Ano passado eu fui atropelado por um caminhão francês chamado Martyrs (2008). O filme é dos mais contundentes e transgressores exemplares do novo terror europeu. E estou sendo político aqui, já que o considero, fácil, o melhor filme que vi em 2009. É um tour-de-force niilista obcecado em mastigar e cuspir todas as convenções que Hollywood plantou no imaginário popular desde sabe-se lá quando. Através dessa poética tijolada na cara, pude mensurar o quão eu estava domesticado pela indústria de sonhos yankee. O filme me fez ter (muita) vergonha a cada falsa expectativa nutrida e a cada desejo involuntário por um deus ex machina que tive ao longo de seus 100 minutos.
E estaria desse jeito até hoje, me sentindo como um poodle boiola de madame de Beverly Hills, se Martyrs não tivesse o requinte de largar o espectador igual a uma barata esmagada na parede.
Seria fácil ceder à tentação e sair metralhando substantivos e adjetivos no frenesi da experiência. O que acabou sendo um entrave pra mim na época, já que respeito o filme demais para estragá-lo o mínimo que seja. Martyrs merece ser apreciado à caráter: nada de reviews na web, nada de sinopses, nada de trailers.
Até mesmo o counter (ou a barra de rolagem) deveria ficar fora de vista. Só você, o que você sabe sobre roteiros e o filme.
Sendo assim, essas linhas não tinham motivos para existir, até chegar a notícia de que Martyrs também ganhará um famigerado remake norte-americano. Que Hollywood está criativamente falida, todo mundo sabe, mas emular uma obra que é praticamente uma ode à sua desconstrução, chega a ser até irônico. O excelente cineasta Pascal Laugier cederá a cadeira a Daniel Stamm, diretor do irregular e mega-estourado O Último Exorcismo.
Ah, sim. Um dos produtores é Wyck Godfrey, o mesmo da série Crepúsculo. E já avisou que adoraria ter Kristen Stewart num dos papéis principais.
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Como uma espécie de prêmio de consolação, Martyrs e suas vastas implicações renderam uma belíssima discussão com amigos. No meio do papo, perguntei como poderia escrever bem sem comprometer nada da história e recebi algumas boas dicas. Segue a mais sucinta:
"Vi um filme francês chamado Martyrs. Ainda não me recuperei. Poderia escrever 5 páginas aqui, mas estragaria o filme. Então não vou escrever nada, mas darei o link do torrent procês e ordeno que vejam."
Aqui o link.
11 comentários:
Mais um filme estragado... pelamordedeus...
Sairá algo pasteurizado, sem dúvida.
Essa aí foi do Sandro, não foi?
Acho que foi vc, Fivo.
Apesar de que torrent não combina muito comigo. Mas o "procês", sim... :)
Enfim, acho que foi o filme que mais discutimos ano passado. E não precisa nem a pau de remake...
Guimba chegou a ver esse?
Aconteceu com REC e com Deixa ela entrar. Tá virando mania. Americano não sabe assistir filme com legenda e acaba levando o mundo inteiro junto.
É verdade, mas "REC" e "Deixe Ela Entrar" ao menos foram refilmagens quase literais. Já "Martyrs" não tem a menor condição de ser vendido ao público americano sem alterações radicais. É muito extremo.
Fiz como "ordenado" (hehehehe) filmaço de começo ao fim... as duas protagonistas vi s/ maquiagem por curiosidade, gatissimas... Valeu pela dica e obrigado por manter essa bagaça q simplesmente acho indispensavel toda a semana entro p/ ver o q vc tem a dizer isso ja são 2 anos acompanhando...
Opa, mais um convertido ao filme. Já valeu a pena!
Obrigado pela presença, Marcelo! E boa ideia essa de ver as meninas ao natural... Google, aqui vou eu.
Anota aih mais um convertido :)
Brito viu não. Ele não baixa filme, segundo diz...
É... fui eu... nada para fazer e sem sono é foda... 19/07/2009... tem tempo, hein? Parece que foi ontem.
Contraditória essa frase, dado que eu esqueci quem tinha dito.
Só pude ver ontem. Que filme foda. Acho que fiquei uma hora perturbado com ele.
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