sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Retrospec Janeiro/2020 (uau! carros voadores! máquinas do tempo! dobra espacial! SQN)


2/1¹ - A editora Maryann Brandon admite: Star Wars: A Ascensão Skywalker foi um fanservice. Mas também culpa os prazos.

2/1² - A experiente dubladora Iara Riça - a voz da Arlequina no Brasil, entre muitas outras - anuncia sua saída do ramo após ser dispensada em meio às dublagens do filme Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa. Quem pagou o pato (de rapina?) foi o dublador, diretor e youtuber Guilherme Briggs, que não tinha nada a ver com a história.

2/1³ - E começa a campanha #ReleaseTheJJCut. Yoda nos ajude.


2/14 - Se vai Shōzō Uehara, aos 82. Em cinquenta anos de carreira, o roteirista ajudou a criar as bases dos gêneros tokusatsu e sentai com seus incontáveis trabalhos - entre eles, as séries do Ultraman, Ultraseven, Kamen Rider Black e Jaspion. Lendário é pouco.

3/1 - Diz James Gunn que a Warner chegou a oferecer "um tipo de filme do Superman", mas ele preferiu o Esquadrão Suicida. Certíssimo. Ele já fez o seu Superboy e muito bem...

4/1¹ - Parece que o filme dos Novos Mutantes sairá com o corte original do diretor Josh Boone, sem refilmagens. Soa como se quisessem encerrar a questão sem gastar 1 tostão, mas o Bill Sienkiewicz curtiu tanto que deixa pra lá.

4/1² - Terry Gilliam está cansado de culparem os homens brancos por tudo de errado no mundo, questiona o movimento #MeToo e relativiza o caso Harvey Weinstein. Terry Gilliam, Terry Gilliam...

4/1³ - As paredes da realidade que se cuidem: Shazam #13 trará o retorno do Superboy Primordial!

Morreu neste fim de semana Eduardo de Souza Bonadia, co-fundador da Rock Brigade. Um guerreiro que se vai, mas seu...
Publicado por Rock Brigade Magazine em Segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

5/1¹ - Se vai Eduardo de Souza Bonadia, co-fundador da pioneira revista Rock Brigade e, posteriormente, da Strike Rock Magazine. Bonadia lutava contra um câncer no pâncreas desde o final de 2018.

5/1² - Como esperado, Ricky Gervais no Globo de Ouro atropela, dá a volta e atropela de novo o ego das celebridades hollywoodianas. Dizem que será a última vez. Só nos resta aproveitar os últimos suspiros da iconoclastia made in Britain. Deliciosamente sem dó. Aconselhável assistir com o Google aberto (até tu, William H. Macy...).

5/1³ - Joaquin Phoenix leva o Globo de Ouro de Melhor Ator por Coringa e no discurso manda: "There's no fucking best actor", entre outras deselegâncias. Esse é o fuckin' Joker.

5/14 - Hildur Guðnadóttir (pronuncia-se "Guth-nah-door-tier") leva o Globo de Ouro de Melhor Trilha Original por Coringa. Assim, a compositora islandesa, que ganhou um Emmy por sua trilha em Chernobyl, se torna a 1ª ganhadora solo na história do prêmio. Kudos, Guðnadóttir!

5/15 - Segundo Kyle Buchanan (The New York Times), Taika Waititi revelou que sabe o verdadeiro nome do Baby Yoda, mas que vai esperar até Jon Favreau abrir o jogo. Será que vem pegadinha aí?


6/1¹ - Os Velhos Mutant... digo, Os Novos Mutantes ganha um novo trailer! Será bom para os atores recordarem da sua juventude.

6/1² - Colin Farrell é o Pinguim em The Batman. Nossa, tudo a ver.

8/1 - A Justiça do Rio determina a retirada do ar de A Primeira Tentação de Cristo, o especial de Natal do Porta dos Fundos pela Netflix.

9/1¹ - O presidente do STF Dias Toffoli libera a Porta dos Fundos. A exibição do especial de Natal, que fique claro.


9/1² - Scott Derrickson deixa a direção de Doutor Estranho: No Multiverso da Loucura. Essa nem o Olho de Agamotto viu chegando.

10/1¹ - Joaquin Phoenix vai em cana após protestar contra as mudanças climáticas no grupo organizado pela Jane Fonda (essa mocinha está dando trabalho...). Sacanagem, prenderam o Jóker, o Bobo, o Palhaço...


10/1² - This one hurts... Se vai Neil Ellwood Peart, aos 67. Ao longo de 50 anos de carreira (45 destes no Rush), o escritor, letrista e baterista canadense se estabeleceu como um dos mais técnicos, criativos e respeitados artistas do rock. Prolífico, mas reservado e avesso a entrevistas e aparições na mídia em geral. Pra mim, um dos grandes letristas e, sem dúvida, o maior baterista da História. Uma das únicas razões para me arrastar 518 km da minha caverna até o Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã.


Não apenas antológico, mas a melhor coisa que já fiz pra mim nesta vida.

Tive a honra de ver The Professor ensinando a viver num palco - e também a viver fora dele.


...again, thank you very much, Neil Peart.

10/1³ - Sienkiewiczes me mordam: Os Novos Mutantes também é parte do UCM.

10/14 - Ozzy Osbourne e Elton John lançam o single "Ordinary Man". O dueto estará no álbum homônimo do Madman, programado para 21 de fevereiro.

Canadian Prime Minister JUSTIN TRUDEAU Pays Tribute To NEIL PEART: 'We've Lost A Legend' https://www.blabbermouth.net/news/canadian-prime-minister-justin-trudeau-pays-tribute-to-neil-peart-weve-lost-a-legend/
Publicado por Blabbermouth.net (Official) em Sábado, 11 de janeiro de 2020

11/1 - O Primeiro Ministro canadense Justin Trudeau faz uma homenagem a Neil Peart em sua conta oficial. Meu Deus, quanta diferença...


