terça-feira, 16 de novembro de 2010

Tony Iommi Deluxe


Nessa onda de relançamentos deluxe do Black Sabbath (que já cobriu quase toda a era de ouro com o Ozzy e a dobradinha inicial com o Dio), confesso que essas duas edições me surpreenderam. Seventh Star (1986) e The Eternal Idol (1987) pertencem à safra "maldita" do grupo, então sucateado com desmandos de gravadoras, queda de popularidade, turnês caóticas e um entra-e-sai inacreditável em sua line-up. Mesmo sob essas condições adversas, a banda ainda produzia bons registros, sendo o Seventh Star meu favorito dessa fase.

Musicalmente, o grupo se garantia, ao contrário do que pregava a crítica da época - como, por exemplo, o staff "descolado" da Bizz, revista que foi essencial na minha formação musical, mas que não era lá um exemplo de coerência (indie resenhando metal... bah!). Um lugar-comum na imprensa dita alternativa era dizer que o Sabbath oitentista foi decadente, irrelevante, não honrava o legado, etc...

Pura merda de touro.

Obviamente, não era brilhante nem influente como as fases do Madman e de Deus, mas estava longe de ser ruim. O que só fui constatar anos depois, em audições despidas de pré-conceitos e com uma bagagem considerável no lombo. O que há para se levar em conta, aí sim, é o contexto da época.

Entre 1986 e 1990, o Black Sabbath era tão somente o nome fantasia de Tony Iommi. Literalmente. A história é bem conhecida: Seventh Star deveria ser um álbum solo do guitarrista, mas, devido às pressões da gravadora, recebeu o forçado título de "Black Sabbath featuring Tony Iommi". Apesar disso, é um senhor discaço de Tony Iommi com o lendário Glenn Hughes.

Gravações piratas da tour de Seventh Star, mesmo que toscas, sempre foram raridade. Então, qual não foi minha surpresa ao ver que o CD 2 da edição deluxe trazia um show dessa turnê. Mas a alegria durou pouco: quem está nos vocais é Ray Gillen, que substituiu Hughes após infames cinco datas. Gravado em 2 de junho de 1986 no Hammersmith Odeon, em Londres, o CD tem qualidade bootleg de transmissão FM (no que, imagino, ainda deve ter dado um baita trabalho para ser mixado). Vale pela performance energética de Gillen e, principalmente, pelo registro inédito de Danger Zone e da faixa-título ao vivo.

Esse período na história do grupo sempre foi um assunto meio delicado e comentado de maneira evasiva (mesmo no booklet da edição deluxe), provavelmente para preservar o boa-praça Glenn Hughes, que atravessava seu momento mais junkie. Mas, vez ou outra, o normalmente discreto Iommi deixa escapar algumas informações.

Seguem alguns trechos de uma entrevista dele para a Rock Brigade (edição #229, agosto/2005):


RB - Você parece muito feliz por estar trabalhando com Glenn Hughes de novo. Você experimentou essa mesma satisfação na época de Seventh Star?
TONY IOMMI - Seventh Star foi um grande problema... A ideia de fazermos algo juntos foi ótima. O disco foi planejado para ter diversos vocalistas, mas, quando ouvi Glenn cantando, decidi que ele deveria cantar todas as músicas. Só que ele estava com sérios problemas relacionados a drogas e isso tornou tudo muito difícil.

(...)

RB - É verdade que, quando Glenn juntou-se ao Black Sabbath, ele queria cantar e tocar baixo?
IOMMI - Sim, é verdade, mas eu o queria apenas como vocalista. E acabou sendo a primeira vez em toda sua carreira que ele subiu num palco sem o baixo. Ou seja, ele acabou se envolvendo numa situação bem complicada. Nem era para ser um disco do Black Sabbath, minha intenção era gravar um álbum solo, mas acabou virando Black Sabbath de novo. Aí, virou uma tour do Black Sabbath e Glenn era o frontman - e sem o baixo! Foi muito, muito difícil. E pelo estado que ele estava naquela época, surpreende que ele conseguisse raciocinar.

(...)

