Estranho e cativante ao seu modo. I Love Sarah Jane é um curta australiano que participou da seleção oficial do último Sundance e vários outros menos cotados, como o Festival de Edinburgh e Cannes. Trata-se de um olhar sugestivo (e inusitado) sobre o tema "meu primeiro amor" e tudo o que eventualmente vem junto na bagagem: confusão, caos, bullying e... zombies.
A produção é caprichada e a criatura em questão é um primor de make-up (com um esmero detalhista chega a lembrar Zombie, clássico do Fulci). Mas o ponto forte é a narrativa cheia de sensibilidade com que o diretor Spencer Susser retrata Jimbo, um garoto de 13 anos que cai de joelhos pela Sarah Jane do título. Diante dela, Jimbo supera/esquece todo o cenário pós-apocalíptico, os monstros à solta, os valentões da vizinhança e, especialmente, as repelidas fulminantes de um cruel amor adolescente.
O roteiro é do próprio Susser e de David Michôd em pouco mais de onze memoráveis minutos. Algo como "garotos perdidos na terra do George A. Romero".
O curta, em inglês carregado de sotaque aussie matutão e legendas em italiano:
Nunca achei que pensaria assim após três longos anos, mas lá vai: perto de Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, EUA, 2008), Batman Begins foi brincadeira de criança. Um dia ensolarado no parque. O lado mais pop e acessível do Batman na visão de Christopher Nolan. Agora a ordem do dia é chutar as crianças da sala. Livre das amarras ligadas ao passado negro da franquia, o cineasta britânico não perdoa. O roteiro escrito por ele, seu irmão Jonathan Nolan e David S. Goyer é dinâmico, inteligente, impactante e, acima de tudo, corajoso. Isto somado à montagem ríspida e uma marcação cerrada sobre as performances individuais - e pode crer que Nolan drena as capacidades cênicas de cada envolvido -, sedimentam bases ainda mais sóbrias do que as do primeiro filme. É um tour-de-force desmistificante.
A percepção de versão alternativa do herói triplica nesta seqüência, com a veia autoral de Nolan pulsando vertiginosamente - o que não deixa de estabelecer um paralelo insólito com Batman, de Tim Burton, e mais ainda com Batman: O Retorno, extremamente de Tim Burton. O que temos aqui é novamente um trabalho de reinvenção, porém minucioso e criterioso. Assim como Burton, Nolan "seqüestra" o personagem, mas as semelhanças acabam aí. Numa das cenas-chave, Cavaleiro das Trevas claramente dialoga com o Batman de 1989 e não parece dizer nada muito elogioso.
Se em Begins era notável a preocupação com praticidade e verossimilhança, Cavaleiro das Trevas assume o viés em toda a sua extensão. Começando por Gotham, que perdeu aqui todo o seu potencial turístico. Despida do art et décor faraônico e de gárgulas por toda a parte, a cidade acorda de seu sonho gótico para uma estética ordinária, anônima, ultra-realista, típica de qualquer centro urbano. Sem dúvida, transmigrou a locação para as telas. Gotham é Chicago. Mesmo os elementos tradicionais dos quadrinhos não passam intactos neste live-action-per se. O bat-sinal, por exemplo, não passa de um borrão ininteligível no céu nublado. Há várias tomadas à luz do dia. O arsenal utilizado é modesto, não existem raios da morte ou mecanismos milagrosos de nenhuma espécie. O Espantalho (Cillian Murphy) é colocado em seu devido lugar logo de cara, neste universo cuja Física se aproxima muito da nossa. E, como tal, também tem o Caos como uma força obscura da natureza.
O Coringa de Heath Ledger é incorruptível, imprevisível, irracional e... irremovível. O ator se entrega de maneira incondicional à sua psique grotesca e estilhaçada, com trejeitos desajeitadamente épicos, numa atuação que se desenrola imune à edição abrupta (o único personagem a ganhar esse luxo, aliás). O Coringa/Ledger passeia livre em cena, com o tempo e os olhares do mundo ao seu favor. E é realmente irresistível, magnético, trafegando com absoluta naturalidade entre o excêntrico, o engraçado e o aterrorizante. Ao longo da projeção, o personagem vai se transformando numa verdadeira entidade terrorista desconstruindo Gotham sistematicamente. Dos cidadãos comuns, às autoridades instituídas até seus maiores defensores. É a antítese caótica da simbologia de ordem e justiça que o Batman tenta inspirar. Para isso, o Coringa Bin Laden seleciona cuidadosamente a escória que servirá à "causa": bandidos de segunda para ações convencionais e legalmente insanos (loucos de pedra!) para as missões suicidas.
Suas maquinações são um show psicopático à parte. Desdobrando-se em etapas cada vez mais ousadas e letais, elas acabam se revelando um único e grandioso esquema ao estilo caixa-dentro-da-caixa. Sempre didático em suas piadas, se faz entender tanto com toneladas de explosivos quanto com meros utensílios básicos, como na já antológica cena do lápis (uma aula de como monopolizar a atenção!).
O Coringa definitivo, atemporal, merecedor com mérito de todas as homenagens e premiações póstumas. Para ser lembrado como algo único e referencial. No fim, uma dúvida para a eternidade... teria sido seu auge ou apenas seu início?
Dizer que Christian Bale foi ofuscado por Ledger pode ser até mais simples, mas não totalmente verdadeiro. O roteiro equilibra pelo menos cinco personagens de peso, cujas intervenções são fundamentais na resolução da trama. Assim, toda a narrativa envolvendo Batman/Bruce Wayne transcorre apenas um pouco acima das demais (e em alguns momentos até abaixo). Há eventos cruciais no roteiro operando fora do alcance e mesmo do conhecimento do protagonista, demarcando territórios com prognósticos inexistentes e conferindo tridimensionalidade ao contexto. Uma arrepiante seqüência envolvendo dois barcos foi emblemática neste sentido: sem exceção, todos são importantes aqui - principalmente a inteligência do público, jamais subestimada durante as duas horas e meia do filme.