13/1² - Sai o curioso trailer de Morbius. O roteiro escrito a 8 mãos parece evitar o vampirismo clássico e aborda mais os aspectos de suspense sci fi do mórbido personagem. E Jared Leto continua na correria. O trailer também se equilibra na finíssima linha que separa os universos do copyright com a aparição, no final, de um certo morcego... ou melhor, de um certo abutre.

13/1³ - Democracia em Vertigem está entre os indicados ao Oscar de Melhor Documentário. Malditos comunistas americ... ops.

13/14 - Cinco anos após o trágico atentado terrorista à sede do Charlie Hebdo, a lápide do cartunista Wolinski é aparentemente vandalizada.


13/15 - Sai o 2º trailer de Viúva Negra. Mais saltos impossíveis, desafios às leis da gravidade e lutas fofinhas, mesmo com a presença do Treinador. Mas o Guardião Vermelho me representa!

14/1¹ - Em 1995, quando a plateia saiu em silêncio ao fim da sessão de Se7en, Brad Pitt perguntou a David Fincher o que havia acontecido. O nome disso é PTSD, Brad.


14/1² - Zack Snyder joga uma tora na fogueira #ReleaseTheSnyderCut e revela uma cena preliminar com Uxas em uma batalha na Terra. Pra mim, a presença do Darkseid não melhoraria Liga da Justiça, mas pioraria a própria percepção pública do vilão. Fora que está bem descaracterizado. Parece mais o En Sabah Nur em seus tempos de Antigo Egito.

“Informamos que a remessa 7105955231 retornou, pois o conteúdo enviado não é permitido para transporte via DHL Express”....
Publicado por Editora Veneta em Quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

15/1¹ - Segundo a Veneta, a DHL Express se recusa a transportar A Louca do Sagrado Coração, de Moebius e Alejandro Jodorowsky, mas transporta a Idade das Trevas ida e volta sem custos.


15/1² - Own, os The Flashs Grant Gustin e Ezra Miller confraternizam na reta final de Crise nas Infinitas Terras. E o The Flash Kenny Johnston, nada?

16/1¹ - A Mulher-Gato está completando 80 anos (com corpinho de 20). E vai ganhar presente com Catwoman 80th Anniversary 100-Page Super Spectacular, previsto para abril.

16/1² - Em nota à Folha, a DHL admite que houve "erro de avaliação" na recusa do transporte das cópias de A Louca do Sagrado Coração, de Moebius e Alejandro Jodorowsky. A editora Veneta, por sua vez, informa que seu diretor levará pessoalmente os exemplares até a Les Humanoïds Associés, na França. E tudo isso só por causa de uns moranguinhos... Bon voyage!

16/1³ - Opa, a sequência do tenso O Homem nas Trevas (Don't Breathe, 2016) está a caminho. Não foi divulgado se a gracinha Jane Levy retorna, mas será uma grande bola fora se não.


16/14 - Se vai Christopher John Reuel Tolkien, aos 95. Editor, escritor e ilustrador, Tolkien realizou a árdua tarefa de organizar, editar e publicar os escritos inacabados de seu pai, J.R.R. Tolkien - entre eles, o famoso O Silmarilion. Sem dúvida, o trabalho de uma vida. E certamente bem mais complicado do que atravessar a Terra Média a pé.

17/1¹ - Oscar Isaac irá produzir e estrelar The Great Machine, adaptação da ótima HQ Ex Machina, de Brian K. Vaughan. Seu papel será, claro, de Mitchell Hundred. Curiosamente, Isaac já tem um Ex Machina no currículo - uma excelente ficção-científica de 2014 que ele co-protagoniza ao lado de Domhnall Gleeson e Alicia Vikander.

17/1² - Todas as ilustrações do mestre Sergio Toppi serão lançadas em dois volumes gigantescos! Jesus Todo Poderoso!


17/1³ - Karen Gillan se candidata para dirigir e estrelar um filme da Batgirl. Eu assistiria e adoraria, mesmo se fosse ruim.







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17/14 - Dave Mustaine de volta ao jogo!

17/15 - "A vida passa rápido demais. E se você não curtir de vez em quando, a vida passa e você nem vê." - um patrocínio do Trent Reznor's Day Off.


17/16 - Whoa! A Disney extermina o nome Fox. Não estão nem aí para o peso histórico, a iconografia clássica, etc.

20/1 - Hugo Weaving revela por que não irá reprisar o Agente Smith no novo Matrix: conflitos entre as agendas e a pressa da diretora Lana Wachowski. Ele também esclarece por que não interpretou o Caveira Vermelha nos filmes dos Vingadores: a Marvel reduziu o cachê do australiano. E eu achando que era algum código de ética pessoal ou algo do tipo.

21/1¹ - Direto do túnel do tempo, Dan Fraga (lembra dele?) resgata sua HQ Black Flag, com todos os trambolhos bélicos noventistas que arrancariam suor de macho dos olhos do Cable.


21/1² - Se vai Terry Jones, aos 77. Escritor, historiador, poeta, ator, diretor e membro fundador do Monty Python. Foi ele quem dirigiu alguns dos melhores longas do grupo britânico (Em Busca do Cálice Sagrado e A Vida de Brian) e o melhor filme do MP que não era do MP (Erik, o Viking). Em suma, um gênio. Mas sempre vou lembrar dele como a neurótica mãe do Messias.

