quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Meu Amigo, o Esmagonauta


O Hulk volta a esmagar tudo em "Smashtronaut! - Part One" —"Esmagonauta" é tradução filé by BZ® (Panini, joga aí uns três lobos-guarás na mão e estamos conversados). Com a numeração automaticamente zerada, a HQ marca o retorno do Verdão após a bombástica fase O Imortal Hulk, do roteirista Al Ewing com o artista paraense Bené "Joe Bennett" Nascimento. O run deu uma bem-vinda revitalizada no mythos do Gigante Esmeralda com seu mix de thriller metafísico-psicológico e um body horror gore/splatter que arrancaria sorrisos doidos de David Cronenberg e do saudoso Stuart Gordon. Uma perspectiva inusitada, mas profundamente arraigada na essência do personagem.

O sucesso de público e crítica, porém, não conseguiu evitar alguns perrengues pelo caminho. Mais notadamente a ascensão-e-queda do veterano e talentosíssimo Bené, que não sossegou até implodir sua carreira (provavelmente em definitivo) pelo mainstream dos comics.

Primeiro, chamou atenção ao vibrar com a agressão ao jornalista Glenn Greenwald, depois emendou com artes e posts curtidos em extremismo até finalmente ser dispensado pela Marvel e desconsiderado inclusive para projetos futuros. E o que já não era tão bom parece que piorou. Parafraseando o filósofo João Francisco Benedan, é mais um legítimo representante do movimento white pardo, essa anomalia aberrativa que só existe e se reproduz no Brasil.

Todo esse furdunço reaça-gama acabou gerando mais repercussão do que a própria conclusão da saga —um pecado capital, já que foi uma das fases mais bacanas e aclamadas do Golias Verde em anos. Pessoalmente, curto tanto que nem me adiantei pelas "importadoras": sigo adquirindo meus exemplares religiosamente na editora brasileira credenciada. Dessa forma, antes do derradeiro TP #10, resolvi conferir a nova série desde já, pra ver se entendo alguma coisa.

Afinal, pegar o bonde da cronologia andando é como andar de bicicleta pro marvete com vista cansada e dor nas costas.


O arco em seis partes é escrito pelo texano Donny Cates (Surfista Prateado: Escuridão, Thor: O Rei Devorador), atual bam-bam-bam do massaveísmo super-heroístico. O cara é criador do Motoqueiro Fantasma Cósmico, pelo amor de One-Above-All. A quantidade abusiva de punchlines e splash pages duplas megacolossais dão a impressão de ouvir as onomatopeias gritando a cada porrada desferida. É edição-porrada.

Até rola aquele momento onde um pequeno contigente Todos-os-Heróis-Marvel é reunido pelo Dr. Estranho para... ganha um Surpresa com card de tigre quem acertar... caçar o Hulk. De novo. Mas o grosso da edição é um vale-tudo —tudo mesmo— entre Hulk e Tony Stark com algumas unidades Hulkbuster. É curioso ver o desenhista Ryan Ottley pendendo aqui entre um Ed McGuinness surtadão e a visceralidade não-retranqueira de seus tempos de Invencível. A maneira que o Verdão encontra para se libertar de uma armadilha de adamantium é de emocionar até o Thunderbolt Ross. Coisa linda.

Mas a grande questão é saber se Cates tem bala na agulha para segurar o tchan pós-Imortal. Parece que tem. Sei lá. Não finalizei Imortal ainda e a ideia aqui era saber se daria pra entender alguma coisa. Claro que deu. Ou melhor, não muito. Quase nada, pra ser sincero. Mas, de início, deu pra notar que a rererediviva Betty Ross, em seu melhor estilo mocinha-normalista-pós-família-nuclear, não é aquilo que parece. E que algo estupidamente cabuloso aconteceu em El Paso. Com vítimas. Muitas delas.

O que levou Banner a ficar furioso com o Hulk.

De novo².


Banner, aliás, está bem babacão, num nível quase Hank Pym de zé-ruelismo. Parece mais sagaz do que o normal e lá pelas tantas cita até A Profecia (que referência mais 70's). Contudo, no geral, está a parsecs de distância daquela época do "Hulk-é-um-bom-camarada-mesmo-com-a-cabeça-trocada". Tenho que admitir que o "conceito Esmagonauta" não é novo (você já leu isso na fase Peter David ou em qualquer das trocentas sessões com o Dr. Samson), mas a perspectiva é. A tônica é de pancadaria enche-linguiça servindo de intro. Gloriosa pancadaria, que se registre nos autos.

É basicamente uma edição disso culminando numa splash tão celestialmente massaveiorama que só o Stark mesmo seria capaz. Ele só precisava de tempo e grana. Por sorte, ele tem as duas coisas. Sabe como é.

Na conclusão, Hulk dá um mergulho numa Muralha da Fonte versão 616 e, do lado de cá, me toca alguns sinos. Seja na fase Encruzilhada, na fase Planeta Hulk ou na fase Imortal, a chave para o sucesso parece que é tirar Banner/Hulk da sua zona de conforto —o que, no caso, se traduz como tanques e helicópteros partindo pra cima, tal qual na imagem do topo.

E certamente, Cates vai começar a contar essa história de verdade a partir da próxima edição. A menos que haja um esquadrão Caça-Hulk esperando por ele do outro lado. Ou o Homem Quintrônico.

Nah, Cates não seria tão massaveio...

Ps: ...veremos isso no próximo dia 15.

4 comentários:

Luwig Sá disse...

Eu li essa e li Imortal #50... Acho que depois dessa última, o Editorial deveria segurar a mão e deixar o personagem descansar um pouco a imagem; a exemplo do período sabático após Guerra Civl 2. O que o Al Ewing entregou foi ouro em celulose, e pegar uma deixa assim, nível Queda de Murdock, não é qualquer um que tem o jogo de cintura coma a Ann Nocenti p/ sair daquela cama de gato.

Do Cates nessa reestreia, só vi o massaveísmo como saída fácil e o início de uma abordagem que, como vc disse, mais de um autor já tateou; e depois das andanças do Ewing no campo psicanalítico, começar com um Banner full pistola daquele jeito?! Gosto muito do Cates, mas já consigo ver alguns temas recorrentes na produção Marvel dele. Acho que o Jason Aaron, por exemplo, demorou mais p/ chegar num ponto de exaustão. Mas vamos vê como será isso aí no Hulk daqui p/ frente.

Abração.

doggma disse...

Cates é o Joe Kelly desse incío dos 2020's. Se gasta em cenas impactantes, como Galactus se deparando com Inverno Sombrio e esse Homem de Ferro Celestial, mas realmente já dá pra notar um padrão aí. Está mais rápido porque, creio eu, a deadline industrial do mainstream está pior do que nunca. A tendência é ficar mais e mais esquemático em cada vez menos tempo. É a famosa "fritura" versão Marvel-DC.

Também votaria pelo descanso da imagem do Verdão. Até o Wolverine teve férias, caramba.

Ann Nocenti (que tem seus detratores... esses patifes! rs), Bendis-Brubaker, Moore-Veitch... São como Bon Scott-Brian Johnson ou Paul Di'Anno-Bruce Dickinson. Acontece só uma vez por década. Ou algo assim.

Abraço e excelente fds!

VAM! disse...

Essa daí a Panini, deve lançar num capa cartão molhinho. Vai de "bate-pronto" quem não curti fica só nela.

Abs,
VAMgonauta!

doggma disse...

Capa cartão de uns 27,5 mangos, se não tiverem nenhum surto paninístico até lá...