sexta-feira, 28 de outubro de 2022

The Killer is dead. Long live the Killer!


Jerry Lee Lewis
(1935 - 2022)

Até na saideira Jerry Lee Lewis quebra tudo. Há dois dias correu o mundo a notícia que "The Killer", um dos pilares de 1ª hora da música pop, havia partido. Artigos e memoriais já detalhavam a importância e o status maldito do grande astro do rock and roll. E logo em seguida, a notícia foi desmentida. Infelizmente, o alívio não durou muito e hoje veio a confirmação de que um dos últimos pioneiros se juntou àquela imensa e barulhenta constelação lá em cima.

Claro que seu controverso 3º casamento (de sete!) levará um desmedido destaque em matérias por aí. Lewis fez sua escolha há muito tempo, quando trocou votos com sua prima de 13 anos. E por isso pagou um preço enorme — provavelmente foi o 1º cancelado da cultura pop. Mas nunca parou de fazer shows arrasadores (ou seria matadores?) e de construir uma discografia épica.

E deixa um legado de influência primordial para artistas tão distintos quanto Stones, AC/DC, Stray Cats, Cramps, Ramones, Ministry e Motörhead. Basicamente tudo o que veio depois e que teve sangue quente correndo nas veias.


Thank you, Killer!

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Panini, vai-te Qatar!


Setembro último, finzinho de mês. Cartão virado e uma suculenta promoção de descontos progressivos no novo site da Panini pipoca na minha timelinda. Parti pra cima igual o Coiote atrás do Papa-Léguas. Resolvi botar em dia todas as Sagas, Coleções Clássicas e títulos X numa tacada só, para aproveitar o desconto-teto de 30%. Já esperava por um montante impublicável. Não fechei um carrinho, fechei uma Kombi.

O primeiro indício de estranheza foi no pagamento com cartão. Três tentativas deram erro com direito a pop-up esquisitão. Após aquela rotina de ligar para o banco e constatar que não havia nada errado, concluí que o problema era com o site mesmo. Até pensei em desistir, mas com aquela listinha-update na promocha fritando no cérebro fica difícil dormir um sono tranquilo à noite.

Sentei o dedo nesta porra. Fui de Pix.

30 DIAS DEPOIS


Um mês e o pedido não saiu do "Processando". Pedido grande. Pago à vista.

Acabei descobrindo que na vida existem três certezas: morte, impostos e a Panini não atende ligações. O SAC da editora é um saco. Completamente inútil. Suas redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter) parecem gerenciadas por estagiários-zumbi, inertes a qualquer tentativa de interação humana.

Aliás, é um quadro de horror acessar alguma delas e se deparar com centenas de comentários com problemas ainda maiores que o seu.

O disfuncional site novo dispõe de um formulário para abrir "chamados" sobre algum pedido. Abri um e, passados cinco dias úteis, não houve retorno. Como não estava fazendo nada mesmo, abri mais uns 15. E repliquei/trepliquei cada um pelo e-mail de confirmação. Floodei a caixa de alguém lá e, no dia seguinte, surgiu uma atendente.

Após alguns e-mails (sempre comigo suplicando por respostas), fui informado que um dos itens estava esgotado e que seria programado um estorno. E que ela avisaria quando os demais itens fossem para manuseio/envio. Enquanto isso, sigo no "Processando" preservado em carbonita.

Sempre fui um desconfiado profissional. Lá pelos idos de 2016, quando a então gloriosa Liga HQ! começou a demorar para despachar os gibizinhos, recebi uma última encomenda e suspendi novas compras. Logo em seguida, a loja (virtual e física) implodiu, deixando uma porrada de gente na fila do reembolso. Mesma coisa com a Saraiva. Usei muito o cartão de lá com seus descontinhos de 3% (na época era bastante, acredite). Quando as primeiras reclamações começaram a vir à tona, fechei a conta e passei a régua. Escapei do incêndio sem uma mísera chamuscada.

Por algum motivo, baixei a guarda com a Panini.

Já havia comprado na nova loja virtual duas vezes sem problemas, mas todos os indícios estavam lá, claros como as dicas da Morte na série Premonição. Site novo péssimo, o tsunami de denúncias no Reclame Aqui e é evidente que o Álbum de Figurinhas da Copa é um evento absurdamente gigantesco que monopoliza toda a estrutura interna da editora. Uma hora ia acontecer.