21/1³ - Ozzy Osbourne é diagnosticado com doença de Parkinson. A notícia da confirmação só vem agora, mas quem acompanhou a carreira do Ozzy nos últimos anos já tinha notado alguma coisa...


21/14 - John Walker/Agente Americano (Wyatt Russell) dá tchauzinho no set de Falcão e o Soldado Invernal. Uma pena mesmo que aquele rematch clássico nunca irá rolar... Tá na minha lista das melhores porradarias HQzísticas.

22/1¹ - O baterista Joey Kramer é barrado de um ensaio do Aerosmith. Isso me lembra do quanto grupos de rock podem ser cuzões. Sem dúvida, um dos capítulos mais vexatórios e tristes que já vi. Ainda bem que o TMZ não existia na época do Syd Barrett.


22/1² - A obra-prima franco-belga Thorgal, de Jean Van Hamme e Grzegorz Rosinki, está saindo numa coleção espetacular pela Planeta DeAgostini... lá na Espanha. Rezando aos deuses do Velho Mundo para que saia aqui também. E começando a juntar os trocados para o caso deles atenderem...

22/1³ - O editor Dorival Lopes anuncia o fim das assinaturas da Mythos. Motivos: o excesso de reclamação dos assinantes e as ótimas vendas do final de ano que atrapalharam o bom andamento dos trabalhos. E eu nem bebi nada ainda, juro.

23/1¹ - ISBNews: DC Deluxe - Lanterna Verde: Renascimento, DC Deluxe - Flash: Renascimento, Coringa: Um Sorriso de Matar Vol. 1.

23/1² - Dante Mantovani, diretor da Funarte nomeado pelo ex-Secretário da Cultura Roberto Alvim (sig heil!), proibiu o rock no edital do Prêmio de Apoio a Bandas de Música 2020. Pra ele, "rock ativa as drogas, que ativam o sexo livre, que ativa a indústria do aborto, que ativa o satanismo". Arkham perde.

23/1³ - Na onda da "nova" política toma-lá-dá-cá, On the Stump, novo título da Image Comics, chega com os dois pés no peito. Na trama de Chuck Brown com traço do italiano Prenzy, as eleições presidenciais americanas são decididas na porrada! Ou seja, a maioria dos mandatários reais não teria a menor chance (muito menos nosso valentão de estimação). Lançamento previsto para 19 de fevereiro nas melhores zonas eleitorais da cidade.

23/14 - A Disney+ e a Lucasfilm suspendem a produção da série Obi-Wan. O plot central, com o mestre jedi tutorando os jovens Luke e Leia (cuma?!), lembrava muito The Mandalorian. Será tudo refeito com um novo script. Ewan McGregor e a diretora Deborah Chow seguem ligados ao projeto. Bem que senti um grande distúrbio na Força, como se dezenas de ghost writers gritassem de terror e subitamente silenciassem...


24/1¹ - Zé Ruela achou que não seria descoberto e apresentou Tom King à babaquice nerdística brasileira em toda a sua glória. A brigada anti-incêndio precisou trabalhar rápido.

24/1² - A coisa já andava esquisita, mas agora é oficial: as séries Howard the Duck e Tigra & Dazzler que a Marvel produziria para o Hulu foram definitivamente pro saco.

25/1 - Pelo posterzão de Os Novos Mutantes o terror vai comer solto pros mutuninhas.

Breaking news: Los Angeles Lakers legend Kobe Bryant died in a helicopter crash in California on Sunday, according to two people with knowledge of the situation.
Publicado por Washington Post em Domingo, 26 de janeiro de 2020

26/1¹ - Se vai Kobe Bryant, aos 41. Uma lenda do basquete - e do esporte, como um todo.


26/1² - Se vai José Antônio de Freitas Mucci, o Tunai, aos 69. O cantor e compositor (e irmão de João Bosco) foi gravado por Elis Regina, Fafá de Belém, Gal Costa e Ney Matogrosso, entre outros. Mas nada se comparou ao sucesso nos anos 80, da noite pro dia, com o estrondoso hit "Frisson".

27/1¹ - Masters of the Universe é removido da grade de lançamentos da Sony. Anteriormente, a produção iria estrear em 5 de março de 2021 e agora, só Granamyr sabe. Tá difícil sair um filme do He-Man, hein?

27/1² - Hoje Frank Miller completa 63 primaveras. Posso dizer que meu 1º contato com seu trabalho foi inesquecível - até porquê o revisito sazonalmente. E ainda é uma porrada.

27/1³ - The Thing - o nosso O Enigma de Outro Mundo - vai ganhar um novo filme. A diferença é que será baseado na novela Frozen Hell - a versão integral do conto Who Goes There?, de John W. Campbell, descoberta apenas em 2018. Produção da Blumhouse com a Universal Studios.


28/1¹ - Sai o trailer de Mortal Kombat Legends: Scorpion's Revenge. A prévia não tem um pingo de sangue, mas o longa é classificação R. E o diretor é o Ethan Spaulding, que fez 12 episódios do clássico Avatar: A Lenda de Aang, além do divertido Batman: Assalto em Arkham. Lançamento na primavera de 2020, que começa +/- em 20 de março - outono pra os Blankas daqui.

28/1² - They're NOT too old for this shit: o produtor Dan Lin anuncia a reunião de Richard Donner, Mel Gibson e Danny Glover para Máquina Mortífera 5. Preciso tirar a poeira do meu sax.

28/1³ - Em março tem Asterix pela Panini. Já tomaram a poção da superpaciência?


28/14 - Negócio tão bom quanto dar lance em uma lasca da Cruz. Agora dá licença, que eu vou ali trair o movimento punk, véio, e já volto.

