Miracle Mile (1988) é uma velha obsessão, você sabe. Cult entre os cults, eu não esperava tão cedo um revisionismo desse filme além do dvd magrelo lançado em 2003. Quando anunciaram o lançamento do blu-ray lá fora, remasterizado e com vários extras, quis até comemorar espalhando um hoax sobre alguma destruição mútua assegurada estourando por aí. Seria um dos meus raros investimentos atuais em mídia física - ao lado do dvd do Drive noventista e do, ainda sob estudos, mod da Amazon gringa para Big Guy & Rusty.
Orçamento aprovado, canto na estante reservado a cotoveladas, mas... antes de fechar o carrinho resolvi dar um bico no
A remasterização, feita pelo cinematografista Theo Van de Sande e pelo diretor e roteirista Steve De Jarnatt, foi radical. Talvez numa tentativa de dar à pérola oitentista uma cara mais up-to-date, carregaram nos filtros teal & orange hollywoodianos e acabaram assim liquidando um dos aspectos mais intrigantes e ambíguos da trama de Miracle Mile:
♢♢♢ olha o spoiler ♢♢♢
...foi tudo um sonho?
Tudo bem, o próprio Jarnatt já rechaçou a teoria, alegando que "o público não teria gostado". Porém é uma das raras ocasiões onde essa possibilidade não só é muito provável como está muito bem enquadrada no contexto, independente da visão de seu criador.
Sequências como o anti-herói Harry (Anthony Edwards) correndo pela madrugada de Los Angeles com a garçonete Julie (Mare Winningham) num carrinho de supermercado (!), os vários desencontros pelas ruas da cidade, a desorientação generalizada e os protagonistas teimosamente retornando ao ponto de partida por mais que fujam dele, por si sós, têm uma mecânica de sonho - ou de pesadelo. Sem falar na trilha etérea do Tangerine Dream e no fato de que a premissa inteira teve início durante (e devido a) uma soneca de Harry.
Tudo isso ainda seria apenas um amontoado de (bons!) indícios, se não fosse o lado estético não transposto para o disquinho azul. Além do figurino new wave a da direção de arte ao estilo "magazine de moda dos anos 80, com muito neon e lojas de departamentos", como bem observou Roger Ebert e irritou Gene Siskel, havia bem mais ali.
No original, a fotografia do filme reveza entre uma matiz magenta/rosada e outra azulada nas externas, conferindo um ar de surrealismo às cenas. Outro ponto é a definição moderada da imagem, típica das limitações de sua época, acrescido de algum blur em momentos-chave. Geralmente isso é usado para ilustrar passagens de flashbacks, mas aqui reforça ainda mais o aspecto onírico da aventura.
Enfim, era uma maneira alternativa e intimista de assistir Miracle Mile. Ficava bem mais divertido (e sutil) do que qualquer filme-sonho que o Brian De Palma já tenha feito.
Já no blu-ray, filtros saturados estouram na tela e fritam a retina com a melhor definição que a trama nunca pediu. A menos que você seja o Michael Bay, é impossível enxergar aquilo como algo vindo de um sonho.
Outro con é a transposição do formato de tela. O objetivo inicial era sair finalmente do full screen (1.33:1) da versão do dvd para um formato wide similar ao lançado nos cinemas (1.85:1). Mas pelo jeito algo não fechou nas contas da montagem e o resultado foi uma complicação quase tão grande quanto a dos dvd's nacionais de Homem-Aranha (2002).
Os prós, contudo, são promissores. Dos extras com material inédito de um filme obscuraço à reunião da maior parte do elenco 30 anos depois, quase posso dizer que vou arriscar o importado...
...se não encontrar o
2 comentários:
Rapaz, fui ler o post de 2009 e acabei revisitando vários outros textos teus, fiquei saudoso. Vida longa ao Black Zombie.
E aí, Do Vale!
Surreal aquele post já ter quase 10 anos, hm? Parece que foi ontem. Lembro até dos erros de digitação que cometia enquanto escrevia, rs.
10 anos é o novo semana passada.
Abração!
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