terça-feira, 28 de junho de 2005

TODO MUNDO MORRE SOZINHO


Sabe quando a gente vê algumas coisas por aí onde a pessoa tenta sempre fazer com que seu trabalho seja reconhecido, mas nunca consegue, só para depois um gaiato qualquer aparecer e alcançar aquela meta sem nunca ter tentado? Pois então, Donnie Darko (idem, 2001) é mais ou menos isto. Nasceu cult e pronto. Não que seu idealizador não quisesse que fosse ou não tenha se esforçado, mas não sei se um diretor novato almeja que um filme seja cult, ao invés de simplesmente um filme de sucesso. Big Fish por exemplo, tem história cult, fotografia cult, personagens cult, diretor cult, mas não é cult. Talvez porque a única coisa que a maioria dos filmes cult não tem e Big Fish esbanja é orçamento. Filosofia do quanto menos custa, melhor é.


Não é só questão de dinheiro. Filmes cult atingem platéia definida. Não são que nem Titanic, por exemplo, que desperta amor e ódio por aí em tudo quanto é tipo de nicho de mercado; o primeiro muito mais que o segundo, sendo que tem muita gente dizendo que odeia só para ser do contra, como vem acontecendo com Gladiador. O cult-movie é dominado por características específicas: os temas não variam muito e sempre são chocantes de alguma forma, a narrativa é bastante peculiar, a trilha sonora não se atém ao lugar-comum - ou é alternativa até o osso ou pega pesado no pop-rock nostálgico, os atores estão surgindo ou no ocaso da carreira (ou são cult... dãã) e sempre traz símbolos marcantes.


Donnie Darko tem tudo isto. Atinge de forma acachapante o povo que se amarra em ficção científica, viagem no tempo e complexos da juventude. A edição final do filme original deixa uma série de lacunas que tornam o filme ainda mais intrigante, aguçando uma das qualidade/defeitos mais marcantes do ser humano: a curiosidade. Entretanto, a simples escolha do tema certo não funciona se o elenco não entrar na dança e as personagens não derem o clima adequado. Neste ponto o filme mostra-se mais do que competente, pois a postura e as personalidades de cada um conseguem quase alcançar a complexidade e profundidade das personagens de Magnólia: Donnie nos apresenta os produtos de uma adolescência cheia de conflitos internos, sua namorada, também à parte do mainstream social, é peça fundamental e serve de escada definição da psique do protagonista, a professora cool e amargurada com os métodos de um colégio de ensino tapado e atávico, o hipócrita soterrado em pecado que prega uma definição de vida maniqueísta de cunho quase religioso, os pais cegos e teleguiados, os pervertidos niilistas do colégio, a garota atacada sem dó pela crueldade adolescente e que é representante de todo um conjunto de minorias possível... tudo isto reproduz um cenário sufocante, que sugere a iminência de uma desgraça.


Para juntar personagens, roteiro e tema e transformar isto em um filme, o diretor usa uma narrativa toda entrelaçada onde nada é desperdiçado ou é usado como tempo de tela. Tudo tem relevância e mais parece um jogo de tabuleiro à moda antiga: Jogue um dado. Se tirar seis, vá para a casa X, mas se tirar 4 terá que voltar Y casas. Difícil não se sentir envolvido onde tudo tem algum tipo de referência à frente ou para trás, numa lógica nonsense, de modo que a compreensão consciente do que está acontecendo torna-se extremamente difícil. Entretanto, mesmo que a tentativa de usar a razão só contribua para nublar o entendimento, quem se identifica com o personagem sente que há coerência naquilo tudo, mesmo que não consiga explicar. É sensibilidade pura com clima de história da Vertigo.

E o diretor joga baixo com o espectador. Não bastassem todos estes elementos, o filme é ambientado nos anos 80, o que nos dá uma trilha fenomenal recheada de clássicos de Joy Division, Tears For Fears, Duran Duran, Oingo Boingo etc. Cada música é usada com propriedade, como que fazendo parte do filme assumindo um papel coadjuvante. Os momentos em que somos brindados com The Killing Moon (Echo & The Bunnymen), praticamente inteira logo no início, e uma versão de "Mad World" no final, interpretada (muito bem) por Gary Jules servem para nos "encaixotar" junto com o filme, suas letras servindo quase como sinopse, casando perfeitamente com o que ocorre na tela. Se não soubesse que as músicas têm 20 anos e que o filme é de 2001, juraria que foram escritas especialmente para a trilha sonora. Que diga o Bunnyman que estrela as fotos deste post, o coelho apocalíptico que a todo tempo adverte Donnie quanto ao futuro.