WE ARE IN BRAZIL! Sobre esta cabeça feita e cheia de restos as Pussy Riots cantam e dançam. Nós somos Pussy Riots....
Publicado por PussyRiot em Terça-feira, 28 de janeiro de 2020

28/15 - A banda punk moscovita Pussy Riot divulga um lindo pôster da apresentação em São Paulo. Beijos nas pussies!

28/16 - A IDW fechou 2019 mal das pernas. Mesmo as parcerias com a Netflix geraram prejuízos que ainda irão se refletir em 2020. Ironicamente, a esperança reside em mais uma parceria com a... Netflix.

28/17 - Red 11 é o terror sci-fi de superbaixo orçamento de Robert Rodriguez: custou apenas 7 mil dólares - R$ 29.960 no câmbio de hoje. Isso sim é filme de terror.

29/1 - A atriz, ruralista e conservadora Regina Duarte é a nova secretária da Cultura. Não sei se cerco ou jogo uma lona por cima.

30/1 - E viva o Dia do Quadrinho Nacional! Hip, hip... ...?

31/1 - Regina Duarte pretende demitir Dante Mantovani, atual presidente da Funarte. Lindo. Só espero que não coloque algum sertanejo no lugar.

domingo, 19 de janeiro de 2020

Zombie de Ouro 2019


Zombies de Ouro sempre me dão perspectivas. Nesse Zombie de Ouro 2019 não foi diferente. Aquele plano que mencionei na edição anterior? Precisa de ajustes. E ainda bem que o foco aqui é música, quadrinhos e cultura pop em geral, senão já teria largado tudo e me pirulitado para o deserto. Terminar meus dias fumando nargilé e mandando "Africa" no bongô com os tuaregues - ou, na pior das hipóteses, com as caixinhas de som que instalaram lá.

No início do ano, pensei em agitar o blog com uma retrospectiva em suaves prestações - o nosso Retrospec de todo final de mês. Pra ajudar, me inscrevi num punhado de grupos brasileiros sobre HQs (Facebook, principalmente), inclusive alguns de canais do YouTube bem conhecidos. E dá-lhe infos, furos exclusivos, papos bacanas sobre gibis... só que não. O que vi foi um desfile de racismo, homofobia, misoginia e fanatismo político de embrulhar o estômago. Não aguentei uma semana.

De 30 grupos, mantive apenas 3. E após lapidar com uns blocks ainda. Block is beautiful.

Após os percalços iniciais, fui me acertando. No final, até curti o resultado. Foi realmente divertido fazer o Retrospec 2019 - que pode ser recapitulado ao toque de doze cliques:


Ah, esperei 1 ano por esse momento. Que payoff, hm?

Então, naquele mesmo cenário de terra arrasada - e queimada - com a arte sendo o bálsamo para os sentidos...




...assembled?


Discos que mais ouvi


Em geral, álbuns póstumos são caça-níqueis armados por ex-empresários, gravadoras ou herdeiros sem grandes preocupações com coesão discográfica ou integridade artística. You're the Man, de Marvin Gaye, é uma justa, porém ambígua, exceção. O próprio Príncipe do Soul embargou a obra depois de finalizada, em 1972. Motivos: a baixa receptividade do single homônimo e, por incrível que pareça, suas divergências políticas com Berry Gordy, produtor e fundador da Motown - a mesma história que se repete até hoje e que deixa como maiores vítimas as relações humanas, a educação e a arte. E que arte. Em plena fase What's Going On, Gaye podia tudo. Era um merchant de preciosidades soul, funk e r&b com arranjos matadores e uma pegada pop irresistível. Finalmente liberado após quase 50 anos, dá um baile em qualquer artista pop das paradas das 100+. E, para ele, era só mais um dia no escritório...





O selo brit indie Cherry Red Records tem feito um trabalho de resgate histórico de cair o queixo. Um dos melhores é este All the Young Droogs: 60 Juvenile Delinquent Wrecks, uma compilação de pérolas ultraobscuras do glam e do garage rock setentista. Tem um pouco de tudo: dos míticos The Stooges e Mott the Hoople a Taste (banda do Rory Gallagher pré-Rory Gallagher) e a Bowie band The Spiders from Mars até o australiano Supernaut e o escocês Bilbo Baggins (!). Ao todo, o box traz 60 balaços de pura e desaforada deliquência glam/garageira. Um must.





Ouvir o debut solo da cantora e compositora Rosalie Cunningham (ex-Purson) é embarcar numa viagem pelos 60's em toda a sua efervescência folk, psicodélica e occult rocker. Os resquícios stoner da antiga banda e os valores de produção reforçam a atmosfera vintage, com violinos e teclados deliciosos fazendo a cobertura para a estonteante voz de Rosalie. Um doce paradoxo temporal/musical.





Admito que nunca fui muito chegado ao Darkthrone. Old Star é a melhor coisa que já ouvi da instituição black metal norueguesa, há tempos resumida ao duo Gylve Fenris "Fenriz" Nagell e Ted "Nocturno Oculto" Skyellum. A dupla incorporou elementos de heavy tradicional, doom até uns riffs hard rock em meio à podreira from hell. Chega a lembrar uma foda profana entre Candlemass, Celtic Frost e AC/DC (!). Fãs xiitas da fase A Blaze in the Northern Sky (1992) provavelmente ainda estão torcendo seus narizes blasfemos. Que vão para o inferno! - o que, pra eles, deve ser como um desejo de boas férias.


