2025 foi paradoxal. Rápido como um raio e, ao mesmo tempo, agonizantemente interminável. Culpa, em parte, da tal information overload, ou melhor, internet overload. E só vai piorando. Desconectar é o novo ignorance is bliss, altamente necessário nestes dias. Também vimos a partida de muita gente boa, ícones até – e incessantemente, mesmo enquanto rascunho esse postulado. Faz parte, lógico. Mas saber quem foi e quem está ficando é digno de intimar a Dona Morte para uma sindicância. No mínimo, para uma repreenda ao estilo "larga essa foice, que tu é moleca! Moleca!". Enfim.
Desta vez, tive que cortar muita coisa bacana da lista, senão ia terminar só no próximo ZdO. Foi uma das triagens mais difíceis que já fiz. Ajudaria se tivesse dedicado uns posts à parte para diminuir essa sensação, mas o tempo urge. E olha que não sou tão ocupado assim. Evito a fadiga igual ao caraio porque, sinceramente...? A esta altura, não vale a pena. Ainda gosto de ver as trasheiras que datilografo na tela, só que, após 20 anos, o que vier é lucro. Mas vamo que vamo.
E parafraseando o Madman...
ALL ABOOOARD, HAHAHAHA!


Playlist do ano
* Não vale discos ao vivo ou discos regravados, salvo nas menções honrosas

O Mukeka di Rato chega à caráter ao seu trigésimo aniversário (¡¡porra!!). Generais de Fralda dá uma prévia do esporro lírico já no título, mas é a boa e velha metralhadora giratória do grupo que faz a diferença: além das viúvas da ditadura, sobra paulada em políticos, racistas, feminicidas, crackudos normais, crackudos de farmácia, genocídio palestino, Evangelhistão, Bozonaristão e imbecilidades afins. Um tapaço na cara em formato de hardcore demencial com sotaque canela verde. Mukekão!

Acompanho o Big Thief com fidelidade canina desde o maravilhoso Two Hands, de 2019. Por que catzo o grupo de Brooklyn/NY nunca figurou aqui é algo que só a cachaça explica. A discografia inteira é uma joia. Mesmo com a saída do baixista e cofundador Max Oleartchik em 2024, o nível segue intacto no recente Double Infinity. É uma jam session revolvendo folk, americana, country, psicodelia e as belas e soturnas harmonias vocais de Adrianne Lenker. Trip melancólica, evocativa e irresistível.

Não deixa de ser curioso que a Sub Pop, ex-templo grunge, seja a casa do clipping., uma das formações hip-hop mais experimentais e criativas da paróquia. Se você curte hip-hop com superdosagens de industrial, noise e horrorcore na linha Death Grips, cai dentro dos primeiros discos (todos lançados pela gravadora de Seattle). Já este 5º álbum, Dead Channel Sky, é perfeito para iniciantes. Os raps fragmentados de Daveed Diggs estão mais simplificados e as programações da dupla William Hutson/Jonathan Snipes estão quase dançantes – pero sem perder o niilismo. Uma espetacular droga de entrada.

Sempre curti o som do Ty Segall alternadamente: gosto de um disco, nem tanto do próximo, volto a gostar no seguinte e por aí vai. Mas já há uns três álbuns na sequência em que o multi-intrumentista californiano tem atropelado minha rabugice. E este Possession é um dos melhores discos do rapaz. Som de garagem curtido na psicodelia e no glam rock setentista em canções de altíssima assobiabilidade. Os arranjos e a produção são de um bom gosto absurdo, fora que o baixo do Segall nunca soou tão John Paul Jones. Delícia de álbum. Vai que é tua, Ty!

A carreira do Deadguy é pra lá de errática: o grupo foi formado em 1994, lançou um disco em 95 e após várias mudanças de formação e 24 anos de inatividade, finalmente chega ao seu 2º álbum, o excelente Near-Death Travel Services. A banda de New Jersey é considerada uma das precursoras do gênero metalcore, mas o som tem raízes fincadas no punk, no noise rock e no pós-hardcore oitentista, especialmente o nova-iorquino (Unsane, Helmet). Trilha dissonante para moshs suicidas.

Jehnny Beth chega ao 2º álbum solo com You Heartbreaker, You cada vez mais distante de suas origens no grupo pós-punk Savages. Seu estado sonoro atual orbita entre o art pop e o rock industrial com escalas por aquele trip-hop mais orgânico e esquisitão, à Tricky. As letras são confessionais e absolutamente cortantes. Catarse com estilo.

