por Spielberg & J.J. Abrams em Super 8? Que nada. É tudo culpa de Donnie Darko. Ainda.

Os aguardados dois últimos episódios da temporada não arrefecem 1 frame no quesito "maratona". São quatro horas. Quatro desnecessárias e prolixas horas que fragilizam as subtramas e evidenciam as barrigadas que acometem a série desde a metade da segunda temporada. Decididamente, não precisamos disso — e nada me tira da cabeça de que é uma decisão estratégica e unilateral da gigante do streaming. O que é uma pena, já que boa parte dos problemas se resolveria com uma bela farra na sala de edição.

O núcleo de protagonistas é um achado de química e carisma. Só que os meninos e meninas mereciam bem mais do que lutar constantemente contra as deficiências de roteiro (fragmentar a turma foi a pior delas) e entoar alguns diálogos vexatórios que os Duffer escreveram na reta final. Deviam rever o quadro de roteiristas titulares, ao menos para a próxima (e, dizem, última) temporada. O Paul Dichter escreveu só um episódio desta safra e olha só que diferença.

No fim, foi preciso muita vista grossa e passadas de pano pra curtir Stranger Things. Mas valeu a pena. Abaixo de toda a pretensão e dos maneirismos épicos vazios, existe um coração enorme batendo em algum lugar do Mundo Invertido.