Richard Kelly havia dirigido dois filmes antes deste, mas é como se só debutasse a partir daí. Durante toda a versão do filme no DVD onde temos comentários do diretor é possível ouví-lo mencionar referências a comic books, justificando o clima Vertigo no ar.

Quanto aos atores, não vi Céu de Outubro (October Sky, 1999), mas a mídia diz que foi DD que trouxe Jake Gyllenhaal para as luzes, tornando-se cotado para o papel de Peter Parker e alcançando status imediato de rising star. Pode-se ainda ver o decadente, mas competente, Patrick Swayze e ainda Drew Barrymore, fazendo-me pensar sobre a sonoridade da expressão Cellar Door e ajudando sua produtora ao topar o papel da professora cool.


Mesmo sendo um filme reverenciado, é curioso como não tenha alcançado sucesso na telona. Nos EUA sua passagem foi extremamente tímida, enquanto no Brasil foi lançado direto em vídeo. O sucesso fez com que voltasse aos cinemas ano passado com uma versão do diretor de quase duas horas e quarenta minutos onde várias cenas que foram cortadas na primeira versão ajudam a compreender o filme sem precisar de outras fontes de consulta.

Da primeira vez que vi, fiz algumas suposições sobre o que teria acontecido na tela e, no debate em uma lista de emails sobre cinema, vi que não estava de todo errado. Um colega da lista resolveu pesquisar o site do filme e teve acesso ao livro de Roberta Sparrow, a Vovó Morte. Com isto, tudo ficou mais claro e coloco a explicação do que acontece na mensagem abaixo, no mesmo esquema já conhecido. Selecionem o texto para ler.

Ahh... eu não gosto de Titanic.


Donnie Darko Explicado



Existem vários universos paralelos. Nós vivemos no universo 'real' por assim dizer. Raramente pode acontecer de uma anomalia do universo ocorrer e acabar por criar um 'efeito dominó' que pode levar ao fim do universo.

O que acontece é que quando a turbina cai na casa do Donnie Darko, ela é um artefato vindo do futuro. Isso causa um rompimento na barreira entre os universos, e a partir daquele momento, o universo real passa a se tornar o universo TANGENTE. Universos tangentes tem uma duração curta, que no filme, virá a durar 28 dias, 6 horas, 42 minutos e 12 segundos e depois acabar.





Quando esse universo terminar, ele irá consumir tudo ao seu redor, inclusive o universo real, dando fim à toda existência.

Existe uma teoria que fala sobre o rompimento de barreiras no espaço tempo no filme, chama-se 'A Filosofia da Viagem no Tempo' escrito por Roberta Sparrow. No livro ela explica que pode acontecer de um artefato do futuro cair no mundo real através de um 'wormhole' da teoria de Einstein (que pode acontece em qualquer hora e qualquer lugar, segundo o filme), e criar um universo tangente paralelo.





Quem estiver perto do artefato quando ele cai, torna-se o receptor, e é a função dele fazer com que o artefato volte ao seu local de origem, fechando o círculo. Ou seja, o receptor deve fazer com que todo o ambiente seja favorável para que o artefato viaje no tempo mais uma vez, fechando o 'wormhole' criado pela primeira vez, e assim salvar o universo. (as partes do livro que explicam isso dá pra achar no site oficial)

Todas as pessoas ao redor do Receptor (o Donnie) passam a se tornar os Manipulados, pois eles serão manipulados por donnie para que ele possa fazer o que for necessários. Além dos manipulados vivos (seus pais, amigos, prof, etc...) há também os manipulados Mortos, que são pessoas mortas no universo tangente que detêm o poder de voltar no tempo e ajudar Donnie em seu caminho.





O manipulado morto do filme é o coelho Frank. Ele tem a função de fazer com que Donnie faça tudo funcionar, para tal ele manda Donnie cometer atos que virão a ter uma consequencia importante para o fluxo do universo!