Para Bellum estabelece o Testament como o grande bastião da 1ª onda do thrash metal. Com a proficiência assombrosa dos últimos discos, o gênero não teria representante melhor para as novas gerações. Até mesmo as discutidas influências death estão perfeitamente incorporadas à musicalidade do grupo. No quesito técnico, o nível segue estratosférico, com um trampo finíssimo das guitarras de Alex Skolnick e Eric Peterson (a dupla brilha na baladona épica "Mean to Be"), do baixista Steve Di Giorgio, do batera novato Chris Dovas e, claro, do lendário Chuck Billy, o melhor cantor de thrash metal desde que James Hetfield resolveu cortar os cabelos. O melhor álbum de thrash raiz de 2025.

O quarteto escocês Mogwai talvez seja a mais pura personificação do post-rock moderno. The Bad Fire é seu 11º álbum de estúdio (fora seus vários EPs e trilhas sonoras) e não deixa dúvidas disso. Progressivo e espacial, fluindo do atmosférico ao peso com uma naturalidade mágica. E desta vez até com alguns vocais colocados aqui e ali, como pequenas pérolas para os seguidores de longa data. Magnifíco, como sempre.

Em termos técnicos, o Butler, Blake & Grant é um supergrupo: o ex-Suede Bernard Butler, Norman Blake, do Teenage Fanclub, e... ou melhor, & James Grant, do Love and Money (nunca ouvi falar). A impressão é de que os chapas se reuniram para uns pints num pub qualquer e saíram de lá com a firme ideia de montar um projeto com claras inspirações Crosby, Stills & Nasheanas, do nome ao som. O álbum autointitulado é uma pintura de folk rock rural acústico e não faria feio nem nas paradas de Laurel Canyon em seus áureos tempos. Mandaram bem até demais.

Difícil situar o Swans musicalmente para não-iniciados. O espectro de sua influência é incrivelmente vasto, cobrindo de industrial, noise e grunge até pós-punk, death metal e lá vai transgressão sonora. O grupo encabeçado por Michael Gira é influência confessa de gente como Tool, Nirvana, Melvins e Napalm Death, só pra citar alguns. Birthing é seu 17º disco de estúdio e vem da curva, digamos, melodicamente mais "acessível" e até PinkFlóydica dos últimos discos. E ainda assim é para poucos – a menos que jornadas drone de 20 minutos cada tenham se tornado populares nos últimos cinco segundos. A discografia da banda é uma grande obra em andamento e cada disco, um movimento da sinfonia. Dá trabalho, mas vale muito a pena explorar o caos controlado do Swans desde os primeiros álbuns.

Disco novo do finado Cathedral? Como pode uma porra dessa, Bátima? Está lá no site da Rise Above Records: "Society's Pact with Satan foi a última gravação feita pela banda, em 2012. Foi gravada no final das sessões para o seu álbum de despedida, The Last Spire, de 2013 (disco laureado no ZdO daquele ano). Mas, por algum motivo, a faixa de 30 minutos não foi mixada na época, sendo praticamente esquecida por todos os envolvidos, até muito recentemente." E uma vez mais o espírito pesado e trevoso deste patrimônio doom é invocado para assombrar o mundo. Caiu uma lágrima furtiva aqui.

Sharon Van Etten & the Attachment Theory é o 7º álbum de estúdio da Sharon Van Etten e sua primeira colaboração com o grupo The Attachment Theory. Se nos discos anteriores a artista seguia confortável no nicho indie singer-songwriter, agora ela mergulha fundo no pós-punk e no synthpop oitentista. As inspirações nítidas em Joy Division, Cure e Siouxsie são o pano de fundo para uma virada surpreendente de direcionamento. E para um discaço.

O Pentagram é uma instituição do heavy e do doom metal. Estão por aí desde 1971 – com alguns breves períodos de inatividade e uns 4 times de futebol na formação pelo caminho. São reconhecidos apenas por seu cult following vindo das masmorras mais obscuras. Nada disso, porém, antecipou a viralizada surpresa do frontman, o mítico Bobby Liebling. Não é pra menos, o veinho é uma figuraça. É o Marty Feldman do occult rock. Lightning in a Bottle é seu nono disco (em mais de meio século!) e é uma pedrada heavy/doom/stoner letárgico, lisérgico e pesado como o inferno. Para ouvir no volume 11.