RB - (...) Você já planeja a continuação de seu trabalho com Glenn depois de encerrada a tour?
IOMMI - Eu espero que sim! Ele é um sujeito muito criativo e sempre tem muito entusiasmo pelas coisas, desde que não esteja enfiando droga pelo nariz [risos]. Ele tem se mantido limpo há muitos anos.

RB - Na época de Seventh Star e Headless Cross [de 89], muita gente, especialmente da imprensa, não deu o devido valor a esses álbuns porque você era o único membro da formação original do Black Sabbath. Porém, com o passar dos anos, todo mundo passou a admirá-los. Com isso, você acha que o período que vai de meados dos anos 80 a meados dos 90, afinal, valeu a pena?
IOMMI - Muito estranho, você é a segunda pessoa que me diz isso, alguém me fez essa mesma pergunta ontem! Muito estranho mesmo... Na verdade, tão estranho como naquele show em que Rob Halford acabou substituindo Ozzy e veio pedir para cantar alguma coisa de Headless Cross. Eu fiquei em choque [risos]! Mas é interessante. Acontece isso com o Sabbath, algumas vezes as pessoas só começam a gostar de determinadas músicas muito tempo depois. Mas, na época, foi muito difícil, não tem como negar, sentia que nada do que eu fazia tinha valor. Você só continua porque ama esse negócio e quer seguir adiante. Eu gosto muito de Seventh Star, de Headless Cross e Cross Purposes [de 94] também. Quem sabe daqui a uns cinco anos a gente não faz um show com o Tony Martin [risos]...

(entrevista concedida a Chris Alo; tradução por Antônio Carlos Monteiro)



O CD bônus da edição deluxe de The Eternal Idol também traz uma preciosidade da época, que só havia aparecido em bootlegs até então: as sessões do álbum com os vocais de Ray Gillen, antes da entrada do titular Tony Martin. As faixas estão em versões não-finalizadas, mas com o áudio finalmente recebendo um tratamento digno. Mesmo com a ordem das músicas alterada, é um deleite ouvir e comparar as duas concepções.

Quanto ao trabalho de remasterização dos álbuns, não notei diferenças absurdas ou melhorias técnicas (um pouco do reverber do Seventh Star foi pro espaço). Mas os detalhes dos arranjos certamente ficaram mais cristalinos do que nas versões originais de 25 anos atrás.

5 comentários:

Do Vale disse...

Desembestou com posts, hein? =D

Dessa fase "maldita", acho que só o Forbidden deixa a desejar (talvez o Tyr também, mas o ouvi há um bom tempo e não tenho certeza). Tony Martin cantava muito!
Cabeça fechada quem só dá valor às épocas de Ozzy e Dio...

Essas versões em digipack são nacionais? Não sabia dessa edição nova.

Abraço!

doggma disse...

O Forbidden é terrível. Nem deveria ter saído. O TYR eu passei a curtir com o tempo e o Cross Purposes está indo pelo mesmo caminho. Na época, eu não gostava do Tony Martin - mas até ali, eu era um projeto de true que, graças à São Araya, não vingou.

Os digipacks foram lançados lá fora no início do mês. Estão entre US$27 e 28 no Amazão.

Abraço!

samurai disse...

Essa parceria com o Hughes rendeu o fused um otimo disco.Nao foi falado ai mas gosto tb do born again com o gillan. Na real qq coisa com alguem do Deep Purple é bom.
Abraços
Alessandro

doggma disse...

Fused é fantástico (inclusive a entrevista foi na ocasião do lançamento). Mas ainda prefiro o anterior deles, 1996 Dep Sessions (ex-Eighth Star).

O Born Again merece uma conversa à parte...

Mateus osbourne disse...

mr iommi e foda rejeita apresentasões e para mim toda a galera q passo pelo sabbath merece todo respeito adimirasao todos deixarao maravilhas sonoras q influnciarao gerasoes e ainda influenciao adoro todas as fases do sabbath seja ozzy/dio/gillan/hughes ou martin todos forao fenomenais auguns injustisados mas todos sao fodas no q fasen ou fiserao!!! LONG LIVE ROCK IN ROLL como diria um baixinho com voz de gigante saudoso RONNI JAMES DIO