No ótimo Papai Noel às Avessas, o bom velhinho é alcoólatra, mulherengo e ladrão. Em As Crônicas de Nárnia ele presenteia criancinhas com armas afiadas. Em Uma Noite de Fúria (Santa's Slay, EUA, 2005) ele é o próprio filho do demônio.
Pra ser mais exato, é o filho único de Satã com a Virgem Erica. Todos os anos, em seu aniversário (adivinha o dia), ele monta num trenó puxado por um búfalo voador e sai percorrendo o mundo, deixando para trás um rastro de morte e destruição.
Num belo dia, um anjo, farto de tanta barbárie, se disfarça como um inofensivo velhinho e lança um desafio à criatura maligna através de uma partidinha de curling (uma bocha com pedigree). Se perder, irá de bom grado para o inferno, onde sofrerá torturas indizíveis durante toda a eternidade, mas se ganhar, o Noel from hell passará os próximos mil anos sendo amável e distribuindo presentes para todas as crianças que foram boazinhas. Bleargh.
Apesar dos aguçados sentidos sobrenaturais do demônio do Pólo Norte, o anjo acaba ganhando a aposta, e assim foi criada a imagem benevolente do Papai Noel da Coca-Cola. Isto aconteceu no ano 1005. Ou seja, o prazo expira justamente na data da produção do filme.
Neste primeiro longa, o diretor/roteirista David Steiman - camarada de Brett Ratner, que produz - demonstra muita desenvoltura no trato com a nulidade descerebrada. E isto é um elogio, se é que você me entende. Ainda falta muito pra chegar no mesmo patamar de um Ronny Yu ou de um Stephen Chow (mmmm... mestre!!), mas aqui ele já exibe um inequívoco humor negro e timing para o Nada contextual. Sim, ele poderá vir a ser um mestre da Câmara Oca de Shaolin e, para o futuro, quem sabe... algo do nível de Bill & Ted?! O céu de chroma-key é o limite!
E o filme começa muito bem, com Papai Noevil implodindo uma chaminé e chacinando James Caan, Rebecca Gayheart, os comediantes Chris Kattan (SNL) e Fran Drescher (The Nanny), mais duas coadjuvantes e um cãozinho. De cara, nota-se que o gigante escarlate parece saído de algum ringue de luta-livre e não é pra menos: quem incorpora o bom velhinho é Bill Goldberg, ex-wrestler, ex-"jogador" de futebol americano e atualmente ofendendo a classe artística se dizendo ator. O cara é um ídolo nos EUA e não poderia ter sido uma escolha melhor. Bom, até que poderia, mas Andrew Bryniarski estava ocupado mutilando gente nos dois últimos balaços da série O Massacre da Serra Elétrica.
Ator dedicado, Goldberg mostra tudo o que sabe (voadora, mata-leão, rabo-de-arraia, etc) e acaba fazendo o Lobo em pele de Papai Noel (tá na hora de agitar um abaixo-assinado exigindo um longa de Lobo: The Paramilitary Christmas Special!). O pau quebra, xará.
Apesar da zoação constante em cima dos costumes judaicos, o que mais tem no filme é ator judeu. Até Goldberg é judeu. Além do mais, o figuraça Saul Rubinek está lá, no papel de Mr. Green, o que funciona mais ou menos como um certificado semita de propriedade. Há (vários, muitos) momentos em que o roteiro de Steiman é tão ralo que chega a ser quase um exercício de estilo. Pra ter uma idéia, o nome da cidadezinha onde o filme se passa é simplesmente Hell - desculpa esfarrapada para um sem-número de trocadilhos acéfalos durante o filme.
O pior é que acaba sendo engraçado e eu eventualmente passei a me odiar por rir daquilo. A piadinha do Drácula, por exemplo, foi infame ao cubo, mas eu ri de rolar no chão. Fiquei preocupado.
Uma boa sacada foi a animação com massinha inserida lá pelas tantas. Inacreditavelmente tosca, foi a maneira escolhida pra contar a origem do nêmesis natalino. Toque de gênio.
E não podia faltar o habitual casalzinho de protagonistas que salvam o dia. Na verdade, Nicolas (Douglas Smith) e a gracinha cute-cute Mary (Emilie de Ravin, a Claire, de Lost) passam a maior parte do tempo tentando salvar a própria pele. Provavelmente, se os dois se deixassem matar sem resistência, Papai Nohell não teria despachado tanta gente enquanto os caçava.
Óbvio que, por abraçar forte a causa trash, falar mal de Uma Noite de Fúria é como chutar cachorro morto. Contudo, vou falar mal mesmo assim. Foi muito bacana a caracterização da cidade como se fosse o live-action do município de South Park, especialmente no final - não esqueceram nem o cara sem cordas vocais que usa aquele aparelhinho que faz voz de robô - mas o problema aqui (o real problema... caramba, é até difícil não perdê-lo de vista em meio a tanta picaretagem) é a relutância de Steiman em chafurdar de vez na grosseria, no gore.
Aqui tem putaria, incorreção política e uma quantidade até interessante de cadáveres (45), mas quando ameaça pintar aquela enxurrada splatter pra transformar de vez Hell num inferno (ops), ficamos só na vontade. Faltou tingir aquela neve toda de vermelho. Faltou insanidade, desconstrução. Faltou escracho. Faltou ao diretor um estágio lá na Troma.
Quando chega aquele final "ih, acabou a grana, vamos fechar logo esse boteco", típico de produtinho B com validade vencida, acaba rolando a sensação de coito interrompido sendo que nem saímos das preliminares. Mas tudo bem, o rapaz só está começando e já salvou a tarde de domingo. Foi quase um Natal fora de época.
Na trilha: Tia Alice on the stage.
5 comentários:
Você quer dizer faltou um pouco de "Hostel (O Albergue)"? ;-)
A história é um lixo de A a Z, mas PQP doggma, fazia tempo que eu não via um filme tão impoliticamente correto, com mulheres nuas aos borbotões e cenas altamente sádicas, sanguinolentas e antropofágicas.
Ou seja, bom pra caralho!
Nos extras, destaque para a gangue de moleques detonando a BMW na porrada, em uma cena pra lá de extendida! :D
O negócio é simplesmente divertidíssimo...
[ ]'s
PS: Não é a toa que ele não foi filmado nos EUA, já que aquilo lá está virando uma versão light do 3º Reich.
putz, nem sabia deste aqui ... download now !!!
Acabei de ver... que troço tosco.. mas o "Sou papai noel, não drácula, moleque!" foi foda....
cara olha soh, onde tem o download desse filme to desesperado atras dele e nao axo.
vlw
Vai no Google que você acha fácil, tanto no Rapidshare quanto em torresmo.
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