Cavaleiro das Trevas situa-se pouco tempo após Begins. Com a mansão Wayne em reconstrução, Bruce utiliza um quartel-general provisório (quase um franchising do Inmetro), onde aprimora seus veículos, equipamentos e, em particular, sua armadura - muito pesada e pouco flexível, atestando que os realizadores estão cientes de que o design ainda está longe do ideal. Nas ruas, a lenda urbana do Batman está em franca ascensão, gerando controvérsias nos altos escalões. Toda a questão do vigilantismo é bastante discutida no filme e cria o gancho perfeito para a introdução do promotor Harvey Dent. Uma espetacular introdução, por sinal.
Celebrado como o "cavaleiro branco" de Gotham, Dent é visto com olhos esperançosos pela mídia e, especialmente por Bruce, que o considera uma alternativa mais civilizada (e menos fascista?) que a existência de um Batman. Isto até a grande virada do personagem, onde suas convicções morais e éticas são jogadas literalmente na brasa, dando origem ao trágico vilão Duas-Caras. Terrivelmente desfigurado aqui, ele supera de longe as cicatrizes bobinhas (e agora até charmosas) dos quadrinhos. Ao contrário da explosão anárquica do Coringa, o Duas-Caras é ironicamente unidimensional. Numa consciente abordagem, Aaron Eckhart manteve o mesmo tom de austeridade antes e depois do trauma. O que era virtuoso ficou diametralmente impiedoso no instante seguinte, o que é algo assustador de se imaginar.
Numa proposta em que dramaticidade e personagens são priorizados, o grande Gary Oldman recebeu um verdadeiro presente. Seu carismático Tenente Gordon foi elevado a um novo patamar, exercitando uma gama de nuances complexas em situações-limite e co-protagonizando o filme com maestria. E virou comissário, finalmente. Já Michael Caine adotou uma postura bem mais incisiva. Alfred - um lobo em pele de cordeiro - está muito mais influente e revela que nem sempre foi mordomo, o que só contribuiu na excelente química com Bale. Fora que o timing cômico dos dois é fabuloso.
Morgan Freeman teve poucas novidades com seu Lucius Fox, o Q do morcegão. Excetuando sua última cena (num gancho sutil e genial), ele apenas reeditou a pegada de sua participação anterior. E a personagem Rachel Dawes (Maggie Gyllenhaal, substituindo bem Katie Holmes) finalmente encontra lugar e relevância à altura da franquia, se é que você me entende.
O Cavaleiro das Trevas não é perfeito como a anfetamina midiática distribuída nos últimos meses levou a crer. Ainda assim, é muito mais do que apenas o melhor filme baseado em quadrinhos. É um marco. O precedente que, tomara, redefinirá o modo como serão adaptados os próximos exemplares da nona arte. E no que depender do box-office, serão mesmo.
Mais uma produção fluindo quase imperceptível neste reinado de super-heróis. E uma adaptação cinematográfica de um game que era meu objeto de culto, devoção e satisfação sangüinária. Max Payne é daqueles que te acompanham por muito tempo depois. A lembrança que tenho dele é a mesma que tenho de um bom filme. A continuação, Max Payne 2: The Fall of Max Payne, podia não ser tão dark e instigante, mas era igualmente memorável (e com um finalzinho ridiculamente difícil).
Sua atmosfera pegava pesado na estética cinematográfica. A premissa era uma derivação menos viajante e mais psicológica da origem do Justiceiro - que, por sua vez, é uma variação distorcida da origem do Batman - e sendo assim realmente demorou muito para que uma versão live-action chegasse às telonas. Como de praxe nesses últimos tempos, só fui saber do filme agora, com a chegada do trailer.
Redundância-mor: visualmente, é de encher os olhos. O início, no arranha-céu, é igualzinho ao jogo. Alguns planos originais também foram reaproveitados (pudera... o trechos quadrinizados entre as fases do game são story-boards prontos), como o de Max organizando a munição numa mesa e o famoso salto em bullet-time, aqui sem o God damn bullet-time. A propósito, o final do jogo é uma homenagem a uma determinada seqüência do primeiro Matrix - e já dá pra ver algo neste sentido no trailer. Uma pena que não utilizaram a trilha sonora do jogo, disparada a mais bela e sinistra que já ouvi no universo dos games.
Gostei das inserções digitalizadas, com aqueles anjos negros (alucinações provocadas por Valkyr?), não gostei da escalação de Mark Wahlberg como o justic... hã, vingador atormentado e gostei das presenças de Beau Bridges e de Mila Kunis, como a maravilhosa, esplendorosa, garbosa, charmosa, gostosa...
...Mona Sax. Tudo bem que, em um mundo racional, lógico e sem agentes gananciosos, a atriz e modelo Kathy Thong seria a escolha natural para interpretar a personagem, baseada nela mesma. Mas tenho de convir que Mila não está pra brincadeira e também tem uma boa envergadura para o papel.
Max Payne estréia lá fora em 17 de outubro. O roteiro é de Shawn Ryan, de The Shield (yeah!), e Sam Lake, escritor do game. A direção é de John Moore, o mesmo do remake de A Profecia, do Vôo da Fênix e de Atrás das Linhas Inimigas. Já existem por aí algumas comparações entre a tradução genérica deste filme com a da adaptação de Hitman, maninho em estilo e imediatamente ojerizada por muitos - o que, felizmente, não creio que será o caso aqui.
