quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Windsor-Smith: o artista, o escritor, o entrevistado


Qualquer mané sabe que uma obra de Barry Windsor-Smith trará uma arte complexa e exuberante, variando do belo ao perturbador com uma facilidade que só os gênios possuem. Isso ainda hoje. O que não dá para antecipar é o que ele vai despejar em suas raras entrevistas. Muito disso por conta de seu estilo rolo compressor, sem rodeios ou afagos oportunistas. Com o britânico, o papo é reto. Sobram "as malditas garras" para a indústria, para os colegas e até para ele mesmo.

Baixando e abrindo no CDisplay Folheando a Amazing Heroes #188, de fevereiro de 1991, usei meu cabedal Windsor-Smithsoniano já esperando por um papo, no mínimo, divertido e fora do script. A ocasião era de gala: o lançamento de Wolverine: Arma X. E o velho BWS não decepcionou.

O homem arrepiou logo na largada.


Windsor-Smith estabeleceu que os eventos de Arma X se passariam no início da década de 1960. Porém, decidiu manter a aparência consagrada de Logan dos anos 1980, ao invés de um visual mais jovem. O detalhe é que ele desconhecia completamente que o fator de cura do mutante o dotava de uma extensa longevidade.

E ainda deu uma zoadinha de leve em Timothy Truman (Jonah Hex, Grim Jack), que desenvolvia uma aventura do Wolverine em pleno século 18 – o arco "Fronteira Selvagem", publicado aqui em Wolverine #29, da Abril. No que foi prontamente esclarecido pela nerdice do entrevistador.

O cara acerta até quando erra, impressionante.

10 comentários:

Alexandre disse...

O trabalho de Barry com Arma X, acabou sendo mais determinante para o Wolverine como o conhecemos hoje, do que ele talvez tenha imaginado.
O fato de ele ter trabalhado livremente, sem conectar outras abordagens do personagem, e ainda assim, ter saído algo extremamente coeso é sensacional.
E pensar que na cabeça de Claremont, o bom e velho Logan seria um carcaju mutante.
Abençoado seja Barry Windsor-Smith!

doggma disse...

Claremont não curtia o baixinho. A ironia é que definiu o perfil do personagem em apenas uma cena >>

https://blackzombie.blogspot.com/2011/03/era-uma-vez-no-esgoto.html

Depois disso, BWS foi e fechou a porteira magnificamente com Arma X. Houveram materiais bacanas, sim, mas nada deste vulto, IMO.

Arma X é um pequeno vislumbre de como seria se a Marvel tivesse adotado a estratégia da DC nos anos 80 e distribuído carta branca para abordagens autorais de seus personagens.

Marcelo Andrade disse...

Essa fase e unica...Wolverine e um personagem com diversas camadas e o interesssante e poder fa-zelo e mesmo assim não ficar faltando para as outras partes. muito legal ter trazido essa entrevista.
***Aproveitando...valeu pela indicação do Silo...fodastica d+

doggma disse...

Silo é bem bacana, hm? Ansioso pela 2ª temporada, mas até a greve da WGA e da SAG-AFTRA ser resolvida vai demorar pra sair...

Abração.

lendo à bessa disse...

Arma X é vuadora na mulera. E depois de tanto gibi que revolucionou, que fez barulho e tudo mais, o folhetim que saiu na surdina em revista mix da Marvel continua com seu frescor, até melhor pois dá aula para o grosso do que temos hoje.

doggma disse...

Numa das últimas relidas reparei que a reviravolta central de Arma X é puro Brian De Palma. O que é bem sofisticado para uma narrativa tão brutal.

Nem pelo cacete fariam uma HQ assim hoje.

Alexandre disse...

Hoje, qualquer produção de HQ já tem que ser pensada na maldita transmidialização.
O material já nasce sendo pensado em como pode ser passado para outra mídia, como pode ser monetizado, captado pelo maldito algoritmo....
Essa mudança nos processos de criação, tem matado a criatividade, limitado demais o surgimento de boas ideias.

doggma disse...

Totalmente, Alexandre. As histórias estão cada vez mais parecendo story boards de filmes hollywoodianos. E o tratamento digital exagerado reforça bastante isso. Quando releio algo do Romitão ou do Buscemão, é quase como um colírio...

L disse...

Arma X tem muito a cara de filme oitentista do Carpenter, fiquei surpreso ao pesquisar e descobrir que ela foi publicada pel 1a vez em 1991.

doggma disse...

Muito à frente de seu tempo, realmente. E gostei da analogia ao Carpenter!