quarta-feira, 22 de maio de 2019

A saída da zona é a zona do euro

Ou "Decidindo aprender novos idiomas após os 3 primeiros volumes de Lendas do Universo DC: Novos Titãs".


Há uns 2-3 anos, num belo dia de sol, tive uma epifania de colecionador:

"Construirei um muro ao longo da fronteira da minha coleção; só serão admitidas as passagens de clássicos US-UK incontestáveis e/ou materiais europeus crèame de la crèame como os elencados da Métal Hurlant, da Les Éditions Dargaud, da Les Humanoïdes Associés e franco-belgaiadas afins ou qualquer coisa vinda da Norma Editorial. As raras exceções serão investigadas, avaliadas e baculejadas minuciosamente pelos implacáveis agentes da temida KGBZ, mas, a grosso modo, materiais pop-mainstream serão sumariamente deportados - sendo Marvel/DC regulares abatidos à vista."

Afinal, é pra isso que o DC++ (ainda) está aí.

Eu queria uma coleção física sóbria, modal. Uma coleção de gibis de adulto (adultos lêem Thorgal? Pô, espero que sim), por contraditório em termos que isso soe. Melhorar o espanhol, aprender a ler em francês e italiano. Por mais doloroso que fosse, eu precisava romper com a língua da Krissy Lynn.

Mas, acima de tudo, precisava... ou melhor, preciso enxugar a coleção. Urgente. Já perdi de vista o fim da pilha de leitura. Nesse ritmo, não vou mais ler aquilo tudo. Baphomets, provavelmente não conseguirei ler aquilo tudo nem com uma expectativa de vida de 120 anos.

O que me faltava era a motivação. Mas uma boa, boooa motivação. Uma motivação-pé-na-bunda-toma-tento-vagabundo. E a Panini, ah essa Panini, me deu. Não apenas uma, mas duas, três.

A primeira foi salpicada paulatinamente ao longo dos últimos anos em parceria sórdida com a Amazonos preços. Oh, me perdoe, esqueci um adjetivo aqui: os extratosfericamentefilhosdaputa preços. Graças à Panini e aos cowboys amazônicos agora temos um cenário de dumping para chamar de nosso. Lindo. E agora aguenta aquele material que você aguarda há 15, 20 anos sendo lançado pelo preço de dois rins. 120 reais é o novo 9,90 das Super-Heróis Premium.

A bem da verdade, a pernada que a Saraiva e a distribuidora da Abril deram na praça foi a facada com giratória definitiva. Facada esta sendo amortizada, sem amor, nas costas do público com mensais de 60 páginas por quase 11 mangos e historinhas mequetrefes editadas em papel couché e capa dura com detalhes em hot stamp dourado. A bolha estourou, sim. No colo dos leitores.

Outra boa razão é a questão do quê precisar das atuais Image, Dark Horse, Marvel e DC. Acompanhei a coleção das branquinhas da Nova Marvel. Fabulosos/Novíssimos X-Men, Magneto, Deadpool são bacaninhas. Mas tirando o Gavião Arqueiro de Matt Fraction, o Foderoso Thor de Jason Aaron/Esad Ribic e, talvez, os Vingadores de Jonathan Hickman (que não entendi bulhufas, mas um dia quero), não vejo nenhuma delas figurando em minha seleção de releituras sazonais pra vida toda. Acorda, dogg.

Tudo isso aí só pra chegar aos erros de revisão, adaptação, diagramação e virou passeio pra cima da Panini, insistentes e aparentemente integrados à editora por alteração contratual. Dizem que foi sabotagem interna. E que o assunto já foi resolvido sendo que seus reflexos terminam este mês de maio. Pelos novos posts na página Todo Dia um Erro nos Quadrinhos Diferente, o terror ainda continua - incluindo na edição corrigida de Sandman - Edição Especial de 30 Anos vol. 1, após a já antológica chamada do próprio Neil Gaiman na editora.

Mas o pior, pior mesmo, foi a merda cair em algo que me importa muito. Algo que, sempre que releio, me transforma num Anton Ego menininho gibizeiro. E foi com a muito aguardada reedição dos Novos Titãs de Marv Wolfman e George Pérez. Para mim, necessária e imprescindível - mesmo com o tiozão seboso do Terry Long bangeando a Donna a cada duas páginas. Aí foi demais pra mim.

Como dizia o Millôr: "O grande erro da natureza é a incompetência não doer".

