terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Camelot 2000

I don't know if this has been announced yet, but since it's out there in the PRH catalog -- SUPERMAN: CAMELOT FALLS •...

Publicado por Kurt Busiek em Quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Kurt Busiek anunciando uma edição deluxe da saga A Queda de Camelot justo enquanto relia a dita cuja em meio às arrumações de Carnaval. Sincronicidade, você vê por aqui. Empilhando as edições, lembrei de como a Panini precisou de samba no pé para publicar a história com um mínimo de regularidade nas mensais do Superman (edições #59-61, #64-66 e #68-69). Foi tenso. E um problema importado.

Na publicação lá fora, entre 2007 e 2008, a redação da DC foi obrigada a encher muita linguiça nas Superman e Action Comics titulares para cobrir os constantes atrasos do saudoso Carlos Pacheco e de Jesús Merino, seu arte-finalista do coração. Pra fechar, um problema de saúde do Busiek resultou num gap de 4 meses entre as duas últimas edições. Tudo isso conspirou para a saga amarrar a camisa com outra igualmente notória pelos seus épicos atrasos.

Por algum tempo, não havia consenso se A Queda era situada antes ou depois de O Último Filho, de Geoff Johns e Richard Donner. Só mais tarde, a DC estabeleceu que elas se passavam ao mesmo tempo, por mais impraticável que possa parecer. O Escoteirão saiu dali direto para um burnout.

Apesar da publicação errática, A Queda não transparece esses problemas no resultado final — bom, talvez o aspecto fora da curva que permeia toda a aventura seja um indício discreto. Na trama, o feiticeiro atlante e lanterneiro de cronologias Arion alerta o Superman sobre suas ações e de outros superseres nos rumos da humanidade. Em suas visões, essas interferências irão culminar num futuro catastrófico no distante ano de 2014 — a tal "Queda de Camelot". E assim, o bom e velho Clark tem mais um dilema moral e existencial para se divertir.

A Queda é mais uma boa saga pós-apocalíptica da DC, dessa vez até com uma inusitada convergência... o "Apocalipse" da vez também vem do Oriente Médio. Do Irã, para ser mais exato: o inexpugnável Khyber.


Esse cara é um filho da puta casca-grossa

Por sinal, um personagem criminosamente mal aproveitado. Talvez, presumo, pela carga Mandarim agregada. Um Keyser Söze secular que age nas sombras desestabilizando nações, fomentando guerras e se utilizando do extremismo muçulmano contra o Ocidente pode ser meio over para um gibizinho mainstream nos dias atuais.

Ao menos teve tempo para protagonizar a demonstração de força mais Era de Prata da DC desde a Era de Prata da DC.


Superman vs. Khyber: apo-Kal-lypse

Pachecão dava show. E foi assim na saga inteira. Que saudade.

A Queda de Camelot é mais um belo exemplo de como a linha principal do Superman foi injustiçada na época. Muito se falava que a DC não sabia mais o que fazer com o herói, que estava amargando uma cronologia novamente longeva com seus valores eternamente anacrônicos. Balela.

Além de A Queda e O Último Filho, foram publicadas Para o Alto e Avante!, Kryptonita (espertamente coletada n'As Quatro Estações da Eaglemoss, que estupidamente preteri pela da Panini), Superman e a Legião dos Super-Heróis e Novo Krypton, só pra ficar em algumas da mesma safra. Note que nem foi mencionada a All-Star Superman morrisoniana, tamanha a elegância do relator.

Enfim, se havia algum problema, era do outro lado da página. Mas, no final das contas, nada disso foi suficiente para impedir Crise Final, Os Novos 52, Renascimento e outras mais que virão. E elas virão.

Arion acertou a Queda, mas errou o alvo.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

“A Loja de Corpos garante satisfação... ou seu dinheiro de volta”


Wolverine: Arma X foi para as releituras do feriadão. Já faziam alguns anos. O pequeno clássico do Barry Windsor-Smith ainda se sustenta com louvor, dadas a estética oitentista e a superexposição do baixinho mutante desde que a saga foi publicada na Marvel Comics Presents #72, em março de 1991.

Como autor, o britânico nunca esteve tão afiado, conciliando a dinâmica sequencial com recortes e entre quadros repletos de informações. Tanto se vale só da força das imagens, quanto fuzila o leitor com recordatórios aleatórios sem bagunçar o meio-campo. Timing impecável. Como artista, revezava entre a técnica minuciosa e ejeções viscerais de caos controlado. Um mestre.

A leitura segue como um registro atemporal de um talento refinado após anos de trincheira editorial, agora em seu, digamos, platô criativo. Além de ser ultraviolenta e divertida pra caceta.