Quem se decepcionou com o filme do francês Xavier Gens por falta de punch e grafismo, mesmo no director's cut, deveria ver o filme que ele fez antes. O mesmo vale para o fraquinho A Invasão, dirigido por Oliver Hirschbiegel (de A Queda!!), Walter Salles em Água Negra (por obrigações contratuais) e tantos outros estreantes na terra do Tio Sam. Claro que ninguém desaprendeu seu ofício no momento em que desembarcou no aeroporto. Tantos casos similares só comprovam como é difícil dirigir por lá com os produtores e seus assistentes agarrados no pescoço. Hollywood toma conta mesmo.
Dois personagens que sempre renderam capas sensacionais. Inclusive, esta do Monstro do Pântano é uma das minhas favoritas de todos os tempos, junto com esta outra dele também.
E sempre achei que o Homem-Coisa tinha algo de zumbi. Pra mim esses cadáveres incrustados nele estão em casa.
Na trilha: Misfits Box Set. "Hallowe-ee-ee-een..."
É, parei de reclamar da DC. J. Michael Straczynski é a prova viva de que a Marvel pode ser tão nonsense e cruel em suas decisões editoriais quanto a subsidiária da Warner Bros. O pobre Stracza tem sido o alvo preferencial daqueles mini-tiranos (será que aquele arquiinimigo dos Micronautas descolou um emprego da hora na Casa das Idéias?). Estreando com toda a pompa de "ex-escritor de Babylon 5" - bom programa, por sinal -, logo caiu nas graças dos exigentes fãs do Aranha, onde escreveu muito tempo e culminou lá em fases ruins (nas quais até o defendo... isso nada mais é que barrigada, falta de renovação, inépcia, negligência administrativa). Paralelamente, ele reafirmou seu talento na memorável fase inicial de Poder Supremo. Releitura instigante, realista e gráfica da Liga da Justiça, a série ganhou spin-offs menores e, já fora da linha MAX, emendou numa competente seqüência PG-13.
Stracza rendeu grana e elogios ao clube. Mesmo assim, foi o bode expiatório num lance polêmico (pra dizer o mínimo) que desembocou em sua contratação pelo time adversário. Um final melancólico, nada surpreendente e que, a julgar pelo que se viu em Confronto Supremo e nesta estréia de Squadron Supreme 2, ainda não terminou.
Primeiro, algumas considerações com spoilers sobre Confronto Supremo, que atualmente está sendo publicada aqui em Marvel Millennium: Homem-Aranha--
A minissérie é dividida em nove partes, sendo as 3 primeiras de Brian Michael Bendis, as 3 seguintes de Straczynski e concluindo com 3 do Jeph Loeb. Começou até bem(dis) na trinca inicial, antecipando o que seria o embate Vingadores x Superamigos definitivo, e melhorou absurdamente com um texto inspirado e impagável do Stracza. Mas, numa queda dramática de qualidade e bom-senso (parece até perseguição, mas juro que não é), virou o samba do alemão doido pelas mãos do Loeb.
Evidente que os créditos negativos não são exclusivos do J.Lo, mas ele ficou com a missão ingrata de roteirizar o destino ridículo de alguns personagens. Resumindo bastante: a serial-maravilha Zarda migrou pro Ultiverso e Nick Fury L. Jackson, milagrosamente com dois braços, foi rebaixado a vilão e despachado pro universo do Esquadrão Supremo (Terra-31916).
Afe.
Squadron Supreme 2 começa com um gap de cinco anos após Confronto Supremo. Nesse meio-tempo, o Esquadrão se dissolveu, sendo que Hipérion e Dr. Espectro desapareceram sem deixar vestígios. Com dor-de-cotovelo, a mídia passou a exaltar entusiasticamente os feitos de pessoas comuns, sem super-poderes. Mesmo uma expedição lunar ganha destaque estratosférico (ops), especialmente depois que a tripulação retorna na surdina, sem dar declarações à imprensa. A gostosinha Arcanna Jones agora presta serviços quânticos para líderes religiosos, enquanto Nick Fury e Emil Burbank (que estavam em cana) aparentemente deram a volta por cima e viraram oficiais da inteligência norte-americana. Nas ruas, eventos estranhos indicam que uma nova onda meta-humana está se formando no horizonte.
Ao mesmo tempo em que os astronautas se revelam uma nooooova versão do Quarteto Fantástico, os outros personagens estreantes também não fogem à regra. Nesta primeira edição, temos um Capitão América munido com um rifle, capacete da Primeira Guerra e literalmente enrolado na bandeira americana. E temos também a tal Arachnophilia, que deve ser a bilionésima variação feminina do Spidey. E assim o Universo Supremo vai abandonando seus dias de subversão do Universo DC para se tornar uma versão alternativa da própria Marvel. Como se fosse uma última pá de cal em cima da passagem de Straczynski pela casa.
Sem grandes destaques para a arte irregular do italiano Marco Turini. Desleixada para os padrões do circuitão, ainda está bastante atrelada às suas incursões na porno-erótica (parecia que a qualquer momento ia rolar uma mega-suruba na história). Imagina o Carlos Zéfiro na Marvel desenhando super-herói... é mais ou menos por aí.
Por fim, um alento: quem assina o roteiro é o sumido Howard Chaykin (lembra de American Flagg!?), um sujeito normalmente competente, criativo, com timing afiado e especialista em coordenar cenários de caos sócio-político, o que é bem o caso aqui. Contudo, encarar esta edição é como mergulhar de cabeça no olho de um furacão. Com vários elementos novos ainda inexplicados, informações fragmentadas e um completo reboot daquele mundo que nós conhecíamos e amávamos (a Zarda principalmente...), o resultado não poderia ser outro senão ter que aguardar pacientemente no escuro até o próximo capítulo.