Dessa vez meu Ackbar interior não prevaleceu. Meu pagamentinho à vista não é nada perto da Copa do Qatar.

Salve-se quem puder na roleta russa da Panini.


Por último e não menos importante:

Porra, Panini!

🖕 🖕 🖕 🖕 🖕


Anexo 2 do Relatório de Prejuízos

Em abril antecipei aqui mais essa furada. A Graphite Editora (sic) abandonou todas as suas redes sociais e não atualiza seus projetos financiados no Catarse desde fevereiro. É o caso dos meus, agora platônicos, Legs Weaver, Nathan Never Vol. 2 e Martin Mystère & Nathan Never: Prisioneiro do Futuro.

Todos foram pro vinagre, bem como o meu suado dinheirinho.



De acordo com a coluna Enquanto Isso..., do Érico Assis, o Catarse baniu a Graphite "efetivamente da plataforma". Mas até este momento, a conta e os projetos continuam lá.

A pá de cal foi descobrir alguém na Shopee vendendo vários materiais da Graphite. Incluindo títulos e recompensas que nem os próprios apoiadores receberam...

sábado, 22 de outubro de 2022

Tim Maia em suas próprias palavras


Difícil pensar numa conexão mais esdrúxula que Frank Zappa e Tim Maia. Mas a docussérie Vale Tudo com Tim Maia, produção da Globoplay codirigida por Nelson Motta e Renato Terra, mostra que existem mais similaridades entre o fusionista de Baltimore e o soulman da Tijuca do que julga a vã filosofia. A começar pela própria natureza musical: compositores multi-instrumentistas autodidatas (apesar de Zappa dominar tudo de teoria) que estrearam na carreira como bateristas. E um dos aspectos mais importantes, que era a saudável mania de registrar tudo o que fosse possível, de conversas informais e coletivas de imprensa a ensaios e bastidores.

Uma semelhança em vida que tornou possível uma bem vinda semelhança póstuma.

No doc Eat That Question: Frank Zappa in His Own Words (Thorsten Schütte, 2016) — que já mencionei en passant, inclusive — fiquei maravilhado com a proposta old school de conduzir o filme apenas com materiais de arquivo. E mais ainda com o volume impressionante desse material, que possibilitava uma narrativa com início, meio e fim amarrando cenas bem difundidas com outras obscuras e/ou raríssimas. Tudo isso sem apresentadores ou narrações em off, apenas com breves legendas para efeitos contextuais e cronológicos.

É muito bom ver que o formato não só foi possível no caso do Síndico, como funcionou à perfeição. Tim Maia era o melhor promotor de si mesmo. A série em três capítulos reúne registros pessoais doces e bucólicos com sua família e com as crianças do orfanato Lar de Narcisa (graças à colaboração de seu filho Carmelo) ao lado de típicos "momentos Tim Maia", antológicos, e muita, mas muita música. As sequências da fase de shows em bailões de subúrbio, em particular, são sensacionais, com lotação sold out e público enlouquecido. E claro que as pirações-Maia também têm seu espaço garantido. A fase Racional tem o merecido lugar de destaque, bem como a entrevista de um Tim doidão para o Otávio Mesquita após um show caótico em que até o Fábio Jr. foi convocado ao palco para dar uma "ajudinha" nos vocais.

Essenciais também são as passagens de Tim pelo Cassino do Chacrinha. O cantor trovejando no palco cercado pelas gostosíssimas Chacretes é o puro suco de Brasil dos anos 80. E bola dentro para a inclusão da bizarra cena que resultou na briga do Síndico com o Velho Guerreiro.

Em contrapartida, o mesmo programa foi palco do lindo dueto de Tim e Gal Costa, que simplesmente para de cantar só para ficar admirando o vozeirão do homem. Momento fanzoca total, paralelo ao trecho da entrevista no programa Gente de Expressão, da Bruna Lombardi. Num momento confessional sobre a dualidade da fama e o preço da solidão, Tim derrete o coração da entrevistadora com uma palhinha de "Não me Iludo Mais". E emenda com um "mas a voz é foda, né?", quase como se estivesse se referindo a outra coisa ou pessoa. Um momento que sintetiza todo o embate entre o Tim e o Sebastião.

