segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Delboy nunca mais


Mike Mignola, uma garrafa de whisky e duas doses de amargura. Em entrevista ao Screen Rant, o criador do Hellboy fez uma turnê pelos natais passados: primeiro admitiu que ficou decepcionado com Hellboy II: O Exército Dourado (2008) e, depois, que as chances de Guillermo del Toro retornar à série original para fechar uma trilogia são quase nulas.

Num trecho particularmente tocante, fez uma DR bem intimista daqueles dias.
“Sendo capaz de olhar para trás agora, estou muito feliz com o tempo que passei com ele. Tivemos algumas aventuras, e eu acho que nós dois seguimos em direções diferentes. (...) É uma sensação muito estranha [onde] você simplesmente pensa, ‘Eu pensei que éramos amigos para a vida toda, mas eu nunca mais vou te ver de verdade’, e, infelizmente, eu acho que é meio que onde del Toro e eu estamos. Ele está em outro planeta. Estou muito feliz por conhecê-lo e trabalhar com ele quando trabalhar em um filme era com cinco ou seis caras, e não na carreira que ele tem agora.”
De fato, a atmosfera nos bastidores parecia transbordar brodagem.

Ainda assim, e por mais que tenha sido um divisor de águas para a sua maior criação, é melancólico ver o Mignola remoendo esse tópico mais uma vez. É meio um consenso geral que o Hellboy da versão do del Toro morreu há tempos. E isso não é necessariamente algo ruim.

Na entrevista, o quadrinista conta que ficou três meses trabalhando na pré-produção do 2º filme e que não viu nada daquilo no resultado final. Não surpreende, se "olhar para trás" com a sobriedade que só a idade traz.

Como aventura, o Hellboy 2004 batia na trave, salvo pelas boas caracterizações, produção esforçada e a transição daquele terror gótico dos quadrinhos. Uma transição a conta-gotas e com estética à Tim Burton, mas já era alguma coisa. O Exército Dourado, por sua vez, trocou esse aspecto por um clima de fantasia Tolkienesca. Tudo ficou suntuoso, onírico, inofensivo, fofo demais.

Cheguei à conclusão que del Toro fez aquilo que garantiu que nunca faria.


Lembro que escreveria uma resenha sobre o filme, mas fiquei com o editor de posts aberto por duas semanas sem conseguir redigir uma frase. Não queria falar mal, mas era impossível falar bem. Desisti.

Segui o conselho do velho monge de Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera (2003). É um bom conselho.


E serve tanto para coisas quanto para pessoas, viu Mignola?

2 comentários:

Luwig Sá disse...

Tempo e perspectiva são tudo. No tempo desse vídeo do del Toro nessa Comic-Con pré-HB, o idealista dentro de mim bateria palmas. Dá pra ver que o próprio del Toro vivia seus dias iniciais de idealista, querendo ser apenas o conduíte de Mignola nas telonas. Com Labirinto do Fauno separando os 2 HBs, não tinha a menor chance de vê-lo abrindo mão de sua veia autoral em detrimento do que Mignola achava certo ou não. Quer dizer, até compreendo a frustração de Mignola, mas, por outro lado, acho decepcionante ver o artista de 64 anos alimentar um rancor de quase 20 anos, quando tinha 48. Gostemos ou não de Exército Dourado, ele foi um desbunde visual com direito a um "Elric" fodástico, ajudando, inclusive, a popularizar ainda mais o Mão Direita da Perdição. No fim, todo criador tem direito aos seus 5 minutos de Alan Moorices. Espero que o Mike não extrapole o tempo.

Abração.

doggma disse...

Luwig, me pareceu que o Mignola até deixou pra trás a frustração que teve em Exército Dourado. Tanto que corroteirizou O Homem Torto. O que ele não parece ter superado foi o afastamento do amigo. Aqueles devem ter sido dias incríveis pra ele, tanto profissional quanto pessoalmente. Crise de meia-idade+ é foda.

Não assisto Exército Dourado desde a sessão de cinema... Comprei o DVD, o formato ficou obsoleto e tá no plástico ainda. Qualquer hora vou rever com essas suas impressões em mente...

Abraço!