Pelo menos não é o Loeb aqui. Afinal, ele ainda está nos Ultimates.
Após duas páginas de Patsy Walker: Hellcat, a primeira coisa que pensei foi "porque diabo eu tô lendo uma HQ de menininha?". Bom, posso ser criativo e pensar em alguns motivos... lá vai. Já li quadrinhos "de menininha" antes. Exemplos mais recentes foram Ultra, dos Luna Brothers, e Lost Girls, de Melinda Gebbie e Alan Moore. E da minha época, tiveram umas paradas mais cult, como as já saudosas Estranhos no Paraíso, de Terry Moore, e Love and Rockets, dos hermanos Hernandez. Todas representando 2 coisas: Um - quadrinhos de primeira; e Dois - uma boa espiadela no diário subconsciente destas maravilhas supremas da natureza. No choque com um universo ainda dominado por estereótipos sexistas e vexatórios, não deixa de ser curioso o resgate desta personagem em particular.
Patsy Walker é das antigas. Pertencia ao cast da Timely Comics, que veio a formar a Atlas Comics e, finalmente, a Marvel Comics. Ironicamente, ela seguia o modelo de teenager feminina bem-comportada da época (anos 40-50). No início da década de 70, foi repescada naquele depósito de idéias da editora e reformulada no padrão super-heróico. Nascia a Felina/Gata do Inferno/* espaço reservado à criatividade do novo tradutor *.
Já de colante high-tech, garrinhas e com uns poderes psíquicos aí, integrou Vingadores, Novos Defensores e teve no currículo dois casamentos mal... hm, pessimamente sucedidos. O primeiro foi com o vilão Cão Raivoso, o outro com Daimon Hellstrom, o Filho de Satã (cuja mini que está saindo agora em Marvel MAX é um chute bem naquele lugar que dói), onde ela foi parar no inferno, literalmente.
Um dos recursos que sempre gostei na Marvel é o constante ressurgimento de personagens B engavetados há tempos (ainda espero o retorno dos infames Guardiões do Deserto!). Como a maioria representou uma fatia mercadológica de sua época, não deixa de ser um interessante exercício criativo realocá-los no século atual. Ao menos em tese, tendo em vista as boas redefinições de Luke Cage e Punho de Ferro.
Nesta estréia de Patsy Walker: Hellcat, minissérie em cinco capítulos, a roteirista Kathryn Immonen (patroa do Stuart) rebusca aquela jovialidade dos primórdios, ignorando sabiamente seu background pesadão (que não era mais do que um monte de sucata cronológica, afinal). Trazendo de volta o apelo teen/girlie em contraponto ao cenário super-colorido - ambos traduzidos com maestria pop no traço 'immoneano' de David LaFuente -, temos aí o que seria a versão atualizada e perfeitamente comercializável da heroína. Distante do cinismo outsider de Jessica Jones em Alias e mais próxima do subtexto de auto-conscientização feminina de DC Apresenta: SJA Arquivos Confidenciais #1 (aquele, com a poderosa Poderosa) - de onde parece ter se inspirado também no clima divertido e ensolarado, a despeito da localização.
Na história, Patsy é um dos mimos do Tony Stark pós-Lei de Registro. Estatizada de carteirinha, ela não é nem um pouco contestadora e parece mais interessada em curtir a vida de heroína patrocinada pelo governo. Um dos ganchos mais bem-humorados, num jeitinho feminino de ser, são os quadros estilizados onde ela vislumbra uma previsão exageradamente otimista de algo potencialmente ruim (ali, não pude evitar, me pareciam alucinações de alguém chapado de estrogênio e LSD). Não sei se foi o meu lado Cássia Eller lendo, mas achei uma boa sacada da sra. Immonen. Meio que aproveitando o desejo de Patsy de integrar missões de grande porte, Stark a encaixa (sem trocadilhos) num reconhecimento no 50º estado da Iniciativa, ainda sem monitoração de uma super-equipe (também!). Lá ela encontra a fauna caipira local e sobrenatural. Algo envolvendo misticismo indígena ancestral, afins, quetais e similares.
Mesmo com um início 110% rosa-choque no qual só consegui prestar atenção no decote da moça, vale um crédito extra até o momento de sua convocação. Espertos diálogos bate-pronto (estilo Bendis sem a chatice da Mary Jane ultimate) e, principalmente, o charme e simpatia irresistíveis da protagonista. Irresistíveis, porém, até segunda ordem (ou edição). Sabe como são as mulheres...
Na trilha: a mulherzona do BellRays cantando. Que mulherzona! E que cantando!
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Millar, comemorando o resultado da enquete
Grant Morrison parecia o alasão premiado, mas o no finzinho o pangaré Mark Millar foi uma bala! Confesso que nenhuma enquete que fiz anteriormente me deixou tão curioso quanto esta.
Roubaram muito na votação aí? Espero que não... :)
Cabe dizer que Millar está fazendo um trabalho... "bem-feitinho" em 1985 e está mandando muito bem em Quarteto Fantástico, pela cronologia normal. Já Morrison não está se saindo nada bem em Final Crisis, mas pra compensar, está dando a luz a um clássico com todas as letras, que é All-Star Superman. IMO.
Também achei legais os números paralelos. Interessante o parelho K. Vaughan/Ellis e surpreendente a pouca repercussão do Bendis, do Johns e do Whedon (Astonishing, pessoal!). Mas acho que aí o fator "bom operário" pesou.