Igorrr é o nome de guerra do compositor e multi-instrumentista francês Gautier Serre. Amen já é seu 5º disco e comprova que o rapaz é um fanfarrão, mas é talentoso: consegue lidar com death metal, breakcore, ópera, música clássica barroca, industrial, progressivo, ritmos regionais dos Balcãs e floreios acústicos sem perder o rumo – tudo isso apenas na faixa de abertura, "Daemoni". E no álbum tem mais onze, cada uma mais insana e divertida que a outra. Parece algo que sairia pela Ipecac seguido de turnê com o Mr. Bungle.

Pode ser reflexo das polêmicas (e fantásticas) regravações dos primeiros LPs do Sepultura em 2023/2024, mas a sensação é de que Max Cavalera parece ter renovado sua fúria e sua fé para gravar Chama, o 13º disco do Soulfly. A banda é atualmente composta pelo Godfather Cavalera, seu filho Zyon na bateria, pelo guitarrista Mike DeLeon e mais uma penca de artistas convidados. Sempre associada a um certo groove/nu metal tribal, hoje já superado, IMHO. É simplesmente Max Cavalera/Soulfly, um gênero por si só. E isso não é pra qualquer um.

Truculence é o 6º disco do Facada, de Fortaleza/CE. O som do trio é uma desgraceira brutal de punk, crust e grindcore executado como se as vidas dos miseráveis dependessem disso. A bolachinha tem apenas 15 minutos, mas é suficiente para trincar as paredes da casa do vizinho. Revigorante.

Enfim, o aguardado retorno dos prog thrashers suíços. A volta do Coroner ao estúdio após 30 anos arrancou lágrimas dos admiradores sedentos, snif, tanto pelo longo gap quanto pela incerteza sobre a longevidade artística do trio. Em 2025, outros retornos de veteranos só mostraram o quanto alguns deles desaprenderam o ofício (a-a-a... Dark Angel... tchim!). O Coroner, pelo contrário, está no topo de seu jogo. O novo Dissonance Theory traça uma perfeita sequência evolutiva dos icônicos R.I.P. (1987), Punishment for Decadence (1988), No More Color (1989), Mental Vortex (1991), Grin (1993) e Coroner (1995). Antológico.

Glenn Hughes dispensa apresentações, mas nunca é demais repetir sua alcunha de Voice of Rock. Chosen é o quê, seu milionésimo álbum (entre grupos, supergrupos e carreira solo)? Impressionante como a voz e a musicalidade deste gentleman de 74 anos seguem envelhecendo como os melhores vinhos. Sua matéria-prima de blues, soul e hard rock exige nada menos que um tratamento de excelência. E ele ainda não presisou recorrer à adaptações vocais, afinações mais baixas, efeitinhos, nem nada. Um masterclass de boa música.

Disco novo do mclusky após 20 anos de seca. E via Ipecac, o manicômio perfeito para acomodar seu 4º álbum, the world is still here and so are we. O esporro noise pós-hardcore do trio tem uma precisão matemática, mas sem o menor compromisso com linearidade e repleto de humor negro. O disco, autoproduzido, tem uma pegada totalmente Albiniana, com a guitarra cortante e a cozinha mixada bem na cara. Do caralho.

