Missão cumprida para a Spyglass e o Hulu. Reverberou bastante a 1ª imagem oficial da atriz transgênero Jaime Clayton personificando Pinhead, o ícone de Hellraiser. Gostando ou não (sem fazer juízo de valor, ainda), a franquia retorna ao interesse público após seu sucateamento na última década. Primeiro, pela Dimension Films, que, para segurar os direitos, rodou um longa em questão de semanas, resultando no pavoroso — no mau sentido — Hellraiser: Revelações, de 2011. Depois, pelo curioso, mas mambembe Hellraiser: O Julgamento, de 2018, que nem o Clive Barker deve ter assistido.
A verdade é que a série sempre foi problemática. Parte disso é a dificuldade em traduzir a carga conceitual dos livros para a dinâmica cinematográfica.
Tudo em Hellraiser é sobre conceitos e abstrações (prazer, dor, inferno, dualidade, existencialismo). A falta, na época, de uma "percepção Hellraiserverse" limitou o desenvolvimento nas telas, com justa exceção aos dois primeiros filmes. Neste aspecto, as quadrinizações se saíram bem melhor, em particular as brilhantes HQs da Epic.
Essa percepção já existia nas obras originais. Vide as histórias do "detetive do oculto" Harry D'Amour, da série Livros de Sangue, situadas no mesmo universo de Hellraiser. Ou as várias conexões com o livro/filme Raça da Noite/Raça das Trevas. Fora as suspeitas — alerta de fan theory — de que ninguém menos que Candyman seria um Cenobita. Candyman, um Cenobita sem mestre... o quão foda é isso?
Voltando ao novo Padre do Inferno (ou seria Madre do Inferno?), é seguro afirmar que segue à risca a deixa do livro, onde Pinhead é descrito como um ser andrógino com uma "excitada voz feminina". E pelo visual, arrisco que aqueles tais conceitos não estão apenas integrados, mas literalmente estampados no rosto dela.
As trilhas de sulcos que ligam os pregos estão mais pronunciadas, como se remetessem ao mundo labiríntico dos Cenobitas.
Um tributo à dimensão infernal direto na própria carne. Pareidolias me mordam.
E não só: a nova Pinhead também tem adornos metálicos crivados no pescoço. Parece uma reverência saudavelmente blasfema a Leviatã, o deus dos Cenobitas e o senhor supremo daquele mundo. Algo relativamente simples, mas creepy as hell.
E falando em creepy, uma novidade promissora é o estreante The Masque. Com um visual perturbador e bizarro, o Cenobita lembra o fruto de uma transa louca dos autômatos do Kraftwerk com o jurássico Jogo da Operação, da Estrela®.
No mais, vale sempre destacar a opinião do Príncipe Sombrio da Dor em carne, couro e pregos, Mr. Doug Bradley:
“Tudo sobre Hellraiser sempre foi transgressor. Tudo, sempre, do início ao fim. Não é uma ideia nova nesse sentido, mas estou intrigado. Estou na mesma posição que todo o resto de vocês, eu acho, para ver onde isso vai.”Hellraiser estreia pela Disney Platform Distribution via streaming exclusivo para o Hulu dia 7 de outubro. Odessa A'zion, que por sua vez também não é uma nova Kirsty, protagoniza. O roteiro é co-escrito pela dupla Ben Collins/Luke Piotrowskido e, ave mãe, David S. Goyer. Direção de David Bruckner.
Admito que as imagens me deixaram pilhado em devaneios. E, por que não, empolgado até.
Se não corresponder... aí, a Configuração do Lamento vai gemer pra cima dos envolvidos.
4 comentários:
Salve! Vou aguardar ...como fã da franquia talvez eu me divirta pq material bom ai n falta material, o problema e fazer algo decente em tanta perola. Boa semana!
Certamente. Uma pena que o material criado pelos quadrinhos está fora de cogitação devido aos direitos. Tem muita coisa boa ali prontinha para as telonas. Ótima semana, meu caro!
"Candyman, um Cenobita sem mestre" - isso seria impossível, não?
"novo Hellraiser " - acho que eles vão lacrar e se dar mal
abs!
"'Candyman, um Cenobita sem mestre' - isso seria impossível, não?"
Sendo ambas criações do Barker, tudo é possível. E o m.o. é o mesmo, até na questão da invocação voluntária. Basta querer...
"'novo Hellraiser ' - acho que eles vão lacrar e se dar mal"
Duvido que a Pinhead queimará sutiãs em praça pública (mais fácil queimar as donas deles), mas o futuro a Leviatã pertence. A conferir. Pra mim vai dar samba.
Abraço!
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