E um abraço forte aos dois que votaram no Willingham. Qualquer hora a gente sai pra tomar um capuccino, por minha conta.
Parecia inevitável. Chegamos ao remake de O Dia Em Que A Terra Parou. Depois disso, nada mais é sagrado em Hollywood. A péssima fase criativa da indústria já se fazia notar em refilmagens como A Profecia, Os Invasores e Eu Sou A Lenda, mas com certos símbolos não se mexe. O filme original de Robert Wise é um deles. Não apenas pela mensagem, atemporal (mesmo atrelada a um cenário geopolítico específico), mas também, principalmente, por seu valor cinematográfico.
Lançado em 1951, o filme trouxe efeitos visuais incrivelmente sóbrios e sofisticados para a época e recebeu uma produção impecável - não se viam muitos militares "reais" (com canhões, jipes, tanques e um contingente generoso em cena) nos sci-fi de antanho, considerados veículos B por excelência, sem tanta vocação para o mainstream. E pela primeira vez, o ET destoava da recorrente alusão comunista. Klaatu era um ser benevolente. Nós é que éramos os monstros. Clássico.
Tudo pronto para mais uma bomba anunciada, mas eis que chega o 1º trailer deste remake (cuja existência fui saber há pouco). Confesso que curti mais do que gostaria de admitir.
Ok, Keanu Reeves é um ator ruim (dãã), mas funcionou em Matrix. Seu ar frio e distante bateu com a aura messiânica que o personagem demandava. Aqui o princípio é quase o mesmo, num contexto até mais lógico e compreensível. Sinceramente, gostei dele aqui. Jennifer Connelly garante credibilidade (e muito mais) em cena e o elenco de apoio conta com Kathy Bates e John Cleese (uôu!). Pelo que percebi, muita coisa mudou na história. As obrigatórias seqüências de destruição em massa sugerem que Klaatu fará bem mais que um apagão global. E ao que parece, Helen (Connelly) vai chegar meio tarde pra dizer "Klaatu Barada Nikto". No último frame, vemos uma imagem do icônico Gort, o guarda-costas alienígena mais badass do Cinema.
Outra coisa... a música que rola no trailer me ganhou na lábia. Depois que Danny Boyle descobriu o Godspeed You! Black Emperor nasceu uma praga de trilhas atmosféricas. Não sei se essa canção é deles (ou seria do Mogwai?), mas foi determinante pra me vender a idéia. Cinema e shoegazer music nasceram um pro outro.
Agora as credenciais: o cineasta Scott Derrickson roteirizou e dirigiu o ótimo O Exorcismo de Emily Rose. Por outro lado, também realizou Hellraiser: Inferno, no início de carreira (mas até aí, o jovem James Cameron fez Piranhas 2: Assassinas Voadoras pra levantar algum... então tá 50/50). Já o roteirista David Scarpa escreveu A Última Fortaleza, que é realmente um bom filme.
Continuo execrando a idéia do remake. Mas se antes não esperava nada, agora já espero alguma coisa.
Não há nada tão divertido nos quadrinhos atuais quanto Marvel Zombies. Ponto! Certo... o fator "diversão descerebrada" bate forte ali, mas é o que faz esta experiência adquirir contornos quase vanguardistas. Sério. Ao colocar ícones da cultura pop cometendo as maiores atrocidades, a série promove uma subversão total de valores num espirituoso e imprevisível exercício de estilo. Além do caos anunciado na lapidar "Quis custodiet ipsos custodes?" (peguei pesado), também é o oposto imediato aos estereótipos maniqueístas, tão comuns nesta indústria. A redenção definitivamente não está atrás daqueles portões. E isto é maravilhoso! Porque o mundo é assim, filho. Acostume-se ou morra. hahah
Ajuda o fato de que a Marvel (leia-se "Joe Quesada") tenha ignorado os freios nessa descida ao inferno. Não há sutilezas de qualquer tipo e nem os heróis mais famosos são poupados. Pelo contrário, são estes que protagonizam os momentos mais horripilantes da maxi-saga e que mergulham de nariz no lado mais negro de uma cabecinha doentia - no caso, do necro-roteirista Robert Kirkman (Invincible, The Walking Dead), Ph.Z em rigor-mortis na 9ª Arte.
Acompanhado da revelação Sean Phillips - um ás do traço-trash - a química fica tão irresistível quanto pútrida. E não escrevo isto à toa. Em que outro lugar você acharia graça numa cena em que uma mãe indefesa e seu filhinho são devorados impiedosamente por um supercanibal em decomposição?
É, eu sei... soa terrível, mas foi muito engraçado. Ah, foi. Por isto, nada de avaliações psicológicas aqui no BZ...
Não é surpresa que o conceito de Marvel Zombies tenha sido criado por Mark Millar, visto que o escocês fanfarrão vive sapecando referências pop em tudo que roteiriza. Então, nada mais natural que uma justa homenagem às simpáticas criaturinhas sem vida, aproveitando que os ventos do comércio sopravam a favor de epidemias e carnificinas pós-apocalípticas.
Também não duvido que o resultado tenha saído muito melhor que a encomenda: de um arco na revista Ultimate Fantastic Four, eles ganharam uma mini própria, um crossover, um especial, duas continuações e um universo inteirinho só pra eles. Sim, os Marvel Zombies pertencem à Terra-2149, já quase totalmente deglutida a esta altura (arrout!).
Pensando melhor, esta é uma honraria meio dúbia, já que a Marvel registra praticamente 1 universo por página impressa. Mas que se dane, é melhor do que ficar sem.