O livro também explica que o receptor passa a ter poderes sobre água e fogo, entretanto o manipulado morto terá mais poderes, pois ele servirá de guia. (isso eu achei muita viagem)

No filme:

- Frank salva a vida de Donnie pela primeira vez, para que ele possa fazer com que a turbina volte no tempo mais uma vez e feche o círculo
- Frank manda Donnie inundar o colégio para que ele possa conhecer Gretchen, que terá um importante papel, pois ela será a garantia de que Donnie faça seu trabalho, e também fará com que ele acredite que não irá morrer sozinho (seu maior medo)
- Frank faz com que Donnie incendeie a casa do guru para assim eles encontrarem o calabouço pornô, e fazer com que a mãe de Donnie tome o avião de onde o artefato será extraído (outra garantia)
- Donnie, ainda confuso, mas certo do que vai fazer, vai atrás de Roberta Sparrow pra lhe dizer que ele é um receptor
- Neste momento, quando Gretchen é atropelada e morta por Frank, Donnie percebe que este é um artíficio que faça com que ele cumpra sua missão, caso contrário sua mãe e amor serão mortos
- Quando Frank faz com que Donnie encontre a arma no armário de seu pai, Donnie percebe depois que ele deve matar Frank, para que naquele ponto (quando ele morre) ele retorne ao passado e ajude Donnie a cumprir a missão.

Aí que está: Donnie prepara tudo, o 'wormhole' se abre, criando algum tipo de furacão ou fenômeno, que destroça o avião e suga a turbina para dentro dele (como um buraco negro). Da primeira vez que isso acontece, o buraco fica aberto pondo em risco o universo, então deve ocorrer de novo para se fechar. Ou seja, Donnie NÃO volta no passado, apenas a turbina faz a viagem no tempo.




Wormhole


No livro de Roberta Sparrow ela explica que uma vez que o círculo se fecha, todas as pessoas envolvidas têm a sensação de deja vú ou como se tivessem sonhado com tudo aquilo (por isso que tem aquela cena que todo mundo acorda). Quando acontece o fechamento do buraco, não há mais Frank para acordar Donnie e tirá-lo da casa, e por isso ele morre. Um sacrifício que ele deve fazer para salvar os que ama, com isso ele evita que sua mãe morra no avião e que gretchen e frank morram, e também que o universo deixe de existir, claro.

O gordinho de vermelho é um enviado da FAA para investigar a família Darko, já que o departamento de aviação norte americano achou estranho demais a queda da turbina.

E é isso o filme! Espero que tenha dado para entender! O site oficial dá toda a explicação, e ainda dá um extra de coisas que acontecem.

domingo, 26 de junho de 2005

A PRIMEIRA MORTE A GENTE NÃO ESQUECE

HOMEM-ARANHA & WOLVERINE #1


Como tudo na vida, se pararmos um pouco para reparar nas coisas e elementos ao nosso redor, perceberemos que tudo segue um tipo de padrão de funcionamento regido por conceitos que inconscientemente todos entendemos como normais ou coerentes. Não... não é influência de Pi. Na verdade é uma idéia até meio batida segundo o conceito de inconsciente coletivo propalado pelos junguianos de plantão, mas que nem precisa do nome bonito, pois todo mundo sabe disto por experiência.

Só escrevi este primeiro parágrafo porque não sabia como dar uma amenizada na introdução deste post, então enchi lingüiça com idéias que até fazem sentido, se tivermos boa vontade e usarmos para suporte do texto abaixo.


O mundo das HQs possui algumas verdades absolutas que permeiam cada um dos arquétipos típicos do gênero. O vilão padrão de renome não respeita seu arquiinimigo, não mede esforços para ter o que quer e não respeita quaisquer obstáculos morais. O vilão honrado, ao menos, respeita o oponente e reconhece seu valor e papel no equilíbrio (ou desequilíbrio) das coisas. O mentor é o sábio que não se envolve, salvo momentos especiais. O anti-herói é aquele que aponta pro lado certo, mas também não tem escrúpulos e, finalmente, o herói clássico tem caráter ilibado, retidão moral e, principalmente, não mata. Mesmo que seja um psicótico como o Batman.

Quanto mais tomamos esta verdade como absoluta e colocamos frente a frente com o modus operandi de cada personagem, mais reforçamos o estereótipo em casos como o do Homem-Aranha, cujo perfil contrapõe o aspecto sombrio do morcego e gerou o apelido inapelável de "Amigão da Vizinhança". Não sei como as pessoas reagem ao rótulo, mas curiosamente tenho tendência a gostar mais das histórias do aracnídeo onde lida com caos, senso de morte e confusão do que os "bateu-levou" costumeiros e mais rasos. O arco da Morte de Jean DeWolffjá abordado aqui -, o início da carreira de Venom como antagonista (antes de virar piada batida), o arco onde Morlun faz Peter ralar para sobreviver na estréia de Straczinsky, Tormento e alguns outros estão nesta lista, mas se tem algo que merece uma abordagem destacada é Maré Alta, co-protagonizada por Wolverine.