Ok, o LP de estreia do Die Spitz pegou todo mundo de surpresa. Após os EPs Revenge of Evangeline (2022) e Teeth (2023) despejarem uma trauletada garage punk curta e grossa, neste Something to Consume as meninas entraram em campo com um esquema tático bem diferente. Agora zigue-zagueiam entre aquele rock alternativo típico das college bands dos anos 90 e, pasme, um psych/doom metal fantasmagórico à Electric Wizard. Felizmente, o quarteto do Texas tem cancha e talento de sobra. Mesmo com o susto, um grande debut do Die Sputz!, digo, Spitz.
Menções honorabilíssimas
Audience with the Queen, do Galactic com Irma Thomas – o grupo funk Galactic unindo forças com a "Rainha do Soul de New Orleans" Irma Thomas para salvar almas num álbum sublime.
Magia, do Budang – beatdown hardcore de Floripa com ótima produção e vocais num português absolutamente incompreensível.
Addicted to the Violence, de Daron Malakian and Scars on Broadway – a filial do SOAD é tão divertida quanto a matriz e é mais rocker.
Lonely People with Power, do Deafheaven – black metal + shoegaze = blackgaze. E é bão.
I Only Trust Rock n Roll, do The Living End – veteranos do garage punk australiano com punch, senso pop e cardio em dia.
Silver Shade, de Peter Murphy – o ícone gótico do Bauhaus num momento dançante e new wave. Rola até dueto com o Boy George.
LUX, de Rosalía – fado foda.
Here We Go Crazy, do Bob Mould – o power pop com guitarra cabra-macho do Mould nunca falha.
Goldstar, do Imperial Triumphant – death/black tão vanguarda que mete até uns jazz fusion.
Revival, do Coffin Break – pioneiros do grunge de Seattle retornando inteirões após um pequeno hiato de 33 anos.
The Archer, do Masters of Reality – Chris Goss menos hard/stoner e mais folk/americana. Good trip do mesmo jeito.
Ascension, do Paradise Lost – os mestres do doom e do metal gótico em estado de graça.
A Crash Course in Catastrophe, do Sevendials – supergrupo com Chris Connelly (Ministry, Revolting Cocks), Mark Gemini Thwaite (Peter Murphy, The Mission), "Big" Paul Ferguson (Killing Joke) num álbum em homenagem ao lendário guitarrista Geordie Walker, do KJ, falecido em 2023. Pós-punk porrada, bacanudo e altamente Bowiesco.
The Spin, do Messa – o doom/pós-metal do grupo italiano agora incorporando também o pós-punk.
Was I Good Enough?, do Intensive Care com The Body – pesadelo industrial experimental da pá virada.
Phantom Island, do King Gizzard & the Lizard Wizard – o KG&LW fazendo uma festinha de pop rock setentista. Hello Wisconsiiiiin!
Death Hilarious, do Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs – o doom do Pigs x7 em versão rapid fire.
Instruments, do Water Damage – coletivo de post-rock/drone/progressivo abrindo uma dimensão de bolso minimalista e intrigante.
Rivers of Nihil, do Rivers of Nihil – a musicalidade do grupo é qualquer coisa. E nunca é demais ouvir um death brabão com um sax à Kenny G.
Evil Plan, do Ukandanz – quarteto da Etiópia centrifugando metal, jazz, funk, desert blues e uma versão de "War Pigs" cheia de groove tuareg.
Black Samson, the Bastard Swordsman, do Wu-Tang Clan com Mathematics – trilha pra curtir num Opalão '74. Só me falta o Opalão '74.
Gibis do ano
* Só material inédito. Ou parte. E acabei com a regra do "apenas séries iniciadas este ano" por motivos de foda-se.
Uma hora ia. Thorgal: Série Clássica (Pipoca & Nanquim) compila as oito primeiras edições da saga do bárbaro criado por Jean Van Hamme e Grzegorz Rosinski. Um clássico dos quadrinhos franco-belgas que, pessoalmente, já havia devorado em antigas edições, arrem, importadas das portuguesas Bertrand/Futura/ASA. Metade desse material também já havia saído aqui pela VHD Diffusion, no início da década de 80. E agora finalmente o Thorgal clássico volta a ver a luz do dia em seu melhor projeto editorial. A justiça foi feita. Já não era sem tempo.
Não sei se Friday (QS) é um Ed Brubaker fora de sua caixinha ou se é ali que mora o verdadeiro menino Ed. A HQ é uma delícia de narrativa coming of age com thriller sobrenatural. E que calhou de chegar ao final da minha fila de leitura pouco antes das festas de fim de ano. Um pormenor que tem tudo a ver com a saga de Friday Fitzhugh & Lance Jones. O traço sugestivo e engenhoso do espanhol Marcos Martín (de Doutor Estranho: o Juramento) completa uma das parcerias mais inusitadas e espirituosas dos últimos tempos.
Segundo Tom King, a graphic Helen de Wyndhorn (Cia. das Letras) é "apenas um começo". Vai saber se é o ex-CIA jogando verde, mas o fato é que o universo de Helen Cole e Lilith Appleton é repleto de camadas e possibilidades. Além de ser uma história emocionante sobre família e legado. A arte cuidadosa e cheia de vida da Bilquis Evely é o coração da HQ – e Seu Thomas sabe disso. É uma das maiores artistas de sua geração. Ah, e o Matheus Lopes dá um show nas cores também. No aguardo pelo recomeço.
Em meio aos títulos do redivivo Ultiverso, tive um carinho especial pelo trabalho da Peach Momoko em Ultimate X-Men (Panini). Adoro o modo como ela precipita a carga mutante para dentro do cotidiano da adolescente Hisako Ichiki. E adoro mais ainda como ela faz isso à margem do "Método Marvel", tanto no aspecto narrativo quanto na arte – que é maravilhosa. Este 1º volume compila as edições 1 a 6 do título e o volume 2 acaba de sair.