O que mais surpreende (até a mim, incansável paladino da podreira B) é que todo o material lançado até o momento sedimenta uma mitologia interessantíssima. Juro por George A. Romero. É uma odisséia completa, que atravessa gerações e cujo enredo tem comédia, suspense, drama e até romance, além de grandes revelações. Não seria exagero afirmar que estamos diante do Star Wars dos mortos-vivos. Ou seria? Maldita cafeína.
A ótima primeira impressão do review anterior manteve-se nas quatro edições seguintes. Todo quadrinheiro veterano sabe que crossover entre editoras vale menos que um copo de cachaça, mas esta é uma das raras exceções à regra. As saídas inusitadas e os diálogos corrosivos do roteiro de John Layman (ex-editor da Wildstorm) seguram a diversão do início ao fim. O cara realmente manja dos elementos envolvidos. Conhece os três Evil Dead de cabo a rabo e, mais importante, sabe como despachar as referências pra cima dos psicopáticos Marvel Zombies.
Praticamente tudo o que poderia ser feito com Ash ali no meio da bagunça foi feito. Ash até morre lá pelas tantas (o que foi até irônico, já que ele também precisou morrer em sua revista solo para estar aqui)... e acredite, isto não é spoiler. Segundo o próprio Layman, na época: “Posso te dizer que Ash morre (...) Sem sacanagem. E não, ele não volta como um Deadite. Ou como um zumbi. Que tal isto como cliffhanger?”
E ele não estava brincando. A solução foi tão esperta quanto malandramente simples. Quem curte os filmes de Sam Raimi da boa safra vai decepar a mão com uma motosserra, de tanta alegria.
Ash, impressionado com a situação
A narrativa é fluída e ágil, desenvolvendo a trama num arco fechado (o quanto pode ser) e inserindo novas infos ao contexto dos zumbis marvetes. Conhecemos um pouco mais sobre a origem da pandemia e temos a confirmação de quem foi o hospedeiro original, já que Ultimate Fantastic Four #22 foi pouco claro nisso.
Uma ótima sacada: a infecção de Pietro (alguém ainda o chama de Mercúrio?) foi o momento-chave do caos, neutralizando o tempo de resposta e imprimindo uma velocidade exorbitante ao processo de contaminação mundial. Imagina se ele fosse o Flash.
As escorregadas até que foram tímidas aqui. As mais evidentes ficaram por conta da aparição do supergrupo Nova Onda, bem ao seu estilo nada discreto, detonando um Quarteto Futuro zumbificado (hooray!). O que seria meio difícil, já que no arco inicial de Millar, a líder da equipe, Monica Rambeau (Capitã Marvel), já estava infectada e ainda usava seu velho uniforme de vingadora. O mesmo vale para a voluptuosa mutante Cristal, aqui servindo de sidekick para Ash.
São relativamente poucos furos, considerando a zona estrutural que sempre foi Marvel Zombies. Além do quê, os diálogos ferinos do "herói" com o famigerado Necronomicon compensam qualquer pisada no tomate - e o que Ash apronta com o arcano livro dos mortos no final da saga é de baixíssimo nível até pra ele. Aquilo foi muita, mas muita sacanagem.
O traço do brazuca Fabiano Neves foi uma grata surpresa, especialmente nas curvas generosas das heroínas. Todas turbinadas e supercachorras. Naqueles trajes sumários então, viraram praticamente musas do funk ("As Gostosas do Cosplay"... devem ter até flog). Na reta final, Neves divide a Faber-Castell com o espanhol Fernando Blanco (Thunderbolts) e Sean Phillips. Uma festa só.
A mini começa a ser publicada aqui neste mês, na revista Marvel MAX. Anota aí - Zumbis Marvel: Uma Noite Alucinante é imperdível.
MARVEL ZOMBIES: DEAD DAYS
Ah, Dead Days... este aqui é O Encouraçado Potemkin dos Marvel Zombies. Nem Atomika invocou conceitos tão marxistas quanto o sectarismo dente-a-dente aqui presente. É uma classe literalmente devorando a outra em busca do status-quo. Dead Days é one-shot e funciona com um semi-prequel: a intenção é documentar, direto das trincheiras, os últimos esforços dos heróis remanescentes, comandados por Nick Fury num porta-aviões aéreo com um plano pra lá de suicida. E também mostra como os principais personagens da Marvel se saem no "Dia D(ead)". É curioso como cada um assimila a inevitabilidade do evento, tão acostumados que estão a sempre encontrar uma saída pela esquerda.
Ao contrário do Cap, o Cel não morre tão fácil
Alguns reagem de maneira surpreendente ao ver a casa caindo - o que pode até ser creditado, em parte, às particularidades daquela realidade alternativa - mas sem jamais corromper o perfil psicológico de suas versões do universo tradicional. O Coronel América é, rigorosamente, o Capitão com divisas a mais. Os X-Men, Tony Stark, Nick Fury e o Aranha também continuam os mesmos - este último rendeu a já antológica seqüência de abertura, com participações especialíssimas e mal-passadas de Mary Jane e Tia May.
Thor está mais impulsivo e guerreiro; Hank Pym se transformou naquele líder canalha e cruel que surpreendeu todo mundo em Marvel Zombies (o pobre T'Challa soube disso em 1ª mão); Já o Quarteto está praticamente intacto. Praticamente.