É, realmente Gar. Não é justo que isso esteja acontecendo de novo!

6 comentários:

Luwig Sá disse...

Quando eu era mais economicamente desprovido do que hoje, costumava fazer umas listinhas mentais, quase como a oração assassina de Arya Stark, imaginando checkpoints¹ no meu acervo de quadrinhos. Eu dizia pra mim mesmo que se chegasse a ter aqueles gibis, o que viesse dali em diante seria irrelevante. Se eu quisesse até mesmo parar após aqueles marcos, já tava de bom tamanho.

O problema é que nós [gibizeiros] somos o perigo, nós somos como um maldito Walter White, conquistando o que julgávamos necessário e depois, embebidos de poder, descemos ladeira a baixo. Só que, diferente do Heisenberg, minha mulher não está arrumando uma forma de armazenar/lavar o tutu, mas sim me dando bronca porque essa brincadeira ficou insustentável. Não dá.

É tudo isso que falaste e muito mais. Tenho uma montanha generosa de material acumulado e aqui em Campina, dizem que o dia ainda tem 24hs - o que eu duvido muito, já que parece bem menos. Na verdade, hoje em dia, basicamente, minha hitlist segue as pautas do podcast... o que é bom, pois me forço a ler, caso contrário me encaixaria na piada pronta do neo lombadeiro.

No mais, perdão pela ausência. Sigo visitando o seu boteco, mas nunca passo aqui pra dar um salve pro dono da espelunca.

Abraço.

¹ Sandman, Watchmen, Monstro do Pântano, V de Vingança, Homem-Animal, 100 Balas, Y: O Último Homem, Ex Machina, Planetary, Authority, Promethea, Justiceiro MAX, DD do Bendis/Brubaker, Gotham Central, [...] e Marshal Law por 130 Bolso$. :(

doggma disse...

E aí, Luwig!

Tu sabe que é sócio com crachá backstage all access-all times. Ademais, o BZ (o que restou dele) agora é grupo de apoio de dependentes de cultura pop de meia-idade. Só se manifesta quando estiver afim. "Olá. Meu nick é dogg e sou um dependente de cultura pop de meia-idade..." Meu reino por uma catarsezinha, só uma, rs.

"nós somos como um maldito Walter White, conquistando o que julgávamos necessário e depois, embebidos de poder, descemos ladeira a baixo. Só que, diferente do Heisenberg, minha mulher não está arrumando uma forma de armazenar/lavar o tutu, mas sim me dando bronca porque essa brincadeira ficou insustentável. Não dá."

O ponto nevrálgico dessa realidade ridícula que escolhemos.

Adiciono aí o detalhe pessoal - que talvez não seja tão distante da sua história também - de um moleque pobre e descalço que levava gibi para as peladas de rua. Faço por ele a justiça tardia da "próxima edição" que raramente vinha (porque mal havia dinheiro pra comer, oras). Já faz uns 10 anos que patrocino um sonho sem limites. Dei poder demais pra esse fantasminha camarada, que hoje está mais para uma massa ectoplásmica lovecraftiana de 100 km de diâmetro.

Em contrapartida, largar tudo e só me restar seguir a multidão, os hypes... Tudo que sou, tudo que aprendi, do fundo da minh'alma, grita que isso é inaceitável e imoral.

A ironia - trágica - é que essa semana chegou o Marshal-Law-de-130-Bolso$ que encomendei na loja virtual sem piscar (e, pelas minhas contas, sem poder também), pontuando todos esses títulos citados que você tem, eu tenho e qualquer colecionador médio também tem. Então, mais uma vez tenho "tudo o que preciso".

Quem precisa de uma bebida?

Abração, velho.

Grimm disse...

Tb entro aqui com certa frequência e raramente comento (sorry).
Sobre coleções: Eu meio que já faço isto há anos e como parei de "garimpar" tb, acabo que fico no ciclo de re-leitura infinita (de tempos em tempos, claro). Minha coleção física é (des)organizada nas hqs que "quero realmente ter", assim tenho muitas hqs mix incompletas, tipo a Marvel Marx, das quais tenho apenas as com estórias da "Codinome Alias", "Nova Onda" e qualquer coisa do Ennis. E mesmo citando esta, Marvel e DC é o que menos tem na minha coleção.
Tb dei sorte de nunca não gostar muito de mangá (a grande exceção Lobo Solitário). Digo sorte pq aqui em BelZonte, mangás são mais ou menos fáceis de achar, então meu bolso agradece.
Pra ser sincero, hj só almejo completar "Ken Parker" (tá quase) e o lendário mix "Animal" (falta umas três ou quatro), mas ultimante o esforço é perto do zero.