(embora minha chatice pseudocientista ainda me incomode na inexplicada drenagem excessiva de adamantium pro túnel do carpo...)

A edição que tenho é a lançada pela Panini há exatos 20 anos — encadernado com capa cartão e papel LWC, vulgo "couché de pobre". E trazia um bom motivo para passar a versão em capa dura posterior: a inclusão da história "Animal Ferido", com Windsor-Smith ilustrando o texto do Chris Claremont. É uma espécie de "curta-metragem natalino" com Wolverine e Chispinha, do Quarteto Futuro (precisamos falar sobre o Quarteto Futuro) sendo caçados pelos ciborgues Carniceiros e pela Lady Letal, recém criada pelas seis mãos da Espiral em sua Loja de Corpos.

Por que a Panini ignorou essa pequena grande aventura na reedição de luxo é um mistério. Mas o editor Fernando Lopes foi categórico na nota de rodapé da galeria de capas.


Trabalho de edição proativa é isso aí. É Barry Windsor-Smith, pô!²

Curto tanto essa história que também tenho em Heróis da TV #100 (a 1ª vez a gente nunca esquece) e na Marvel + Aventura #1.

Pelo Arma X de 2003, só posso terminar com um raro...

Boa, Panini!

domingo, 12 de fevereiro de 2023

The Trailer

Certeza de um mero Ezra-trailer? Não tão rápido...


É seguro afirmar que o restolho do Snyderverse está aí. A raspa da raspa da raspa do tacho. E não há razão nenhuma que justifique uma continuidade daquilo. Removido o elefante Do-you-bleed da sala, e aí sim veio a surpresa, o trailer me fez esquecer em tempo recorde as merdas que o Ezra Miller tem aprontado nos últimos anos.

A prévia é sensacional. E empolgante. E, Grande Júpiter, visionária ao mostrar numa curta janela o quão grandioso, diverso e fascinante o Universo Cinematográfico da DC poderia ter sido se desenvolvido com bom senso.

Até mesmo as inserções de cenas de produções tão díspares quanto as de O Homem de Aço e do Batman de Christopher Nolan soam promissoras em tela — seguindo, claro, a fórmula Vingadores: Ultimato de autorrevisionismo. O mesmo para estreia da Supergirl Sasha Calle, tão criticada antes mesmo de estrear em tela.

Mas, acima de tudo, o grande trunfo é Michael Keaton envergando o manto do Batman uma vez mais. A frase clássica nunca soou tão bacana...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Quando os Escoteiros se Chocam!


Devo admitir: Grandes Tesouros DC: Superman Vs. Shazam! - Quando as Terras se Chocam! é um resgate surpreendente de um dos quadrinhos mais representativos da DC pré-Crise. Ponto para a Panini. Que não deixou barato, literalmente, tascando o preço de R$ 149,90 por 80 páginas com capa dura e formatão 25,5 x 35,5 cm — ½ centímetro menor que a antológica superedição que a EBAL lançou em 1980.

Superedição essa muito querida pelos quarentões e cinquentões que hoje se despedem de um rim para pôr as mãos mumificadas na nova versão (o velhusco aqui incluso). Na época, não peguei o gibi numa banquinha: ganhei de um amigo da escola n'algum ponto da 1ª metade da década de 1980. Meio surrada e rasgada nos cantos, mas suficiente para explodir aquela cabecinha juvenil com o colorido chapiscado das retículas mágicas da EBAL.

Fora que aquela era a Maior HQ do Universo que já havia folheado na vida. Experiência imersiva inesquecível.

Superman Versus Shazam! (que, por dentro, era "Super-Homem Versus Capitão Márvel") foi um divisor de águas no meu fascínio pela relação entre o herói da DC e o eterno herói da Fawcett. Já notava a curiosa semelhança/equivalência dos dois nos desenhos animados Shazam!, da Filmation, e Superamigos, da Hanna-Barbera. Mas foi ali que soube que essa relação era bem mais estreita, longeva e polêmica do que imaginava.

Por conta disso, tive certeza de que isso ainda renderia muito maisna frente.


Revisitar a parceria de ícones como Gerry Conway, Rich Buckler e Dick Giordano e conceitos como a Terra-1 e a Terra-S sem dúvida irá disparar aquele bom e velho gatilho de nostalgia desnorteante. E muitas dúvidas também...

Por onde andam o feiticeiro Karmang e Quarrmer, o Super-Homem de Areia?