Depois de Pym, Reed Richards foi quem sofreu a maior mudança de caráter. É ele quem dá o golpe final nos esforços dos heróis e nas esperanças da humanidade (e, por conseqüência, do Cosmo). E sem estar infectado! O que aconteceu com Reed também pode ser encarado como uma forma de loucura pós-traumática, Hal Jordan's style, embora isto não esteja exatamente inserido nas entrelinhas. É só uma opinião minha... :)
Especial do dia: sushi de Jarvis
O roteiro reserva um momento-surpresa logo nas primeiras páginas: o verdadeiro responsável pela disseminação da epidemia naquele mundo (e com qual torpe objetivo). Nesse ponto, um detalhe me chamou atenção. O portador inicial da praga zumbi é de origem interdimensional, o que sugere a existência de outro universo alternativo com super-heróis zumbificados - e provavelmente já devastado, desmembrado, mastigado e digerido.
Robert Kirkman & Sean Phillips mais uma vez comandam a diversão com requintes de crueldade encharcada de humor negro - ainda que desta vez tenha sido mais pra um daqueles lanchinhos no meio da noite no modo stealth. Acaba muito rápido. Quando menos percebi, já estava lambendo os dedos e procurando por mais. Tal qual um Zombie.
O entrevero é concluído de forma mais intigante ainda. Tá lá o "The beginning" no finalzinho que não me deixa mentir.
BLACK PANTHER #27-30
Este arco da revista solo do Pantera Negra é uma espécie de prólogo para a seqüência de Marvel Zombies. No final da mini, vimos nossos putrefactos heróis rangarem ninguém menos que o devorador de mundos Galactus e, detendo o Poder Cósmico, partindo para os confins da galáxia em busca de mais paramédic... eh, suprimentos. Pela primeira vez é revelado o que aconteceu com os infames Marvel Zombies Galacti. Até que enfim! Antes mesmo de uma continuação, a Marvel explorou ao máximo as possibilidades da "franquia"... mortos-muito-vivos com uma insaciável fome de US$, € e até R$! Felizmente, para uma entressafra, o saldo foi positivo e aqui não foi diferente, reservadas as características de uma típica participação especial, claro.
O Pantera, sua esposa Tempestade, o Coisa e o Tocha Humana formam o Quarteto Fantástico provisório e estão às voltas com um artefato místico (um "Sapo Dourado do Rei Salomão"!). Ao tentar repelir um insetão da Zona Negativa que invadiu o Edifício Baxter, eles acidentalmente vão parar no universo dos Zombies. Mais especificamente, num planeta Skrull que está na iminência de ser abocanhado pelas esfomeadas criaturas.
De um lado, estão o Quarteto e os militares Skrull, petrificados com o que vêem. Do outro, os Marvel Zombies, agora super-hiper-poderosos e contando com... Luke Cage!
Por incrível que pareça, é do ex-herói de aluguel os maiores rompantes de raciocínio lógico aqui, o que rapidamente lhe confere o status de líder temporário da matilha. Ao ver os integrantes do novo Quarteto ainda vivos (literalmente), sem pestanejar, Cage usa a coerência e deduz que eles vieram de outra realidade e que têm acesso a algum dispositivo de transporte interdimensional. Exatamente do que os Zombies precisam, já fartos de contra-filé alienígena.
Essa linha de diálogos do Cage smart-ass é impagável. E uma clara auto-crítica do roteiro de Reginald Hudlin, visto que a "saga" envolvendo o tal Sapão Dourado tem a regularidade de um Bill & Ted - e furos confessos idem.
Mas é a matança que importa! E os Zombies promovem uma skrullficina generalizada, com montanhas de restos mortais verdes decorando a metrópole alien, Super-Skrulls infectados, juntamente com o besourão da Zona Negativa, já sem uma das placas toráxicas e com as tripas dependuradas... bluoouurg, é de embrulhar o estômago. E as cenas com os zumbis se refestelando na população civil Skrull são tão doentias (pero hilárias) que até fiquei com pena dos coitados.
Mas uma coisa eu tenho de admitir... não sei se foi a arte eficiente de Francis Portela, mas a carne Skrull parecia mesmo saborosa. Uma iguaria! E segundo Stark@Zombie, fica ainda mais gostosa grelhadinha no raio cósmico.
O cross do Pantera com os Zombies está sendo publicado aqui na revista Marvel Action. Um breve petisco antes do banquete principal...
MARVEL ZOMBIES 2
Complicado comentar Marvel Zombies 2 sem revelar algum spoiler classe 100 (e até alguns de classe "desconhecida"!). Tão arriscado quanto atravessar um cemitério em meio a um levante zumbi. Isto porque nesta mini começa um novo estágio da saga e a partir daqui as coisas mudam bastante - até mesmo a insana fome dos Zombies. Robert Kirkman retorna ao front renovando os objetivos de cada casta ("casta" mesmo... já que ninguém aqui toma partido individualista, me convencendo mais ainda que Marvel Zombies é panfleto marxista deslavado, ainda que involuntário - se é que isto é possível) e a maneira como estas interagem/batem de frente.
Em outros termos, Marvel Zombies 2 traz mais roteiro numa só página do que em tudo o que foi lançado até agora. Literalmente, cada naco de carne arrancado aqui tem um fundo de causa.
A história começa 40 anos após os Marvel Zombies deixarem o planeta. Durante sua jornada até onde o Universo faz a curva, eles acrescentaram novos integrantes à horda desmorta: Thanos, o titã, a mutante Fênix, o Gladiador da Guarda Imperial de Shi'ar, e o Senhor do Fogo, ex-arauto de Galactus, agora sem mandíbula. Aparentemente, eles consumiram toda a fauna extra-terrestre. Enlouquecidos pela Fome, os Zombies resolvem retornar à Terra para reconstruir o portal interdimensional que Magneto destruiu e assim continuar a farra em outro universo.