Esta história foi publicada aqui na revista Homem-Aranha #94 (Spider-Man versus Wolverine #1, no original), especialmente com 100 páginas, não me lembro em que ano, mas publicada nos EUA em 1987. Curiosamente a capa da edição tupiniquim é muito melhor que a americana, mas certamente o formato original honrava mais a qualidade da história do que nosso clássico formatinho-papel-de-pão.

Nesta época o baixinho não tinha o apelo comercial que tem hoje, passava pela fase do uniforme marrom e amarelo e tinha seu primeiro de muitos encontros com Peter. Ouso dizer que, dentre os vários encontros destes dois, nenhum teve a qualidade do primeiro. Talvez contando um pouco do que acontece – e adianto que há spoilers – dê para entender o porquê desta qualidade.

Diferentemente dos encontros que vieram na esteira do sucesso de ambos os personagens – principalmente a assustadora popularidade que Logan ganhou com o passar do tempo, já que o Aranha já era o carro-chefe da editora – esta destaca-se por ser uma edição que mantém laços com a cronologia normal dos heróis, como visto com Ned Leeds, além da ótima exploração dos incrementos motivacionais próprios da personalidade de cada personagem, com o acréscimo de um terreno neutro cuja história factual, ao ser misturada à fantasia dos super-heróis, destaca interesse imediato. Some-se a isto a quebra do paradigma exposto no terceiro parágrafo e o melhor embate entre estes dois personagens já visto, fora do batido "mal entendido que depois os força a unir forças".

A título de comparação, os encontros subseqüentes – e coloco no mesmo saco até aquele com o Wendigo e o mais recente, onde passeiam pela Europa – não apresentam um quinto da inventividade do primeiro, além de serem totalmente destacados da cronologia, com roteiros que não exploram os perfis característicos dos personagens de forma mais profunda do que o embate óbvio do "piadista vs cara-cujos-fins-justificam-meios". Ou seja, linearidade pura e caça níqueis.


A história, escrita por James C. Owsley e desenhada por Mark Bright na época em que Ann Nocenti – uma das melhores roteiristas de Demolidor – era editora da Marvel, mostra uma agente free-lancer – mercenária, tirando o eufemismo – que ficou marcada para morrer pela KGB. O problema é que ela teve um romance com Wolverine no passado e ele não mede esforços para evitar a eliminação da antiga marmita. Aliás, o que este cara teve é tempo para arrumar mulher... impressionante. Voltando... a ação é levada para Berlim oriental, onde também estão Peter Parker e Ned Leeds procurando informações sobre a mercenária para uma matéria do Clarim. No meio do processo Ned é assassinado e força Peter a buscar respostas, acabando envolvido no problema de Charlemagne, a agente procurada.


O roteiro vai levando Peter direto para o esgotamento psicológico, refletindo claramente em seus reflexos e impressões sobre o que vem acontecendo ao seu redor. Enquanto isto, Wolverine trafega pelo seu ambiente natural onde a morte é uma constante o que leva os heróis ao embate inevitável. E é neste embate que a diferença entre os dois fica clara, reforçada ainda pelo contexto da luta, e pela primeira vez o Aranha mata. Escrever mais é tirar a graça da leitura.

Clique aqui para o download.


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PELAMORDEDEUS PASSEM LONGE



Um adendo de última hora ao post. Conforme prometido, peguei filmes sem muitas reflexões para ver neste fim de semana. Só não sabia que minha competência para escolher filme descerebrado era tão descarada. Peguei Capitão Sky e o Mundo do Amanhã (Captain Sky and the World of Tomorrow, 2004) e Alone in the Dark (idem, 2005). O primeiro é apenas ruim, insosso e sem graça, mas o segundo revela um dom inato do diretor Uwe Boll de estragar o que toca, numa espécie de toque de Midas reverso. Detalhe: Não é apenas um toque de Midas reverso. É um toque de Midas reverso e temático, pois o cara cismou que deve adaptar jogos de videogame e já tinha cometido a mesma atrocidade com House of the Dead (2003) e vai ainda perpetrar esta desgraça em BloodRayne (a gaja com pouca roupa que fica aqui nesta coluna ao lado).

Pelo menos na próxima atrocidade poderemos olhar para a magavigosa Terminatrix Kristanna Loken (e ainda tem o cool Michael Madsen, Ben Kingsley e Michelle "Macho woman" Rodriguez... será que estão dopados?). Em Alone só tem a eterna promessa Christian Slater amargando a entressafra ad continuum de sua vida. Ruim demais. Furos demais. Idiota demais. Cena de sexo sem sentido sem graça demais. É a agência governamental de controle de atividades paranormais com o maior orçamento que já vi (tive pena de Scully e Mulder).