(qualquer semelhança com o riff de "Let Me Put My Love Into You" é mera malandragem mesmo)




Direto de Ulaanbaatar, capital da Mongólia, vem o surpreendente quarteto The HU (termo do idioma mongol ancestral para "humano"). Em seu álbum de estreia, The Gereg, o grupo concebe uma transcendência do folk metal ocidental, mas sem guitarras ou violões no estúdio: é tudo na base do morin khuur, berimbau de boca, tsuur e outros instrumentos tradicionais de tribos mongóis. Enquanto os vocalzões basso profondo quase flertam com o gutural death metal, as harmonias remetem a um bluesão com grunhidos repletos de feeling estradeiro. Ouvir isso por uma Route 66 da vida deve ser uma maravilha.





We Get By é 14º álbum de estúdio da icônica soul woman Mavis Staples. Até que não foram tantos, se pensar que o 1º saiu num longínquo 1969. O disco foi inteiramente produzido e composto por Ben Harper e é provavelmente a melhor coisa que ele já fez na vida. Não é apenas um registro, é um momento. E dos memoráveis. Mavis ainda canta uma barbaridade e passeia pelo blues, pelo soul e pelo gospel como se fosse brincadeira de criança. As canções são diretas, orgânicas e com mensagens poderosas, mesmo delicadas. Fácil, um dos melhores lançamentos do ano.

...e caso alguém esteja se perguntando, a (revoltante) foto da capa é mesmo de uma situação verídica.





Alice Cooper é o cara. Uma baita discografia com uma renca de clássicos, incríveis parcerias multimídia, turnês desbravadoras (o 1º rockstar a se arriscar no matagal de atraso que era o Brasil de 1974), uma carreira produtiva e ininterrupta desde 1964. E ainda teima em lançar registros bacanudos como esse Breadcrumbs. O EP traz seis faixas back to the basics em tributo a Detroit, sua adorada terrinha natal. São três sons novos invocando os dias de garagem e mais três covers de heróis da Cidade dos Motores: Suzi Quatro, Mitch Ryder & the Detroit Wheels num medley com The Dirtbombs e o incendiário MC5. Bolachinha matadora.





Fosse menos carne de pescoço, o carioca Gustavo de Almeida Ribeiro, o Black Alien, seria hoje um dos artistas mais endinheirados do Brasil. Com talento raro, o Alien alia conteúdo com uma notável versatilidade, capaz de dialogar tanto com o rap, quanto rock, reggae e por aí vai. Um pouco disso se deve ao passado no Planet Hemp, onde já se destacava dos companheiros BNegão e Marcelo D2 com uma absurda quantidade de referências por verso quadrado. Abaixo de Zero: Hello Hell é um disco melhor que os anteriores (os herméticos Babylon by Gus vols. 1 e 2) e finalmente coloca em dia o senso pop com suas zilhares de trucagens verbais e rimas obessivo-compulsivas. Catarse com groove.





O combinado punk angeleno The Flesh Eaters iniciou as atividades em 1977. Entre términos e voltas, a classe de '99 vem se mantendo firme e forte. E a despeito dos parcos lançamentos de lá pra cá (míseros 3 discos), nunca parou de excursionar, o que explica a foderosidade de I Used to Be Pretty (título sensacional). O som atual é uma mescla saborosa de blues, punk e jazz rockabillístico - pra ficar mais fácil: pensa numa jam de Cramps e Tom Waits tentando tocar o Exile on Main St. De quebra, ainda tem versões para "The Green Manalishi" (Fleetwood Mac), "Cinderella" (The Sonics) e "She's Like Heroin to Me" (The Gun Club). Não tinha como dar errado.





Laylet el Booree, do Ifriqiyya Electrique, é o álbum que mais me impressionou no ano passado. E um dos que mais me impressionaram em todos os anos anteriores até 1977. O grupo é do sul da Tunísia e de lá emite uma sonoridade abrasiva mixando a música banga tradicional (usada em rituais de adorcismo, em que se convida demônios ao invés de exorcizá-los, puta papo estranho), tambores afrobeat, desert rock, tecno, pós-punk e industrial. A colisão de todos esses gêneros é a tempestade perfeita: um assalto rítmico extremamente pesado, denso, místico e (sobre)carregado de informações. Intenso e transcendente. Discaço.



Ps: menção especial para a faixa "Moola Nefta" (um samba trance industrial apocalíptico?). Poucas vezes ouvi algo tão grandioso e "aldeia global" quanto ela. Merecia um lugar naquela Voyager junto com os outros apetrechos que representam a raça humana.




Reclusa e sem gravar um álbum inteiro há mais de 10 anos, Beth Gibbons finalmente ressurge... com a Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional Polonesa regida pelo maestro Krzysztof Penderecki. O disco faz uma homenagem ao consagrado compositor polonês Henryk Gorecki com a execução de sua "Symphony No. 3" - também conhecida como "Symphony of Sorrowful Songs" (órfãos do Portishead, contentai-vos). Mesmo não passando nem perto da soprano clássica idealizada, Gibbons faz parecer que a peça nasceu pra ela e vice-versa. E a canta em polonês, o que rendeu elogios de Penderecki. É belíssima. E onírica, atmosférica, reflexiva. E sim, melancólica. Yes!





No filão de resgates nos porões obscuros do rock, o selo californiano RidingEasy Records tem marcado uns golaços. Curado por Daniel Hall (da RidingEasy) e Lance Barresi (Permanent Records), Brown Acid: The Eighth Trip é um fabuloso compilado de gemas protometal do final da década de 1960 até o início da década de 1970. Uma verdadeira festa stoner, stoned. A série está na oitava edição (óbvio) e recomendo vivamente correr atrás de todas...