Grande Rao, como estou velho. Diacho!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Supergirl (e a Legião dos Super-Heróis)


Legião dos Super-Heróis (Legion of Super-Heroes, 2023) é o 6º longa da atual fase de produções da Warner Bros. Animation, iniciada com Superman: O Homem do Amanhã (Superman: Man of Tomorrow, 2020) e seguida por Sociedade da Justiça: 2ª Guerra Mundial (Justice Society: World War II, 2021), Batman: O Longo Dia das Bruxas, Parte Um e Parte Dois (Batman: The Long Halloween, Part One/Part Two, 2021) e Lanterna Verde: Cuidado com Meu Poder (Green Lantern: Beware My Power, 2022). A fase, apelidada de Tomorrowverse, mantém certa continuidade e estabelece uma nova estética para as animações da DC: visual clean, linhas mais arrendondadas, contornos com maior espessura (por vezes, bem maior) e uma transposição mais evidente de perspectivas dos quadrinhos.

A história começa com Kara Zor-El ainda em Krypton e sendo enviada à Terra para se tornar a Supergirl. Além das dificuldades de adaptação, Kara sofre com o trauma da perda de sua mãe e de seu planeta natal. Para ajudá-la na transição, Superman a leva até o século 31, onde é recrutada pela Legião dos Super-Heróis. Logo ela se vê às voltas com o também candidato a legionário Brainiac 5, suspeitíssimo neto-clone do clássico vilão do século 21, e com uma conspiração envolvendo um obscuro grupo terrorista chamado Dark Circle. Tudo isso é apresentado numa tacada bem superficial, de quase sinopse.

No filme há pouco sobre a própria Legião e sua história. Se o título fosse Supergirl e a Legião dos Super-Heróis ou apenas Supergirl seria bem mais honesto. A trama é basicamente sobre ela, mesmo que boa parte — incluindo os conflitos psicológicos/emocionais da personagem — já tenha sido abordada no longa animado Superman/Batman: Apocalypse, de 2010. Então quem esperava uma adaptação de A Saga das Trevas Eternas ou A Legião dos 3 Mundos, pode tirar Cometa, o Supercavalinho, da chuva.

E nem arrisco mencionar a espetacular fase Legion of Super-Heroes: Five Years Later, de Keith Giffen, ainda inexplicavelmente inédita no Brasil.

Apesar do novo visual dessas animações ainda parecer incipiente aos olhos de um veterano de Batman: The Animated Series, um aspecto positivo é inegável e encontra seu ponto alto aqui: a expressividade.



Kara nunca esteve tão carismática e tridimensional numa animação da DC. Sem afetações desnecessárias, o formato agora permite mais flexibilidade nas feições, traduzindo com muito mais eficácia cada emoção apresentada. Fora que a kryptoniana está uma fofa.

Também fica nítido que deram um tapinha em algumas sequências com CGI disfarçado. Certos momentos quase remetem àquelas animações dos anos 2000 produzidas com Flash Player (lembra de Archer?), que, por si só, não é mal, mas frequentemente soa artificial, asséptico, estéril.

Novamente: apenas a impressão de um velho apaixonado pelo estilo Fleischer Studios/Bruce Timm das animações tradicionais.


O roteiro de Josie Campbell, egressa da excelente série She-Ra e as Princesas do Poder, arrisca bem pouco. Dá para ver as reviravoltas a parsecs de distância e sentir as limitações impostas pelo "andar de cima" para mexer na cronologia da prima do Super. Então, para qualquer iniciado, não há grandes novidades. O que resta é o que Campbell sabe fazer melhor: a dinâmica entre um núcleo central bem diverso, que, além de Supergirl e Brainiac 5, também conta com Vésper, Saltador, Moça-Tríplice/Dama Dupla, Rapaz Invísivel, Etérea, Mon-El e o infame Arms Fall Off Boy, que já teve até versão live action no filme bom do Esquadrão Suicida.

O diretor Jeff Wamester fez um trabalho razoável na parte da ação, que, talvez por ser material Supergirl, seja bem mais contida que seu longa anterior, o confuso Sociedade da Justiça: 2ª Guerra Mundial. Nesse quesito, a bancada de legionários veteranos formada por Penumbra, Rei Químico e Lobo Cinzento foi um tanto desperdiçada — com ligeira exceção para o último, que protagoniza uma boa sequência de pancadaria ao melhor estilo eu-sou-o-Wolverine-original-xará, com direito até a uns respingos de sangue. Tudo muito breve, porém.

Legião dos Super-Heróis se assemelha mais a um piloto de série do que um filme autocontido. Termina mostrando que não é nem um, nem outro (a cena pós-créditos se certifica disso). E que a Warner mais uma vez está audaciosamente nos levando até onde nenhum planejamento jamais esteve.