quinta-feira, 21 de julho de 2011

Who let the dog out


Em 1982, John Carpenter lançava O Enigma de Outro Mundo, terror antológico com alguns dos efeitos especiais mais criativos e insanos do cinema, poucas vezes igualados. Um clássico de gênero. E, como tal, atemporal e irretocável. Fui saber há pouco tempo que um novo The Thing estava a caminho e me surpreendi com a capacidade que Hollywood ainda tem de me irritar. Mas, por mais que a ojeriza de ver aquele universo sendo pasteurizado seja enorme, tenho que reconhecer alguns highlights:

1. já na primeira cena, a trama do filme dava plenas condições para um prequel de apelo promissor;

2. o diretor Matthijs van Heijningen Jr. pode seguir a tradição de estreantes pé-quentes: seu próximo projeto é o antecipado Army of the Dead, cujo roteiro é de Zack Snyder, que estreou em grande forma em Madrugada dos Mortos;

3. como bônus, Matthijs não é americano, é da terra do Paul Verhoeven;

4. a protagonista é a delícia cremosa Mary Elizabeth Winstead, o que garante ao menos o colírio numa (bem provável) situação de perda total;

5. o trailer incorporou à perfeição o espírito ainda mundano de Carpenter:


Quem montou o trailer fez a lição de casa. Está tudo lá, desde a atmosfera de paranoia à estratégia de não mostrar a criatura, potencializando o desconhecido. Bem parecido com o trailer do filme anterior (embora nem de longe tão arrepiante), incluindo a trilha que remete ao trabalho memorável do mestre Ennio Morricone. Mesmo sob o risco de ser apenas uma reedição inferior, a impressão geral melhorou após esse preview.

É uma história que merece ser contada? Na minha opinião, sim. Mas bem contada, coisa que Hollywood, hoje, não tem mais condições de fazer. Três culpados: a bunda-molice vigente, a ganância que ameniza o conteúdo de olho na classificação etária e o famigerado computer generated imagery.

Não cabe explicar a um moleque de hoje porque os efeitos artesanais da velha escola tornaram filmes como O Enigma de Outro Mundo tão especiais. Ou porque é péssimo que cineastas preguiçosos estejam usando o CGI para transformar filmes em videogames.

Basta colocar o pimpolho na frente de um telão, apagar as luzes e rodar essa cena:


The Thing 2011 estreia dia 10 de outubro lá fora. Sem previsão por aqui ainda.

6 comentários:

JoaoFPR disse...

Olha.
Antes ser um prequel do que um reboot.
O clássico é irretocavel.

Verei no cinema, isso é certo.

Bernardo disse...

Pior que CGI é a nova obsessão hollywoodiana de utilizar sempre a paleta de cor “teal and orange” na maioria dos filmes com potencial de mercado. No blog “Into the Abyss” tem um ótimo post explicando e criticando duramente isso, veja em http://theabyssgazes.blogspot.com/2010/03/teal-and-orange-hollywood-please-stop.html
O pior é que depois de ficar sabendo disso não se consegue mais deixar de notar (principalmente nos filmes do Michael Bay. Será que além de simplificar e empobrecer os roteiros os executivos dos estúdios também querem fazer o mesmo com a percepção visual do público? Só pra acabar de confirmar a coisa, dá uma olhada nisso: http://www.slashfilm.com/orangeblue-contrast-in-movie-posters/

doggma disse...

Pipoca über alles, né não JFPR?

Bernardo, já tinha lido esse post há algum tempo. Bay é o artilheiro desse campeonato aí, mas praticamente todos os filmes de Hollywood estão sendo feitos assim. Parece uma mistura de método Ludovico com efeito Pokémon pra atrair bilheteria. :)

Bernardo disse...

O pior é que a lógica por trás da coisa é de uma burrice assombrosa. É mesma que diz: "Avatar deu dinheiro? Bora converter as bagaça tudo aí pro 3D, mano!"

doggma disse...

É, o famoso 3D-la-garantia-soy-yo. No caso do Thor, atrapalhou nas cenas mais escuras. E no filme Cap, pelo li por aí (no Roger Ebert), é completamente desnecessário.

Pô, heresia-mor, nem TR2N escapou dessa.

Jerônimo Fagundes de Souza disse...

Eu concordo com tudo que você falou. Os caras sabem fazer trailers incríveis, mas os longas são uma bosta. Vejo o exemplo do trailer de Spirit. Aliás, eu nem fui ver The Spirit. Adorava os comics na década de 70. Enfim, vamos torcer pra não desandar a maionese... mais uma vez!