Um dos criadores do crossover thrash/groove metal, o Exhorder ficou conhecido como o primo pobre do Pantera. Irmão pobre, na verdade, dada a incrível similaridade entre a música das duas bandas. Da mesma forma que Cowboys from Hell (1990) do quarteto texano, o disco Slaughter in the Vatican (1990) é um clássico da agressão musical. E até hoje se discute quem era o ovo e quem era a galinha - apesar do próprio Phil Anselmo já ter admitido a influência do grupo da Louisiana. 29 anos e várias formações depois, Mourn the Southern Skies coloca o Exhorder novamente na ordem do dia com um thrash brutal, moderno e groovy na medida. Pedrada!





Em 2010, a Internet pirou quando vazaram vídeos de Prince ensaiando num porão em 1984. Era O Artista, tão famoso por seu perfeccionismo obsessivo, num raro momento de - vá lá - intimidade, sem holofotes ou big produções. Só genialidade pura, nua e crua. A alegria durou pouco: em menos de uma semana, os advogados da Alteza de Minneapolis varreram tudo do mapa. Então, ele certamente acharia um tremendo mau gosto o lançamento deste Originals. O disco - um caça-níqueis descarado - compila as versões demo de canções que Prince escreveu e deu para outros artistas. Não faltam os hits "Nothing Compares 2 U", "Love... Thy Will Be Done" e "Manic Monday", mas o ouro mesmo são as preciosidades pop/funk dadas de bandeja para The Time, Sheila E., Apollonia 6 e outros sortudos. Desculpa aí, Prince, mas isso aqui é bom demais.





O título de "Hendrix do Deserto" anda disputado. Mdou Moctar é do Níger e foi um dos precursores na fusão da música tradicional tuareg com guitarra distorcida, synths e outros equipamentos modernos. Até chegar lá, foi dureza, mas chegou, assim que chegaram nele. O excelente Ilana (The Creator) já é o quinto álbum do rapaz (34 anos) e seu discreto arraso na guitarra o coloca no nível de outro notório guitar tuareg hero. Senão acima...





Só fui conhecer o Big Business agora (a banda, não o way of life), mas The Beast You Are já é o seu sexto disco, fora a carreirada de EPs e singles. O duo de Seattle é formado pelos figuras Jared Warren (baixo, vocais e sintetizador) e Cody Willis (bateria e backings), ou seja, uma ex-cozinha do Melvins. Além disso, também excursionaram com o Torche. Acaba que o som tem um pé e meio no stoner-sludge esporrento daquela seara. O diferencial é a influência bem inserida do Led Zeppelin orientalzão, fase Bombaim. Grande negócio.





O selo Grapefruit Records é outro que tem feito um trabalho arqueológico sensacional. Um de seus lançamentos recentes é este fabuloso I'm a Freak 2 Baby: A Further Journey Through the British Heavy Psych and Hard Rock Underground Scene 1968-73, 2ª parte de um projeto que chafurda os primórdios da cena pesada britânica (duh!). O álbum triplo resgata obscuridades maravilhosas, como Orang-Utan, The Rats (com o Mick Ronson), Sam Gopal (com o jovem Lemmy na guitarra e vocais!), The Move (a banda pré-ELO) e Stray (que já foi coverizado pelo Iron Maiden), mas também traz uma ou outra figurinha mais conhecida (Budgie, Jeff Beck, Atomic Rooster, The Crazy World of Arthur Brown). E ouvir uma cover de "Paranoid" que soa ainda mais velhusca que a original não tem preço.





Low profile, só agora Michael Kiwanuka chega ao 3º disco, intitulado simplesmente KIWANUKA (e precisa mais?). Além do soul/r&b rebuscado dos discos anteriores, a pegada agora traz um sabor indie rock com boas doses de psicodelia. A produção (de Danger Mouse) é certeira nesse encontro de grooves viscerais com águas calmas e curativas. Mais uma vez, um disco irretocável.





Finalmente o Tool saiu da sala de parto do estúdio com seu aguardadíssimo novo álbum, Fear Inoculum. Foram longos 13 anos desde o bem-sucedido 10,000 Days (que os induziu ao ZdO 2006, veja só) - um delay que rendeu até imbecis ameaças de morte ao cantor Maynard James Keenan por sua suposta culpa no atraso da produção. O único real problema de Fear Inoculum é soar mais "normal" e menos impactante que 10,000 Days. Resultado, talvez, do timing há muito perdido pela banda. De qualquer forma, seu post-metal progressivo se mantém afiado e imersivo como sempre. O disco é muito bom, mas, parafraseando o próprio Keenan, teria sido fantástico há oito anos.





Lá pelos idos de 87/89/92, The Young Gods era o melhor e mais bem guardado segredo do universo musical. Não era só comigo: a crítica pirava com os suíços avant-garde. Daí que após 34 anos de discos, shows e paradigmas quebrados, aquele tal "risco", há tempos, inexiste. Data Mirage Tangram soa como um encontro entre as facetas post-industrial e ambient do grupo (antes era cada qual no seu canto). E com uma falta de urgência desconcertante. Os Jovens Deuses viraram Deuses Tiozões, mas me ajudaram a sair do ar várias vezes no ano que passou. A bença, Franz Treichler & Cesare Pizzi.





Nos últimos anos tenho consumido desert blues como louco. Belezinhas exóticas e áridas como Mdou Moctar, Bombino, Imarhan, Bassekou Kouyate & Ngoni Ba e outros não saem mais da minha playlist. E em 2019 também fiquei encantado pela bela cantora e percussionista saarauí (do Saara Ocidental) Aziza Brahim. Sua voz doce e evocativa faz do álbum Sahari uma das experiências mais agradáveis e intimistas que ouvi no ano passado. Assim como alude a capa, a beleza também pode surgir dos lugares mais improváveis - e das condições mais difíceis.





Após oito anos, o Rival Sons saiu da Earache e o magnífico Feral Roots é o primeiro álbum pela grandona Elektra. Nem grana no bolso estraga os caras. Rival Sons não faz disco ruim. Próximo!