Enfim... ao final do filme meu irmão perguntou-me que nota eu daria, de 0 a 10. Respondi 3 e ele perguntou se era por causa dos efeitos. Respondi que não (afinal, os monstros são claros cruzamentos de Alien com aquele bicharoco de Resident Evil). O três deve-se às risadas que dei durante o filme. Ta certo que não era o objetivo, mas ri assim mesmo.

Como não resisti, peguei também Os Sonhadores (The Dreamers, 2003). Merece um post sem dúvida!

Parafraseando Doggma e o pessoal do OMEdi, post ao som do grito de gol do Gabriel contra o Corinthians!!

terça-feira, 21 de junho de 2005

O ESTRANHO PADRÃO DE ANTI-HERÓIS NAS ESTAÇÕES



Sabe aquele papo de que os hábitos de consumo de uma pessoa podem denunciar seu perfil e seus gostos? Pois então... se tem um hábito que pode denunciar de forma bem delineada gostos, costumes, pensamentos etc. é a lista de filmes alugados de um fulano qualquer (como se isto ainda fosse necessário num mundo pós-orkut). Normalmente a única regra que sigo é a da Santa Trindade. Sempre pego três. No mais, sou completamente caótico, um filme não tem nada a ver com o outro, alguém que viesse a analisar meu comportamento seguramente opinaria por um Distúrbio de Múltiplas Personalidades, mas no fim de semana que passou estranhamente peguei filmes que tinham mais ou menos coerência entre si. Todos eles do tipo que chamam por aí “cabeça”. Todos eles com algum tipo de mensagem. Todos eles te levando por um passeiozinho pelo inferno, com durações diferentes é verdade, mas com a ressalva de trazerem o lado positivo de tudo. Sempre achei que este negócio de ter que passar uma mensagem nem sempre é bom, pois o distanciamento de percepções entre diretor e espectadores pode ser abissal, e quanto mais subjetiva (e este não é o único parâmetro de distanciamento) a obra, mais propícia a tomar rumos diferentes nas nossas cabeças do que fora pretendido pelo idealizador/desenvolvedor do filme.

Pois bem, os filmes deste fim de semana, deixando de lado o Batman da telona, foram Anti-Herói Americano (American Splendor, 2003), Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera (Bom Yeorum Gaeul Gyeoul Geurigo Bom, 2003) e Pi (idem, 1998) – a piadinha do 3,14159 já era, né?




O primeiro, sendo bem sincero, achei bem chato, o que fez-me sentir culpado já que reproduz a vida de um cara nerd, cheio de manias e Zé Ninguém. Devia me identificar com ele ao invés de achá-lo chato e isto me traz conclusões reflexivas ruins, mas deixa para lá... pelo menos confirmo que Paul Giamatti realmente é um bom ator.

O segundo é belíssimo. O filme inteiro tem cenas de uma beleza extasiante. Pena que o distanciamento de culturas me faz perder uma pá de simbolismos que passam pela tela, mas que o filme é bonitaço, não há dúvida. A história é até bem básica na sua metáfora sobre fases da vida, ensinamentos e estações do ano, mas o que importa é ficar vendo aquile desfile de imagens desbundantes. Se botar um insenso, tacar aquilo numa telona e atolar a cara no saquê (tá legal que o filme é coreano, mas não sei qual o destilado padrão de lá, então vai o genérico oriental mesmo), dá para atingir uns cinco níveis de super e sub consciência ao mesmo tempo... mó viagem.




Já o terceiro... bem.. o que dizer do terceiro? Não nego que a escolha dos três foi motivada pelas indicações de várias pessoas, mas a única unanimidade era Pi. Todo mundo que falava de Pi referia-se a ele como obra-prima que, não vista, acarretava expiação de pecados no inferno e coisa e tal. Como não estava a fim de meter-me com o tinhoso e não achava o dito nas locadoras comuns perto de casa, apelei para uma on-line que entrega lá no meu trabalho (e nem nesta acho Primer).

Veria o filme no sábado, mas entrei na ciranda louca de hospedagens para o post anterior (servicinho que apostava em 1 horinha e durou 2 dias) e acabei só podendo assistí-lo no fim do domingo. Então veio o sono, a segunda-feira, o sono, a terça-feira e ainda não cheguei à conclusão alguma... há momentos no filme que quase me fazem parar tudo e quebrar o DVD em 15 partes, entoando cânticos indígenas para espantar o já citado tinhoso, mas logo depois sinto-me envolvido, com estes momentos alternando-se constantemente, levando-me numa viagem lisérgica fortíssima e não sei ainda se entendi o que passa por trás das imagens aparentemente sem sentido. Tem horas que me sinto vendo aquele filme de Buñuel, O Cão Andaluz (Un Chien Andalou, 1929) - acho que é isto, prestes a me deparar com a lâmina no olho.




