quinta-feira, 11 de abril de 2024

A Lenda de Trina Robbins


Trina Robbins
(1938 - 2024)

Se foi a pioneira Trina Robbins. Este mês não está fácil. E nem chegamos na metade.

Nascida Trina Perlson, depois Trina Castillo (do ex Art), depois Trina Petit (pseudônimo) e finalmente Trina Robbins (do ex Paul Jay), ela teve uma trajetória que beirou o surreal. Estilista, modelo, quadrinista, pesquisadora, escritora e ativista, também foi figurinha tarimbada na cena psicodélica americana dos anos 60. Amiga próxima de Jim Morrison e do pessoal do The Byrds, foi homenageada por Joni Mitchell na música “Ladies of the Canyon”. É pouco?

Sua vida se confunde com a própria evolução da cultura pop underground moderna e do papel das mulheres dentro da indústria dos comics. Renderia fácil um livro ou uma série.

Sua carreira começou ainda na adolescência, quando escrevia e desenhava para fanzines. Era o iniciozinho da década de 1950. Com o passar dos anos, chegou a posar para a capa de algumas dessas publicações – o que abriu caminho para alguns trabalhos como modelo pin-up para revistas masculinas até o começo da década seguinte.

Na mesma época, ela integrou a gênese do Underground Comix, sendo uma das poucas mulheres envolvidas no cultuado movimento. Produziu muito material durante os anos 60/70, mergulhando de cabeça nas causas feministas e advogando pelo espaço das mulheres num mercado quase totalmente masculino. É dela a primeira tirinha lésbica já registrada, Sandy Comes Out, publicada na Wimmen's Comix #1 de novembro de 1972.

Robbins nunca foi de fazer média e esculachava sem dó inclusive companheiros de underground. Nem a misoginia satírica de Robert Crumb escapava: “É estranho para mim como as pessoas estão dispostas a ignorar a horrível escuridão do trabalho de Crumb... O que diabos há de engraçado em estupro e assassinato?”

Outro que levou uma trauletada de luxo foi o nosso Mike Deodato. Robbins classificou a Mulher-Maravilha que ele desenhou nos anos 90 como uma “pinup hipersexualizada quase nua.”

Errada não está... tenho as edições e é realmente impagável de tão apelativo. Em contrapartida, ela é a co-criadora da Vampirella e a designer da sua aparência, digamos, hipersexualizada e quase nua.

Outra marca história conquistada por Robbins diz respeito justamente à princesa de Themyscira: em 1985, ela se tornou a 1ª artista feminina a desenhar a Mulher-Maravilha desde a sua criação em 1941. E só levou 44 anos.

Entre trabalhos para a DC, Marvel, Eclipse, Star e outras, passou a se dedicar à pesquisa da História dos Quadrinhos com foco na participação das mulheres no segmento. Isto porque, segundo ela, todos os demais pesquisadores “só queriam saber de Stan Lee e Jack Kirby.”

Em 1985, publicou seu 1º livro, Women and the Comics (inédito por aqui), em parceria com Catherine Yronwode. E não parou mais – sua bibliografia de não-ficção é extensa.

Trina era casada com o veterano quadrinista Steve Leialoha. Ao contrário dele, infelizmente, ela foi pouquíssimo publicada por aqui.

Parece que foi ontem que a mencionei no post de despedida da Ramona Fradon, numa lista com as maiores precursoras das mulheres nos quadrinhos. Pesquisar e escrever sobre Trina é apaixonante, mas parece não haver final à vista. Ela foi demais para uma vida só.

E sim, nos áureos tempos também foi um tremendo brotinho, mora?

Que mulher.

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