O Black Pumas foi criado em 2017 pelo excelente cantor Eric Burton e pelo guitarrista e produtor Adrian Quesada. Especialidade: funk e r&b urbano... direto de Austin, Texas. Neste debut homônimo, o duo mostra um know-how de veteranos com grooves e climas que remetem a uma jukebox soul das décadas de 1960 e 1970. Contagiante do início ao fim.





Weyes Blood é a cantora, compositora e multi-instrumentista californiana Natalie Laura Mering. Titanic Rising é seu 4º álbum (o primeiro pela Sub Pop, que todos conhecemos de outros carnavais) e foi bastante incensado pela crítica. Merecido. O álbum é uma pintura de chamber pop - ou até baroque pop, pra ficar num terreno mais údigrúdi. Com voz terna e enigmática, imensa sensibilidade melódica e arranjos ultraperfeccionistas, a música de Natalie tem ecos de Joni Mitchell e, especialmente, dos Carpenters, mas com uma pulsação toda particular. E essa capa é um negócio insano...





O King Gizzard & The Lizard Wizard conseguiu uma façanha: fundir stoner rock com thrash metal. Geralmente, quando alguém tenta, acaba resvalando pro doom ou pro sludge. Mas em Infest the Rats' Nest, o sexteto australiano executa a arriscada fusão com sucesso. Fica até engraçado às vezes, relando na fuleiragem. E ainda tem doses maciças de space rock, progressivo e psicodelia. Mas as pancadas thrash é que pagam a fatura.





Realmente, não há outro como There Is No Other. O collab da fantástica musicista americana Rhiannon Giddens com o jazzista e multi-instrumentista italiano Francesco Turrisi resultou numa obra maestra, grandiosa e, ainda assim, sublime e intimista. É uma jornada de rara beleza pelo coração interiorano da América, do Mediterrâneo e da África Ocidental. A sonoridade evoca uma volta às raízes e até mesmo uma declaração nativista. Mais: prova, pela enésima vez, que feeling e virtuosismo não só podem andar juntos, como se completam. Um registro memorável. E ainda tem a contribuição do nosso Hermeto Pascoal no arrasta-pé "Brigg's Forró".





Surreal como o Torche só melhora. Mesmo com alterações na escalação - sai o guitarrista Andrew Elstner, entra o baixista Eric Hernandez e Jonathan Nuñez troca o baixo pela guitarra - o grupo consegue produzir este colosso de álbum que é Admission. Seu crossover magmático de post-rock, metal, stoner e sludge é de estourar os tímpanos, mas sem perder a ternura. Jamais. Sério candidato ao Top 5 do ano passado.





Jobcentre Rejects: Ultra Rare NWOBHM 1978-1982 é um catadão fora de série lançado pela On the Dole Records. A bolacha é realmente composta de obscuridades die hard da New Wave of British Heavy Metal: nada de futuros craques como Diamond Head ou Iron Maiden (ou o Blitzkrieg e o Def Leppard das camisetas da capa) e, por isso mesmo, é divertido demais. Alguns sons nem mesmo são heavy metal, e sim uns hard/boogie à Status Quo/Cactus/Foghat. Esse é pra ouvir com o volume no talo e detonar aquelas Heineken que estão trincando na geladeira...



Menções honrosas/quase lá:

Moral Instruction, de Falz - rapper nigeriano com um blend bem sacado de afrobeat e hip hop.
The Furnaces of Palingenesia, do Deathspell Omega - black metal francês complexo, dissonante, caótico e foda.
Destroyer, do Black Mountain - space rock e stoner com uma pitada extra de space.
Zuu, de Denzel Curry - o melhor rappeiro americano da atualidade.
The Heretics, do Rotting Christ - 13º disco do Cristo Apodrecendo. Espero que não me taquem coquetéis molotov.
Quocumque jeceris stabit, do Uzeda - math/noise rock siciliano encontrado e produzido por Steve Albini.
Revelations of Oblivion, Possessed - retorno em grande forma dos avôs do death metal.
Free, de Iggy Pop - o Iguana anda soando meio deprê, mas segue como vinho.
Something Wicked Marches In, do Vltimas - supergrupo death (David Vincent + uns Mayhem e Cryptopsy) elegantemente martelando 666 na zoreia.
Somebody's Knocking, de Mark Lanegan - acredite se quiser, Lanegan agora soa como o New Order das antigas.



Faixa bônus: melhor show do Rock in Rio 2019

Teria sido um festivalzão, fosse uma única data com os highlights...

Como sempre, Sepultura, Nervosa, Anthrax e Slayer fizeram shows raçudos, violentos e divertidíssimos.

Nile Rodgers & Chic é coisa fina: foi um privilégio testemunhar os hits, a musicalidade e a experiência do homem, dos excepcionais músicos e das maravilhosas cantoras que o acompanham. Showzaço, mesmo enfrentando falhas no som.

King Crimson... ainda estou me beliscando para acreditar que Robert Fripp, Tony Levin, Bill Rieflin & Cia. estiveram por lá. Tão bom quanto surreal.

Mas é festival e leva quem melhor interage e rege a massa de centenas de milhares de pessoas. E nisso, Iron Maiden e Pink foram brilhantes.


O Maiden, com uma mis-en-scène mais carregada que o habitual, enfileirando clássicos atrás de clássicos (finalmente "Revelations"!) e, o principal, o grande Bruce Dickinson ressurgindo heroicamente e se adaptando com coração e inteligência à sua nova realidade vocal.