Não é de espantar, já que foi dirigido por Darren Aronofsky, mesmo diretor de Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream, 2000), filme dissecado pelo Doggma aqui ano passado e já revelava esta tendência bem particular de viagem pelo inferno. Não à toa foi um dos primeiros cogitados para Batman Begins, pois de sombras este cara entende. Pi foi seu primeiro filme após a graduação, protagonizado por Sean Gullette, mesmo ator usado para seu filme de "formatura" – ou seja lá o nome dado para este tipo de graduação.

A título de curiosidade, Pi é a razão entre a circunferência de um círculo (parece pleonasmo, mas não é) e seu diâmetro. O número 3,14159... é apenas um "apelido", já que não passa de um arredondamento de um número que, na última análise de extensão feita, chegou a 51 bilhões de algarismos e dá o que fazer para cientistas do mundo que teimam em procurar um padrão nas sua seqüência. Já que o círculo é entendido como a forma perfeita, uma razão entre duas de suas principais medidas obedeceria um padrão igualmente perfeito, mas o conceito acabou entrando em conflito com a seqüência de Fibonacci (assunto bem trabalhado no Código Da Vinci) e a divina proporção, o que trouxe a espiral para a luz como a forma perfeita, levando ao entendimento de um cartão de crédito ter uma forma mais perfeita que um círculo. Não entendeu? Explicações aqui.




Para quem estava que nem eu, ainda não viu, e quer saber antes do que se trata para poder fugir do inferno, é até difícil fazer uma sinopse da obra. Atrás do DVD diz-se tratar de um matemático que tenta encontrar um padrão de comportamento por trás do número Pi, e vai às raias da loucura com isto. Na verdade, Maximillian Cohen, o tal matemático, não está nem aí para o Pi. Quem quase empacotou analisando-o foi seu ex-professor. Cohen está preocupado é em descobrir um padrão de comportamento para todos os sistemas da natureza, sob influência humana ou não, o que transformaria a teoria do caos em algo ultrapassado e traria para o domínio humano a capacidade de previsão do futuro pelo entendimento dos padrões elementares de comportamento (inclusive podendo reproduzir o passado, dado que todas as variáveis seriam conhecidas). Está difícil de entender? Não posso fazer nada, mandem uma carta pro Aronofsky reclamando.

Logo no início do filme o protagonista – capaz de fazer 357 vezes 893 de cabeça em 2 segundos - nos diz que tudo na natureza pode ser traduzido em números, que a matemática é a língua universal e tudo está sujeito a ela. De forma brusca somos apresentados à esta persona cética, agnóstica, com visão binária de tudo (talvez por isto o filme seja em preto e branco) e que sofre de dores lancinantes de cabeça desde que contradisse as orientações da mãe aos seis anos e olhou para o sol até quase perder a visão. O indivíduo vive num apartamento minúsculo onde só há banheiro, cama e um mainframe usado para sua tese sobre os padrões universais. Usa como modelo de testes a bolsa de valores, acreditando que, se encontrar o que procura, poderá prever todas as cotações daí para diante.




A pesquisa o leva a ser procurado insistentemente por uma empresa, enquanto usa como momento de desafogo os papos com o ex-professor ou breves debates com um judeu que sempre o encontra em um café. Escrever mais que isto é revelar spoilers, só que não dá para ser diferente, então selecionem abaixo para ver o resto. Se alguém já viu o filme pode me dizer se entendi certo e, caso negativo, me ajudar a acertar.

A despeito de parecer tratar sobre números e mensurações de uma mente cética, humana, confusa com os acontecimentos levando tudo a parecer sem nexo, a impressão que me deu é que o filme trata do divino. Da impossibilidade de entender e se comunicar com a perfeição da natureza, com a consciência por trás de todas as coisas, incompreensível para pessoas tão subdesenvolvidas como a gente, revelando a impossibilidade para quem tenta entender sem poder, ou sem ser puro o suficiente.