Na longa estrada de volta pra casa, uma paradinha pro lanche... Big X-Planet triplo com fritas - cá pra nós, nunca fui com os córneos deste aí e sempre achei que merecia um fim apropriado com esse!
Na Terra, os sobreviventes do holocausto canibal ainda tentam modestamente reestabelecer o modelo de civilização em Nova Wakanda, cidade construída ao redor do Asteróide M, agora em terra firme. Numa estrutura semi-tribal, humanos e mutantes estão entrando na 2ª geração pós-apocalipse. O velho Pantera Negra é o governante. Ao lado dos ex-Alcólitos originais (sua esposa Lisa Hendricks, Forge e Reynolds) e da Vespa (ou da cabeça dela), ele tem de lidar com a oposição radical do filho de Fabian Cortez, Malcolm. Suas idéias de supremacia genética arrebanham cada vez mais seguidores e culminam numa desastrosa tentativa de assassinato. Desastrosa mesmo, com um clímax de arrepiar.
Enquanto isso, os Marvel Zombies, violentamente famintos, estão a caminho. E o Aranha é o primeiro a perceber uma nuance da Fome até então despercebida pelo bando.
Desta vez, Kirkman não teve tanta moleza. Marvel Zombies e Dead Days eram deliciosamente desregrados. Ele tinha um mundo um Universo inteiro à disposição pra ser chacinado à revelia, com carta branca para atropelar sem dó o apelo PG-13 das preciosas marcas em jogo. Garth Ennis, que trucida super-heróis no café da manhã, deve ter se mordido de inveja. Achei a mini consideravelmente melhor que a primeira, mas imagino que o tom adotado aqui, bem menos gratuito, irá desagradar muitos - como desagradou em fóruns estrangeiros.
A narrativa está mais complexa, com subtramas que, num primeiro momento, se desenvolvem à parte da praga zumbi - mas se utilizando sabiamente do espectro de sua existência. Guerra Fria por definição. Também há várias cenas envolvendo "objetos de estudo Zombie", cheias de laboratórios e análises (fãs de Day of the Dead vão delirar), principalmente após a descoberta da cabeça balbuciante do Gavião Arqueiro em meio às ruínas, 40 anos depois (!).
Sean Phillips, com seu traço inconfundível (o bom inconfundível), chega a surpreender nas paisagens urbanas tomadas pela vegetação, lembrando os belos cenários do recente Eu Sou A Lenda. Nota-se também um carinho especial do artista em relação à carismática Vespa, conferindo-lhe uma postura sempre cool e um corpinho cibernético de inusitado sex-appeal...
Que foi...? Vai dizer que não acha essa cabeça feminina incrivelmente sexy? E essas curvas metalizadas instigantes e sensuais?
Adorável.
Bom, não sou necrófilo (assim creio), mas não é a primeira vez que acho uma morta-viva atraente. E também não estou sozinho na questão das andróides e fembots como profissionais da cama. Tudo bem que, no caso, são as duas coisas juntas, o que aumenta a bizarrice, mas garanto que isso também pode render momentos autênticos de puro e inocente romantismo.
Fora que é sempre bom ter uma dessas ao seu lado durante um apocalipse zumbi!
Anunciada para outubro, Marvel Zombies 3 será uma mini em quatro partes, fechando assim uma trilogia, até aqui, bastante rentável para a Casa das Idéias. Lado ruim: sai a dupla Kirkman/Phillips. O roteiro agora é por conta de Fred Van Lente (Incredible Hercules) e os desenhos serão de Kev Walker (Annihilation: Nova). Será o primeiro encontro dos anárquicos Marvel Zombies com os super-heróis do Universo 616, o "oficial".
Há certas peculiaridades quanto à cronologia: a história começa antes de Secret Invasion. No Zombieverso, onde será a maior parte da trama, os eventos ocorrerão cinco anos após os monstros deixarem o planeta, pouco antes do Pantera Negra e os Alcólitos arriscarem seu primeiro reconhecimento terrestre. Os heróis 616 envolvidos serão do 2º escalão, possivelmente integrantes de alguma das dezenas de equipes da Iniciativa. O Homem-Coisa e os elementos místicos que o cercam terão um papel importante no enredo.
Recentemente, foi divulgada a arte-final da capa de estréia, ilustrada por Greg Land.
Homem-Máquina e Jocasta? Essa não. Clique pra aumentar
Em entrevista ao CBR, Van Lente se mostrou bastante empolgado com o resultado, mas a tônica das perguntas foi um tanto condescendente. O que não aconteceu na conversa com o Newsarama, bastante franca e com uma entrevistadora cheia do veneno (Vaneta Rogers). O papo é bem divertido e spoilerento, com o roteirista soltando algumas revelações promissoras e outras meio decepcionantes. É a vida. Ou a morte, sei lá.
Em janeiro último, um boato interessante foi abordado pelo Shock Till You Drop: uma animação direct-to-DVD dos Marvel Zombies chegou a ser discutida na Casa das Idéias. Como pouco se comentou sobre isso desde então, é provável que o projeto tenha sido engavetado. De fato, seria uma incursão com novos parâmetros mercadológicos a serem estudados, especialmente num terreno ainda mal-explorado pela Marvel.
Mas é sempre bom lembrar não foram previsões de retorno modesto que fizeram Mike Mignola desistir de pequenos e ótimos projetos - ao contrário das (des)animações dos Supremos, que seguiram a cartilha do PG-13 e mesmo assim tiveram um desempenho medíocre. Seria um bom momento para repensar a estratégia.
Pra finalizar, uma oportuna reprise de um hit que ilustra bem o quanto isso poderia render.
Marvel Zombies Assembled!
Na trilha: o primeirão do Danzig. Rock and roll de boa safra!