Abraço.

doggma disse...

Fala aí, Grimm!

Antes de tudo, meu amigo: eu era fã do boteco que você tocava, o Tequila Bunker. Foi lá que descobri materiais fabulosos, como o "Black Deker", do Fernando de Felipe. E foi lá também que soube da existência de um "tal" Fletcher Hanks, de quem virei um completo obcecado.

Sempre imaginei se o velho Bunker um dia voltaria à ativa. Mas as coisas são o que têm que ser, no tempo que têm que ser. De qualquer forma, obrigado por isso.

Também já passei por uma fase "estoica" em relação às HQs. Logo que voltei a ler gibis, em 2000. Pegava materiais à revelia, sem compromisso, pelo sabor de usufruir daquilo na hora e seguir em frente. Bom demais. Isso durou exatos 10 anos, quando fui acertado em cheio pelo mercantilismo desenfreado que virou a coisa toda.

O Ken Parker é meio que um Graal inalcançável por aqui, hm? Edições obscenamente caras da CLUQ, tiragem ridícula... e uma multidão de leitores esperando o mínimo de respeito e condições aceitáveis para completar a coleção.

A "Animal" tem materiais que provavelmente nunca mais sairão por aqui, tipo Torpedo e Locas/Love & Rockets. Realmente vale a pena garimpar pra ter um pouco daquilo em português-br. Aquele mix era antológico.

Abração, Grimm! Uma excelente semana para todos nós.

Anônimo disse...

Olá Doggma! Tudo bem??

Ultimamente, a pilha de leitura do colecionador está diminuindo e as aquisições estão ficando cada vez mais difíceis! Tempos sombrios para nós,né?

Comigo está acontecendo isso! Estou comprando cada vez menos quadrinhos e tentando colocar em dia minha pilha, aos poucos chego lá e consigo ler tudo que eu comprei um dia!!RS

O pior é essa "gourmetização" desenfreada por parte da Panini! Pra quê tanto luxo nas mensais?? Isso afasta tanto os veteranos quanto aqueles que querem começar uma coleção de quadrinhos! Saudade do tempo em que gibi era mais barato e dava pra comprá-lo com o troco do pão! Hoje em dia, com 50 pila, só dá pra comprar uns dois encadernados caso estejam na faixa dos 25 pila! Dinheiro perdeu o valor, infelizmente!! Essas editoras sem noção só perdem clientes com tantos abusos!! E ainda temos que aturar erros de revisão:reflexo da péssima qualidade!

Abração!
Leonardo Goulart

doggma disse...

Olá, Leonardo!

"Estou comprando cada vez menos quadrinhos e tentando colocar em dia minha pilha, aos poucos chego lá e consigo ler tudo que eu comprei um dia!!"

Eu também! rs

Sim, é muito triste de ver o que acontece hoje com as mensais, que desde sempre são a porta de entrada para o gosto pelos gibis (quiçá pela leitura, de um modo geral). Entendo que a Panini - e não apenas ela - busca recuperar sua liquidez após o tombo que levou da Saraiva e da crise provocada pela queda da Abril, mas esse caminho que a editora tomou é simplesmente errado.

Duvido muito que se justifique financeiramente. O que mais tenho lido/visto por aí são colecionadores afirmando que estão abandonando as mensais. E as gerações Z e Alpha parecem ainda menos interessadas, já que vivem com os olhos pregados no celular.

Se o objetivo é adotar um modelo de sucesso, então deviam se espelhar na cultura japonesa dos mangás. Produzidos com baixo custo, vendidos por um valor irrisório e com tiragens mensais gigantescas.

http://anmtv.xpg.com.br/mangas-mais-vendidos-em-2018-no-japao-por-volume/

Aliás... nem precisa ir tão longe: é só ver o que o Mauricio de Sousa, parceiro da Panini mesmo (!), faz há décadas com sucesso absoluto e vendendo muito mais que Marvel e DC juntas todos os meses.

O problema, mais uma vez, é a ilusão do lucro rápido, fácil e irresponsável. Verba para revisão eles com certeza já cortaram...

Abraços!