quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Hoje o mundo ficou menos estranho


David Keith Lynch
(1946 - 2025)

Se foi o grande David Lynch. E escrever isso traz uma sensação tão surreal quanto seus filmes. Há tempos o homem virou uma ideia e, como ensinaram, ideias não morrem.

Lynch nunca teve a menor intenção de agradar, pelo contrário. Esse negócio de zona de conforto não era com ele. Fez videoclipes, projetos para a TV, toneladas de curtas, comerciais e até webséries, mas, paradoxalmente, contabilizou apenas dez longas em 57 anos de carreira. Mas que longas.

A estreia radical já com Eraserhead (1977) e seguindo com o humano O Homem Elefante (1980), seu divisivo Duna (1984) que cresci assistindo e adorando, o platô de perfeição cinemática atingido em Veludo Azul (1986) e Coração Selvagem (1990), a série-evento Twin Peaks (1990-1991), os labirintos neo-noir de A Estrada Perdida (1997) e Cidade dos Sonhos (2001) até a ternura raiz de História Real (1999); todos brilhantes aos seus modos e obsessões.

Ainda não assisti a saideira, com Império dos Sonhos, de 2006, nem o seu retorno a Twin Peaks, em, duh, Twin Peaks: O Retorno, de 2017. Mas tive um último aperitivo de luxo: sua ponta como o lendário cineasta John Ford, na melhor cena de Os Fabelmans (2022), de Steven Spielberg.

Lynch é, fácil, um dos caras que mais reassisto na vida. E o fascínio segue o mesmo. A mágica, a estranheza e a transgressão não vão se exaurir nunca.


Bravo, Mr. Lynch!

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