Em dado momento o ex-professor revela que seu computador sempre apresentava um bug quando chegava ao fatídico número de 216 algarismos, como se adquirisse consciência do mundo e não fosse capaz de lidar com a mesma. O próprio professor, por insistir no número, acabou tendo o seu bug e o derrame quase o matou. Hoje ele entende que deve viver a vida deixando que as coisas aconteçam, sem tentar meter-se onde não deve. Quando Cohen, o protagonista, acha os 216 algarismos e prevê a próxima cotação da bolsa, seu computador igualmente queima, como se também entendesse que não é digno daquela informação. Certo de que está chegando perto do que procura, começa a ter mais e mais dores de cabeça, chegando a ver um cérebro ensangüentado no metrô e na pia. Enquanto ele se afasta do cérebro, simbolizando um afastamento da tentativa de compreensão, de cutucar aquilo que não deve ser cutucado, permanece em paz. No entanto, ao tentar se aproximar, tocar a compreensão, as dores retornam e o levam a desmaiar.

Paralelamente, o grupo de judeus diz que o Torah é a palavra de Deus com um código numérico por trás e que os 216 algarismos seriam a solução para descobrir o nome perdido e verdadeiro de Deus, só que o matemático sabia que o número por si só não dizia nada, mas a combinação de algarismos escolhidos segundo o percurso de uma espiral traria o entendimento de todas as coisas. Ele nos revela então que, ao olhar para o sol na infância, antes de escurecer tudo, foi capaz de ver entre os raios o funcionamento do cosmo através da tal espiral, como se tocasse a divindade. A ousadia de tentar compreender veio punida com as dores lancinantes e o sangramento nasal que o acometem desde então.

A busca pela verdade fez com que seu ex-professor sentisse estimulado a pensar a respeito, ao tentar encontrar este padrão de funcionamento em um tabuleiro go, onde acredita-se que há infinitas possibilidades de combinações. Sofre então novo derrame e é internado.

Depois disto tudo nosso matemático entende que o que ele procura não deve ser perturbado. Que as coisas divinas não devem sofrer interferência humana. Que brincar de Deus é perigoso e não é permitido, a única retribuição vem da ira divina, mais cedo ou mais tarde. Então destrói seu computador, queima o papel onde está o número e enfia uma furadeira na cabeça. Após o corte de cena, ele aparece novamente em um parque, uma menina vem perguntar quanto seria 782 vezes 975 e ele simplesmente não sabe, sugerindo que perdeu suas faculdades extraordinárias após a furadeira na cabeça (não é de se espantar...rs..). Após, fita as folhas de uma árvore movendo-se aleatoriamente, mas o filme, ainda em preto e branco, parece ganhar mais vida.


Bem... isto posto, reforço que tudo é muito onírico, intenso, perturbador e propositalmente confuso. Por isto não sei se estas impressões têm sentido e certamente não sei se gostei do filme no conceito "Cinema é a Maior Diversão"® (direitos do Grupo Severiano Ribeiro, que os não-cariocas conhecem como Kinoplex). Se eu acertei, a mensagem até é fantástica, mas a forma como é passada é cáustica demais, apesar de marcar melhor. Que nem Closer, onde as relações não são cor de rosa, mas são como a vida de verdade.




Certeza mesmo, depois das escolhas do último fim de semana, é que vou encher a cara no próximo sábado e as escolhas na locadora certamente serão Capitão Sky, Bob Esponja e Alone in the Dark... cansei deste negócio de pensar.

domingo, 19 de junho de 2005

COELHINHAS DA MANSÃO TRIPLE XXX - VIII




Estou com preguiça danada de pensar em como vejo as coisas, então o post de hoje é mais instintivo, fisiológico até. Afinal, assistirei agora 3,14159265 - ou simplesmente - e tenho que economizar neurônios, mas não preciso economizar testosterona.

Antes de começar, assumo logo que roubei o logo aí de cima do Doggma, pois não me entendo bem com o Photoshop para fazer um novo e personalizado.

Por falar nele, acho que já mostrou aqui: Vampira, Lara Croft, Betsy "Psylocke" Bradock, Jean "Fenix" Grey, Red Monika (16/03/2004), Caitlin Fairchild (26/03/2004), Victory e outras Roger's Girls (30/04/2004), Druuna (27/05/2004), Felícia "Gata Negra" Hardy (25/04/2004), e o último que foi um pout pourri de várias personagens (16/05/2005).

Não lembro ao certo, mas acho que ainda fez um da Emma Frost, mas, assim como as quatro primeiras listadas acima, seus links perderam-se na antiga hospedagem, quando o Black Zombie ainda era Phantom Lord e ficava no Blogger Brasil.