Uma amostra da esportividade de um dos realizadores foi a inserção do dueto ao vivo de Tim e Marisa Monte. Cantando "Chocolate" abraçadinho com a artista, Tim dá uma provocada: "Nelson Motta, cê tá cheio de ciúme, né? Nós estamos só vendo que música que nós vamos cantar, cara. Calma, bróder." Divertido, com certeza, mas ganha a ressonância de piada interna para quem leu a bio/ensaio Noites Tropicais (2000), do notório produtor.

Vale Tudo com Tim Maia é uma deliciosa (e rápida) viagem pela carreira do Síndico. Imperdível documento histórico para admiradores do músico ou simplesmente de música popular brasileira. E funciona ainda melhor em conjunto com o especial de tevê Por Toda a Minha Vida: Tim Maia, de 2007, e, logicamente, o livraço Vale Tudo: o Som e a Fúria de Tim Maia (2006), de Motta.

Ao contrário do Tim, esses não podem faltar...


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Halloween Ends é o fim


Halloween Ends merecia ser empalado numa parede pelo próprio Michael Myers. Mas não sem antes rastejar agonizando por uns bons metros, como manda o figurino.

Tive tempos difíceis com a trilogia de David Gordon Green. Halloween e, especialmente, Halloween Kills: O Terror Continua tiveram recepções mornas e atravessadas, mas sempre os defendi (quando não preguei para o mais gélido vácuo). Felizmente, não vou passar por isso de novo com Ends. Só irei atualizar a disputa de pior filme da franquia, ao lado de Halloween VI: A Última Vingança (1995), Halloween: Ressurreição (2002) e Halloween II (2009). Páreo duro!

A vontade de elaborar sobre a história coescrita por Green, Paul Brad Logan, Chris Bernier e Danny McBride é a mesma de querer ser apunhalado por Michael Myers nos bagos. O legendário John Carpenter já havia comentado que o filme era um "afastamento" dos dois capítulos anteriores. Foi gentil. Green foi mais incisivo: antecipou que Ends tem inspiração em Christine (1983) sob uma narrativa coming-of-age. É exatamente isso. E é muito pior do que parece.

Difícil enumerar todas as forçadas do roteiro para estabelecer o novo cenário. As sobreviventes Laurie Strode e sua neta Allyson tentando uma idílica vida nova, os habitantes de Haddonfield ainda celebrando Halloweens mesmo com Myers foragido, o local manjadíssimo que serviu de esconderijo para o monstro por três longos anos, a polícia quase inexistente, a profunda ligação de Allyson e Laurie virando fumaça de uma hora pra outra e por aí vai.

Mas isso ainda é bico perto da grande novidade do filme: o protagonismo-surpresa de Corey Cunningham.

Interpretado por Rohan Campbell, o personagem é uma tentativa de personificar toda a extensão do mal causado por Michael Myers em Haddonfield. Após o massacre dos dois primeiros filmes, a comunidade ficou doente. A comprida introdução da trama demonstra isso até bem, destacando o estado contínuo de medo e ansiedade impregnado nas pessoas. A conclusão inesperada — e de arrepiar — já dá uma noção do tom a seguir.

Excetuando o deliciosamente surreal Halloween III (1983), este é o Halloween com a menor participação de Michael Myers em toda a franquia. O que sobra são muitas D.R.'s, traumas, conflitos geracionais, familiares e até o velho bullying escolar. É a parte coming-of-age da receita, enquanto a imersão de Corey na escuridão corresponde à parte Christine. Tudo o que nunca procurei num filme da série.

Divagando em certo momento, lembrei que no Halloween II do Rob Zombie houve cenas hardcore de revirar o estômago, mas que, sozinhas, eram incapazes de salvar o filme do desastre. É o mesmo caso aqui. Quando a violência chega, é uma pauleira só (vide a sequência no ferro-velho), mas já é tarde demais e ainda partindo de um contexto totalmente equivocado.

A própria natureza inumana de Michael Myers soa confusa e indecisa, à mercê das conveniências do roteiro.

Se nos dois filmes anteriores, The Shape era um apex predator dotado de uma disposição sobrenatural, sendo atropelado, baleado, esfaqueado, queimado, linchado, etc, sem diminuir o ritmo das matanças, em Ends, ele parece doente e envelhecido (ok, ele é um idoso nesta timeline, mas não é essa a questão). Em determinado momento, ele chega a ser dominado no mano a mano em uma cena que faria o saudoso Dr. Loomis dar um tiro na tampa do caixão. Em contrapartida, Myers tem a capacidade de "ler" o passado traumático de Corey com um simples toque, entre outras habilidades — para depois, novamente, perder todo o mojo.