Carniça e a Blindagem Mística, Parte Quatro: A Filha da Mulher Morta - O Fim (independente), do paraibano Shiko, conclui a maior subversão do sertão já escrita, desenhada, colorida, impressa, empacotada e vendida. Que jornada. Isso precisa ser filmado em película por alguém possuído pelo espírito vingativo do Glauber Rocha. É o Gore Sertão Veredas!
Não foi por falta de tentativa, mas eis que finalmente Cerebus dá as caras no Brasil. As Espadas de Cerebus 1 (Futuro) traz as 4 primeiras edições da cria do cartunista Dave Sim. Bem antes dos cultuados TPBs "listas telefônicas" e do autor ter pirado na batatinha misógina. Tecnicamente, esse quadrinho foi lançado via Catarse em dezembro de 2024, mas o material só chegou em minhas mãos em maio de 2025. De qualquer modo, este é realmente um gibi divertido. Tipo, muito divertido. Sua sátira ao gênero espada & feitiçaria não faz prisioneiros e sobram zoeiras em cima do Conan, da Sonja (que faz uma participação) e até do "Mago" Frank Thorne. É anárquico, impagável e, claro, também uma grande homenagem ao mythos do barbarismo. E que venham mais edições! E que se dane!
RASL (Todavia) é o Jeff Smith explorando novos caminhos após o sucesso de Bone. E buscando corajosamente, diga-se, ao se afastar do gênero da fantasia para montar um quebra-cabeças envolvendo ficção científica, thriller neo-noir, ação e referências pop. A narrativa é vertiginosa e não cansa em momento algum – e olha que é um calhamaço de quase 500 páginas. Gibizaço.
Sou fã do Goon, como você bem sabe, ó fiel leitor. Inclusive, o Eric Powell é meu amiguinho no Fêice. Então, Goon: Um Monte de Velharia - Omnibus Volume 1 (Mythos) foi deveras providencial, visto que o público brasileiro não via nada do casca-grossa desde, bem, Goon, O Casca-Grossa, de 2006. O busão de 468 páginas traz o material das antigas – dãã – compreendendo todo o conteúdo do 1º encadernado. Inclusive o crossover do Goon com o Hellboy. Preciso escrever mais?
Marshal Blueberry: Edição Definitiva (Pipoca & Nanquim) não é apenas para quem ficou se contorcendo em abstinência com a conclusão da leva anterior de encadernados. Também é uma perfeita introdução para o western hero de Jean-Michel Charlier e Jean Giraud, o Moebius – que aqui só assina os roteiros e delega a arte ao mestre William Vance (de XIII). O fino do bangue-bangue.
Em Febre Noturna (Mino), a entidade Ed Brubaker-Sean Phillips faz o que sabe melhor: se embrenhar no submundo urbano sujo e impregnado de álcool, cigarros e perfume barato como se estivesse explorando as entranhas da própria consciência humana. O clima ideal para a versão noir e delirante de O Clube da Luta que a dupla propõe aqui. Há que se elogiar o trabalho excelente do colorista Jacob Phillips, injustamente não creditado na capa. Sua palheta ousada faz toda a diferença no clima de cada página. Um Bruba-Phillips curto e eficiente para desopilar.
Gibi-bônus:
Nem sei quantas vezes reli esse crássico da incorreção política/super-heróica. A HQ foi lançada aqui pela Devir em 2003. Agora, com a inesperada republicação A Prô. (Tábula), os malandrinhos Garth Ennis, Amanda Conner, Jimmy Palmiotti e Paul Mounts garantiram seu lugar no portentoso ZdO 2025. Além da aventura original, esta edição inclui uma historinha inédita, com o singelo título "A Pu". Fofo demais.
Livro também é cultura
A Guerra dos Gibis - Edição Ampliada e Revisada (Conrad), de Gonçalo Junior, é uma daquelas Bíblias para qualquer um com o mínimo interesse pelo mercado editorial brasileiro. E nem precisa ser só de quadrinhos. Os Srs. Adolfo Aizen e Roberto Marinho levaram consigo inúmeras histórias e o autor consegue resgatar e contar muitas delas. Informativo, fascinante e por vezes surrealmente divertido, além de uma grande fonte de consultas para manter por perto. Essencial.
Já que nenhuma editora se animou em lançar o ótimo gibi oitentista do Ralph Macchio, o jeito foi ir à fonte com Solomon Kane (Pipoca & Nanquim), de Robert E. Howard. Os contos são empolgantes e bem fluídos, mostrando o perfil complexo e por vezes contraditório do herói puritano. Fora que dá para mapear exatamente de onde saíram vários dos conceitos de fantasia sombria exploradas ad nauseum em games, cinemas e streamings. Como um extra de luxo, as lindas ilustrações de Gary Gianni na capa e ao longo do livro tornam a experiência ainda mais imersiva.
O Almanaque das Curiosidades Marvel Brasil (Hyperion Comics), de Alexandre Morgado com um fantástico projeto gráfico do chapa VAM!, é um compêndio monumental da trajetória da Casa das Ideias no Brasil. O trabalho de pesquisa é abrangente, minucioso e todo organizado por décadas – cobrindo do início dos anos 1940 até... algumas horas atrás, mais ou menos. É um tomo daqueles pra ler, reler e consultar de vez em sempre. E já fico na torcida por um Almanaque das Curiosidades DC Brasil...
Filme do ano