Para começar minha participação nesta área, farei antes o meu top fifteen das gajas mais maneiras das HQ. Claro que estas posições alternam-se com meu humor e sempre tem alguém que esqueci de listar. A única que tenho realmente certeza que não muda e não coloco na lista por ser hours concours é a Druuna. Vamos lá (clique nas imagens para uma versão maior):

Décima-Quinta///////Décima-Quarta //////Décima-Terceira
Psylocke do Jim Lee///Red Monika///Sábia
15ª-Psylocke do Jim Lee em diante; 14ª - Red Monika do Joe Madureira (toda mulher tinha que ter estes atributos assim!!); 13ª - Tessa (Sábia) do Salvador LaRocca


Décima-Segunda//////Décima-Primeira ////////Décima
Rogue///Natasha Romanov///Victory
12ª - Vampira do Jim Lee em diante; 11ª - Viúva Negra (Adam Hughes é o cara!); 10ª - Victory (Vida Guerra?)


Nona///////////// Oitava/////////////Sétima
Lara Croft Caitlin Fairchild Fathom
9ª - Lara "Que decote é este" Croft; 8ª - Caitlin Fairchild; 7ª - Aspen Matthews (Fathom)


Sexta/////////////// Quinta///////////////Quarta
Emma Frost///Darkchylde///Gata Negra
6ª - Emma "isso deve fazer um estrago" Frost; 5ª - Darkchylde; 4ª - Gata Negra


Terceiro/////////// Segundo/////////////Primeiro

Aphrodite IX///FAKK///Angelus
3ª - Aphrodite IX; 2ª - F.A.K.K 2 (Heavy Metal); 1ª - Angelus (Darkness)




Como estamos em bat-tempos, cabe também uma referência do mundo do homem-morcego.

Pois é, a Image pode não servir para muita coisa, mas se tem algo que fazem bem, é personagem gostosa. Alguns vão achar uns absurdos aí, principalmente a F.A.K.K, mas fazer o quê, gosto é gosto. O meu é bom e o dos outros é péssimo. :-)

F.A.K.K. 2 é uma personagem do universo Heavy Metal, sempre em paisagens cyber-punk-medieval-caóticas desenhadas por Simon Bisley, famoso também pelos traços de Judge Dredd e Lobo, mas já tendo passado por todas as grandes editoras. Não tem muito mais o que faler, é melhor mostrar (não só ela como suas "primas"):

Ahh... antes, ainda no clima de Batman Begins, abaixo está um exemplo de como a Rachel (Katie Holmes) veria o Batman sob efeito do gás do medo do Espantalho.



Ahh, se a Katie fosse uma mulher de peito...



Agora, F.A.K.K. Begins:



Primeira imagem: O quê? Hoje não tem? É dia de Futebol?
Segunda Imagem: resultado da resposta acima
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Primeira imagem: Vou ter que caçar outro macho...
Segunda Imagem: Sai daqui! Tu não dá conta!! Tô procurando o Fivo!



Continuando agora com suas primas desenhadas por Bisley:



Primeira Imagem: Pode me chamar de pervertido, mas queria esta loira acordando do meu lado!
Segunda Imagem: Olha o porte desta galinha!




Primeira Imagem: Muito punk para mim, mas nada que 15 Skols não resolvam!
Segunda Imagem: Este pseudo-Loki tá trabalhando em um material e tanto! E tem várias gremlins boas também!




Primeira Imagem: Cara... como gosto de uma comissão de frente de porte!!
Segunda Imagem: Keira Agostina? Nada disto! Isso sim é perfeição!




Primeira Imagem: Três dias ininterruptos para descobrir tudo que tem aí!!
Segunda Imagem: Meio forte demais, mas um quadril destes não pode ser ignorado!




Primeira Imagem: Quem não vai pro inferno junto com uma diabinha destas (é... sou pervertido)?
Segunda Imagem: Psylocke poderia ser assim!




Primeira Imagem: Essa mulher resolveria o problema da violência no Rio.
Segunda Imagem: Sabe aquele filme da J. Lo? "Nunca Mais"?




Primeira Imagem: Se fosse a Joanna D´Arc você tacaria fogo?
Segunda Imagem: Polaris turbinada!




Primeira Imagem: Definição da perfeição!
Segunda Imagem: Assegurando a perfeição!




Primeira Imagem: Tem nada errado aí!
Segunda Imagem: A cobra vai comer ali atrás!



Aqui, para terminar e mostrar que nem tudo é caos na arte de Bisley, um pouco de paz angelical para vocês:


A moçada reunida...


Em tempo... achei que seria mais fácil só colocar imagens e pronto. Agora sei porque o doggma leva tanto tempo de uma para outra. Dá um trabalho danado!