Outro ponto contra é o pouco caso do ótimo casting, incluindo o retorno de Will Patton como o Delegado Frank Hawkins, criminosamente relegado à pontas românticas (pior ainda com o Omar Dorsey, voltando como o Xerife Barker num rasguinho de script), e Karen (Judy Greer), a filha de Laurie, que, por pouco, é sequer mencionada após aquele final em Halloween Kills. Já Andi Matichak, apesar das linhas aborrescentes da Allyson, mostra que sabe trabalhar mesmo em condições adversas.

De alguma forma, todos esses problemas pouco afetam a presença indefectível de Jamie Lee Curtis, que aqui provavelmente se despede de seu maior hit. Entre mortos e feridos (e uma cena terrível de reviravolta com Corey), Laurie conquista a tão merecida redenção que, de um modo brutal e melancólico, é coerente com a sua jornada e digna da sua importância.

Valeu pela emoção, tanto na tela quanto fora dela. Mesmo que a saideira tenha sido uma droga.

A Scream Queen #1 finalmente poderá descansar. Long live the Queen.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

To Hell and Back


Hellraiser finalmente deixou de ser sinônimo dos dois, três... vá lá, dos quatro primeiros filmes. Admito que já havia dado baixa mental e espiritual da franquia há tempos — para ser exato, desde o pastelão Hellraiser: Revelações, de 2011. Desse modo, nem imaginava que um novo longa estava a caminho via Hulu e que me levaria da total ignorância ao deslumbre em meras duas prévias. Muito menos que a produção faria um reboot radical, com Cenobitas clássicos totalmente recauchutados e apresentando alguns novos padres da Igreja Pentacular de Leviatã. Dever cumprido com maestria, dadas as circunstâncias.

Como que submetida aos deleites sadomasoquistas da série, a jornada não foi das mais tranquilas. Trocas de estúdios, diretores (até Pascal Laugier, de Martyrs, assumiu a cadeira por um tempo), roteiros reescritos, disputas legais, incluindo do próprio Clive Barker, e toda a sorte de contratempos conspiraram para a franquia cinematográfica purgar indefinidamente n'alguma gaveta esquecida no inferno da burocracia. Mas, parafraseando o famoso motto de Pinhead, a série ainda tinha visões incríveis para nos mostrar.

E mostrou. Não tudo, mas o suficiente para um recomeço.

Resolvidas as pendengas estruturais e legais, com direito à benção e co-produção de Barker, a produção foi alinhada entre a Spyglass Media Group e a Phantom Four Films. A direção ficou a cargo de David Bruckner, do bom A Casa Sombria (The Night House, 2020) e do melhor segmento de V/H/S ("Amateur Night"). Não me admira que este Hellraiser '22 tenha se desenrolado bem distante do crivo público. Com a marca completamente esculhambada, apenas aficcionados die-hard seguiram naquele trem. A (falta de) receptividade aos dois últimos filmes, Revelações e Julgamento, de 2018, só pode ser comparada à do infame Hellboy de 2019, pra ficar no Hellxploitation.

Até abaixo, diria. Lá pela profundidade do 9º círculo. Ou mais.


Agora o brinquedo vem com manual

A intro é à caráter: a boa e velha puzzle box da Configuração do Lamento sendo reavida no mercado negro e levada para uma festinha privada na mansão de um magnata hedonista (Goran Višnjic, renascido sabe lá de onde). Seu objetivo é usar o artefato para exigir uma audiência com Leviatã, o deus da dimensão dos Cenobitas. Cortando para seis anos depois, os junkies Riley (Odessa A'zion) e seu namorado Trevor (Drew Starkey) invadem um armazém abandonado e encontram a caixa de forma suspeitíssima. Dali até os Cenobitas se refestelarem num bacanal de correntes, sangue e vísceras é um pulo.

O roteiro foi desenvolvido por Ben Collins e Luke Piotrowski a partir de um plot da dupla com o onipresente David S. Goyer. Originalidade passa longe. Mas é funcional e confere uma perspectiva moderna e alternativa da novela original. Em nada lembra o antológico filme de 1987 — ainda o melhor, que conste nos autos — e não apenas recoloca o mythos de volta aos trilhos, como aponta para novas direções. A esta altura, era exatamente o que Pinhead e a gangue do Labirinto precisavam.