Já a carismática Alecia Beth "P!nk" Moore Hart deu uma aula de entretenimento pop: dança e canta muito (e sem playback), tem total domínio de cena, ótimos músicos, arrisca o pescoço em acrobacias suicidas (ela "voa" pela Cidade do Rock!), traz mensagens relevantes e corajosas, enfim, promove um espetáculo ipsis litteris - e olha nem sou familiarizado com o repertório da artista.

Dois gigantes em suas áreas.

Empate técnico. Vence a Dama Rosa.



Sessão de cinema do ano


A esta altura, o que ainda poderia ser escrito sobre Vingadores: Ultimato? Apenas me reservo a comparar a apoteótica sessão à estreia inesquecível de O Exterminador do Futuro 2: um cinema lotado e insandecido que parecia uma final de campeonato num estádio de futebol. Torcemos, sofremos, empurramos o time e, no fim, saímos todos campeões.



Melhor repaginada de She-Ra, a Princesa do Poder


She-Ra e as Princesas do Poder. Oboy... vamos lá: o novo desenho é muito legal. Admito, fiz coro na zoação massiva em cima do novo visual da clássica heroína e, enquanto isso, deixava passar o mais importante: a showrunner é talentosa quadrinhista Noelle Stevenson. Dona de um texto sagaz e espirituoso, Noelle mastiga e cospe os clichês de espada & magia e de super-heróis - vide suas obras mais conhecidas, Lumberjanes e, especialmente, Nimona, um dos melhores gibis de 2016. O fato de ter três Eisners, um Harvey e um GLAAD no currículo não é mera coincidência. Tudo isso se reflete na série animada da DreamWorks/Netflix, que está atualmente na 4ª temporada e, lógico, tem muita influência do universo das HQs - de Akira a Novos Deuses a O Homem que Tinha Tudo, só pra catar alguns. Tal qual o original, o desenho é orientado para o público feminino infanto-juvenil (isso nunca nos impediu antes) com o diferencial de ser 100% inclusivo - e não apenas integrado à faixa LGBTQ+, como muito além. Uma belíssima supresa.



Filme do ano


Essa cena é maravilhosa...

Co-escrito e dirigido por Bong Joon-ho, Parasite é uma improvável combinação de thriller, filmes de golpe, humor negro, drama e gore incrivelmente bem desenvolvido e com uma metáfora pesada à desigualdade social. Aliás, é notável o fato de ser uma produção sul-coreana ao invés de brasileira, indiana... enfim, de alguém dos BRICS. Por mim, levava todas as indicações que recebeu do Oscar.


Menção honrosa:

Morto Não Fala, de Dennison Ramalho. Sem muito alarde, o cineasta roteirizou e dirigiu um filmaço. A produção é esperta e eficiente e as atuações marcantes de Daniel de Oliveira, Fabiula Nascimento, Bianca Comparato e Marco Ricca - fora os molequinhos, bem talentosos - fazem do longa uma das melhores surpresas do gênero em um bom tempo. Terror brasileiro com cara de realidade brasileira. Ou seja...



HBO do ano


Chernobyl, de Craig Mazin. Mais que uma minissérie histórica, é o acerto de contas com a História que a minha geração aguarda há três décadas. Minuciosamente produzido, escrito, dirigido e com um cast que é até brincadeira. Jared Harris, Stellan Skarsgård e Emily Watson são gênios e todo o elenco - dos coadjuvantes aos figurantes - está completamente engajado. Não só uma das melhores séries da HBO, como uma melhores (e mais importantes) já feitas em todos os tempos.


Menção honrosa:

Watchmen, de Damon Lindelof. Uma sequência perfeita e absurdamente fiel ao conceito do clássico original. Arrisco chutar que até Alan Moore aprovaria, caso ligasse pra essas coisas.



Leitura tensa do ano


Tensa, densa e intensa. Publicado em 2002, No Bunker de Hitler: Os Últimos Dias do Terceiro Reich, de Joachim Fest (1926-2006), é uma investigação sobre os últimos anos, meses, semanas, dias e horas de Adolf Hitler e seus pares. É uma experiência profundamente claustrofóbica e perturbadora. O livro foi uma das bases usadas para o filmaço Der Untergang (Oliver Hirschbiegel, 2004), que, agora posso afirmar tranquilamente, ficou parecendo um passeio no parque. O fanatismo dos seguidores do Führer - mesmo em meio à circunstâncias mais trágicas e insustentáveis - cruzava a fronteira da demência. Hitler, temo afirmar, se tornou uma ideia. Que perdura até hoje, pelo visto. Já li duas vezes.



Quadrinho deslumbrante do ano



O Vento que Sopra os Pinheiros (ex-A Balada de Sylvan), da artista chinesa Zao Dao. É de tirar o fôlego. E olha que a concorrência em 2019 estava quentíssima, com obras como Tanka, Os Mitos de Cthulhu, Os Novos Titãs: A Origem de Lilith, Alvar Mayor, Batwoman e Lone Sloane sendo publicadas em ritmo industrial. A editora Figura, até aqui, segue como a Nadia Comăneci das editoras nacionais. Bravo!



Quadrinho de super-heróis do ano


House of X e Powers of X - ou, carinhosamente, HOXPOX - de Jonathan Hickman. Há tempos não ficava sem chão com gibis de super-heróis desse jeito. Na ocasião, cheguei a esquadrinhar minhas eufóricas impressões por aqui. O escopo é gigantesco. E se a Marvel for esperta, vai usar como guia para a reapresentação dos X-Men nos cinemas. Não importa o que tenha vindo depois - inclusive pelas mãos do próprio Hickman...


And... cut!


Declaro aberta a temporada de dicas, concordâncias e discordâncias nos comentários. Diferenças são bem-vindas. Polarizações, irão para o Gulag!