Assisti Uma Batalha Após a Outra há um mês e até agora estou procurando o rumo de casa. A narrativa metralhada pelo Paul Thomas Anderson é exatamente o que o título promete. Sem tempo pra respirar, irmão. E ainda traz o conteúdo, a profundidade, a dimensão. Leonardo DiCaprio, Sean Penn e Teyana Taylor estão excepcionais, mas vamos combinar que o Sergio do Benicio del Toro precisa de um spin-off urgente. Que filme.
Valem a pena ver de novo:
A Hora do Mal (Weapons), de Zach Cregger.
Pecadores (Sinners), de Ryan Coogler.
A Longa Marcha (The Long Walk), de Francis Lawrence.
Extermínio: A Evolução (28 Years Later), de Danny Boyle.
Série do ano

Pluribus é sucesso de público e crítica não é pra menos. O storytelling da série de Vince Gilligan e a performance estupenda de Rhea Seehorn como a improvável protagonista Carol Sturka são muito envolventes. A sutileza sci fi, o drama e o humor negro são cuidadosamente dosados. Não é uma temporada perfeita, mas com a Seehorn não tem frame perdido. Foi uma bela diversão enquanto minhas séries do coração não retornam do Éter.
Desenho do ano

Pantheon, sem dúvida, é a série animada mais indutora de reflexões cyber-apocalípticas que já vi. Negócio nível hard, na pegada Black Mirror. Justamente porque, diferente dos robôs assassinos de Blade Runner e O Exterminador do Futuro, o apocalipse eletrônico já está aqui, com as novas gerações sendo criadas à base de smartphones e o passe livre trilionário que a I.A. está recebendo das grandes potências. A série de Craig Silverstein engloba todo este cenário, com direito a um vilão assustador à imagem e semelhança do Steve Jobs. Mas vai muito além – chega a ser "chata" em alguns momentos, por uma boa causa – e leitores de quadrinhos certamente terão epifanias na conclusão da segunda (e derradeira?) temporada. Quem lembra do segmento futurista da Phalanx em Powers of X, de Jonathan Hickman, corre um sério risco de ver seus miolos espalhados pelo chão, como este que vos rabisca. Topo da Escala Kardashev on crack.
* Esse foi dica do Sandro, que não me parecia um sujeito que curte essas viagens. Valeu, velhinho!
Gostei também:
Dandadan S1–S2
Guilty pleasure do ano
Já escrevi e repito: nunca se é velho demais para ter um hominho do ROM!

Já conhece o esquema: me lembre se esqueci alguma coisa, me informe se minhas opiniões são uma merda e encaminhe suas colaborações, correções e revelações divisoras de águas para a caixinha de comentários abaixo.
Por hoje é só, p-p-pessoal. Muita saúde e bom senso em 2026!
















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