Provavelmente por ver este Hellraiser mais como um ponto de partida para voos futuros, foi fácil fazer vista grossa para as presepadas do script. Algumas são protocolares, como, por exemplo, a incrível estupidez dos personagens. Da mesma forma que vermes alienígenas precisavam ser engolidos pelas vítimas para existir uma história em A Noite dos Arrepios, a caixinha precisa ser manipulada e decifrada para os Cenobitas aprontarem suas peripécias. É uma longa caminhada do ponto A ao ponto Z, portanto.

Considerando que o Necronomicon precisa ser lido ao menos uma vez em bom sumeriano em Evil Dead para a diversão correr solta, aqui também há uma tolerância implícita que cobre as primeiras mortes — convenhamos, no mundo real, caixinhas vintage não são portais para freaks extradimensionais fãs de bondage extremo fincarem ganchos acorrentados no rabo alheio. Do terço inicial em diante, a repetição da armadilha só funciona na base da burrice mesmo. Especialmente quando os personagens já estão mais ou menos escaldados das consequências deste ato.

A partir de certo ponto, algumas atitudes me lembraram até o meme do macaquinho Curious George.


Jamie Clayton, creditada simplesmente como The Priest, é pura força magnética. Difícil desviar a atenção daquele visual, ainda mais quando ela serve como uma perfeita mestra de cerimônia. Toda a nova concepção dos Cenobitas, por sinal, está espetacular. The Gasp (Selina Lo), The Weeper (Yinka Olorunnife), The Asphyx (Zachary Hing), o novo The Chatterer (Jason Liles), a perturbadora The Mother (Gorica Regodic) e, meu predileto, The Masque (Vukasin Jovanovic) estão irrepreensíveis e praticamente imploram por spin-offs solo. A química estava afinada e o árduo trampo de F/X brilhou na tela.

Um único porém foi o preço: com tantas criaturas promissoras estourando a retina, o tempo de tela foi muito econômico. E diria quase comportado no quesito sanguinolência, sendo que meio minuto de Frank no Hellraiser '87 já supria essa demanda.

No final, o sentimento é bem satisfatório. Podia ter sido melhor? Bastante. Mas em tempos de vigilância paranoica 24/7, diria que a criação de Clive Barker atingiu a transgressão uma vez mais. E aguardo ansiosamente pelas próximas.

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

O Lobisomem ataca!


1981 foi o ano licantropo do cinema. Num curto período, estreavam nada menos que Lobos (Wolfen, Michael Wadleigh), Grito de Horror (The Howling, Joe Dante) e Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London, John Landis), formando uma trinca antológica com os melhores filmes de lobisomem já feitos. Teria sido uma bela homenagem aos 40 anos da estreia desses clássicos se Lobisomem na Noite estivesse ainda na 1º leva de produções da Fase 4 da Marvel Studios. Mas entre os caprichos do destino e o timing perdido, reside uma produção bem resolvida e surpreendentemente divertida para os padrões atuais do gênero. E também para os padrões da Disney+. E até mesmo para os padrões do personagem nos quadrinhos.

Confesso que nunca fui muito com o focinho da criatura felpuda desenvolvida por Gerry Conway e Mike Ploog em cima de um plot criado pelo casal Roy Thomas & Jeanie Thomas. Uma besta fera que leva um couro de um segurança humano logo de saída não inspira muita confiança (e houveram outros algozes buchas mais pra frente). Sou mais o Homem-Lobo, o filho do J.J. Jameson com camiseta da seleção brasileira. Isso sem falar do meu predileto, o Jovem Lobisomem, da sensacional dulpa Antonio Krisnas/Allan Alex.

Mas, vamos lá, quais as chances de uma adaptação dessas vir à luz do dia? Ainda mais pela Disney?

Por esse prisma, Lobisomem na Noite saiu melhor do que a encomenda. E o fato de ser um "especial de TV" em formato média-metragem (50 min.) causou algumas micro-explosões dentro desta caixa craniana. A narrativa enxuta e eficiente serve perfeitamente para adaptar uma infinidade de outros personagens e conceitos da editora.

Nos quadrinhos dos anos 70, as histórias do Lobisomem traziam uma pesada carga de dramalhão familiar-novelesco que, ainda bem, foi completamente limada aqui. Na trama, um grupo com os melhores caçadores de monstros é reunido para disputar a posse da Pedra de Sangue, um poderoso artefato místico que está preso a uma criatura diferente de tudo o que eles já enfrentaram. Simples assim. E ótimo assim.

Gael García Bernal está em casa na pele (e nos pelos) de Jack Russell, alter ego do Lobisomem. E curioso como o filme aproveita a oportunidade para apresentar outros figurões do Universo Marvel até maiores que o "Werewolf by Night".

É o caso da caçadora Elsa Bloodstone, defendida muito bem pela irlandesa Laura Donnelly (de Outlander) — flagrante doppelgänger da Krysten Ritter/Jessica Jones até prova ao contrário. E, logicamente, do superstar Homem-Coisa, conduzido pelo gigante Carey Jones (o wookiee Black Krrsantan, de O Livro de Boba Fett) debaixo de toneladas de efeitos práticos e digitais. De longe, a... "coisa" mais legal do média, com uma fidelidade estética de marejar os olhos dos torcedores do Ted Sallis F.C. Quero mais daquilo com tanta paixão que farei uma sessão do "Mangue-Thing" com pipoca & guaraná e será uma festa sobre o cadáver do discernimento.

O diretor e trilheiro Michael Giacchino parece saber onde o galo cantou. Não duvido que seja dono de uma respeitável coleção de gibis antigos do Gene Colan, Bernie Wrightson e Richard Corben. Mesmo a ponta impagável do defunto falante Ulysses Bloodstone soa como algo bizarro que escapou da mente do Mike Mignola. Em que pese o fato do filme ser todo em preto & branco (excetuando a Pedra de Sangue e a cena final), Giacchino também sabe quando manter a dinâmica de ação moderna e quando subir o volume da homenagem ao cinema de horror clássico. E acaba executando algo cinematicamente mais sofisticado que, por exemplo, o início bacanudo da bomba Van Helsing e retro-movies como House of the Wolf Man.

É traição demais sonhar com a Warner tomando esse cara da Marvel para dirigir um longa do Comando das Criaturas?

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Only at Red Lobster!®


Há tempos ando atrás de Great Choice, curta de 2017 dirigido e roteirizado pelo cineasta indie Robin Comisar. Após seguir umas migalhas de pão jogadas no Reddit, enfim encontrei o filme no VK, a maior rede social da Rússia, com legendas, logicamente, em russo. Com alta rotatividade em festivais alternativos (levou o Melhor Curta do Overlook Film Festival), a produção era virtualmente impossível de encontrar nos streamings da vida. Ao menos em tempo hábil. E o motivo é bem simples. Mas já volto aí.

A premissa é o puro suco do minimalismo: uma mulher se vê presa dentro de um comercial da Red Lobster. Com uma pegada sádica, Comisar faz do curta de 7 minutos uma montanha russa enervante e absurdista com uma reviravolta final que dá um nó de marinheiro nos miolos.

É Feitiço do Tempo mais Twilight Zone e os Infomercials do Adult Swim atirados no Grande Colisor de Hádrons & Metalinguagens.

Ah, e com humor negro de ótima safra...


Surpreende a presença da veterana Carrie Coon (The Leftovers, Ghostbusters: Mais Além, Vingadores: Guerra Infinita) num projeto tão segmentado e fora da curva. É preciso muito samba no pé pra não se acomodar. E sua "interação" com o Morgan Spector (de Homeland), no papel do garçom-Agente-Smith, é visceral, pra dizer o mínimo.

Robin Comisar é um curtista por excelência — tanto que nem a sua ficha no IMDb consegue acompanhar o volume de produções. E é bastante ativo em suas mídias sociais, disponibilizando seus trabalhos sem problemas.

A exceção é justamente Great Choice.

A base do curta é uma fantástica recriação de um comercial clássico da Red Lobster de 1994, incluindo os chuviscos, fantasmas e distorções de um típico VHS da época. Reflexo da experiência do diretor pelo setor de efeitos visuais. Tanto por isso quanto pela violência quase gore de algumas cenas, Comisar morre de medo de ser processado pela gigante das lagostas.

Compreensível. Mas valeu a pena.